SOU O VENTO – PELO PEDRO LIMA 2020

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CONVERSA E LEITURA

Sou o Vento – Pelo Pedro Lima DIREÇÃO JORGE SILVA MELO 6 setembro, domingo, 17h30 Sala Bernardo Sassetti

6 SET. 2020

A classificar pela CCE Entrada livre, sujeita à lotação da sala Livro com a peça Sou o Vento, de Jon Fosse, à venda na bilheteira do São Luiz © Jorge Gonçalves

Direção: Jorge Silva Melo; Texto: Jon Fosse; Tradução: Pedro Porto Fernandes; Leitura: Manuel Wiborg e Rúben Gomes; Conversa: Paulo Dentinho, Nuno Artur Silva, Manuel Cavaco, Luís Filipe Borges, Sofia Monteiro Grilo, Rodrigo Francisco, Jorge Silva Melo Melo e a participação especial de Eunice Muñoz; Produção: João Meireles; Video: Júlia Pardo e Ivo Martins; Agradecimentos: Jon Fosse, Berit Gullberg, Pedro Porto Fernandes

O T N E V O SOU CONVERSA E LEITURA

SÃO LUIZ TEATRO MUNICIPAL – Direção Artística Aida Tavares Direção Executiva Ana Rita Osório Programação Mais Novos Susana Duarte Assistente da Direção Artística Tiza Gonçalves Adjunta Direção Executiva Margarida Pacheco Secretária de Direção Soraia Amarelinho Direção de Comunicação Elsa Barão Comunicação Ana Ferreira, Gabriela Lourenço, Nuno Santos Direção de Produção Mafalda Santos Produção Executiva Andreia Luís, Catarina Ferreira, Mónica Talina, Tiago Antunes Direção Técnica Hernâni Saúde Adjunto da Direção Técnica João Nunes Produção Técnica Margarida Sousa Dias Iluminação Carlos Tiago, Tiago Pedro, Ricardo Campos, Sérgio Joaquim Maquinaria António Palma, Paulo Lopes, Paulo Mira, Vasco Ferreira, Vítor Madeira Som João Caldeira, Gonçalo Sousa, Nuno Saias, Ricardo Fernandes, Rui Lopes Operação Vídeo João Van Zelst Manutenção e Segurança Ricardo Joaquim Coordenação da Direção de Cena Marta Pedroso Direção de Cena Maria Tavora, Sara Garrinhas Assistente da Direção de Cena Ana Cristina Lucas Camareira Helena Malaquias Bilheteira Cristina Santos, Diana Bento, Renato Botão.

teatrosaoluiz.pt

DE JON FOSSE

A M I L O R D E P P EDLIRO MELO EÇÃO: JORGE SILVA ES

IBORG E RÚBEN GOM

W LEITURAS: MANUEL

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ELE PASSOU POR NÓS, ASSIM, BELO, LUMINOSO

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Avistei-o da janela do táxi, calções pretos, t-shirt preta, belos sapatos de corrida, cronómetro no braço. Mesmo ali, junto ao quiosque do Largo do Chiado. Belo, luminoso, corria numa manhã em que eu deveria ter alguma reunião no teatro e quando ainda se usava dinheiro para pagar os táxis. Enquanto aguardava o troco, via-o afastar-se, desaparecer virando à esquerda, depois da Igreja dos Mártires. Ainda o chamei, não ouviu, levava os “phones” nos ouvidos. E corria. Não o apanhei. Nessa noite, brinquei com ele pelo mail: “Ai, não me falas agora?”/ “Não te vi, etc”. E mandámos abraços como tantas vezes fizemos, fomos mesmo amigos, gostávamos um do outro. Foi a última vez que o vi “na vida real”, ao Pedro Lima. E já passaram uns anos. Atravessou-se assim na minha vida, luminoso, atlético, belo, pleno, rápido, um homem. Um actor. Woody Allen, David Auburn, Neil Labute, John Godber, Ernest Thompson, David Mamet, Tom Stoppard, mas também Hemingway (e Tchekhov, claro; e Strindberg – e Beckett!). Parecia talhado para aquele teatro chamemoslhe realista que triunfou na América, parecia que lhe era fácil, o treino das televisões dir-se-ia que o ajudava. “Mas olha que não tenho a facilidade nem a formação dos outros, tenho que trabalhar mais”, dizia (mas não era a queixar-se), atleta também, sempre a superar-se, sempre em competição consigo próprio, campeão. Comigo fez Inverno de Jon Fosse, autor que me é muito querido, poeta

da depressão, ser muito especial. E foi maravilhoso. Porque soube encontrar, delicado, sensível, nosso irmão, soube mostrar a dor mais secreta no seu corpo de homem pleno, uma ferida, um olhar de aflição. Sim, o Pedro sabia que um actor encontra em si próprio a matéria dos sonhos e, com rara elegância, oferecia-nos também a ferida insanável que tinha (e temos). Em 2007, aquando da visita oficial dos Reis da Noruega e na presença do Autor, o Pedro Lima e o Manuel Wiborg leram, aqui nesta mesma sala do São Luiz, este Sou o Vento a que hoje voltamos, agora com o Rúben Gomes no papel que foi o dele, belíssimo texto em que dois homens se perdem no mar, sem que um deles consiga parar o caminho do outro, suicida. Como nós que não conseguimos fazer parar o Pedro Lima e apenas o sabemos chorar? Sim, naquele maldito sábado, todos nós chorámos. Nós que não nos conhecemos, que nunca trabalhámos juntos, que provavelmente não trabalharemos nunca. Mas à medida que íamos recebendo notícias, todos chorámos. Por isso estamos aqui, porque o Pedro Lima nos ligou, porque queremos chorar juntos, porque ele passou por nós a correr e o vimos desaparecer na esquina sem o termos conseguido fazer parar. Confesso: é uma terna alegria a que tenho nestes dias duros, saber que podíamos contar uns com os outros, saber que o Pedro Lima nos juntou, actor. JSM 3


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