Reflexão

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Departamento de Educação e ensino a distância

Ferramentas, Plataformas e Interfaces Online

A Sociedade em Rede e o Ensino

Teresa Maria Antunes de Almeida Lisboa, 2016


"Ensinar exige a convicção de que a mudança é possível" Paulo Freire

Numa entrevista à BBC Mundo, em novembro de 2009, a propósito da Internet, o sociólogo Manuel Castells afirmava que “o lado obscuro da Internet somos nós”, dado que nos confronta com a nossa responsabilidade de defender valores democráticos utilizando a extraordinária capacidade tecnológica que temos ao nosso dispor. Defende que hoje, como sempre, o futuro depende da relação de forças entre “as forças do obscurantismo e as forças da luz: A mais velha batalha da humanidade”. Considera, ainda, que atualmente com a Internet – uma rede de redes sociais - nós estamos numa situação de relativa igualdade de condições de acesso à comunicação e à informação. Pelo que, estando ainda na penumbra, vamos ver quem ganha… Salienta que os desenvolvimentos mais importantes que urge fazer são os da educação, da difusão cultural e da capacidade de criação cultural pelas próprias pessoas. Embora tenha exposto estes desafios entendidos como internacionais, há cerca de meia dúzia de anos, o certo é que, como professora, sinto a dificuldade com que a generalidade dos meus colegas professores se confronta com o uso das novas ferramentas de comunicação e informação. E eu própria não me sinto confortável sobre a melhor forma de como integrar “tecnologia, pedagogia e currículo pedagógico” para os meus alunos - todos nascidos após 1990, data do início da comercialização das ligações à Internet em Portugal. A questão crucial será como o professor deve mediar as aprendizagens para que os alunos transformem as suas colheitas ou pesquisas de dados e informações em conhecimento? A questão implica a necessidade de os motivar e estimular para que promovam o seu potencial criativo, aprendendo. Neste desafio é bem necessário querer aprender, que ultrapassa a obrigação ou a oportunidade de aprender, dado que é interdependente do interesse e da motivação. Dialética que pretendo sempre promover através de

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métodos ativos para que os alunos interagindo com a realidade construam o seu próprio conhecimento, tal como preconizado por Piaget. Nas leituras da bibliografia divulgada pelo professor para a ação de formação tomei conhecimento do Tecnological Pedagogical Content Knowledge, mais conhecido pelo acrónimo TPACK, ou seja, uma processo de ensino-aprendizagem que prevê que o uso adequado da tecnologia no ensino requer um desenvolvimento do conhecimento complexo e contextualizado. Este contexto pressupõe que uma verdadeira integração da tecnologia requer compreender e adaptar a inter-relação entre três tipos de conhecimento: o conhecimento dos conteúdos pedagógicos de uma dada disciplina, conhecimento das teorias pedagógicas e domínio dos recursos tenológicos. O TPACK é um ambiente multimédia de autor, de código fonte aberta, construído com bases pedagógicas inspiradas no construtivismo de Piaget e na nova taxonomia proposta por Lee Shulman, mas desenvolvido pelos investigadores Mishra e Koehler (2006) na perspetiva de integração da competência digital nos processos de ensinoaprendizagem. Considero também que o mais importante da abordagem TPACK é o aspeto de caracterizar o que os professores necessitam saber sobre tecnologia ao religar a tecnologia quer ao conhecimento dos conteúdos pedagógicos da disciplina quer ao conhecimento pedagógico dos próprios professores. Assim, a taxonomia TPACK caracteriza os conhecimentos de que os professores necessitam para habilmente ensinar com tecnologias. Uma implicação muito importante desta abordagem é que os professores devem identificar e utilizar os métodos que melhor desenvolvam a complexa e integrada forma de conhecimento estabelecida pela estrutura TPACK. Shulman considera que no ensino tal como na medicina está-se perante seres humanos e que também as premissas de atuação dos professores devem ser ordenadas e classificadas, pelo que estamos perante uma taxonomia que deve obedecer aos aspetos que sinteticamente apresento no quadro abaixo:

