Diplo 2 talita maboni

Page 1

sentido KALUNGA 1


2


SENTIDO KALUNGA arquitetura como instrumento de qualificação do espaço turístico

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DEPARTAMENTO DE PROJETO, EXPRESSÃO E REPRESENTAÇÃO PROJETO FINAL DE GRADUAÇÃO ALUNA: TALITA XAVIER MABONI ORIENTADORA: LIZA MARIA SOUZA DE ANDRADE

BRASÍLIA, JULHO DE 2018

3


4


AGRADECIMENTOS

Antes de tudo, agradeço a vida pela oportunidade de fazer um projeto que tanto me ensinou e fez amadurecer como pessoa, como estudante e como profissional. Não teria conseguido sem o apoio da querida professora Liza que sempre acreditou no meu potencial, o qual nem eu própria conhecia ainda. Agradeço aos amigos Gisele Fernandes e Felipe Hanna que em muitos momentos me ajudaram, seja com caronas ao Engenho, dicas de projeto e companhia para os momentos de stress. Agradeço imensamente ao Rodrigo Hanna por me ensinar sobre dedicação e a buscar sempre o melhor de mim, e por me ensinar a trabalhar com programas de representação gráfica que antes achava impossível. Obrigada por toda a ajuda no trabalho, sem ela não teria atingido o mesmo resultado. Obrigada pelo companheirismo e todo o suporte durante esses meses. Agradeço a Rose Santos pela parceria e pela amizade que surgiu graças a esse trabalho. À minha família, peço perdão pela ausência. Amo vocês profundamente. Por tudo que me cerca, pela vida e pelo amor, SOU GRATA.

5


INDICE

01

02

03

O QUÊ?

DE QUE FORMA?

ONDE?

Percurso metodológico 20 Linha do tempo 24 Processo participativo 26

Quilombos Direitos fundiários Kalunga Histórico

Apresentação Limitações Objetivos Justificativa

10 13 14 16

32 34 36 38

6


04

05

06

07

COMO É?

OS PADRÕES

A PROPOSTA

O CENTRINHO

Dimensões de sustentabilidade 60 Outras experiências 66

Conceitos 72 Mapas de intervenção 77 Mobiliário 90

Localização Implantação Programa Zoneamento Construções Próximos passos

Aspectos socioculturais Dados socioeconômicos Atores Infraestrutura turística Elementos comunitários Estrutura espacial Moradias

42 44 46 48 50 52 54

98 99 100 101 104 119

7


08


O QUÊ? 09


APRESENTAÇÃO Este trabalho de pesquisa faz parte do Projeto de Extensão de Ação Contínua (PEAC) “Periférico: Trabalhos Emergentes” - grupo que busca trabalhar com temas marginais e emergentes, pouco abordados nos cursos de arquitetura e urbanismo, envolvendo as comunidades na elaboração dos projetos do trabalho final de graduação dos estudantes da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília. Ao longo do percurso a pesquisa se transformou em Projeto de Extensão PIBEX/UnB, com início em agosto de 2016, se estendendo até o presente momento. Buscando atender a uma demanda real, o projeto se desenvolve no povoado do Engenho II, pertecente ao Quilombo Kalunga, localizado na região da Chapada dos Veadeiros, em Goiás.

O quilombo Kalunga é o maior do Brasil em extensão territorial e foi tombado como Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga Por ser a portaria de entrada para diversas cachoeiras como a Santa Bárbara, Capivara e Candaru, e devido à sua especificidade natural e singularidade cultural, o Engenho II tem no ecoturismo uma importante fonte de renda e precisa ser bem estruturado para receber a atividade, entretanto, a infraestrutura existente ainda é muito precária. A renda da população vem, em grande parte, de programas federais e estaduais e, com o turismo, muitas famílias estão saindo da linha da pobreza e melhorando de vida, mas consequências negativas também são geradas por ele, sendo possível observar um materialismo dialético no turismo local: há degradação do meio ambiente e a susten-

tabilidade prezada pelo ecoturismo se perde ao não conseguir equilibrar a economia (lucros financeiros da prática) com a sociedade (patrimônio cultural) e o meio ambiente (patrimônio natural), resultando em uma mercantilização da natureza e da cultura. Assim, na busca de uma arquitetura que garanta a sustentabilidade em todos os seus aspectos sociais, ambientais econômicos e culturais, o objetivo deste trabalho é demonstrar o processo de projeto para a construção de infraestrutura turística e equipamentos comunitários no Engenho II. Pretende-se com a arquitetura não uma representação caricatural do que é ser quilombola, mas uma que expresse o que é ser quilombola no Engenho. 10


local de intervenção

Engenho II

Cavalcante

Para tanto, foi proposta a criação de um Centrinho Cultural que materialize a história e o modo de vida Kalunga em infraestrutura que incentive o turismo cultural na comundiade, desafogando o ecoturismo concentrado nas cachoeiras do território. Além disso, foram propostas melhorias na infraestrutura da comunidade como arborização, mobiliário e sinalização com informações históricas sobre os locais. Com isso, espera-se que não apenas o território se altere com a readequação do espaço e a instalação de equipamentos comunitários, mas que os laços entre os moradores sejam reestabelecidos e reforçados, unindo mais ainda a comunidade a partir do processo participativo.

Parque Nacional da Chapada dos da Chapada dos Veadeiros Veadeiros Alto paraíso de Goiás São Jorge

Brasília e Goiânia

11


Em julho de 2017 a pesquisa foi publicada na quarta edição do Seminário Internacional da Academia de Escolas de Arquitetura e Urbanismo de Língua Portuguesa, com temática na importância da Arquitetura, do Urbanismo e do Design como expressão cultural, ocorrido em Belo Horizonte-MG. No ano seguinte, em abril de 2018, foi publicada também no VI Encontro de Sustentabilidade em Projeto - ENSUS - na Universidade Federal de Santa Catarina, que reuniu professores, técnicos, alunos e comunidade em busca da sustentabilidade integrada aos projetos e ao desenvolvimento de novos produtos nas áreas de Arquitetura, Engenharia e Design.

12


LIMITAÇÕES Algumas questões surgiram como limitações para o desenvolvimento do projeto ao longo do tempo. A primeira dificuldade a ser vencida foi a aproximação com a comunidade: como se apresentar? O cuidado está na humildade de não querer ser o “pesquisador da Universidade que detém todo o conhecimento”. É preciso ter em mente que, ao se trabalhar com comunidades, o pesquisador mais aprende do que ensina, havendo uma troca contínua de saberes. A distância de Brasília ao Engenho talvez tenha sido a maior das dificuldades enfrentadas, bem como o fato de ser de difícil acesso. As visitas de campo só foram possíveis devido as caronas recebidas, em grande parte de amigos. Na parte projetual, fazer muito com pouco não é fácil. O desafio foi projetar uma arquitetura adaptada ao meio em questão mas que ao mesmo tempo trouxesse a contribuição de uma arquiteta. Ainda assim, foram priorizados detalhes construtivos mais simples e de custos mais baixos para que, um dia, possam ser executados. Por fim, vale ressaltar que o tempo da academia não é o mesmo tempo da vida real das comunidades e que os processos pessoais de todos os atores envolvidos interferem no desenvolvimento dos projetos.

13


OBJETIVOS Já que o turismo é a principal fonte de renda do Engenho II, deve ser bem administrado e estruturado para que sejam minimizados os impactos ambientais e sociais. Entretanto, a infraestrutura para o turismo no local ainda é muito incipiente e necessita de estudos que contribuam com ações e instrumentos de gestão territorial e ambiental que conciliem a preservação da natureza à iniciativas que lhes resultem em uma melhoria na qualidade de vida e autonomia financeira, respeitando suas tradições culturais e construtivas. Assim, o objetivo desta pesquisa e projeto de extensão é contribuir com projeto de infraestrutura que ajude a minimizar esses impactos, resultando na resolução ou amenização de alguns conflitos existentes na comunidade em relação ao turismo, como a superlotação das cachoeiras, prejuízos ao ambiente cultural, social e ambiental e competições entre as famílias empreendedoras.

