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R E V I S TA - E D I Ç Ã O E S P E C I A L - 2 0 1 1

EXPERIÊNCIAS AGROECOLÔGICAS

Recuperação de recursos naturais Enquanto o mundo discute o meio ambiente, agricultores e agricultoras familiares fazem a diferença no sul da Bahia, dialogando com a Academia e trazendo resultados relevantes para a preservação dos principais recursos:

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REALIZAÇÃO

Água, Solo e Floresta


PATROCINIO

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RESERVADA PARA A PETROBRAS REALIZAÇÃO

PÁGINA DE DEMONSTRAÇÃO

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Achados e Perdidos Poesia O desenvolvimento Construindo o futuro Comemorações Comemorações

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Descoberta nova fonte Achados e Perdidos Poesia O desenvolvimento Construindo o futuro Comemorações Comemorações

Expediente

Editorial

Diretoria: Conselho Fiscal: Conselho Deliberativo: Equipe Técnica: Textos: Equipe Terra Viva Fotos: Arquivo Terra Viva Produção Gráfica: Home Design Colaboradores:

R E V I S TA D A O N G T E R R A V I VA - ANO I EDIÇÃO I - JUNHO/2011

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Apresentação

Diante dos muitos desafios socioambientais existentes no Extremo Sul da Bahia, a Ong TERRA VIVA, através do Projeto Águas da Bahia, tem promovido a gestão e o uso sustentável dos recursos hídricos junto às comunidades de agricultura familiar tradicional, de reforma agrária e indígena Pataxó dos municípios de Itanhém, Itamaraju, Prado e Jucuruçu.

Projeto Águas da Bahia O Projeto Águas da Bahia promove a gestão e o uso sustentável dos recursos hídricos junto à Agricultura Familiar do Extremo Sul da Bahia, por meio do desenvolvimento participativo de sistemas de proteção ambiental e de produção agrícola baseados na Agroecologia.

O Projeto Águas da Bahia desenvolveu ações de educação ambiental, capacitação de lideranças comunitárias e professores, adoção de tecnologias eco-eficientes de produção como os Sistemas Agroflorestais e de envolvimento comunitário que contribuíram para a recuperação e conservação ambiental e uso sustentável dos recursos água, solo e floresta, e para a melhoria da qualidade de vida da população rural.

Mais de 200 famílias organizadas em 10 comunidades rurais distribuídas nos municípios de Itamaraju, Prado, Itanhém e Jucuruçu participam das ações de educação ambiental, capacitação de lideranças comunitárias e professores(as), adoção de tecnologias ecoeficientes de produção como os sistemas agroflorestais e de desenvolvimento comunitário, que contribuem para a recuperação ambiental e uso sustentável dos recursos água, solo e floresta, visando a melhoria da qualidade de vida das populações rurais.

Visando socializar estratégias sustentáveis de preservação ambiental e de produção agrícola, o Terra Viva através das experiências descritas nessa Edição Especial 2011 da Revista Terra Viva: experiências agroecológicas, presenteia os leitores e leitoras com os diversos temas abordados durante a execução do Projeto Águas da Bahia.

CAPA: Imagem cedida gentilmente por Aloísia Vieira da Silva (avó) Camila da Silva Santos (neta)

REALIZAÇÃO

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Missão do Terra Viva “Contribuir para o fortalecimento da agricultura familiar, através da atuação participativa no desenvolvimento sustentável, na construção e socialização do conhecimento agroecológico, potencializando o protagonismo de agricultoras e agricultores”.

Visão do Terra Viva “Tornar-se refêrencia no Extremo Sul da Bahia para o desenvolvimento e proposição de alternativas que fortaleçam a Agricultura Familiar com participação social e proteção ambiental.”

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REALIZAÇÃO

Boa leitura!

