SPN info nº 03

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ana alvim

Os professores do 2º Ciclo do Ensino Básico lidam com alunos que estão, essencialmente, na fase cognitiva do pensamento concreto. O real e o quotidiano, a rápida identificação com o seu mundo e os seus conhecimentos, exigem motivações que não se afastem deste campo de interesses. No entanto, sempre que possível, eles deverão sugerir novos campos de atenção, de forma a desenvolver outros patamares cognitivos. Em termos estéticos, os alunos desta faixa etária estarão também receptivos a discursos figurativos bem delineados e de acesso rápido ao real conhecido e, fundamentalmente, por eles vivido. Neste ciclo, a Arte desempenha um papel importante para o desenvolvimento das competências essenciais da disciplina de História, nomeadamente o contacto com as fontes epocais e respectivas informações que delas se poderão retirar para uma compreensão do objecto de estudo: o Homem no tempo e no espaço. Quererá isto dizer que, para a História, a Arte só interessa enquanto documento, e não como objecto estético para deleite de quem o vê?

Arte e ensino da História Paulo Frederico Gonçalves

É uma questão complexa, porque, desde logo, o elemento estético não pode ser, à partida, dissociado do tempo que o produz, nem o acto criativo deixa de o ser por reflectir tendências e sensibilidades específicas. A própria inovação permite situar rupturas e entender mudanças, quer sob o ponto de vista estético, quer no concernente às mudanças dos elementos estruturais e conjunturais dos complexos histórico-geográficos. Neste sentido, uma pintura, por exemplo, pode ser bem mais reveladora do que um tradicional documento escrito, fonte preferencial de muitos historiadores, mais conotados com visões conservadoras da elaboração histórica. A diversificação dos testemunhos e dos documentos é fundamental para alterar a investigação histórica e, concomitantemente, o ensino da História, permitindo subtrair a esta área de saber a carga pejorativa que ainda contém, relacionada com uma fastidiosa sucessão de factos e nomes que os alunos têm de memorizar. Nesta perspectiva, poder-se-á situar o verdadeiro alcance que a Arte desempenha no desenvolvimento do saber histórico, ao constituir um manancial de testemunhos criativos e diversificados do curso dos tempos. Do que decorre a importância da interdisciplinaridade e da articulação curricular, respondendo à necessidade de fazer pontes entre os vários domínios do saber e evitando a sua compartimentação em disciplinas desligadas umas das outras – realidade que, não obstante a introdução dos projectos curriculares de turma e de escola, continua a ser predominante nas escolas portuguesas, construindo-se saberes fechados, pouco críticos e com uma miopia cultural que mais tarde se reflectirá nos futuros cidadãos adultos. Compreender “historicamente” uma obra de arte exige, da parte do aluno, uma educação visual e estética que lhe permita apreciar e interpretar o objecto artístico. Por sua vez, o professor de História deverá estar consciente das perspectivas cognitivas da Arte e da interpretação especificamente estética. Os diversos patamares propostos por Parsons remetem para uma maturação cognitiva e sensível de acordo com as faixas etárias, em estreita relação com a teoria do desenvolvimento da Psicologia. Integrar a apreciação adequada do aluno nos objectivos da aula de História, ou seja, partir da obra de arte, e da sua apreciação enquanto tal, para a sua importância enquanto documento histórico, constitui um desafio para qualquer professor. w (sócio SPN nº 29.086)

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spninformação 04.06


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