Delimitou-se um núcleo de intervenção onde foi proposta a criação de um Centrinho Cultural que conecta elementos comunitários já existentes com os propostos, além de qualificar áreas verdes com intervenções paisagísticas. O centrinho é voltado para o turismo dentro do Engenho, criando um circuito entre as edificações tais como o Espaço da Memória Kalunga, a Casa de Farinha, de algodão e cana, o parquinho, a feirinha e a loja de produtos quilombola, o palco para apresentações culturais, a biblioteca comunitária, o novo CAT e a réplica da casa Kalunga, todas com o objetivo de incentivar o turismo cultural na comunidade e desafogar o ecoturismo concentrado nas cachoeiras.

14


Organização socioespacial através da criação do Centrinho Cultural para incentivar o turismo cultural na região DESENVOLVIMENTO SOCIAL E ECONÔMICO

QUALIDADE DO ESPAÇO

VALORIZAÇÃO DO PATRIMÔNIO NATURAL E CULTURAL

Melhorias na infraestrutura local com soluções urbanísticas e paisagísticas para uma maior ambiência

Contribuir para que o legado da história Kalunga chegue às futuras gerações com respeito à natureza e às pessoas, garantindo a sustentabilidade em todas as suas dimensões

15


POR QUÊ?

Cada vez mais a preocupação com a conservação dos ambientes naturais e culturais de uma sociedade para usufruto das gerações futuras vem sendo o eixo orientador na concepção de projetos arquitetônicos e urbanísticos. Ainda assim, há uma polarização nas atuações dos arquitetos e urbanistas: há profissionais que se mantém fiéis ao status quo e às demandas comerciais de seus clientes e outros que tentam melhorar a vida das pessoas com seu trabalho, lutando contra a pressão do mercado e integrando diversas áreas do conhecimento ao coletivo em projetos sociais e de cooperação. A participação da comunidade nas tomadas de decisões relativas ao seu desenvolvimento futuro deveria ser premissa indispensável nos projetos de arquitetura e urbanismo, uma vez que reforça o reconhecimento mútuo entre os habitantes de um local e entre eles e sua comunidade. Contudo, sabe-se que o trabalho do arquiteto não é acessível a todas as pessoas, em especial comunidades carentes.

Dessa forma, buscando atender a uma demanda real, este trabalho se desenvolve no povoado do Engenho II, pertencente ao Quilombo Kalunga localizado na região da Chapada dos Veadeiros, em Goiás. O Engenho tem visto o ecoturismo se intensificar a cada ano, necessitando de um planejamento sustentável do espaço visto que a atividade é uma das mais importantes fontes de renda da população. É necessário, então, a contribuição de diversas áreas do conhecimento para que esse planejamento ocorra da maneira mais adequada possível ao local, organizando o espaço de tal forma que os equipamentos sejam construídos na linguagem arquitetônica local e distribuídos adequadamente para que os usuários - turistas e moradores - se sintam atores responsáveis pela preservação e manutenção do patrimônio cultural, ambiental e social da comunidade, ao mesmo tempo em que forneça infraestrutura para que os turistas possam consumir, de maneira responsável, a cultura, o comércio e serviços do lugar.

INDISSOCIABILIDADE DO ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO É dever dos estudantes, professores e profissionais, incluindo arquitetos, promover a extensão do ensino e da pesquisa para a realidade social, para que sejam quebrados os muros acadêmicos que separam as Universidades e as comunidades.

16


?

arquitetura para quem

17


18


DE QUE FORMA?

19


PERCURSO METODOLÓGICO O processo participativo do Grupo Periférico age como eixo norteador no desenvolvimento dos projetos e pode ser dividido em etapas: 1ª) Reconhecimento e reflexão crítica; 2ª) Desenvolvimento das demandas; 3ª) Execução do projeto.

EIXOS DE PESQUISA Quilombos no Brasil Quilombo Kalunga Engenho II

EIXOS DE ATUAÇÃO Escala do núcleo Escala do lote Tanto a pesquisa quanto o projeto se deram da escala macro para a micro, partindo do entendimento dos quilombos brasileiros, para então se estudar o Quilombo Kalunga e só então o Engenho II. No projeto, foram desenvolvidas ações tanto na comunidade, como no lote de intervenção com as construções propostas.

Escala de projeto

20


21


Contexto histórico e social do Quilombo Kalunga

Comunidades Quilombolas no Brasil Rafael Sanzio

Mari Baiocchi

Processo histórico espacial do Engenho II

Relações socioespaciais

Mapeamento afetivo

Alessandra D’Aqui Velloso

Materialismo Dialético Karl Marx

Imagens de satélite Encontros com moradores

História contada Relatos orais Conversas informai Entrevistas semiestruturadas Observações de camp

COMPREENSÃO DO TERRITÓRIO E DA INFRAESTRUTURA LOCAL

1 2 3

CONHECER SISTEMATIZAR

SOLUÇÕES Soluções EMERGENTES emergentes (PADRÕES) (padrões)

Processo participativo

Análise do contexto

Linguagem de padrões

Dimensões de sustentabilidade

Christopher Alexander

Liza Andrade

PROJETAR

Referências construtivas

Levantamento das técnicas e materiais construtivos locais

SOLUÇÕES Soluções ARQUITETÔNICAS arquitetônicas

22


PRIMEIRA ETAPA:

SEGUNDA ETAPA:

Para a primeira etapa, foi feito um estudo teórico das comunidades quilombolas a partir das pesquisas conduzidas pelo professor Dr. Rafael Sanzio Araújo dos Anjos, que sistematizou informações geográficas para o mapeamento dos municípios brasileiros contribuindo para a compreensão dos quilombos e sua relação com a formação do território e do povo brasileiro. Em seguida foram realizadas pesquisas acadêmicas para o entendimento do contexto histórico e social do Quilombo Kalunga, tendo a pesquisa da professora Alessandra D’Aqui Velloso “Mapeando narrativas: uma análise do processo histórico-espacial da comunidade do Engenho II” (2007), como principal fonte sobre o processo histórico-espacial do Engenho II. É preciso compreender quais as relações que se estruturam nesse espaço e como os moradores se relacionam com determinados espaços e contextos. Assim, logo se percebeu a dialética nos impactos do turismo e a existência de conflitos, justificando-os com o materialismo dialético de Karl Marx. O materialismo dialético é uma concepção filosófica que defende que o ambiente tanto modela sua sociedade e cultura quanto é modelado por ele, onde a matéria está em uma relação dialética com o psicológico e o social.Através de relatos orais e conversas informais com moradores mais velhos foi possível aprender um pouco sobre a história do quilombo contada pelo seu próprio povo, contribuindo para o reavivamento da memória coletiva através da oralidade. Para uma maior compreensão dos laços afetivos com o território, foram mapeados os locais mais importantes sobre imagens de satélite do território do Engenho II (elementos comunitários, simbólicos e espaços de produção). Além disso, foram elaboradas perguntas chave que contribuíssem para o entendimento da infraestrutura e atividades locais, com ênfase em dados socioeconômicos, materiais e técnicas construtivas, infraestrutura presente no território e as dinâmicas da atividade turística.

A segunda etapa consiste na sistematização dos dados após o diagnóstico do local e uma análise do contexto onde são definidos os padrões de acontecimentos existentes no espaço. Assim, foi feita uma análise das dimensões da sustentabilidade ambiental, social, econômica e cultural, segundo Andrade, 2014. Com os dados obtidos e a análise das dimensões de sustentabilidade foram elaboradas soluções na forma de códigos ou padrões que surgem a partir dos problemas relatados pela comunidade e soluções propostas pelas pessoas no processo participativo. A metodologia de padrões criada por Alexander et al. (1977) descrita em seu livro Uma Linguagem de Padrões (1977), se baseia no levantamento das problemáticas locais para a criação de soluções na forma de padrões, específicos para cada contexto. Os padrões devem ser apresentados à comunidade de maneira clara e acessível para que eles possam entendê-las e executá-las. A interpretação dos padrões é pessoal e deve se adaptar às preferências dos moradores e às condições do local de projeto. A partir do levantamento das técnicas e materiais utilizados tradicionalmente pelos locais foram escolhidas as melhores soluções arquitetônicas para o projeto. O conhecimento tradicional deve se fundir ao conhecimento do pesquisador para resultar em uma arquitetura que melhor se adeque ao contexto, evitando, assim, perda de material, gastos desnecessários e técnicas construtivas inadequadas ao meio em questão. Como visto a pesquisa e o projeto não se dão de forma linear, mas se interconectam e acontecem de forma simultânea juntamente com a participação popular. O entendimento do contexto se dá na medida em que a aproximação com a comunidade é feita, para então surgirem respostas às questões levantadas.