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Edição Especial 2011

Sumário

Descoberta nova fonte

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O Projeto Águas da Bahia na visão de quem o vive Este desejo veemente das famílias beneficiadas em agarrar esta oportunidade que lhes vem sendo dada e fazer o Águas da Bahia prosperar, associado à dinâmica participativa com que este projeto está sendo trabalhado nas comunidades faz com que ele consiga realmente adentrar a vida das comunidades rurais e promover transformações que vão muito além do espectro do visível. Talvez a maior revolução promovida pelo Projeto Águas da Bahia seja na cabeça das pessoas que o vivenciam, pois estas vêm passando a acreditar que a ideia de que é possível conciliar desenvolvimento econômico e conservação ambiental, antes vista como uma utopia longínqua, pode se tornar uma realidade cotidiana em suas vidas. No seminário Anual do Projeto Águas da Bahia, a agricultora Joana Cerqueira, da Comunidade de Aruanda se levantou com emoção e coragem de quem vê uma esperança ressurgir em meio a barreiras quase intransponíveis, e indagou num brado forte que ecoou por todo auditório:

Com isso, foi possível ver o produtor regar o Águas da Bahia com a mesma emoção com que cultiva seus grãos, e explodir de felicidade ao vê-lo crescer e dar frutos como se olhasse para a mais bela plantação que já semeou e soubesse que esta lhe daria o sustento por toda vida e até mesmo “além desta”. Disse o agricultor familiar de Gado Bravo, Miguel Alves da Silva:

“O Projeto Águas da Bahia é uma opor tunidade única, é uma chance que Deus está nos dando de fazer a nossa par te para reparar os malefícios que nossos pais e avós fizeram à natureza, e cuidar para que este bem tão precioso, que é a água, não nos falte, e que a sua escassez não venha a ser a causa da decadência de nossos filhos e netos.”

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“Muitos dizem que as ações que desenvolvemos através do Projeto Águas da Bahia é trabalho de formiguinha, que é pouco diante da grande degradação ambiental em que nossa região se encontra, mas este trabalho de formiguinha que fazemos tem uma importância gigante na transformação do todo, principalmente porque mostra que podemos fazer nossa parte e que, se cada um fazer como o beija-flor e pegar um pouquinho de água para apagar esse grande incêndio em que vivemos, o mundo será só verde.”

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Grande parte do sucesso do Projeto Águas da Bahia é resultado do comprometimento, admiração e vínculo afetivo que os produtores e produtoras rurais desenvolveram para com o mesmo. Esta cumplicidade deve-se, sobretudo, ao cuidado da Organização executora, Terra Viva e da Petrobras, empresa patrocinadora do projeto, em aproximar o público-alvo da dinâmica da proposta ambiental e trazê-la para a realidade da agricultura familiar.

Durante todas as oficinas, mutirões, cursos de capacitação, seminários e demais eventos promovidos pelo projeto Águas da Bahia ficou evidente a mobilização que estes trabalhos conseguiram promover nas comunidades onde foram implantados, fazendo com que cada produtor e produtora rural passasse a se sentir um agente multiplicador e disseminador das experiências compartilhadas e um sujeito ativo na transformação do espaço onde vive. Como disse a agricultora familiar da Associação Santo Agostinho, Marcionília Ferreira, no curso de capacitação de lideranças:

REALIZAÇÃO

O Projeto Águas da Bahia, através de uma metodologia baseada na valorização do conhecimento empírico da agricultura familiar associado a métodos técnico-científicos, vem propiciando resultados satisfatórios no que diz respeito ao aumento da produtividade agrícola, à melhoria da qualidade de vida e a ganhos significativos nos serviços ambientais. No entanto, todas estas conquistas não seriam efetivas sem a mobilização das famílias beneficiadas, pois só elas são capazes de assegurar que as ações instigadas pelo projeto se perpetuem por várias gerações e que as melhorias já alcançadas sejam sentidas também a longo prazo.

“Talvez fazer agricultura e conservar nossas águas e nosso chão, tudinho de uma vez só, seja mesmo uma utopia, muitos dizem que o desejo de produzir nosso alimento sem machucar a mãe natureza é uma utopia, mas é esta utopia, este sonho, que dá forças para nós lutar e enxergar, mesmo que lá num horizonte distante, uma agricultura agroecológica e sustentável”

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O Projeto Águas da Bahia na visão de quem o vive “Eu fico aqui analisando o quanto a gente tem aprendido com as oficinas, os intercâmbios, os cursos e as ações que o Projeto Águas da Bahia vem viabilizando, o quanto estamos compartilhando de sabedoria com o patrocínio da Petrobras. Meu pai derrubava matas para viver, ou melhor, matava a si próprio sem saber, matava bicho raro. Hoje a gente já sente falta e sente as dores do mal que nossos pais fez, estes tempos teve uma enchente em nossa associação Santo Agostinho e levou muita coisa, não tinha árvore na beira do rio para proteger as plantações e tudo que era nosso, os peixes morreu. Não quero isso para meus filhos. Tem que preservar para seu filho e seu neto não passa as dificuldades que nós passemo. A Petrobras e o Terra Viva ta fazendo um trabalho bonito, sei que não é fácil convencer um monte de matuto, que nós semo, mas eles tão conseguindo ensinar um monte de coisa boa para nós, mas nós também tem um monte de coisa pra ensinar pra eles e pra quem quiser aprender.”

