Jbg outubro 2013

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JORNAL DO BAIXO GUADIANA |OUTUBRO 2013

PAT RIMÓN I O E PS I C O LO G IA Rubrica de pATRIMÓNIO “Ao lado havia uma cerca que era onde punham a palha em serra, quando sobrava dos palheiros… a cerca de pedra era a segurança do gado não ir para lá estragar a palha.” Manuel Cavaco Silvestre

Os muros de xisto: cercas, cercados e caminhos do Baixo Guadiana No Baixo Guadiana, em especial junto dos montes serranos, os muros de pedra são testemunhos da presença humana na paisagem. Espalhados um pouco por todo a serra, demarcando propriedades ou delimitando caminhos, são uma marca viva da história deste território. O número de muros construídos em xisto, um material abundante na região, aumenta à medida que nos aproximamos dos montes, como uma teia de xisto que envolve o conjunto edificado. Estes delimitam os terrenos – exercendo um papel jurídico fundamental – e envolvem as cercas ou cercados, que no seu interior possuem boas hortas e pomares para

sustento dos proprietários. Protegem deste modo as terras das indesejadas visitas dos animais, que destroem e devoram as culturas. No caso de alguns cercados, de maior dimensão, possuíam tunas – figueiras da índia – junto aos muros, como reforço contra os predadores. Os muros de xisto eram mais eficazes que os marcos divisórios, que podiam ser facilmente alterados por algum vizinho mais afoito, na tentativa de adquirir um pouco mais de terra para si. Os caminhos que iam dar ao monte, estreitas veredas ou trilhos, estavam ladeados por muros de xisto que orientavam os caminhantes para o monte e impediam a entrada destes

nas propriedades. A construção dos muros foi também uma solução prática encontrada pelo camponês para arrumar as muitas pedras que punha a descoberto ao lavrar a terra. Estas, de um modo geral, eram arrumadas por sobreposição, conformando muros de divisão de propriedades. Ao não utilizarem argamassa, sobretudo em zonas onde a cal era escassa, havia o necessário cuidado com o encaixe das pedras, através do uso de pequenas pedras de xisto – escassilhos – que travavam as fiadas e impediam o desmoronamento. Foi principalmente a este tipo de técnica que os antigos recorreram para erigir os muros nesta região.

O ponto mais importante dos muros era o topo, sujeito a um cuidado redobrado. A capa final, conhecida por capeamento, encerra a estrutura, protegendo o seu interior das intempéries. Ao mesmo tempo, confere-lhe o acabamento final, maior ou menor robustez e dá-lhe expressão. Na região do Baixo Guadiana, os capeamentos podem apresentar-se sob formas distintas, que coincidem com o gosto pessoal do camponês ou com a sua limitação técnica no momento da construção. Assim, o capeamento pode ser arredondado em meia cana, irregular ou com grandes lajes de xisto. Findo o trabalho, o muro pode ser, ou não, rebocado e/ou caiado.

Pedro Pires Técnico de Património Cultural / Membro do CEPHA / UALg

O papel do Psicólogo nas Escolas O papel do psicólogo nas escolas suscita muitas vezes dúvidas, tanto nos pais, como em alguns dos profissionais da área da educação, que não estão muito familiarizados com o trabalho destes técnicos. Alguns mitos e conceções desatualizadas estão na base de muitas destas dúvidas e podem chegar a influenciar a acuidade da avaliação e eficácia da intervenção psicológica. Para tornar mais claro qual o papel destes profissionais é importante começar por falar da legislação portuguesa, onde acompanhar o percurso escolar dos alunos surge como a sua principal função. Este acompanhamento consiste na intervenção pedagógica individualizada, em situações de dificuldade; no apoio aos alunos nas escolhas vocacionais e construção do seu projeto de vida e na adequação das respostas educativas ás necessidades dos alunos. Por norma o psicólogo educacional é visto como um profissional que intervém na área da saúde mental, em contexto escolar e na maioria das vezes nos casos de crianças com necessidades educativas especiais. Esta pode ser interpretada como uma visão redutora do seu trabalho, mas não deixa de ser uma parte importante das suas funções. Nestes casos, o que pode o psicólogo fazer por estes alunos com necessidades educativas especiais? Poderá o psicólogo tratar estes “alu-