23


linha do tempo ENSAIO TEÓRICO

A LÍNGUA QUE HABITAMOS

Primeira interação com a comunidade. Dificuldade em se trabalhar com tema real: as comunidade estão cansadas de ser “objeto de estudo” para pesquisas sem resultado prático. Na primeira visita de campo conheci Damião, Dalila e Geovan

Publicação de artigo na quarta edição do Seminário Internacional da Academia de Escolas de Arquitetura e Urbanismo de Língua Portuguesa, com temática na importância da Arquitetura, do Urbanismo e do Design como expressão cultural (Belo Horizonte - MG)

abr/17

2006 out/16 Viagem da prof. Liza Andrade ao Engenho, onde ouviu o sonho do seu Cirilo sobre a construção de uma Vila Kalunga

jul/17 PROJETO DE DIPLOMAÇÃO 1 Segunda visita de campo: mapeamento da comunidade com a ajuda do seu Cirilo; identificação de padrões; conversa com o líder da Associação do Quilombo Kalunga, em Cavalcante, que aprovou a continuação da pesquisa.

Divulgação da pesquisa na internet: criação de página no facebook a partir da qual nasceu o contato com Rose Santos, quilombola do Engenho que continuou contribuindo com o trabalho até o último momento.

24


LEGENDA Participação Comunitária

PIBEX - DEX/UnB

ARTIGO ENSUS

O projeto de diplomação se transformou em Projeto de Extensão, financiado pelo DEX/UnB.

Publicação de artigo no VI Encontro de Sustentabilidade em Projeto (Florianópolis - SC)

jul/17

Terceira visita de campo: aplicação de questionários informais sobre a infraestrutura da comunidade e métodos construtivos. Identificação de padrões, subsídios e parâmetros para projeto do centrinho cultural

Interação acadêmica

jul/18

out/17 ago/17

Visita de campo

abr/18 Quarta visita de campo: envolvimento com moradores a partir de conversas informais; roda de conversa para apresentar propostas iniciais; “café com ideias”: histórias dos antepassados, escolha do lote de intervenção, saberes locais, indicação de atividades históricas para o centrinho cultural

PROJETO DE DIPLOMAÇÃO 2 Durante o semestre, mesmo não sendo possível realizar outra visita de campo, o contato com a comunidade se deu através da Rose, Geovan e João Pedro, quilombolas do Engenho residentes em Brasília.

25


26


27


QUESTIONÁRIO

  Engenho II: Arquitetura, turismo e processo participativo

Encontre-nos no facebook! www.facebook.com/arqengenho

ENGENHO, ARQUITETURA E TURISMO

Controle do número de visitantes por dia Construção de um Centro de Cultura e História Kalunga

Como podemos ajudar em projetos para a infra-estrutura destinada ao turismo, no Engenho?

Pousada Comunitária Restaurante Comunitário Portaria de entrada

Idade

Outro:

Sexo

Que tipo de construção você acha melhor e mais adequada ao Engenho?

Masculino Feminino

com Adobe (barro e palha)

Estrutura em Bambu

Atividade (ocupação)

com Cobertura de palha

de Alvenaria comum (tijolo e cimento)

Telha cerâmica

Janelas e portas de madeira

Escolaridade

Estrutura em Madeira

Janelas e portas de metal

Ensino Fundamental Ensino Médio

Ensino Superior Sem escolaridade

Tipo de unidade habitacional

Cisterna (água da chuva) Rede de abastecimento (SANEAGO)

Você sempre morou no Engenho? Sim

Não

Captação nas represas e rios Caminhão pipa Outro:

Como é o abastecimento de energia na sua casa?

Se não, onde residia antes?

Turismo Agricultura

Serviços Bolsas de Programas Federais

Comércio

Outro:

Você está envolvido com a atividade turística no Engenho? Sim

Os equipamentos públicos (escolas, posto de saúde, espaços comunitários,

Como é o abastecimento de água na sua casa?

Alvenaria

Adobe

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade de Brasília

O que você acha da infra-estrutura existente no Engenho para o turismo? O que você acha que falta?

Rede de energia (CELG) Sem energia elétrica Outro:

Como é feito o descarte do esgoto na sua casa? Fossa séptica Banheiro compostável Bacia de evapotranspiração

Não

Se sim, de que forma?

Como é feito o descarte e coleta de lixo?

Guia turístico CAT

Bar Alimentação

Camping

Outro:

Como a atividade turística pode ser algo POSITIVO para a comunidade? Geração de emprego e renda

Apresentação da cultura kalunga

Melhoria na qualidade de vida

Troca de conhecimentos com os turistas Outro:

Coleta feita pela prefeitura de Cavalcante Queima Lixo a céu aberto

Como a atividade turística pode ser algo NEGATIVO para a comunidade? Lixo em trilhas e cachoeiras

Poluição sonora

Poluição das águas

Cachoeiras lotadas em alta temporada, impossi bilitando o uso dos próprios moradores Outro:

Como ela PREJUDICA os moradores e o meio ambiente?

O que você acha que poderia ser feito para diminuir a degradação ambiental? O que você acha que poderia ser feito para ajudar a preservar e valorizar a cultura kalunga, para o turismo? Fazer novas construções utilizando materiais tradicionais Disseminar arte, artesanato, comida e tradições kalungas Outro:

Aterro Compostagem Outro:

De onde vem os alimentos que você consome? Hortas no quintal Plantação na roça

Como ela AJUDA os moradores e o meio ambiente?

Desmatamento

Rede de esgoto (SANEAGO) Despejo no meio ambiente sem tratamento Outro:

Mercados (dentro do Engenho) Mercados (na cidade) Produtores vizinhos Outro:

Como esses alimentos são preparados? Fogão a lenha

Fogão a gás

Outro:

Você tem acesso à internet? Sim

Não

Se sim, qual rede social você utiliza? Facebook Instagram Twitter Email Outro:

Se um turista pedisse sua ajuda, como você desenharia um mapa mental para ele, marcando os principais locais e construções da comunidade?

28


C

, ! A E L AD A F ID N U M O

“Olha, eu acho que se ainda existe cultura dentro do kalunga, eu acho que é o adobe. Que as outras coisas que diz que é cultura já civilizou tudo, já acabou. Outra coisa que é da cultura, é a comida, tudo orgânico, feito com tempero caseiro, aí é outro sabor. Isso é relativamente todos os kalungas, porque o kalunga começa a aprender a cozinhar desde pequeno”.

“Todo turista que chega aqui na comunidade quer saber a história do quilombo, a história da comunidade”.

“Hoje em d ia tá bem complicado falar da cultura da comunidade. Até porque m uitas coisas m udaram. A geração mais antiga busca preservar a cultura, m as o s mais j ovens vão pra f ora e quando voltam as vezes não acham tão l egal as tradições. Mas a bença, as festividades, algumas comidas típicas”.

“Lá fora faça com a cara de lá, aqui tem que fazer com a cara daqui”.

“Aqui por exemplo, t em o pessoal com a safra, m onta uma feirinha d e orgânico, todo m undo quer! E a lém disso t em m uitas outras coisas que o visitante gostaria de levar, uma coisa natural, orgânica, artesanato, aprender a história...”

“Falta hospedagem, lazer mais próximo. Por exemplo, o turista vai lá na cachoeira, mas cadê a cultura do povo pra apresentar? Chega de lá 15h da tarde, vai fazer o que? E aliás disso tudo, uma roda de palestra, uma apresentação, uma palestra descontraída”.

“Só falta o pessoal t er a visão...condiçõe s também. E a condição quem f az é a união”.

“Tem muita gente que veio aqui e disse: eu não quero conhecer cachoeira, eu quero conhecer o povo, quero conhecer a comunidade”.

“E nem depende de dinheiro não...juntava os guia, juntava a comunidade, voluntário, igual a gente já fez várias coisas assim, ia no mato, num vai comprar madeira, num vai comprar palha, já tem tudo aqui. Basta ter vontade”.

29


30


ONDE?

