UM AMOR DE VERDADE

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— Quero saber que idéia foi essa de se separar de Janete. — Esse é um assunto que diz respeito somente a mim e a ela. Mas em consideração a vocês, e ao que espero de ambos, vou falar sobre isso. Nosso casamento foi um erro. Nós somos muito diferentes, não temos a menor chance de sermos felizes juntos. Andréia ia interromper mas Romeu fez um gesto brusco dizendo: — Deixe-o falar, Andréia. Ela calou-se amuada. Nos últimos tempos Romeu andava tomando algumas atitudes indelicadas com ela, não atendendo mais ao que ela queria. André continuou: — Quando eu era estudante, me apaixonei por uma moça que não pertencia a nosso nível social. Era linda, inteligente, doce, e eu a amei com todas as forças do meu coração. Aluguei uma pequena casa e fornos viver juntos. Eu prometi a ela que nos casaríamos assim que eu me formasse. — Eu sabia e fiz tudo para que a deixasse! — disse Andréia sem poder conter-se. — Fez. Me envolveu todo o tempo em eventos e festas onde jogava Janete em meus braços. Mas não a culpo por isso. Quero acreditar que imaginava estar me fazendo um bem. — Ainda bem que reconhece isso — concordou ela. — A culpa do que aconteceu foi exclusivamente minha. Eu deveria ter sido responsável o bastante para fazer o que meu coração queria. Mas não foi assim. Infelizmente. Eu era muito jovem e sentia prazer em desfilar com Janete nos lugares da moda, fazer inveja aos amigos quando ela aparecia na porta da faculdade em um carro de luxo para me buscar. Deixei-me levar pela vaidade e hoje me arrependo disso profundamente. — Mas Janete é uma boa moça, linda, rica, tem tudo para fazer um homem feliz — disse Andréia com convicção. — Mas eu não a amava. Eu amava Nina. Quando soube que ela estava esperando um filho meu, fiquei apavorado. Como iria explicar isso para Janete, para vocês, deixar de lado um casamento tão vantajoso? Eu sucumbi. — Você fez o melhor que podia fazer. Escolheu certo. — Engana-se, minha mãe. Escolhi errado e estou sofrendo hoje em conseqüência dessa atitude. — Continue, meu filho — interveio Romeu com interesse. — Eu fui canalha. Casei com Janete achando que continuaria com Nina depois de casado. Queria ficar com as duas. — Que horror — disse Andréia assustada. — Eu queria. E subestimei o caráter de Nina. Ela não quis. Deixou nossa casa no dia seguinte e desapareceu. Desesperado, procurei-a como louco durante alguns anos sem saber o que havia sido feito dela. Uma vez a vi na rua, linda, bem arrumada, tentei conversar mas ela não me deu chance. Entrou em um táxi e desapareceu. André falava mergulhado em suas lembranças, contou como a encontrara mudada, transformada em uma advogada de sucesso, a descoberta do filho, seu esforço para conseguir aproximar-se dele. Andréia ouvia admirada, sem encontrar palavras para intervir. Depois que terminou de contar tudo, Andréia comentou: — Foi por causa dela que você deixou Janete. — Não foi. Nina nunca me perdoou. O motivo foi outro. A vida tem seus próprios caminhos. Tentando ajudar Milena, eu recebi mais ajuda do que ela. Descobri os valores espirituais que nos levam à conquista da felicidade. Cheguei à conclusão de que minha infelicidade de hoje é o resultado de haver tomado decisões erradas, incompatíveis com meus verdadeiros sentimentos. Hoje, o que eu mais quero é encontrar a paz interior, a alegria de viver que perdi, conquistar o amor de meu filho e o perdão de Nina. Havia um brilho especial nos olhos de André que fez Romeu levantar-se e abraçar o filho dizendo emocionado: — Estou orgulhoso de você. Espero que consiga o que deseja.


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