Devotos

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Devotos 20 anos

conselho de moradores do Alto José do Pinho e começou a desenvolver um trabalho comunitário no morro. Dona Detinha era a encarregada de apresentar o Alto (e suas carências) aos governantes locais. Em 1986, ela fez um abaixo-assinado que pedia água para a comunidade e o levou até a Companhia Pernambucana de Saneamento – Compesa. A ideia de dona Detinha era construir um poço, mas não havia lugar viável para a obra no morro. A solução não poderia ter sido melhor: no primeiro governo de Miguel Arraes (1987-1990), todo o Alto José do Pinho foi cavado, e cada casa passou a ter torneira no quintal, “luxo” impensável antes de dona Detinha comprar a briga. Mas a maior vitória de dona Detinha ainda estava por vir. Ao saber que o então presidente João Figueiredo vinha visitar o bairro de Brasília Teimosa para desapropriar umas terras por lá, ela não se fez de rogada: escreveu uma carta em que relatava o histórico de abusos das famílias “proprietárias” do Alto — àquela altura, representadas por imobiliárias —, foi até Brasília Teimosa e conseguiu entregar a carta ao próprio presidente da República. Oito dias depois, em um domingo, chegava um telegrama na casa de dona Detinha. O remetente: João Baptista Figueiredo. O assunto: pedir que dona Detinha procure o então governador de Pernambuco, Marco Maciel, para resolver a questão. O resumo da história: as terras do Alto José do Pinho foram desapropriadas, e dona Detinha, junto com o conselho de moradores do bairro, distribuiu seiscentos títulos de posse com o povo. Além de água encanada, todos, a partir de 1985, passaram a ter casa própria no Alto José do Pinho. Como dona Detinha gosta de dizer, do alto da sabedoria de seus 75 anos de idade e três décadas deles dedicados ao trabalho comunitário, “Isso aqui (o Alto) virou uma cidade”.

Seus sonhos vão viver. E você vai viver pra ver 23


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