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Entrevista com Adrienne Benson

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A tribo Massai

A tribo Massai

Entrevista: Adrienne Benson

“É possível ser mãe de muitas maneiras.”

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Texto:

Fernanda Grabauska

Fotografia:

Scott Aschenbrener

TAG – Gostaria de começar perguntando sobre sua relação com a África. Você viveu em muitos países africanos durante a infância. Como suas experiências nesse continente ajudaram a dar forma a O sol mais brilhante? De onde exatamente veio a sua inspiração?

Adrienne Benson – Minha infância na África foi crucial para o livro. Isso ocorreu, em parte, pelo fato de todos tendermos a romantizar onde passamos nossos anos de formação, mas, no meu caso, penso que foi também porque sempre soube que a probabilidade de retornar aos lugares onde cresci era pequena. Eu sempre poderia voltar como turista, mas não seria o mesmo. Isabel Allende uma vez disse que “a nostalgia é o vício do expatriado”. Acho que ela quer dizer que, quando você deixa sua terra natal, sempre carrega o peso da nostalgia. No meu caso, era deixar onde vivi a infância e retornar à minha terra natal que colocava aquela nostalgia no meu coração e, nos anos que se passaram entre voltar aos Estados Unidos

e escrever o livro, isso cresceu mais e mais até que eu escrevi O sol mais brilhante, quando a nostalgia ficou impressa nas páginas. Espero que se veja, pelo livro, que os lugares onde vivi me afetaram de muitas maneiras. Eu os amei. A paisagem do Quênia, especialmente, se alojou na minha memória e abriu caminhos para o livro. Queria ter certeza de que eu lembrava – não só como ela parecia, mas como era senti-la – e queria compartilhar isso com todos. De uma maneira, as descrições da paisagem queniana, do céu, do ar, dos aromas, são uma carta de amor a isso tudo. As pessoas perguntam se eu voltei ao Quênia – ou à Libéria ou à Zâmbia – para escrever o livro. Eu não voltei. Jamais me ocorreu. Queria escrever o que eu lembrava e como eu me senti na época, e eu sabia que voltar apagaria tudo isso, dando lugar a novas impressões. Não queria novas impressões. Não volto ao continente desde 1986, quando saí de lá, aos 16 anos. Gostaria de voltar, especialmente ao Quênia, mas sei que mudaria todas as minhas percepções e eu não queria que isso acontecesse até que o livro saísse de mim para as páginas.

O sol mais brilhante fala tanto da cultura massai quanto da maternidade. De acordo com a sua experiência, quais são as diferenças culturais na maternidade entre África e América do Norte?

Há tantas diferenças – e elas começam simplesmente com o número de coisas que mães (e pais) “devem” fazer na América do Norte. Quando você está grávida nos Estados Unidos, é bombardeada com listas daquilo que você deve comprar: carrinhos metidos a besta, bolsas para fraldas, brinquedos, roupinhas, mobília, detergente para roupas especial, tudo isso. Em culturas tradicionais, como a dos massai, é muito mais simples. Os bebês crescem sem as coisas com as quais nos cercamos nos Estados Unidos.

Depois há a noção de que os bebês pertencem a toda a comunidade na cultura massai. Acho um

conceito saudável. As mães não se sentem tão sozinhas e as crianças se sentem acolhidas não apenas por suas famílias nucleares, mas por todos. Nos Estados Unidos, somos muito mais insulares em nossa abordagem da maternidade, e acho que isso torna tudo mais difícil.

Em um sentido mais geral, entretanto, uma das coisas que eu queria mostrar no livro é que mães em todo o mundo têm uma coisa muito importante em comum – a responsabilidade de criar um novo ser humano, que amam de um jeito que parece impossível e que é uma parte tão profunda delas que o que dói nesse ser dói nelas também. Quando digo mães, por sinal, não me limito apenas a mulheres que deram à luz. É possível ser mãe de muitas maneiras – Simi é uma mãe maravilhosa para Adia e, depois, para outros. Quando nos focamos nas similaridades – todas queremos que nossos bebês sejam felizes, saudáveis e amados –, as diferenças cosméticas esmaecem. É muito mais complexo do que isso, obviamente. Por exemplo, nos Estados Unidos o casamento de crianças não é comum, assim como a mutilação genital feminina. Também damos a mesma educação para nossos meninos e nossas meninas. Mas o núcleo daquilo que uma mãe deseja para seus filhos é o mesmo.

Adoro viajar na condição de mãe, pois, quando você está em uma pracinha com seu filho, não importa que você não fale o idioma local. Quando seu filho está cavando na areia perto de outra criança, ou chorando porque quer descer no escorregador e não quer esperar... bem, a linguagem do olhar das mães é universal. Crianças são, de certo modo, um grande equalizador. Já ri muito com mulheres de outros países sobre como nossos filhos nos enlouquecem e como os amamos e fomos transformadas por eles.

Personagens crianças muitas vezes são inverossímeis. Os que você escreveu, no entanto, são muito críveis. Como você os desenvolveu?

Obrigada pelo elogio! Não sabia como seria escrever crianças porque nunca havia feito isso antes. Acho que pensei em mim mesma como criança – especialmente na personagem de Grace – e tentei lembrar de como era ver o mundo como uma. Tenho três filhos agora e pensei em como eles reagiriam em certas situações. Fico muito feliz que os personagens tenham repercutido, porque eram um aspecto do livro sobre o qual não tinha muita confiança.

O sol mais brilhante foi seu primeiro romance e foi muito bem recebido. Você está trabalhando em algo novo?

Eu amo escrever e adoraria completar o romance em que estou trabalhando agora. Estou equilibrando a escrita com meu trabalho e meus filhos, mas espero ter um manuscrito pronto até o verão (do Hemisfério Norte). Não se passa na África, mas lida com alguns dos mesmos temas – encontrar sua identidade, fazer as pazes com o passado, tornar-se adulto por meio dos relacionamentos. É, especificamente, sobre três casais com filhos que se divorciam lutam contra a crise de meia-idade, construindo e reconstruindo relacionamentos com seus parceiros, seus filhos e com eles mesmos.

Deixe um recado para os associados que vão receber em casa O sol mais brilhante!

Primeiramente, muito obrigada! Eu sempre quis escrever esse livro e ele é tão valioso para mim. O fato de poder compartilhá-lo com outras pessoas ainda me parece um pouco com um milagre. Espero que vocês amem o livro, mas, mesmo que não o amem, espero que possam ver um pouco da beleza e da riqueza da África que eu conheci. Espero que o livro os conecte de uma forma nova a essa parte do mundo.

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