Teri terry reiniciados

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Admissão; cirurgia; acompanhamento; recomendações. Clico em Admissão. E lá estou eu, em carne e osso. Um outro eu. Em uma cama de hospital, mas há algo diferente, há cordas ao lado da cama. Minhas mãos e meus pés estão amarrados. Meu cabelo está mais comprido, embaraçado. Estou até mais magra do que agora. Meu rosto está sem expressão, meus olhos são vagos: nada de janela para minha alma ou coisa parecida. E, enquanto olho para a tela do computador, uma parte de mim ainda ouve: tiros, armas; um grito sufocado. Mas estou hipnotizada. Dou uma rápida olhada nas notas sobre minha admissão e cirurgia, buscando por qualquer pista sobre o motivo de eu estar aqui, mas não encontro nada. Só blá, blá, blá sobre tomografias completas de imagens do meu cérebro. Passos, tiros. Eles estão perto agora. Mas o que é isso? Abro um link onde está escrito “Recomendações”. Mais alto. Levanto os olhos para a porta. Mova-se, esconda-se, agora! Novamente uma voz em minha cabeça. Onde? Olho ao redor da sala, olho para o computador, pensando em fechar as janelas que abri na tela, mas então o último link que cliquei se abre: Recomendações. Uma tabela com datas e ações. A junta recomenda a finalização. Doutora Lysander tem o controle. Novo tratamento realizado. Monitorar os sinais de regressão após o novo tratamento. Recomendados vigilantes extras. A junta recomenda o término se houver reincidência. A última recomendação está com a data de uma semana antes da minha saída do hospital. Mova-se, esconda-se, agora! A porta é escancarada. Tarde demais.

* Um homem me encara. Ele não é um Lordeiro: seu cabelo está desgrenhado, os olhos são selvagens, e as roupas pretas, que provavelmente deveriam ser um uniforme, de perto deixam a desejar. Uma parte de mim ainda se prende a esses detalhes, enquanto o resto se foca em uma única coisa. Uma arma em sua mão, que ele levanta e aponta para mim. Outro rosto aparece sobre seu ombro. — Deixe-a! Ela tem um Nivo. É uma Reiniciada. Ainda assim ele aponta a arma para mim. — Seria mais generoso, não seria? — ele diz. Eu balanço a cabeça, me colocando contra a parede. Tento dizer: não, por favor, mas as palavras estão apenas em minha mente, ficam presas na garganta e não saem. — Não desperdice munição! — grita o outro, puxando seu braço. Eles saem pelo corredor. Escorrego até o chão, tremendo violentamente. Meu Nivo marca 5.1. Explique isso. Não posso. Após um tempo, o instinto de autopreservação toma as rédeas, me dando forças para levantar. Fecho todas as janelas abertas do computador, deixo-o como estava e saio porta afora. O corredor está vazio; ouço gritos na direção para onde os homens correram. Corro para o outro lado. As luzes piscam várias vezes e então se apagam. Está escuro como breu. Meus olhos se abrem mais e mais, mas não vejo nada neste corredor sem janelas. Um grito começa a nascer em minha garganta, tentando encontrar o caminho para fora. Controle-se; você sabe como: lembre-se! Respiro lenta e profundamente, delineando a planta do hospital em minha mente. Oitavo andar.


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