31


QUILOMBOS Durante séculos de exploração e dominação, as terras do novo mundo receberam milhões de escravos trazidos do continente africano para o trabalho pesado nos campos, passando a tê-los como parte importante em sua raiz formadora. Estes povos foram retirados à força de suas casas e tratados como animais e sem respeito algum à sua humanidade, levados para lugares com clima e vegetação completamente estranha à eles, onde tiveram que se adaptar para sobreviver. Contra os abusos sofridos surgiram grupos de resistência na tentativa de fuga para lugares de difícil acesso para se esconder de toda a crueldade do sistema escravocrata e ter uma vida livre, onde pudessem viver sua cultura e não mais serem dominados pelo homem branco colonizador. Trouxeram consigo todos os seus conhecimentos religiosos, culinários, medicinais, de cultivo e artesanato. Estes grupos surgiram na forma dos quilombos, que se estruturaram com fortes referências de seus povoamentos africanos, recebendo influências dos povos indígenas brasileiros e, alguns, de brancos europeus excluídos do sistema. Como espaço de resistência, os quilombos continuaram, então, aumentando em número e em população. A partir da década de 1970, a população negra urbana e rural começou a se mobilizar e a se articular mais, gerando uma maior pressão na sociedade e na política, o que culminou na inclusão das questões quilombolas na Constituição Federal de 1988.

Deste então, as terras tradicionalmente ocupadas têm sido reivindicadas pelos afro-brasileiros que lutam pelo seu direito de permanecer nelas e exercer suas práticas culturais, além do reconhecimento legal de posse. Segundo Velloso (2007, p.25), apesar do crescimento de comunidades reconhecidas pelo Estado, muito pouco se alterou nos aspectos relativos à inclusão desses grupos socialmente vulneráveis. A infraestrutura em seus territórios, em sua grande maioria, ainda é bastante precária, onde serviços básicos como saúde, educação, energia e saneamento básico inexistem ou, quando existem, não atendem à real demanda. É possível que, neste cenário de exclusão sócio-espacial, em um país onde metade de sua população tem origem africana, os quilombos contemporâneos representem a força resistente dos povos negros em dar continuidade à matriz cultural africana, mantendo tradições e tecnologias trazidas por seus antepassados da África, mostrando como são fortes ao manterem vivos esses conhecimentos e lutando por seus territórios assim como seus antepassados, em uma sociedade que sempre os excluiu.

32


TERRAS QUILOMBOLAS TITULADAS E EM PROCESSO NO INCRA

3

31

65

4

377 32

57

58

1

20

61

29

5

2

89 17

1

1

5

73

293

18

30

4

4

30

27 1

168

tituladas

229 3

18

18

6

24

50 3

38

1

1675

em processo

4

17

95

data: 01/06/2017

33


DIREITOS FUNDIÁRIOS TITULAÇÃO DAS TERRAS A titulação do território quilombola está previsto na Constituição de 1988 e significa uma importante conquista da luta do movimento negro e quilombola, visto que, se efetivado, esse direito contribui no fortalecimento da autonomia do povo negro, além de representar um espaço de afirmação e memória rumo à superação do racismo, que marca a distribuição de terras e riquezas no Brasil. Assim, é de extrema importância a política pública de titulação de territórios quilombolas expressa no art. 68 do ADCT, da Constituição Federal. A norma federal que regulamenta o “procedimento para identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação, desintrusão, titulação e registro das terras das comunidades quilombola” é o Decreto 4.887, de 20 de novembro de 2003, segundo o qual “consideram-se os remanescentes das comunidades dos quilombos, os grupos étnico-raciais, seguindo critérios de autoatribuição com trajetória histórica própria, dotados de relações territoriais específicas, com presunção de ancestralidade negra, relacionada com a resistência à opressão histórica sofrida” (Fundação Cultural Palmares, 2008). Na atualidade existem 220 títulos emitidos, regularizando 754.811,0708 hectares em benefício de 152 territórios, 294 comunidades e 15.910 famílias quilombolas (INCRA, 2017).

Fase 1 - Autodefinição Quilombola A comunidade quilombola, assim como qualquer outro grupo social, tem direito à autodefinição. Para regularizar seu território, o grupo deve apresentar ao INCRA a Certidão de Autoreconhecimento, emitida pela Fundação Cultural Palmares.

Fase 4 - Portaria de reconhecimento A fase de identificação do território encerra-se com a publicação de portaria do Presidente do Incra que reconhece os limites do território quilombola no Diário Oficial da União e dos estados.

Fase 2 - Elaboração do RTID A primeira etapa de regularização fundiária quilombola consiste na elaboração do Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID), visando o levantamento de informações cartográficas, fundiárias, agronômicas, ecológicas, geográficas, socioeconômicas, históricas, etnográficas e antropológicas, obtidas em campo e junto a instituições públicas e privadas. O RTID tem como objetivo identificar os limites das terras das comunidades remanescentes de quilombos.

Fase 5 - Decreto de desapropriação Nos casos em que há imóveis privados (títulos ou posses) incidentes no território, é necessária a publicação de Decreto Presidencial de Desapropriação por Interesse Social (Presidência da República). Os imóveis desapropriados serão vistoriados e avaliados conforme os preços de mercado, pagando-se sempre previamente e em dinheiro a terra nua, nos casos dos títulos válidos, e as benfeitorias.

Fase 3 - Publicação do RTID Os interessados terão o prazo de 90 dias, após a publicação e as notificações, para contestarem o RTID junto à Superintendência Regional do INCRA, juntando as provas pertinentes. Do julgamento das contestações caberá recurso único ao Conselho Diretor do Incra Sede, no prazo de 30 dias a contar da notificação.

Fase 6 - Titulação O Presidente do Incra realizará a titulação mediante a outorga de título coletivo, imprescritível e pró-indiviso à comunidade, em nome de sua associação legalmente constituída, sem nenhum ônus financeiro. É proibida a venda e penhora do território.

34


MARCO TEMPORAL O Supremo Tribunal Federal (STF) em fevereiro de 2018 decidiu manter a eficácia do Decreto n. 4.887, de 20/11/2003, que regulamenta a identificação, o reconhecimento, a delimitação, a demarcação e a titulação das terras ocupadas pelas comunidades quilombolas. O Plenário da Suprema Corte considerou improcedente a Ação Direta de Inconstitucionalidade 3239, movida pelo partido político Democratas (DEM) em 2004, que questionava o procedimento. Além disso, os ministros também derrubaram a tese do Marco Temporal, segundo a qual só poderiam ser tituladas áreas que estivessem sob posse quilombola ou indígena em 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição Federal. A adoção do conceito do marco temporal é defendida pela bancada ruralista no Congresso mas combatida por indígenas e quilombolas, muitos dos quais dizem ter sido expulsos de seus territórios originais antes de 1988. Com essa vitória para os povos tradicionais fica mantida a garantia de regulamentação de suas terras.

35


QUILOMBO KALUNGA O quilombo Kalunga é uma dessas comunidades remanescentes de quilombos no Brasil, que há cerca de 200 anos ocupam um território de 237 mil hectares sendo o maior quilombo do Brasil em extensão territorial, abrangendo os municípios de Cavalcante, Teresina de Goiás e Monte Alegre, na região da Chapada dos Veadeiros, no norte do estado de Goiás. O território Kalunga é formado por mais de 60 povoados localizados nos chamados “vãos” (Vão das Almas, Vão do Moleque, Vão da Contenda). Como outras populações tradicionais que vivem em comunidade, os kalungas vivem na natureza e trabalham de maneira harmônica com ela para garantir sua subsistência. Além da agricultura, vivem do artesanato e da venda de produtos feitos no - e do - local. A terra não garante apenas sua subsistência, mas também uma importante fonte de renda quando bem administrada, visto que no território Kalunga há belíssimas cachoeiras e paisagens que proporcionam um ecoturismo inesquecível para as pessoas que buscam na natureza um descanso dos centros urbanos. Em 1991 o território foi tombado como Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga, porém, apesar deste reconhecimento pelo Estado, este grupo com grande vulnerabilidade social e econômica pouco viu serem incluídos efetivamente seus direitos de cidadania, uma vez que ainda sofrem muitas dificuldades relativas à infraestrutura em seus territórios como moradia, saneamento básico, energia, educação e saúde.

