UM AMOR DE VERDADE

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Milena pegou André pela mão e foram saindo. Embora contrariado, ele foi. Na sala ficaram apenas Nina e Antero. Marta aproximou-se: — Meus pais estão se despedindo dos amigos e já virão. Como está se sentindo? Antero respirou fundo e considerou: — E difícil dizer. Ainda não me recuperei do choque. Esta noite tive a prova definitiva de que a vida continua depois da morte. Penso que, se todos tivessem essa certeza, a vida no mundo seria diferente. — Um dia isso acontecerá. No momento nem todos estão preparados para receber esse conhecimento. E por isso que a revelação é relativa e individual. Os donos da casa voltaram e sentaram-se ao lado deles. — Esta noite fomos abençoados com um trabalho maravilhoso, que nos comoveu a todos — tomou Mercedes. — Diante do que Nina me havia contado, eu vim acreditando em vida após a morte, mas o que aconteceu aqui me impressionou demais. O sofrimento de Antônia, o amor de minha tia Bernardete, cujo sofrimento preocupou a família quando meu tio Ernesto morreu. Ela nunca aceitou a separação. Meu pai se preocupava muito com a tristeza dela, era sua única irmã. Nunca esquecerei esta noite. — Eu também — murmurou Nina. — Vocês falavam de fatos que ocorriam durante as sessões, mas eu jamais pensei que fosse assim. — Esta noite nós fomos muito felizes. Conseguimos um ambiente propício para que os espíritos de luz pudessem trabalhar. Nem sempre isso acontece. — Há pessoas mal-intencionadas, que não fazem bom uso da mediunidade — disse Nina. — Isso é verdade. Mas mesmo quando as pessoas são sinceras, de boa-fé, desejam o bem, há outras variáveis que podem dificultar a que as manifestações aconteçam com a clareza desta noite — esclareceu Antônio. — Como assim? — indagou Nina. — As energias de um ambiente sofrem várias influências. Além das pessoas que residem no local, das que moram nas vizinhanças e até do ambiente social da cidade ou do planeta — respondeu Antônio. — Pessoas vivas? — indagou Antero. — Você quer dizer reencarnadas. Os que morreram continuam vivos. Mas os pensamentos, hábitos, atitudes, crenças das pessoas, encarnadas ou não, criam energias que circulam à nossa volta. Se prestar atenção, notará que há momentos em que o ambiente fica eletrizado, provoca inquietação. Pensamentos negativos nos invadem a contragosto, como que vindos do nada. Quando o ambiente está pesado, fica mais difícil aos espíritos iluminados aproximarem-se de nós — explicou Antônio. — Cultivando o pensamento positivo, a prece, conseguimos melhorar o ambiente onde estamos, abrindo um espaço para que eles possam se manifestar, mas nem sempre o suficiente para que as comunicações dos espíritos sejam tão lúcidas como as de hoje — interveio Mercedes. — Além do que lembrou Antônio — a maioria dos médiuns são conscientes. Enquanto os espíritos comunicantes estão falando através deles, ficam com medo de errar. Muitas vezes, por causa disso, omitem nomes, datas, coisas que poderiam levá-los a se enganar. — Eu pensei que os médiuns não tivessem consciência de nada — tornou Antero. — Há médiuns inconscientes, mas são menos numerosos. A grande maioria são conscientes, mas entre eles há vários níveis de consciência — disse Antônio. — Nesse caso seria melhor que todos fossem inconscientes disse Nina. — Isso não é verdade. O médium inconsciente, ainda que tenha fé, confie nos espíritos, fica inseguro porquanto teme ser usado por entidades perturbadoras. Já quando é consciente, pode bloquear se sentir que é alguma coisa ruim. Eu algumas vezes, conforme o momento, fico inconsciente, mas me permito trabalhar assim desde que esteja ao lado de meus pais — opinou Marta.


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