Ainda nesta perspectiva, a índia Pataxó de Aldeia Nova de Monte Pascoal, dona Maria, popularmente conhecida por Lica, afirmou:

“Temos uma dívida com nossa mãe natureza, ela da tudo que nois precisa para viver, mas nois não sabe cuidar da riqueza que nois tem nas mão, com esse Projeto Águas da Bahia temo voz, podemo falar, podemo usar nossas sabedoria que aprendemo com nossos antepassados e arregaçar as mangas para garanti pro nossos filhos o di come e o di bebe, e que eles conheçam o verde que nois tem hoje e seja feliz como nois semo”.

Tohõ Pataxó, da Aldeia Pé do Monte, complementou: “Nois não devemo fala de meio ambiente como se fosse uma coisa bem distante de nois, nois também faz parte do meio ambiente, nois semo o meio ambiente, temo consciência que a natureza é nossa mãe, e fico muito feliz em saber que o não índio também ta preocupado com ela. O Águas da Bahia ta dando a maior chance da nossa vida, a chance de garanti nossa vida e a vida de nossos parente que ainda tão por vim. Que Tupã abençoe o Águas da Bahia, que Tupã abençoe o Terra Viva, que Tupã abençoe a Petrobras e dê força pra nois tudo continuar na luta”.

Diante de tudo que foi exposto pode-se perceber que, por mais que existam dificuldades em implantar projetos ambientais em comunidades de agricultura familiar, estas podem ser superadas pelo amor que estas comunidades têm a suas terras e o desejo de vê-las prosperar. No caso do Projeto Águas da Bahia, este sentimento vem sendo concretizado por meio dos esforços que estas comunidades vêm tecendo em parceria com o Terra Viva, a Petrobras e outros atores sociais, para resgatar o verde e promover práticas produtivas ecológicas, garantindo a sustentabilidade dos serviços ambientais e a soberania alimentar a longo prazo.

Quando presenciamos depoimentos como estes, percebemos que o produtor de agricultura familiar tradicional, o indígena e o assentado de reforma agrária nutrem um amor incondicional para com a terra, esta é a fonte de vida para eles, é de onde vem e para onde vão. O maior desejo, o grande sonho destes produtores e produtoras é poder cuidar da terra e ver o alimento brotar vigoroso, alimentando sua fome de pão e de dignidade. Assim como presenciar o verde das matas que brincavam quando criança renascer e servir de esconderijo para os seus filhos e netos no pique esconde, deixando como legado para estes o ofício de manusear a terra e tirar dela o seu sustento.

PATROCINIO

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REALIZAÇÃO

O presidente da Associação Santo Agostinho, Enoque Nogueira, sabe bem o sabor de criar seus filhos em contato com a mãe terra e sabendo deste valor, não quer repetir a história de devastação ambiental vivenciada pelos seus pais. Ele se emociona ao falar das experiências vivenciadas com o Projeto Águas da Bahia

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Kambeba Água de rio Que dança ao sopro do vento Água fresca e limpa Rio de grandes águas Rio Negro, Rio Negro... Água pra beber Água pra banhar Água pra brincar Água pra encher o pote. Rio de leite profundo Os segredos do Povo, proteja: Omágua, Kambeba De várzea Omágua das águas. Kambeba, Omágua De várzea Kambeba das Águas.

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REALIZAÇÃO

(Anselmo, Iara Tatiana e Sumário)

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Á g u a

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Recuperação de Nascentes em Comunidades de Agricultura Familiar

Mas, ainda bem que existem pessoas seguindo o caminho contrário e trabalhando para tentar reverter esses eventos. O Projeto Águas da Bahia, realizado no Extremo Sul da Bahia, executado pelo Terra Viva e patrocinado pela Petrobras através do Programa Petrobras Ambiental, é um exemplo disso. O projeto vem trabalhando alternativas inovadoras na conservação dos recursos hídricos através de recuperação ambiental de margens de rios e nascentes.