36


Tocantins

Goiรกs Territรณrio brasileiro Territรณrio Kalunga

330km

600km

Estado do Goiรกs

37


HISTÓRICO Em 1722, os bandeirantes Bartolomeu Bueno da Silva e João Leite da Silva Ortiz implementaram o ciclo minerador na região do cerrado onde vivia o povo indígena goyazes. A exploração do ouro das “minas de goyazes” atraiu mineradores que trouxeram consigo seus escravos.Diante de tanta exploração e castigos severos, alguns escravos fugiram do garimpo e se embrenharam nas matas e serras para encontrar locais seguros e escondidos que fossem de difícil acesso para os capitães do mato não os encontrarem. Nesses lugares já haviam outros habitantes: os índios. O choque de cultura entre escravos e indígenas fez com que o primeiro contato fosse desagradável, com a ocorrência de brigas e mortes. Com o passar do tempo, foram aprendendo a conviver em mais harmonia e até mesmo misturando suas etnias. Dessa forma nasceu uma comunidade fortemente marcada por essas duas culturas, conhecida como Quilombo Kalunga (SANTOS, 2016).

Segundo Baiocchi (2006), mesmo com a primeira titulação coletiva de propriedade das terras ocorrida em 1985, os anos de 1978 a 1990 foram fortemente marcados pela entrada de empresários rurais, fazendeiros e grileiros no território Kalunga. Na verdade, esse primeiro registro de terras impulsionou ainda mais as invasões e pressões sobre a população, criando intensos conflitos e despejos coletivos. Em 1991 o território Kalunga foi reconhecido pela Lei Complementar do Estado de Goiás LC 11.409-912, que em seu texto delimita a área do sítio histórico, prevê exclusividade da propriedade das terras aos seus habitantes, bem como a desapropriação e a titulação em favor da comunidade.

38


1722

Os bandeirantes Bartolomeu Bueno da Silva e João Leite da Silva Ortiz: ciclo minerador na região do cerrado onde vivia o povo indígena goyazes.

1978

Ameaça de empresários rurais, fazendeiros e grileiros

1982

Mari Baiocchi: “Kalunga, povo da terra”

1985

Primeira titulação coletiva de propriedade das terras

1990 1991

Tombamento do território como Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga. LC 11.409-912: delimitação da área, propriedade das terras, desapropriação e título. 39


40


COMO É?

41


ASPECTOS SOCIOCULTURAIS

CUIDADO DA TERRA

ARTESANATO

CRIAÇÃO DE ANIMAIS

RAIZEIRAS E BENZEDEIRAS

Inserido em uma área de grande riqueza agroecológica, o cultivo nas roças ainda é como antigamente, para subsistência

Na comunidade são feitos artesanatos com materiais locais que são vendidos na lojinha de produtos quilombola

A criação de gado vacum, porcos e aves reforça a diversidade alimentar, junto com as roças, hortas, pomares, pesca e extrativismo

O conhecimento das plantas medicinais ainda é aplicado no tratamento de doenças

42


FESTEJOS RELIGIOSOS

SUSSA

As festividades Kalunga seguem a prática do catolicismo popular celebrando os “dias dos Santos”, sendo uma maneira de expressar a religiosidade e a fé católica. O calendário festivo é estruturado de acordo com os ciclos de plantio e colheita, chuva e seca e com os acontecimentos importantes de seus antepassados. As festas têm ainda um papel social, pois é onde os parentes se encontram e casamentos, batismos e reivindicações são feitas.

BOLÉ

CURRALEIRA

As danças e rezas são passadas aos mais jovens através da oralidade para manter viva as tradições históricas. Atualmente, os Kalungas mais jovens vêm incorporando novas práticas aos festejos, modernizando a tradição. As principais danças kalunga são a sussa, dançada pelas mulheres; o bolé, dançado pelas crianças; e a curraleira, dançada por todos.

43


DADOS SOCIOECONÔMICOS

POPULAÇÃO Os dados mais recentes (2013) indicam que moram no Engenho II 140 famílias, cerca de 700 pessoas.

R$

RENDA Grande parte da renda familiar vem de benefícios estaduais e federais, como aposentadoria, Bolsa Família, Renda Cidadão, cestas básicas e Salário Maternidade. Aliado a isso encontram-se o turismo e a agricultura, onde a produção de frutos desidratados, doces do cerrado, farinhas, óleos vegetais, licores, garrafadas, sabão e artesanato são vendidos na loja de produtos quilombola.

LIXO A coleta de lixo é feita pela prefeitura de Cavalcante, num período de 15 em 15 dias, ou uma vez por mês. Assim, com a demora em se realizar o serviço, parte do lixo se acumula nas ruas ou é queimado, hábito que polui o ar e contamina o solo. 44


ÁGUA A rede hidrográfica pertence à bacia do Rio Tocantins, tendo como principais os rios Paranã, das Almas e Ribeirão dos Bois. Das 140 famílias moradoras do Engenho, 120 são abastecidas por água encanada de uma nascente próxima, armazenada em uma caixa d’água de 20.000L. As outras 20 famílias localizam-se na outra margem do rio e captam água de outra nascente. O córrego Cumundanga passa dentro do núcleo da comunidade, sendo um local de banho e diversão para as crianças.

ENERGIA Em 2004 o Programa Federal Luz para Todos levou energia elétrica para o Engenho, ligando-o a rede da CELG (Centrais Elétricas de Goiás).

ESGOTO As casas do Engenho utilizam fossa séptica com sumidouro para o descarte do esgoto. O sumidouro é um poço sem laje de fundo que permite a infiltração do efluente da fossa séptica no solo. Apesar de reduzir a quantidade de efluentes sólidos lançados no solo e ser uma alternativa barata para zonas rurais onde o saneamento básico urbano não chegou ainda, este sistema é prejudicial ao meio ambiente por contaminar o solo e o lençol freático com o efluente não totalmente tratado.

INTERNET Há uma rede de internet que abastece a comunidade, em que os custos são divididos por aqueles que querem usufruir da rede. 45


moradores

turistas

QUEM É O ENGENHO? pesquisadores

externos

46


O dia a dia no Engenho conta com a presença de diversos atores na ocupação dos seus espaços. Dentre os moradores, crianças, jovens e idosos compartilham saberes enquanto alguns deles se envolvem com a atividade turística. Esse intercâmbio de culturas se dá com turistas de diversas cidades e idade. Além destes grupos existem os pesquisadores e as ONGS que atuam com projetos sociais, entretanto, a comunidade já está cansada de ser pesquisada e vivenciar poucos resultados práticos. Há, ainda, a presença da Polícia Militar e de vendedores externos que trazem itens das cidades.

47


INFRAESTRUTURA TURÍSTICA

CAT + LOJINHA O Centro de Atendimento ao turista é o lugar onde o turista paga a entrada para as cachoeiras e contrata um guia local para o passeio. Ao lado há uma lojinha de produtos quilombola produzidos na comunidade

HOSPEDAGEM No total existem cinco áreas de camping para os turistas nos quintais dos moradores

RESTAURANTES E BARES Há oito restaurantes e três bares, localizados nas próprias casas dos moradores empreendedores

Infraestrutura turística atual do Engenho II

N

48


49


ELEMENTOS COMUNITÁRIOS

11 RANCHO COMUNITÁRIO Elemento agregador da comunidade onde são realizadas reuniões, cerimônias, eventos políticos e celebrações religiosas

13 IGREJA CATÓLICA Os credos católicos são norteadores das celebrações culturais, como as Festas dos Santos e a Sussa, dança tradicional

15 INCLUSÃO DIGITAL Espaço com computadores e internet, porém a maioria precisa de manutenção para funcionar

12 ESCOLAS Espaço onde crianças, adolescentes e adultos estudam e passam grande parte do dia a

14 CAMPO DE FUTEBOL Descampado onde são feitas as partidas de futebol -

16 POSTO DA POLÍCIA MILITAR Recém construído ao lado do CAT utilizando materiais de construções locais

50


17 ARTE KALUNGA MATEC Espaço novo onde ocor-rem ensaios do grupo de teatro local

1 3

2 5

4 6

FOTO recortar contorno das pessoas

18 IGREJA EVANGÉLICA Construída há alguns anos, vem ganhando muitos fiéis

8

7 9

19 POSTO DE SAÚDE Apesar de existente, carece de reforma e de atendimento periódico

Localização dos elementos comunitários

N

51


ESTRUTURA ESPACIAL

DIAGRAMAS RELATIVOS À ORGANIZAÇÃO ESPACIAL DO KALUNGA TENDO COMO CENTRO A MORADIA OU A CASA

Segundo as pesquisas do professor Rafael Sanzio os quilombos configuram suas estruturas espaciais seguindo alguns pontos de interesse. No caso do Engenho, a ocupação do território foi conduzida pela proximidade com rios e afluentes e pela proximidade com a estrada que liga a comunidade ao município de Cavalcante. Em 2004 o professor Jaime Almeida estudou o quilombo Kalunga e constatou que a ocupação se dá orientada por um núcleo principal, tendo como centro a casa, com os espaços coletivos e de trabalho adjacentes a ela. A escala do território também segue essa organização do espaço: há um núcleo principal onde se encontra a maioria das residências, e uma área mais afastada onde se encontram as roças de plantio e algumas ocupações mais antigas.