nos-problema” e devolvê-los à sala de aula, “bem ajustados”? Sem a escola e sem a família a resposta é “Não”. O psicólogo não é o portador de soluções mágicas e de receitas prontas a aplicar para resolver as dificuldades enfrentadas. Para dar resposta às necessidades

e para a eficácia da intervenção psicológica, pois os “alunos-problema” são apenas uma parte do problema e como tal, são também apenas uma parte da solução. Esta forma de abordagem sistémica implica que, durante a avaliação, se procure a informação em

e manter uma relação de confiança com o cliente. O conhecimento dos direitos e deveres, contemplados no código deontológico, é a forma de assegurar aos clientes que, a informação é sempre obtida pelos psicólogos não para invadir a sua privacidade mas para colmatar uma necessidade objetiva e para servir os seus interesses (dos clientes). Estas são questões que, quando ficam por esclarecer, podem bloquear o processo de avaliação e de intervenção e, sem esquecer que é ao psicólogo que cabe esclarecê-las, é importante lembrar que um papel mais ativo das pessoas envolvidas é um fator que pode ter uma influência determinante na promoção da eficácia da intervenção e na obtentela esta situação na medida em que ção de melhores resultados que realrequer que o profissional de psicolo- mente se adequem aos interesses gia informe o seu cliente e obtenha dos clientes. deste o consentimento necessário para prosseguir o seu trabalho. Tornar o conhecimento acerca destas questões mais acessível a psivrsa@gmail.com todos é essencial para adequar as www.facebook.com/NEIP.vrsa expetativas das pessoas à realidade do trabalho do psicólogo, aos seus objetivos e às suas competências e NEIP (Núcleo de Estudos e princípios éticos. Os direitos que Intervenção Psicológica) – assistem os clientes dos serviços de Ana Ximenes, Catarina Clepsicologia em questões tão impormente, Dorisa Peres, Fabrícia tantes como a confidencialidade, a Gonçalves, Patrícia Santos, privacidade e a informação, são uma Pedro Costa, Sílvia Cardoso. condição sine qua non para a prática Colaboração: Dina Figueira, do psicólogo, desde logo para criar Inês Morais cesso de avaliação e intervenção. Em parte, numa filosofia de coresponsabilidade pela intervenção terapêutica e pedagógica, é ao psicólogo que cabe inverter esta perspetiva desajustada que os intervenientes no processo possam ter. O código ético profissional acau-

Poderá o psicólogo tratar estes “alunos-problema” e devolvê-los à sala de aula, “bem ajustados”? Sem a escola e sem a família a resposta é “Não”!

educativas de um determinado aluno é importante que, desde o início do acompanhamento, o psicólogo tenha mais em conta do que apenas o comportamento e as caraterísticas dos alunos em causa. Desde logo, o autor do pedido de avaliação destes alunos - por norma a escola – tem um papel central em todo o processo que se irá desenvolver. Contudo, os encarregados de educação dos alunos, por serem responsáveis pela criança e por definirem o seu contexto familiar, são também indissociáveis do processo inicial de avaliação. Todos os elementos da vida do aluno são essenciais para a avaliação

todos os contextos em que a criança se insere e com todos os intervenientes. O objetivo passa por determinar os fatores que dão origem e mantêm o problema e encontrar fatores facilitadores e recursos que possam fazer parte da solução. Esta avaliação por vezes gera algum mau estar nos profissionais e na família que podem considerar que as suas competências estão a ser colocadas em causa e que a sua privacidade está a ser invadida. Nestes casos pode acontecer que estes elementos respondam com alguma hostilidade ao profissional de psicologia ou então que escolham envolver-se o menos possível no pro-


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