sobre_a_modernidade

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caleche descoberta, e seu cavalo parece, por seus movimentos, saudar à sua maneira. O veículo leva a galope, numa alameda zebrada de sombra e luz, as beldades reclinadas como numa barca, indolentes, escutando vagamente os galanteios que lhe chegam aos ouvidos e abandonando-se preguiçosamente à brisa do passeio. O casaco de pele ou a musselina lhes chega ao queixo e transborda como uma onda por cima da portinhola. Os criados estão rígidos e perpendiculares, inertes, uns parecidos com os outros: é sempre a efígie monótona e sem relevo do servilismo, pontual e disciplinada; sua caracte- [página 68] rística é a de não terem nenhuma. Ao fundo, o bosque verdeja ou se inflama, cobre-se de eflorescências luminosa ou escurece conforme a hora e a estação. Seus recantos enchem-se de brumas outonais, de sombras azuis, de raios amarelos, de cintilações róseas ou de estreitos fachos de luz que cortam a obscuridade como golpes de sabre. Se as inumeráveis aquarelas relativas à guerra da Criméia não nos tivessem mostrado a capacidade de G. como paisagista, estas com certeza seriam suficientes. Mas aqui já não se trata dos campos dilacerados da Criméia, nem das margens teatrais do Bósforo; encontramos as paisagens familiares e íntimas que formam o adorno circular de uma grande cidade, em que a luz cria efeitos que um artista verdadeiramente romântico não pode desdenhar. Um outro mérito que não é inútil observar aqui é o conhecimento notável dos arreios e da carroçaria. G. desenha e pinta uma viatura, e todas as espécies de


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