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A fim de desenvolver os recursos culturais e educativos que utilizo na minha área de docência, decidi projetar o TPACK para utilizar como método de ensino aprendizagem nas minhas aulas de Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) e Linguagens de Programação (LP) do Curso Profissional de Gestão Informática, com 23 alunos de cinco diferentes nacionalidades. Em todas as disciplinas que leciono utilizo a Internet como rede de ligação à Plataforma Moodle onde disponibilizo as orientações pedagógicas, os conteúdos teóricos das disciplinas e os testes e para onde os alunos devem igualmente remeter todos os trabalhos que tenham executado e os testes de avaliação que realizaram. Como orientação pedagógica refiro as melhores formas de procederem a pesquisas, exemplificando como fazer uso da geolocalização nos Google Maps, da procura e seleção de imagens, vídeos, notícias e aplicativos, entre outros, na Internet. Nos trabalhos e tarefas práticas como forma de motivação proponho que construam projetos a partir dos seus interesses, tais como: as artes, o desporto, a música, o cinema ou os encantos dos seus locais de origem, a história, os contos, os mitos, as lendas… A questão da educação multicultural é uma situação muito propiciada pela presença na turma de cinco diferentes nacionalidades e do inerente confronto de diferentes culturas e dos seus sistemas de valores sociais, propondo eu sempre uma aprendizagem aberta e colaborativa e que nela encontrem o verdadeiro valor do outro. Revela-se também muito importante coempreender que, de acordo com o pressuposto de Perrenoud (1995), no âmbito da educação se prende com o conceito de competências que caracteriza como o saber-fazer do ser humano em situações complexas. Interliga, desta forma, com o mundo do trabalho e as práticas sociais. Das práticas sociais destaca-se a Inteligência Coletiva, conceito que enuncia que “Longe de fundir as inteligências individuais em uma espécie de magma indistinto, a inteligência coletiva é um processo de crescimento, de diferenciação e de retomada recíproca de individualidades. A imagem móvel que emerge de suas competências, de seus projetos e das relações que seus membros mantêm no Espaço do saber constitui para um coletivo um novo modo de identificação, aberto, vivo e positivo” (LEVY, 1998, p. 32).

Este meu incitamento aos alunos para que pratiquem uma aprendizagem aberta e colaborativa secunda o conceito de “coaprendizagem que se refere a aprendizagem

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aberta e colaborativa que propicia a cocriação, a coautoria e a construção coletiva de conhecimentos desenvolvidos por participantes na Web 2.0” (Okada. 2014).

Nos seus estudos sobre competências do século XXI, Okada apresenta a coaprendizagem como uma das competências imprescindíveis para que os nossos jovens enfrentem a Sociedade em Rede (Castells, 2002). Embora a formação de redes seja uma prática humana muito antiga, “as redes ganharam vida nova em nosso tempo transformando-se em redes de informação energizadas pela Internet […]” (Castells, 2003, p. 7). Considerando que os meus alunos estão num curso profissional, que pressupõe que de imediato deverão integrar a vida ativa, recordo que numa perspetiva económica as tecnologias propiciaram, a partir do século XX, a globalização da economia mundial, pondo em evidência que novas forças operam a nível mundial.

Destaco a importância da Internet que propiciou que as tecnologias da informação interligassem eletronicamente o mercado financeiro global, tendo-se este transformado numa determinante fonte dos investimentos e da criação de valor para toda a economia. A nova economia afeta a tudo e a todos, mas é inclusiva e exclusiva ao mesmo tempo, os limites da inclusão variam em todas as sociedades, dependendo das instituições, das políticas e dos regulamentos. Por outro lado, a volatilidade financeira sistêmica traz consigo a possibilidade de repetidas crises financeiras com efeitos devastadores nas economias e nas sociedades (Castells, 1999, p. 203).

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Referências Bibliográficas: CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede – A era da informação: economia, sociedade e cultura. São Paulo: Paz e Terra. 1999. _________. A Sociedade em Rede. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. 2002.

_________. A Galáxia da Internet: Reflexões sobre a Internet, os negócios e a sociedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor. 2003. LÉVY, P. A Inteligência Coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. São Paulo: Edições Loyola. 1998. Mishra, P., & Koehler, M. J. Technological pedagogical content knowledge: A framework for teacher knowledge. Teachers College Record, 108(6), 1017-1054. 2006. http://punya.educ.msu.edu/publications/journal_articles/mishra-koehler-tcr2006.pdf. [1 de julho de 2016] OKADA, Alexandra. Competências-Chave para coaprendizagem na Era Digital. Santo Tirso: Whitebooks. 2014.

PERRENOUD, P. Des savoirs aux competences: de quoi parle-t-on en parlant de competences? In Pédagogie collégiale (Québec), Vol. 9, n°1, octobre 1995, pp. 20-24. <http://www.unige.ch/fapse/SSE/teachers/perrenoud/php_main/php_1995>. [2 de julho de 2016]

Shulman, L. S. Those who understand: Knowledge growth in teaching. Educational Researcher, Vol. 15, No. 2 (Feb., 1986), pp. 4-14.

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