Continente #147 - Almir Pernambuquinho

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FOTOS: REPRODUÇÃO

2 SANTISTA O jogador, que iniciou sua carreira no Sport, passou pelo clube da Vila Belmiro em 1963 3 PONTAPÉ Na final do Mundial Interclubes, o atacante entrou para ser atingido por Maldini e garantir um pênalti

de dor. O jogo seguiu como uma batalha campal, debaixo de uma tempestade. Numa dividida, Almir desferiu um violento chute na cabeça do goleiro Balzarini, fazendo correr um veio de sangue pela grama ensopada. Aos 35 do primeiro tempo, o lance que decidiu o Mundial: “Lima fez um cruzamento pelo alto, eu estava mais ou menos ali pela marca do pênalti. Ia chegar um pouco atrasado na bola, mas tinha de tentar, tinha de acreditar em mim. Vi quando Maldini, desesperado, levantou o pé, tentando cortar o lançamento. Eu tinha de dar tudo ali, naquele lance: meter a cabeça para levar um pontapé de Maldini, correr o risco de uma contusão grave, ficar cego, até mesmo morrer, porque o italiano vinha com vontade. Agora era ele ou eu. Meti a cabeça, Maldini enfiou o pé, eu rolei de dor pelo chão. O argentino Juan Brozzi não conversou, pênalti”. Dalmo cobrou e fez o gol da vitória santista. O Pernambuquinho, que também apanhou muito naquela noite, saiu de campo desfigurado. Os 120 mil torcedores no estádio gritavam o nome dele. Almir, coroado no lugar do Rei, garantia o bicho.

CON TI NEN TE

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História

que os jogadores brasileiros deixaram de ser chamados de frouxos pelos vizinhos. Depois foi para o Fiorentina e Genova, na Itália. Em 1963, foi contratado pelo clube mais poderoso do mundo, o Santos de Pelé. Com a mítica camisa branca, foi campeão da Libertadores. Veio então a final do Mundial Interclubes contra o Milan. Pelé, machucado, não atuou em nenhuma das duas partidas decisivas realizadas no Maracanã. O último jogo aconteceu no dia 16 de novembro de 1963. No vestiário, Almir ganhou uma “bolinha”, como os comprimidos de dopping eram chamados – nesse tempo não havia exames antidopping.

“Entrei em campo muito doido. Por que eu não ia querer? O bicho pela conquista do campeonato era 2.000 cruzeiros: dava para comprar um Volkswagen zerinho. Nós entramos em campo vendo o automóvel ao alcance da mão. Do outro lado, estavam os caras que podiam impedir isso”, contou Almir, em Eu e o futebol. Inspirado pelo aditivo, Almir pisou no gramado com uma ideia fixa: partir ao meio o brasileiro Amarildo (O Possesso), que havia dito uma semana antes: “O Pelé já era”. “Não admitia que falassem aquilo do negão”, esbravejou Pernambuquinho. Com um minuto de jogo, O Possesso recebe a bola e corre pela direita. Almir afasta os próprios companheiros de defesa e chega primeiro em Amarildo, que leva um rochoso toco. Amarildo cai, berrando

CONTRA O BANGU

Dois anos mais tarde, assinou contrato com o Flamengo. No clube do povão, ele já chegou ídolo e terminou o ano de 1965 como campeão estadual. Foi com a camisa rubro-negra que Almir protagonizou a maior confusão do futebol brasileiro de todos os tempos. No dia 18 de dezembro de 1966, o clube da Gávea encarou o Bangu pela final do Carioca, diante de um Maracanã com mais de 140 mil pessoas. Naquela época, o Bangu tinha um patrono, o bicheiro Castor de Andrade, que financiou um timaço com Paulo Borges, Aladim, Cabralzinho e Ladeira, na linha de frente. O Flamengo também era uma boa equipe, mas bem inferior ao clube do subúrbio. Mas, além disso, Almir desconfiava que alguns companheiros haviam sido “comprados” pela contravenção, o que ele não admitia.

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