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Este trabalho está sendo realizado com comunidades Indígenas Pataxó, agricultores familiares tradicionais e agricultores assentados através de programas governamentais de reforma agrária. Dentro deste processo, as áreas foram escolhidas coletivamente nas comunidades levando em conta o grau de importância da nascente para as famílias, quantidade de pessoas que a utilizam, tipos de usos, quantidade de crianças e idosos e se a água é utilizada por escolas rurais. O trabalho de recuperação da área é de fundamental importância por vários aspectos, a área é cercada para evitar o trânsito de animais como bovinos, equinos e suínos. Esses animais de grande porte prejudicam a área com o pisoteio deixando o solo compactado, tornando-o impermeável e

impedindo a infiltração da água das chuvas que alimenta o lençol freático e fortalece a nascente. O gado retira a cobertura do solo no pastejo, deixando-o vulnerável à ocorrência de erosão que, por sua vez, causa o aterramento das nascentes e o assoreamento do leito dos rios. Além disso, cercando a área, impede-se que os animais quebrem ou se alimentem das espécies implantadas. Além dos problemas acima citados, evitamos que os animais defequem no perímetro das nascentes e margens de rios, pois são as fezes de animais de sangue quente que causam grandes problemas intestinais principalmente em crianças e idosos com a transmissão de bactérias e parasitas.

cação das espécies da mesma micro bacia.

O projeto fomentou a criação de viveiros familiares para produção de mudas nas comunidades, o que possibilitou o aumento da diversidade, chegando a 62 espécies florestais nativas em mais de 25 hectares. O projeto forneceu tela, arame e sacolas para mudas e as famílias foram responsáveis pela produção e pela coleta de sementes nativas das suas propriedades, o que favoreceu a diversifi-

Para acompanhar a qualidade da água dos corpos hídricos e possibilitar a avaliação dos resultados das intervenções realizadas, o projeto fez análises laboratoriais, química, física e biológica.

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Grandes tragédias naturais vem ocorrendo em todo o mundo, em todos os continentes, atingindo diferentes povos e nações. Grande parte dessas tragédias são resultado das ações humanas como os desmatamentos, as queimadas, a poluição que é jogada todos os dias em nossos rios, o acúmulo de lixo, a utilização de pesticidas e muitos outros. O planeta está gritando por socorro.

Atualmente, é inquestionável que o bem mais precioso que dispomos é a água de qualidade, água potável. O projeto já recuperou 33 áreas de nascentes e beira de rios e córregos (matas ciliares) com espécies nativas da mata atlântica em quatro municípios do Extremo Sul da Bahia.

REALIZAÇÃO

Há algum tempo, a humanidade vem sentindo os efeitos do desequilíbrio ecológico em nosso planeta. Está aí para quem quiser ver, mas alguns ainda fecham os olhos para tal situação.

O projeto conseguiu superar suas metas: Ação

Meta

Resultado

10 áreas

33 áreas

Produção de mudas de florestas nativas

12.500

20.380

Produção de mudas frutíferas

14.000

25.958

Recuperação de nascentes e beiras de rios

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Água volta a brot a r Recuperação de Nascentes em Comunidades de Agricultura Familiar

46.338 MUDAS PLANTADAS

Com a produção de mudas dos viveiros familiares e a implantação de um viveiro central na sede do Terra Viva, conseguiu-se a produção das seguintes espécies florestais nativas para a recuperação das áreas preservação permanente:

46.338 MUDAS PLANTADAS Balsamo - Myroxylon balsamum

Massaranduba branca - Manilkara dardonai Pau roxo - Peltogyne cf. subsessilis.

Pati - Syagrus botryophora

Pau marfim - Balfourodendron riedelianum

Jurema - Balizia pedicellaria

Boleira - Joannesia princeps

Pau-jangada - Apeiba tibourbou

Pau brasil - Caesalpinea echinata

Paineira rosa - Chorisia speciosa

Aroeira Pimenteira - Schinus terebinthifolius

Pau-pombo - Tapirira guianensis

Goiaba - Psidium guajava

Massaranduba - Manilkara salzmannii

Guapuruvu - Schizolobium parahyba

Amescla - Protium sp.

