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É muito difícil, na cidade de São Paulo, encontrar espaços que se disponham a abrir as portas para artistas que estão em fase de pesquisa e que não sabem ainda qual a forma que seu trabalho vai tomar. Portanto, quando soube do edital “Obras em Construção”, onde a Casa das Caldeiras abre suas instalações para artistas residirem e criarem ali dentro seus trabalhos, convidei a atriz e bailarina Sandra Flores, parceira por sete anos na minha antiga companhia de teatro, para escrevermos um projeto. Propusemos a criação de uma peça teatral cuja dramaturgia seria feita de forma colaborativa, tendo como material de base a história da Casa, a sua materialidade e o trem que passava ao lado. O projeto foi escolhido e, desde Julho de 2010, tivemos o espaço à disposição para experimentações cênicas. Nesse mês, optamos por não iniciar os ensaios no local, preferindo fazer uma pesquisa teórica sobre a Casa das Caldeiras, as Indústrias Matarazzo e as ferrovias São Paulo Railway e Sorocabana, cujos trilhos passam ao lado do lugar. Mais detalhes dessas pesquisas se encontram nos cadernos “Casa das Caldeiras” e “São Paulo Railway & Sorocabana”. Iniciamos o trabalho na Casa em Agosto. Tínhamos nesse momento uma grande liberdade de criação, já que podíamos explorar os espaços e as temáticas livremente, pois não era o momento de nos preocuparmos com o resultado. Cenas foram criadas e relações começaram a surgir.

Em Setembro, estávamos mais localizadas na Casa. Trabalhávamos na maior parte do tempo no Salão dos Tanques. Havia angústias quanto ao encaminhamento, já que não conseguíramos parceiros (diretor e dramaturgo) e, como atrizes, não sabíamos bem por onde ir. Fizemos visitas temáticas à cidade de Mairinque, às Estações São Roque, Luz e Júlio Prestes, todas ligadas ao trem, o assunto que ficou mais forte no trabalho até então. E foi no final desse mês que apareceu o segredo e nele concentraríamos a nossa investigação a partir de então. Assim, Outubro foi um mês em que estávamos preocupadas em dar forma aos assuntos, às cenas e às imagens que nos apareciam. Havíamos desistido de fazer pequenas cenas curtas em diferentes espaços da Casa e optado por trabalhar principalmente nos túneis, criando uma apresentação com começo, meio e fim. As personagens das irmãs, que desde Agosto apareciam nos nossos ensaios, se fixaram e o conflito entre elas surgiu. Ficamos trabalhando no desenvolvimento desse conflito pelo espaço e na criação do texto. Embora possuíssemos imagens das personagens, não existia ainda nenhum texto. Foi só com improvisações no final do mês que ele começou a brotar. Vendaval|11


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