UM AMOR DE VERDADE

Page 40

— Não pode ser. Nosso trabalho estava perfeito. O argumento que eles usaram foi coisa de gabarito. Conheço o trabalho do Dr. Dantas. E um bom advogado mas não teria essa perspicácia. Deve haver alguém. — Lúcia continua afirmando que é sua chefe quem cuidou de tudo. Ela pode estar certa. — O que você sabe a respeito dela? — Muito pouco. Aliás, Lúcia evita falar dela. Sei que vive sozinha, tem um filho pequeno e cursa o último ano da faculdade. — Não parece que tenha nada especial. — Ah! Agora me lembrei. Ela deve ter mesmo alguma coisa especial. Não prestou vestibular como todo mundo. O Dr. Dantas convenceu o reitor a fazer alguns exames e parece que ela foi tão bem que conseguiu eliminar algumas matérias. Vai concluir o curso em menos tempo. — Essa mulher deve ser superdotada, ter um QI superior à média. Se isso for verdade, poderia explicar nossa derrota. — Lúcia tem grande admiração por ela. — Vou procurar me informar. Tenho alguns amigos que lecionam em faculdade. Só preciso do nome dela e da escola. — Vou tentar descobrir. Naquele fim de semana, Nina havia ido com Marcos à casa de Mercedes e lhes contado que pretendia se mudar do colégio, dar mais conforto a Marcos. Marta lhe dissera que havia uma casa para alugar, perto da sua, térrea, com dois quartos espaçosos, jardim na frente e pequeno quintal, por um preço razoável. Naquele mesmo dia foram ver a casa e tanto Nina como Marcos adoraram. Mercedes ofereceu-se para ser a fiadora, e uma semana depois Nina assinou o contrato. Tinha dinheiro para mobiliá-la. Finalmente estava conseguindo o que sempre desejara. Marcos se afeiçoara muito a Ofélia, uma assistente que ajudava a tomar conta das crianças na creche, e Nina ofereceu-lhe emprego em sua nova casa. Ofélia estava no colégio havia muitos anos. Moça do interior, criada na roça, fora seduzida por um vendedor que de tempos em tempos freqüentava a fazenda de seu patrão. Grávida, envergonhada perante a família, fugiu para a capital atrás do pai da criança. Sem conhecer a cidade e ter para onde ir, perambulando sem rumo, foi levada pela polícia à Assistência Social do Estado, que a encaminhou para o colégio das freiras. Lá prestava serviço sem remuneração. Continuou procurando localizar o pai da criança e com a ajuda das freiras acabou conseguindo. Descobriu que ele era casado, tinha muitos filhos e não queria reconhecer a criança. Quando o menino nasceu, foi avisado, mas nem apareceu para vê-lo. Ofélia jurou que nunca mais queria ninguém e que viveria para o filho. Quando Nina procurou o colégio, grávida, tornaram-se amigas. Ela ajudou Nina a criar Marcos. Infelizmente, seu filho morreu aos dois anos de idade. Desesperada, Ofélia apegou-se mais a Marcos. Quando Nina foi trabalhar fora do colégio, Ofélia era quem tomava conta de Marcos além do horário estabelecido pelas freiras, e Nina a gratificava conforme melhorava seus vencimentos. Quando Nina a convidou para trabalhar com ela em sua nova casa, Ofélia aceitou feliz. Não queria nem salário. Mas Nina gostava muito dela e sentia-se feliz por poder levá-la junto e pagar-lhe um salário justo. Foi com grande alegria que elas se mudaram para a nova casa. Marcos estava cursando o terceiro ano primário e ela procurou o colégio mais próximo para matriculá-lo. Ele havia sido criado no colégio onde nascera e nunca havia freqüentado outra escola. Nina notou que ele estava ansioso e no primeiro dia ela o acompanhou conversando e procurando transmitir-lhe confiança e tranqüilidade.


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.