O cuidado em cena

Page 317

de saúde contemporâneas vêm se deparando com limitações, na busca de respostas efetivas às complexas necessidades de saúde dos indivíduos e das populações (AYRES, 2004), porquanto se centram em uma racionalidade técnica que se mostra insuficiente como resposta aos problemas deste campo. Dentre os alinhados com esta perspectiva crítica, Ayres (2006) se apresenta como um dos autores que afirma que, para se transformar as práticas de saúde, faz-se necessário que os critérios biomédicos utilizados na avaliação e validação das ações de saúde sejam entendidos de forma mais crítica, pois estes se revelam insuficientes diante de condições de saúde tão complexas. Assim, o autor ressalta a importância do ‘cuidar’ nas práticas de saúde, em que ocorre “o desenvolvimento de atitudes e espaços de genuíno encontro intersubjetivo e de exercício da sabedoria para a prática da saúde”. (AYRES, 2006, p 56). Estas práticas, embora tenham as dimensões técnicas como base, não podem se limitar a nelas, pois precisam estar interligadas a outras dimensões do adoecer. Assim, uma condição básica das ações de saúde, no sentido do cuidado, é a capacidade de diálogo, que deve estar presente no momento do encontro entre os sujeitos que ocupam lugares diferenciados neste cenário: os profissionais da saúde e os usuários. Esta capacidade de escuta e diálogo está relacionada, segundo Ayres (2006, p. 70), a um dispositivo presente nas propostas de humanização da saúde: o acolhimento. Este deveria estar presente em todos os momentos em que usuários interagem com profissionais de saúde/serviço de saúde. O acolhimento é um dispositivo de atenção humanizada que se caracteriza por aproveitar todos os momentos de encontro para que ocorra a escuta do usuário, nos espaços de interação entre ele e os profissionais de saúde. Durante estes encontros entre os usuários e os profissionais, devem ocorrer a valorização da dimensão dialógica e estar presente “um autêntico interesse em ouvir o outro”, para que as ações de saúde sigam na direção do cuidado. Para a efetivação deste cuidado, é preciso que haja, além do interesse, a decisão de escutar o outro, atitude que é compreendida a partir da responsabilidade assumida por um cuidador no momento do cuidado e a partir da própria construção do vínculo “usuário-serviço”. (AYRES, 2006, p.70). Segundo assinala Ayres (2006), além do acolhimento, outra questão necessária à efetivação do cuidado e intimamente relacionada à “decisão de escutar” é a responsabilidade para com o outro. Esta se torna relevante para o cuidado em vários níveis, desde a construção do vínculo profissional/ 317


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.