Juçara - Euterpe edulis

Urucum - Bixa orellana

Açoita cavalo graúdo - Luehea grandiflora

Sansão do campo - Mimosa caesalpiniifolia

Angico da Mata - Parapiptadenia rígida

Pau ferro - Caesalpínia férrea

Ipê Branco - Tabebuia roseo-alba

Jurubeba - Solanum paniculatum

Juerana Vermelha - Parkia pendula

Jatobá - Hymenaea courbaril

Orelha de Negro - Enterolobium contortisiliquim

Jacaratiá - Jacaratia spinosa

Pau - Cigarra - Senna multijuga

Araçá-vermelho - Psidium Catlleianum

Sucupira - Bowdichia nítida

Jacarandá da Bahia - Dalbergia nigra

Quaresmeira Roxa - Tibouchina granulosa

Angico branco - Piptadenia macrocarpa

Pitanga - Eugenia uniflora

Amendoim bravo - Pterogyne nitens

Angelim amargoso - Vataireopsis araroba

Sabão de macaco - Sapindus saponaria

Aderno - Astronium communa

Guanandi - Calofhyllum brasiliense

Amescla mirim - Marchaerium cf. dalbergia

Fedegoso - Senna Macranthera

Arapati - Arapatiella psilophylla

Juerana - Balizia pedicellaria

Acá de leite - Pouteria torta

Cajú - Anacardium occidentalee

Biriba branca - Eschweilera apiculata

Graviola - Annona muricata

Brauninha - Schinopsis brasiliensis

Araticum - Annona exalida

Sabão de soldado - Quillaja brasiliensis

Mutambo - Guazuma ulmifolia

Sucupira mirim - Bowdichia virgilioides

Gameleira - Clusia nemorosa

Biriba - Eschweilera ovata

Genipapo - Genipa americana

Bicuíba - Sterculia speciosa

Ingá - Inga sp.

Araçá - Psidium sp.

Pau-óleo - Copaifera langadorfil

PATROCINIO

Sapucaia - Lecythis pisonis

REALIZAÇÃO

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Pau sangue - Swartzia apetala

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Á g u a

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Evolução de nascentes recuperadas N.

N.

E

E SE

SW S 01

02 03

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Comunidade Libertadora

PLANTA DA ÁREA

W

04

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Y = 8119000.0000

PROPRIETÁRIO:

ÁREA:

X = 361000.0000

OSVALDO VIEIRA DA SILVA ESCALA:

FORTUNA

MUNICÍPIO: ITANHÉM - BA.

1/5.000

COORDENADA: UTM/SAD69

5.803,51 metros quadrados

05/2011

LOCAL:

X = 360800.0000

X = 360600.0000

Y = 8118800.0000

FOTO DE SATÉLITE

Comunidade Fortuna 16

Y = 8119200.0000

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NE

10/2010 ÁREA:

X = 389600.0000

X = 389400.0000

X = 389200.0000

JOÃO SOARES DA COSTA ESCALA:

GADO BRAVO

MUNICÍPIO: JUCURUÇU - BA.

1/5.000

COORDENADA: UTM/SAD69

7.391,27 metros quadrados

05/2011

04/2011 N. NW

PROPRIETÁRIO: LOCAL:

N.

Y = 8115200.0000

NW

NE

SW

SE

W

E

S

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Y = 8115000.0000

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Y = 8114800.0000

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PROPRIETÁRIO: LOCAL:

ALDO ANTONIO DA ROCHA

ÁREA:

ESCALA:

LIBERTADORA

MUNICÍPIO: ITANHÉM - BA.

1/5.000

COORDENADA: UTM/SAD69

5.660,47 metros quadrados

05/2011

UTM/SAD69

9.410,81 metros quadrados

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Y = 8139400.0000

05/2010

COORDENADA:

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X = 355000.0000

MUNICÍPIO: PRADO - BA. ÁREA:

1/5.000

ESCALA:

ALDEIA NOVA

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PATROCINIO

ALDEIA NOVA MONTE PASCOAL

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X = 354800.0000

PROPRIETÁRIO: LOCAL:

