A política aristóteles

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Estas duas espécies de monarquia diferem por sua origem e por seu fim. A monarquia foi estabelecida contra a populaça em defesa das pessoas de bem. Foi dentre elas que se tirou o rei, em razão da excelência de suas virtudes, do mérito de suas grandes ações ou do brilho de sua raça. O tirano, pelo contrário, como a história nos ensina, deve sua origem ao ódio contra os nobres. Para pôr o povo ao abrigo de suas vexações, ele sempre saiu das multidões. De fato, quase todos os tiranos são demagogos que conseguiram crédito junto ao povo atacando os nobres. Das diversas espécies de tirania, esta é posterior à época do crescimento das Cidades. Algumas delas são mais antigas e começaram no tempo em que os reis, violando as condições impostas a seus pais, ousaram governar mais despoticamente; outras nasceram quando os principais magistrados se permitiram abusar da longa duração que antigamente os povos davam às Assembléias e aos cargos públicos; outras ainda provêm da supremacia que as oligarquias, ao elegê-los, lhes conferiam sobre todas as outras autoridades; pois, de todas estas maneiras, era-lhes fácil transformar-se em tiranos; só precisavam querer, tendo uns já todo o poder, como Fídon em Argos, e outros as honras da dignidade real, como Fálaris e os da Jônia, Panécio em Leonte, Cipselo em Corinto, Pisístrato em Atenas, Dionísio em Siracusa e outros mais que devem, como acabamos de dizer, a sua ascensão à demagogia. Portanto, a monarquia tem em comum com o poder aristocrático o fato de se dar pelo mérito pessoal ou pelo dos avôs, pelos beneficios assinalados, pelo poder ou por todos estes motivos juntos; pois todos os que haviam prestado grandes serviços ou podiam prestá-los às Cidades e às nações alcançaram esta honra, alguns, como Codro, impedindo através de suas façanhas guerreiras que as Cidades caíssem na servidão, outros retirando-as dessa condição, como Ciro. Houve ainda reis fundadores de um Estado ou conquistadores de um país, como os reis da Lacedemônia, da Macedônia e dos Molossos. A meta e o dever de um rei são zelar para que os proprietários não sejam desapossados por agressores injustos e nem o povo seja ultrajado por pessoas insolentes. O tirano, pelo contrário, como já ficou dito muitas vezes, não se preocupa com o interesse público, a não ser quando este está ligado ao seu próprio interesse. A volúpia e o dinheiro de todos, eis o que busca o tirano; honra, eis o que é necessário aos reis. Sua guarda é composta de cidadãos; o


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