NÍVEL LOCAL 11 Casa principal 22 Pátio 1 2

3

33 Casa de agregado 4

4 Roça Rio

4

Estrutura conduzida pelo curso d’àgua

22 Rio 3

ANJOS (2005, p.53)

NÍVEL GLOBAL 11 Casa principal

1

Organização linear orientada pelo sistema viário

Curral Casa de farinha

2

33 Roça 4 Espaços sagrados

52


USO E OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO LEGENDA Núcleo principal Moradia Roça Rancho da roça Cemitério Estradas Córregos N

Projeção UTM/Sistema de referência SAD 69 - Brasil/Zola 23. APOIO TÉCNICO: BARROS, A.; MEDEIROS, V.

53


MORADIAS

O método construtivo histórico-social é o pau-a-pique, ou “enxumento”. Entretanto, devido a manifestação de doenças transmitidas pelo mosquito barbeiro novos métodos foram incorporados à história local, como a utilização do tijolo de adobe. Hoje há quatro tipos de materiais mais utilizados nas moradias: o adobe, a alvenaria, o solo-cimento e, em muitas casas, observa-se a mistura do adobe com alvenaria. Tradicionalmente, as casas não possuíam banheiros na parte de dentro e a cozinha também era feita separada da casa pelo medo de ocorrerem incêndios, já que a cobertura era de palha.

54


ADOBE

SOLO-CIMENTO

ALVENARIA

ALVENARIA + ADOBE

55


COBERTURAS PALHA DE BURITI

TELHA CERÂMICA

PALHA DE INDAIÁ

ETERNIT (AMIANTO)

56


CERCAS MADEIRA E ARAME FARPADO

BAMBU

MADEIRA

57


58


OS PADRÕES

59


DIMENSÃO + PADRÃO = DIRETRIZ

Considerando as Dimensões de sustentabilidade (ANDRADE, 2015), foi feito o diagnóstico a partir da análise da área mais habitada do território do Engenho II, onde vivem cerca de 120 famílias. Em seguida, com as demandas percebidas e recebidas foram traçadas diretrizes para o projeto selecionadas a partir dos padrões de Cristopher Alexander, compondo parte do programa de necessidades do projeto. A metodologia de padrões criada por Cristopher Alexander descrita em seu livro “Uma Linguagem de Padrões”, de 1977, se baseia no levantamento das problemáticas locais para a então criação de soluções na forma de padrões, específicos para cada contexto.

60


61


SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA

SITUAÇÃO EXISTENTE

A dinâmica e economia local hoje se baseiam, em sua grande maioria, nas relações do turismo: grande parte dos moradores está envolvida na atividade turística, seja como guia, restaurante, CAT, venda de artesanatos ou campings. Todo o lucro da comunidade fica para ela mesma, não havendo a interferência de organizações externas. Com isso, muitas famílias conseguiram melhorar sua renda. Mais focado nas cachoeiras da região, o turismo não tem enfoque na cultura Kalunga, justamente pela pouca infraestrutura disponível.

SOLUÇÃO

DIRETRIZES

Complexo de edifícios

Edifício principal

Ruas para pedestres

Palco

Criação de um centrinho cultural composto por diversas construções e espaços sociais que, juntos, formem um espaço de apresentação da cultura e da memória Kalunga. Espaço da Memória Kalunga como construção principal do centrinho, implantado no centro, orientando a implantação das outras construções. Assim será respeitada a forma de ocupação tradicional do território onde cada integrante construía sua casa próxima às de seus parentes, como uma aldeia. Criar ruas apenas para circulação de pedestres dentro do centrinho, deixando os carros no estacionamento.

Sinalizações e estandartes

forma dos caminhos

Criar caminhos de pedestres com a forma mais natural para manter a organicidade dos traçados das ruas já existentes. Sinalização dos pontos comunitários com placas informativas contendo a história e o tipo de uso de cada lugar.

62


SUSTENTABILIDADE CULTURAL/EMOCIONAL

SITUAÇÃO EXISTENTE

A presença do turismo contribuiu para o resgate da cultura e da memória kalunga. Assim, recebeu a atenção de artistas plásticos que trouxeram cores e vida à algumas paredes. Outro ponto ressaltado é a arquitetura tradicional local, presente ainda na maioria das construções, que utiliza terra, madeira, bambu e palha como técnicas. Os moradores possuem uma grande afetividade com o local, e muitos dos que vão para as cidades trabalhar ou estudar, retornam. Não há lugares de sentar nos espaços comuns nem áreas para permanência do pedestre.

SOLUÇÃO

Flores elevadas

DIRETRIZES

Posicionar canteiros com flores do cerrado de maneira a permitir que as pessoas toquem e cheirem as flores, criando bordas sólidas para que as pessoas possam se sentar nelas. Lugares de sentar

Luz solar nos espaços internos

Arte nas paredes

luz filtrada

Espaço de trabalho flexível

Criar jogos de luz e sombra a partir de ripas de madeira ou bambu nas coberturas e paredes das construções. Utilizar elementos e cores da cultura Kalunga e africana para ornamentar os espaços dentro do centrinho cultural.

63


SUSTENTABILIDADE SOCIAL

SITUAÇÃO EXISTENTE A união da comunidade é percebida no dia a dia, em que todos se cumprimentam como parentes ou amigos de infância. Além disso, foi graças à essa união que a comunidade conseguiu fazer sua voz ser ouvida para receber investimentos do Estado e de outras instituições. Ainda assim, os espaços do Engenho precisam de melhorias e soluções paisagísticas para melhorar a ambiência local. O andensamento é baixo: não há nenhuma construção com mais de um pavimento. Cada casa fica em um grande terreno próprio, com um grande quintal.

SOLUÇÃO

Pergolados no caminho

DIRETRIZES

Bancos sombreados

Dedicar área próxima à entrada da comunidade para criar estacionamento de carros dos turistas para desafogar o fluxo no centro e fazer com que a pessoa tenha que caminhar pelo local. Utilizar vegetação nos limites do estacionamento para camuflá-lo à paisagem. Aumentar a sinalização por toda a comunidade, informando elementos históricos e de serviços.

Estacionamento camuflado

Estacionamentos pequenos

Bicicletário

Plantas trepadeiras

Integrar os espaços do Engenho e dentro do centrinho através de caminhos sinalizados, pavimentação (pedra/madeira) e pergolados, criando uma unidade dentro do território. Instalar bancos e aumentar a arborização ao longo dos caminhos dos pedestres, estimulando a permanência em diferentes pontos da comunidade.

Redário

Espaços arborizados

Construção de pergolados em partes chave do caminho do pedestre para conectar espaços e plantar trepadeiras neles. Criar áreas de espera ou descanso como um redário sombreado por árvores. Criar bicicletário para os turistas que chegam de bicicleta. 64


SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL

SITUAÇÃO EXISTENTE Muitos moradores possuem hortas em seus quintais, sendo que a maior parte da produção vem das plantações nas roças localizadas no pé de serra (em períodos de colheita, permanecem nas roças durante um tempo). Há lixo acumulado em algumas latas de lixo improvisadas devido a demora da prefeitura de Cavalcante em realizar a coleta. As casas possuem rede de energia elétrica e de abastecimento de água captada de uma nascente próxima. Para tratar o esgoto utilizam fossa séptica com sumidouro. Não há diferença de pavimentação entre rua e calçada, sendo tudo em chão de terra batida.