X = 456200.0000

X = 456000.0000

X = 455800.0000

Y = 8129600.0000

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X = 354600.0000

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Y = 8139600.0000

REALIZAÇÃO

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X = 389000.0000

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Comunidade Gado Bravo

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PLANTA DA ÁREA

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Y = 8139800.0000

FOTO DE SATÉLITE

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Y = 8129800.0000

PLANTA DA ÁREA

S

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FOTO DE SATÉLITE

SE

SW

E SE

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PLANTA DA ÁREA

W

FOTO DE SATÉLITE

Comunidade Aldeia Nova

W

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NW Y = 8130000.0000

NE

NW

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ÁGUA E FLORESTAS

Imagine a seguinte situação: você caminhando por uma estrada completamente deserta, sem uma única sombra, em um dia escaldante de verão. Depois de andar o dia inteiro, sem beber uma só gota de água, você encontra um riacho cristalino, água de um azul transparente, com pequenas corredeiras sobre pedras, em meio a uma graciosa mata verde exuberante. Sim, talvez cheguemos à mesma conclusão: água é um bem precioso do nosso planeta! Fundamental não somente para nós, seres humanos, mas também para todos os outros seres vivos!

Se sabemos, por que nossos rios estão cada vez mais rasos e com menos água? Por que muitas de nossas terras estão cada vez mais secas e pobres? Por que nossos rios estão cada vez mais sujos e envenenados? Algumas coisas precisamos compreender melhor. Sabemos que a abundância de água depende do ciclo que ela faz no planeta. Mas esse ciclo não se resume à evaporação das águas de rios, lagos e mares, formação de nuvens e a consequente chuva sobre a terra, que retorna aos rios e assim por diante.

Claro que sabemos disso, mas será que sabemos tudo sobre a água?

O ciclo completo da água passa também pelo solo, pelas árvores, pelas florestas. As árvores “puxam” água do solo, mas, para isso, também mandam muita água para o ar. Essa água evaporada e transpirada pelas árvores leva junto consigo muitas outras substâncias importantíssimas para a formação de nuvens. As nuvens formadas pela evapotranspiração das florestas são pesadas, são aquelas que realmente fazem chover. Sem floresta, as nuvens ficam mais leves e altas, chovendo menos nesse lugar. Você tem dúvidas que assim formam desertos? (Ver site http://lba.cptec.inpe.br) Sem as florestas, a terra também fica bem menos molhada e a água da chuva escorre mais, fazendo mais enxurradas. Isso é fácil de entender, por vários motivos. Todos sabem que as folhas, os galhos e tudo que cobre o chão da floresta segura água. Sabem também que as plantas e os microrganismos da floresta deixam o solo macio e cheio de pequenos canaizinhos, facilitando a água infiltrar no solo.

Figura 3. Em locais onde há floresta, a água além de evaporar dos rios, lagos e oceanos, também alcança a atmosfera através da evapotranspiração das plantas, formando nuvens mais pesadas e baixas, promovendo a chuva local. A água que cai no solo da floresta, que é mais frio do que a própria chuva, infiltra-se rapidamente pois diminui de volume ao esfriar. Ocorre com isso maior recarga de lençóis freáticos e aquíferos, que ficam mais superficiais, também devido à temperatura mais baixa do solo. (com base em Coats, 2001)

Além disso, a água também transporta nutrientes do solo. Pode trazer fertilidade para o seu terreno, mas também pode levar embora, deixando o solo mais pobre. Sempre quando o solo está nu, com poucas ou sem plantas, a água tende a levar embora toda a força da terra. Um rio que tenha, de um lado, poucas plantas e nenhuma árvore e, de outro, uma floresta, a água tende a levar os nutrientes do lado que tem pouca vida para o lado que tem muita vida. (Para saber mais, leia: Living energies, de Calum Coats, Gateway Books, 2001).

Figura 2. Nos solos em que não há muita vida, ocorre compactação e desestruturação, dificultando as raízes penetrarem e absorver água e nutrientes. Nos solos em que há muitos pequenos animais, fungos e bactérias, a estrutura é boa, com muitos macro e microporos e pequenos canais, tendo normalmente mais nutrientes e disponibilidade de água para as plantas.

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Sem as florestas, o ciclo da água diminui e, como precisamos da água em movimento, no seu ciclo, para termos abundância e boa qualidade de água, precisamos também das florestas. Portanto, para que nosso lugar tenha sempre muita água, precisamos agir como os pássaros, os macacos, as cotias e todos esses animais naturais do lugar. Precisamos plantar florestas onde elas não existem mais.

