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setembro/outubro 2016

banal Conto de José Lopes Agulhô Júnior

F

oram no total 236 disparos, embora esse número configure a média entre o número menor e o maior divulgado pela mídia tanta escrita quanto eletrônica. Contadas nos corpos as perfurações à bala apontadas no laudo inicial elaborado pelo IML foram num total de 55, assim distribuídas: 1. Fernando Paulo de Souza, conhecido como TRÊ, dezenove anos, cor parda, amasiado, filho de Ana de Souza, pai desconhecido, sem endereço fixo, morte instantânea com ferimentos à bala de revolver calibre 38 (duas na parte frontal do crânio, uma na nuca, dois no tórax); ferimentos à bala de Pistola 9mm (uma no braço esquerdo, duas no abdômen) e ferimentos à bala de Pistola 380 (duas na coxa esquerda e uma na perna direita); 2. Werderson dos Anjos, conhecido como SON, dezenove anos, cor negra, solteiro, filho de Jacira dos Anjos e João da Anunciação, residente no aglomerado das Paineiras, morte instantânea com ferimentos à bala de Fuzil AR15 (uma na parte frontal do crânio, seis no tórax); ferimentos à bala de Pistola ponto40 (duas na coxa direita, quatro nas costas) e ferimento de uma bala de Revolver calibre 38 na parte anterior da perna esquerda; 3. Josecler Oliveira, conhecido como SACI, dezoito anos, cor negra, solteiro, portador de necessidades especiais (teve a perna direita amputada após ser agredido com um facão pelo padrasto), filho de Maria da Conceição Oliveira, pai desconhecido, morador de rua, morte instantânea com ferimentos à bala de Pistola ponto40 (duas na lateral direita do crânio), ferimentos à bala de Pistola 380 ( uma na nuca), ferimentos à bala de Fuzil AR15 ( três no tórax, duas no abdômen); 4. Charley Pinto, conhecido com CHAPAU, vinte anos, cor parda, solteiro, filho de Dores da

Souza Pinto e Antônio Moraes de Souza, morador no aglomerado das Paineiras, morte instantânea com ferimentos à bala de Fuzil AR15 (duas na lateral direita do crânio, duas no tórax); ferimentos à bala de Pistola ponto40 (quatro nas costas) e ferimento de uma bala de Revolver calibre 38 no abdômen; 5. Disnei Antônio dos Silva, conhecido com NEI FUMAÇA, dezenove anos, cor negra, solteiro, filho de Celestina Aparecida da Silva e Clarinor da Silva, morador do aglomerado Tem dó, morte instantânea com ferimentos à bala de Revolver 38 (duas no tórax); ferimentos à bala de Pistola 9mm (três no abdômen) e ferimento de uma bala de Pistola ponto40 no crânio; 6. Andersonclayton Pereira dos Santos, conhecido como MARGARINA, dezoito anos, cor branca, solteiro, filho de Mirinha Pereira dos Santos e Ronildo dos Santos, morador no aglomerado Vintém, morte instantânea com ferimentos à bala de Pistola 9mm (duas na perna esquerda), ferimentos à bala de Pistola ponto40 ( uma na nuca), ferimentos à bala de Fuzil AR15 ( três no tórax, duas no crânio); 7. Kelly Cristina Alves, conhecida como KEL, dezoito anos, cor branca, amasiada, filha de Cláudia Alves, pai desconhecido, residente no aglomerado do Tem dó, morte instantânea com ferimentos à bala de um revolver 38 (uma no coração), deixa um filho de dois anos. Kel foi violentada pelo padrasto desde os cinco anos de idade, enquanto a mãe prestava serviços de limpeza em casas de família. Aos treze conheceu TRÊ, fugiu e foi morar com ele no aglomerado Paineiras. Ele tinha quinze anos, teve distúrbio cerebral decorrente de fome aguda nos primeiros anos de vida e a sequela ficou como uma tremedeira na mão esquerda, daí TRÊ. Praticava pequenos furtos no centro da cidade, celular, corrente, pulseira, bolsas a tiracolo, coisas sem importância. Ela, não, ficava nas esquinas avaliando incautos para apontar para

o amante e guardar numa sacola o produto dos saques. Dessa época, restaram os cinco amigos mais próximos, outros foram presos, mortos ou sumiram. Aos domingos eles iam pra uma cachoeira próxima ao aglomerado do Tem dó. Ali faziam sexo, se drogavam, e planejavam o futuro: montar uma boca. Claro que nesse aglomerado já havia pelo menos três, a do Caolho, a do Zeu e a do Cão. Então tentariam noutro aglomerado, quem sabe o Paineiras ou mesmo o Vintém, onde só rolava erva. Belo dia, NEI FUMAÇA apareceu com uma história de que a polícia havia dado uma batida no Paineiras e levado boa parte da boca. Era a hora: juntaram os seis e fizeram a sequência. No início foi bravo, sem experiência qualquer trampo é trampo, dizia SON. Rolou beleza por uns tempos, criaram freguesia certa e segura, uns meninos zona sul que entravam no aglomerado de moto, com identificação sabida e a vida caminhou. Nas armas pegaram depois do episódio na casa do Josecler que era, até aquele dia, um puta craque nas peladas de final de tarde. Quando chegaram à casa ele estava com o sangue ainda se esvaindo. Não deu outra, correram com Josecler para o Pronto Socorro no Monza do seu João da Anunciação, que foi dirigindo, puto da vida por conta da sujeira que virou o seu carro. Foi foda, para todo mundo. Josecler era o cara, pombas! Agora, sem a perna direita. A sacanagem do apelido foi do Margarina, que um dia viu Josecler saltando dentro de casa sem nenhuma ajuda ou recurso que lhe permitisse o equilíbrio. Pô, o cara é um puta Saci! Aí pegou. Nunca tinha acontecido, até então. Dona Conceição apareceu com um 38 dizendo que aquele puto não ia de manter vivo. Agredir o filho com facão e aleijar o pobre do menino. Num vai fazer doideira, mãe... Deixa esse viado... Foi quando CHAPAU pegou o 38 e disse: - Deixa comigo, eu faço o serviço. - Pô cara, negativo, a


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