SOLUÇÃO

DIRETRIZES Posicionar as construções de maneira a aproveitar da melhor forma a luz solar e os ventos que chegam nos espaços.

Feirinha

Bons materiais

Pavimentação com rachaduras entre as pedras

Coleta seletiva

Formar espaços utilizáveis com as árvores aproveitando-se da proximidade com pergolados, jardins e bancos.

Portas e janelas mais naturais

Reservar um pedaço de terra ensolarado para o cultivo coletivo de uma horta que permita a interação do turista com os alimentos do cerrado, construindo próximo à ela um pequeno balcão para ferramentas (o excedente pode abastecer a feirinha).

Horta

Construir banheiros secos compostáveis no centrinho, onde o rejeito ficará armazenado em câmaras até se transformar em fertilizante através da ação do calor do sol e da ação de bactérias (o composto pode ser utilizado na horta). Utilizar os materiais tradicionais das construções kalunga como tijolos de adobe, paredes de pau-a-pique, cobertura de palha e estrutura em madeira e bambu. Pavimentar os caminhos com ripas de madeira ou pedra com espaços entre cada peça para que cresça vegetação e o solo possa absorver a água da chuva. 65


OUTRAS EXPERIÊNCIAS PROJETO PASSADOS PRESENTES QUILOMBO DO BRACUÍ - RIO DE JANEIRO Com o objetivo de reconhecer as histórias formadoras dos quilombos no Rio de Janeiro e estimular o turismo de memória, foi criado o projeto Passados Presentes - memória da escravidão no Brasil, em parceria com as comunidades, onde foi desenvolvido um aplicativo de celular e exposições permanentes no quilombo do Bracuí, no quilombo de São José da Serra e na cidade de Pinheiral.

“A sinalização turística e os memoriais a céu aberto buscam honrar as vítimas da tragédia da escravidão e celebrar o patrimônio cultural negro erguido em terras brasileiras pelos que sobreviveram. Estas ações vêm estimulando iniciativas de economia sustentável entre os descendentes da última geração de africanos escravizados no Brasil”.

66


67


PARQUE MEMORIAL QUILOMBO DOS PALMARES SERRA DA BARRIGA - ALAGOAS O memorial foi implantado em 2007 pelo Ministério da Cultura, por meio da Fundação Cultural Palmares, no território original do maior e mais organizado quilombo das Américas, o Quilombo dos Palmares na Serra da Barriga, em Alagoas. Tombado em 1985 pelo IPHAN, o local recria o ambiente das República dos Palmares como uma espécie de maquete viva em tamanho natural, onde foram reconstituídas algumas das edificações mais significativas.

68


69


70


A PROPOSTA

71


CONCEITOS VALORIZAR Promover o reconhecimento da própria história, reforçando laços comunitários e valorizando o patrimônio histórico material e imaterial traduzidos no centrinho cultural. INTEGRAR Integrar o passado nas novas dinâmicas locais - o turismo - prezando pela sustentabilidade do espaço e da sociedade. QUALIFICAR Propôr melhorias nos espaços do Engenho e a construção de infraestrutura que contribuam com a organização socio-espacial e com as práticas socioecológicas.

72


73


MELHORIAS PARA O TURISMO

A escala do núcleo recebe melhorias na infraestrutura comunitária e turística sendo feito o mapeamento de cada uma dessas intervenções. Para a comunidade foi sugerida arborização na rua principal, ponto de coleta de lixo em pontos chaves próximos aos restaurantes, campings e elementos comunitários, a criação de uma biblioteca para os jovens estudarem e um parquinho, a instalação de bancos sombreados ao longo do percurso do pedestre estimulando a permanência e a construção de cercas de bambu na entrada da comunidade. Também foi proposta uma mudança na sinalização dos pontos comunitários com a criação de placas informativas e estandartes nos estabelecimentos comerciais. Para melhorar a infraestrutura turística foi proposta a criação de um portal de entrada, um estacionamento que faz com que o turista tenha que caminhar pela comunidade e que seus carros não congestionem os espaços; o centrinho cultural e chalés nas áreas de camping. Os chalés teriam um desenho padrão e cada família que quisesse investir em hospedagem poderia construi-los em seu quintal, democratizando o serviço e amenizando o desentendimento entre as famílias.

N

1. PORTAL DE ENTRADA

N

2. CENTRINHO CULTURAL

N

3. ESTACIONAMENTO

N

4. CHALÉ 74


MELHORIAS NA INFRAESTRUTURA DA COMUNIDADE

N

6. PONTO DE COLETA DE LIXO

5. ARBORIZAÇÃO

N

9. MOBILIÁRIO

N

N

10. CERCA DE BAMBU

N

N

8. PARQUINHO

7. BIBLIOTECA

N

N

11. PLACA INFORMATIVA

12. ESTANDARTE COMERCIAL

75


Foi projetado um percurso para o pedestre ligando o Centrinho às outras áreas do Engenho criando um circuito entre as edificações. O percurso recebe mobiliário e arborização que estimulam a permanência e contribuem com a ambiência local.

N

Mapa do percurso do pedestre 1/5000 76


Para o detalhamento dessas áreas, o núcleo do Engenho foi dividido em 6 zonas de interesse que, a partir da aplicação dos padrões e das demandas recebidas e percebidas ao longo do processo participativo, foram projetadas pensando nos usuários do local, tanto moradores quanto turistas.

N

Mapa das zonas de intervenção 77


ZONA 1

Planta técnica 1/750

N

78


Planta humanizada 1/750

N

79


ZONA 2

Planta técnica 1/750

N

1/750

80


N

Planta humanizada 1/750

81


ZONA 3

N

Planta técnica 1/500

82


N

Planta humanizada 1/500 83


ZONA 4

Planta técnica 1/750

N

84


N

Planta humanizada 1/750 85


ZONA 5

N

Planta técnica 1/750 86


N

Planta humanizada 1/750 87


ZONA 6

N

Planta técnica 1/750

88


N

Planta humanizada 1/750

89


MOBILIÁRIO

Pensando no conforto do usuário pelo percurso criado foram propostos mobiliários flexíveis que permitem a utilização em diversas formas. As peças são feitas da palmeira de buriti, abundante na região. São estruturas de baixo custo de execução que podem ser feitas pelos próprios moradores. O mobiliário foi disposto nos pontos comunitários e conta com jardineiras elevadas permitindo um contato direto com flores do cerrado. Os módulos são de 1,00x1,00m e podem ser combinados de diversas formas dependendo do uso em cada contexto.

90


91


O Rancho Comunitário é o local onde acontecem os festejos religiosos tradicionais da cultura Kalunga. Em frente a ele existe uma estrutura improvisada de madeira e palha que serve como suporte na distribuição de alimentos e bebidas durante as festas. Para uma construção mais duradoura e resistente foi projetada uma estrutura de bambu que abriga essas funções e recebe uma parede verde com plantas trepadeiras que servem como barreira ao sol.

esteira de palha de buriti

cobertura de bambu

pilares estruturais e ripas entrelaçadas de bambu

92


referência às Romarias religiosas

PLACA INFORMATIVA As placas informativas nos pontos comunitários indicarão o nome, tipo, ano e técnica da construção (quando for o caso), o uso e curiosidades sobre a história daquele lugar.

ESTANDARTE Os estandartes estarão localizados nas portas dos estabelecimentos comerciais como bares, restaurantes e campings, altos o suficiente para serem vistos de longe. 93


94


O CENTRINHO

95


96


97


Indo para a escala do lote, a criação do centrinho cultural em lote sugerido pelos moradores durante reunião comunitária incentivaria o turismo cultural no Quilombo Kalunga, incrementando a renda dos moradores e mostrando ao turista uma nova cultura. A implantação das construções não é aleatória, mas segue a forma de ocupação do território comum em comunidades quilombolas na qual há um elemento central circundado pelas outras construções, além de eixos norteadores que orientam a posição delas nos círculos.

