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PSICOLOGIA EM FOCO AUTISMO

AUTISMO

E VIDA futura “A criança e o adulto autista merecem respeito, qualidade de vida digna e inclusão no meio social.” POR ÉRICA SILVA

O

autismo é uma síndrome complexa e muito mais comum do que se pensa. Atualmente, o número mais aceito no mundo é a estatística do CDC (Center of Deseases Control and Prevention), órgão do governo dos Estados Unidos. Os resultados apontam que lá existe uma criança com autismo para cada 110. Estima-se que esse número possa chegar a 2 milhões de autistas no País. 12 | IN-EVIDÊNCIA

A incidência em meninos é maior, tendo uma relação de quatro meninos para uma menina com autismo. Nos limites dessa variação, há desde casos com sérios comprometimentos do cérebro além de raros casos com diversas habilidades mentais, como a Síndrome de Asperger (um tipo leve de autismo) – atribuído inclusive a aos gênios Leonardo Da Vinci, Michelangelo, Mozart e Einstein. Mas é preciso desfazer o mito de que todo autista tem um “superpoder”. Os casos de genialidade são raríssimos. Existem sinais que uma criança pode apresentar dos 2 aos 24 meses de vida. Sinais esses que devem ser observados pelos pais para que se possa identificar o autismo rapidamente. Quanto mais rápido as intervenções terapêuticas começarem, maiores serão as chances de a criança conseguir interagir com o mundo a sua volta. Felizmente, hoje existem muitos tratamentos para auxiliar no desenvolvimento dessa criança autista, dando a ela uma qualidade de vida melhor. Neste artigo pretendo conversar um pouco com o leitor sobre a minha experiência no atendimento à famílias e seus filhos com diagnóstico de autismo. Em famílias de crianças com autismo este processo nem sempre ocorre da forma esperada. Alguns pais relatam que seus bebês eram muito quietinhos, ou muito agitados e que nem sempre conseguiam compreender seu filho. As mães relatam que desde cedo percebem alguns sinais como, por exemplo: não estabelecer sorriso social, não gostar de ficar no colo e, principalmente, uma dificuldade em

estabelecer contato olho no olho. Observa-se que quando existe um bebê com alguma deficiência, a mãe tende a achar que é a única pessoa capaz de cuidar e entender seu filho com autismo. Com isso, geralmente as mães largam seus empregos para cuidar exclusivamente de seus bebês. Muitas vezes percebemos um movimento onde mãe e bebê não se desgrudam, podendo assim ficar o resto da família de lado. Muitas vezes estas famílias acabam vivendo em um sistema mais rígido e fechado, podendo até mesmo se afastarem de sua família de origem: avós, tios e primos passam a olhar a criança com autismo como algo que não entendem, e podem se afastar por não saberem se relacionar. Em consequência do tratamento diferencial oferecido ao filho com autismo por um dos genitores, pode ocorrer um clima de tensão onde os outros elementos da família se sintam ressentidos e necessitando de mais atenção e cuidados. Nesta hora os pais precisam reavaliar planos e expectativas, repensar o futuro de seu filho e também o da família. Quando um elemento do grupo familiar passa a apresentar alguma diferença, as relações familiares são naturalmente afetadas.

envelhecendo. “Ter um filho com autismo requer mudanças radicais sobre a visão de mundo. Nos vemos obrigados a reavaliar os valores. Ao encontrarmos uma realidade tão amarga, batemos de frente com o medo do desconhecido. Idealizamos um filho perfeito, e nisto não há mal algum...” (Nebó & Jambor,1999). Cabe a nós, profissionais da saúde, entendermos como se dão estas relações e ajudar, quando necessário, dando suporte para que esta família não tenha prejuízos em seus relacionamentos, tanto sociais quanto familiares. A criança e o adulto autista merecem respeito, qualidade de vida digna e inclusão no meio social. Não devem ser vistos como incapazes de ter uma vida relativamente normal, como, estudar, trabalhar, ter amigos. Mas precisam da ajuda da família, dos médicos e da sociedade para se desenvolver no seu círculo pessoal e alcançar cada vez mais independência e autonomia. in

O autismo coloca a família frente a uma série de emoções de luto pela perda da criança idealizada, apresentando com isto sentimentos de desvalia e de culpa, caracterizando uma situação de crise. Alguns estudiosos do assunto ressaltam que uma época julgada crítica para os pais é a adolescência e o início da fase adulta. A chegada deste filho à vida adulta também pode ser considerada uma fase difícil, pois começam a aparecer também medos e angústias sobre o futuro do filho, medos estes que vão crescendo na medida em que estão IN-EVIDÊNCIA | 13


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