Localização do Centrinho Cultural

98


IMPLANTAÇÃO

99


PROGRAMA 11

10

13

1

9 2

12 3

14

4

6 5

8 7

1. Parquinho 2. Feirinha 3. CAT 4. Loja de produtos quilombola 5. Banheiros 6. Palco 7. Casa de farinha 8. Casa de cana 9. Casa de algodรฃo 10. Biblioteca 11. Redรกrio 12. Espaรงo da Memรณria Kalunga 13. Casa Kalunga 14. Bicicletรกrio

100


ZONEAMENTO

Serviço ao turista Culturais Comunitários

Assim como os quilombos organizavam seus territórios por áreas de atividades, o centrinho também foi organizado dessa maneira, definindo as construções de serviço ao turista - CAT, feirinha, loja e banheiros; as construções culturais que materializam a história Kalunga para ser contada aos visitantes - Espaço da Memória Kalunga, Casa de Farinha, cana e algodão, o palco e a réplica da casa kalunga; e as construções comunitárias que seriam a biblioteca e o parquinho. A decisão de criar áreas também para os moradores dentro do centrinho e não apenas para os turistas se deu pensando na sociabilidade e democratização do espaço, garantindo diferentes usos e atividades para que não seja um espaço vazio nos dias em que não há turistas.

101


LINGUAGEM ARQUITETÔNICA mescla o novo com o antigo sem ser uma réplica do passado, mas reinterpretando-o com contemporaneidade

barro

trama do pau-a-pique

ripas utilizadas em diversas direções em detalhes de paredes e esquadrias

102


Na escala de projeto estão as construções que compõem o Centrinho Cultural. Foi priorizado o uso de materiais de construção local como a madeira, bambu, tijolos de adobe e a palha para coberturas. Também foi utilizada a telha cerâmica em algumas das construções por já ser uma tecnologia utilizada no Engenho, portanto de execução conhecida pelos moradores.

103


ESPAÇO DA MEMÓRIA KALUNGA EFEITO CHAMINÉ

Como principal construção do Centrinho Cultural, o Espaço da Memória Kalunga abriga exposições, reuniões e apresentações, possuindo a planta móvel com biombos de bambu fixados aos pilares que podem ser alocados em diferentes posições dependendo da necessidade de uso do momento. A estrutura possui uma abertura superior que cria um efeito chaminé ao retirar o ar quente que entra pelas portas e janelas e devolvê-lo para o lado de fora do edifício. Além de detalhes e esquadrias em madeira, possui em algumas paredes painel de vedação com arte de padrões africanos desenhados.

104


105


CAT telha cerâmica

caibros e ripas

terças tesoura houwe pilares

Construção permeável que marca a entrada no centrinho. Pretende ser apenas o local onde se faz a identificação e o pagamento das taxas pelos turistas, não um lugar de permanência. Para diminuir o problema das filas foram propostos quatro balcões de atendimento, e o espaço interno seria ventilado por brises de madeira nas quatro fachadas. A entrada e a saída do CAT são cobertas por pergolados que recebem plantas trepadeiras criando um espaço de espera nas filas fresco e agradável.

pergolado com plantas trepadeiras brises de madeira tijolo de adobe

ripas de madeira balcões de atendimento

106


107


FEIRINHA

telha cerâmica

caibros e ripas

terças tesoura houwe pilares

A feirinha orgânica dos produtores locais é um espaço aberto com pergolados nas laterais garantindo sombra a qualquer hora do dia. Foram dispostos alguns banquinhos em madeira nas laterais para descanso tanto dos feirantes quanto dos compradores e acompanhantes.

pergolado com plantas trepadeiras

espaço dos feirantes bancos de madeira

108


109


LOJA DE PRODUTOS QUILOMBOLA

telha cerâmica

caibros e ripas

Foi proposta uma nova e maior loja para a venda de produtos quilombola com espaço para armários e balcão de atendimento.

terças pórticos vigas pilares

tijolo de adobe

fechamento com ripas de madeira

110


111


BANHEIROS

telha cerâmica

caibros e ripas

treliças vigas pilares

Os banheiros feminino e masculino possuem cinco cabines cada e na fachada posterior hĂĄ detalhes de pinturas africanas e ripas de madeira em detalhes construtivos. tijolo de adobe detalhe em madeira

fechamento com ripas de madeira

112


113


BIBLIOTECA

telha cerâmica

esteira de palha

caibros e ripas

A biblioteca foi apontada como grande desejo dos moradores do Engenho. Ela possui uma varanda de acesso protegida por ripas de madeira que criam um jogo de luz e sombras. No interior, as mesas de estudo saem das esquadrias das janelas, assim como as prateleiras de livros.

ripas de madeira para entrada de luz natural ripas de madeira para fechamento da varanda parede estrutural de superadobe mesas de estudo

114


115


PALCO O palco para apresentações culturais está disposto próximo à Casa de farinha, cana e algodão que compartilham uma área externa em comum, grande o suficiente para receber um grande número de pessoas em eventos. A casa de farinha foi pensada com uma área para o tacho onde aconteceriam demonstrações do processo de fabricação da farinha de mandioca, além de um depósito para guardar os sacos. O espaço para o moedor de cana conta com um balcão de vendas de caldo e outros produtos e banquinhos em madeira nas laterais, muito presentes em construções kalungas. Para o algodão foi proposto um espaço que abriga a roda de tear junto com uma área para exposição da moda Kalunga. As três construções possuem o mesmo sistema construtivo: pilares, vigas, caibros e ripas de madeira, e cobertura de palha.

CASA DE FARINHA

CANA

ALGODÃO

116


Farinha: meia parede de adobe

Algodão: aparelhamento de tijolos de adobe

Cana: balcão de vendas

vedação com toras de madeira espaçadas 15cm

Palco: toras de madeira cruzadas 117


118


PRÓXIMOS PASSOS O projeto tem potencial para ser mais do que um trabalho de conclusão de curso, envolvendo a comunidade na busca por recursos e na execução das propostas. A pretensão é inscrever o projeto em editais de financiamento público ou privado para então serem organizados mutirões comunitários para a construção do projeto, convidando voluntários de fora e capacitando a comunidade nas técnicas construtivas.

119


BIBLIOGRAFIA ANJOS, R. S. A.; CIPRIANO, A. (Org.). Quilombolas: tradições e cultura da resistência. São Paulo: Aori Comunicação, 2007. CAMPOS, Edilberto S. Dias (coord.). Relatório Final do Estudo Diagnóstico: o turismo nas comunidades Kalunga do Vão de Alma, Vão do Moleque e Engenho II – potencialidades, desaos, diculdades e ações para o desenvolvimento do turismo cultural, rural e ecológico de base comunitária, sustentável e inclusivo. Brasília: Fundação Banco do Brasil (FBB) – Instituto para o Bem Estar do Funcionalismo Público (IBESP), 2011. COSTA, Everaldo B.; ALMEIDA, Maria G.; OLIVEIRA, Rafael F. et RÚBIO, Rúbia de P. Realização social da natureza pelo turismo na Chapada dos Veadeiros, Confins [En ligne], 25, 2015, publicado em 08/11 2015, consultado em 05/09/2016. URL: http://confins.revues.org/10474 COSTA, Everaldo B. SUZUKI, Julio C. Materialismo histórico e existência - Discurso geográfico e utopias. Espaço e Geografia, Vol. 15, n1, 2012, p.115:147. COSTA, Everaldo B. A dialética da construção destrutiva na consagração do patrimônio mundial: o caso de Diamantina - MG. Universidade de São Paulo, Departamento de Geografia, São Paulo, 2009. MAIA, João Francisco. História e Memória da Comunidade Kalunga Engenho II. Universidade de Brasília - Licenciatura em Educação do Campo, Planaltina, DF, jun. 2014 MONTEIRO, Elias de Pádua. Descendentes de antigos escravos: os Kalungas. Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2010 Moreira, J.F.R.; Almeida, M.G. O lugar Kalunga como lugar turístico: um olhar sobre o turismo rural no Engenho II em Cavalcante (GO). Revista Brasileira de Ecoturismo, São Paulo, v.6, n.3, ago/out-2013, pp.708-721. SANTOS, Rosiene Francisco dos. Turismo e suas faces na comunidade Kalunga Engenho II, Cavalcante - GO / Rosiene Francisco dos Santos; Soraia Brito da Silva – Goiânia: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás, 2016. VELLOSO, A. D. Mapeando narrativas: uma análise do processo histórico-espacial da comunidade do Engenho II – Kalunga. 2007. Dissertação (Mestrado em Gestão Ambiental e Territorial) – Departamento de Geograa/Instituto de Ciências Humanas, Universidade de Brasília, Brasília. 120


121


SENTIDO KALUNGA 2018 122


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.