Sem água, não há vida. Mas sem vida, não há água REALIZAÇÃO

Figura 1.Ciclo parcial da água, que ocorre em locais sem vegetação. A evaporação da água dos rios, lagos e oceanos forma vapor que alcança altitudes em que a temperatura promove a sua condensação, formando nuvens. Quando chove, a água infiltra pouco no solo, escorrendo rapidamente em direção aos rios e oceanos. A consequência é a pouca recarga e aprofundamento dos lençóis freáticos (com base em Coats, 2001).

Mas precisamos entender também que existe uma outra força fazendo a água entrar na terra das florestas. O solo sombreado e mais frio das florestas também esfria a água que cai das chuvas, o que faz com que a água diminua seu volume, entrando no solo muito mais rapidamente e atingindo os “rios subterrâneos”, chamados de lençóis freáticos.

Então, o que faz essa diferença acontecer? O que faz a água retirar ou trazer os nutrientes para o seu solo? A resposta é: toda a enorme quantidade e qualidade de vida que existe naturalmente no lugar. Ou seja, aqui onde vivemos, nos trópicos úmidos, a vida, em todo o seu esplendor, forma florestas. Onde tem florestas, o solo fica cada vez mais rico, mas onde não tem...

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PROJETO ÁGUAS DA BAHIA EM COMUNIDADES INDÍGENAS PATAXÓ O Projeto Águas da Bahia é executado em Aldeia Nova de Monte Pascoal e Aldeia Pé do Monte , ambas da etnia Pataxó e localizadas no entorno do Monte Pascoal. A proposta do projeto veio ao encontro da forma de vida e das práticas dessas comunidades, pois se trata da conservação dos recursos hídricos, preservação do meio ambiente e educação ambiental. A partir dos trabalhos de educação ambiental, o envolvimento das duas aldeias se tornou maior e integrado, pois os trabalhos foram realizados coletivamente entre as duas aldeias. Os trabalhos de mutirão de recuperação florestal e agroflorestal foram realizados em conjunto, como o plantio das mudas florestais nativas e frutíferas e a manutenção das áreas de uso coletivo.

diretamente ligada à preservação dos recursos naturais, pois são deles que os índios retiram o seu sustento. As duas aldeias estão localizadas em um território, já que vivem em uma área de parque que ainda preserva uma exuberante mata atlântica com área superior a 20 mil ha, que vai desde o Monte Pascoal até o mar, em uma faixa de terra de aproximadamente 35 quilômetros. A participação indígenas no projeto foi de fundamental importância pois, nos módulos de capacitação em educação ambiental, eles trouxeram sua cultura, espiritualidade e respeito pelos recursos naturais. Sua história de vida foi motivadora para todos os participantes dos eventos, o que proporcionou uma maior fundamentação aos temas tratados.

A cultura indígena está

De acordo com Nilton Pires, presidente da Associação Indígena da Aldeia Pé do Monte, “essa canção significa a beleza de sua aldeia e as matas verdes com suas plantas medicinais que são usadas para curar seu povo. Também fala de sua cultura e o costume de usar o arco e flecha para conseguir o alimento, e é uma forma de louvar e agradecer a Deus pai tupã que lhes dá a luz, força e coragem para lutar para conseguir seus objetivos”.

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REALIZAÇÃO

Em vários trechos da canção pode-se notar a espiritualidade e a integração com a natureza que essas aldeias conseguem preservar. Eles ainda preservam sua cultura com o resgate de sua língua mãe: o Patxohã, nos modos tradicionais de se vestir, na alimentação típica com o consumo da farinha de puba, peixe e cauim, na sua espiritualidade com o pai Tupã e no respeito à natureza que é sua fonte de vida.

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PATROCINIO

REALIZAÇÃO

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AS ÁGUAS ESTÃO ROLANDO

PRODUTORES RURAIS DE ITANHÉM ARTICULAM-SE E RECUPERAM NASCENTES Na comunidade de Fortuna está o agricultor familiar Osvaldo Vieira.

O agricultor Osvaldo Vieira trabalha pela proteção da nascente de sua propriedade que faz parte da bacia do Água Fria. O agricultor sabe que a nascente é valiosa. Para isso, ele cercou boa parte delas com mourões para o gado não pisotear e causar a erosão do solo. Segundo dados da Agência Nacional de Águas (ANA), a taxa de corrosão da terra é de 15 a 20 toneladas por hectare no Brasil. O índice aceitável está entre nove e doze toneladas.

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Públicos elaborou um plano para recuperar nascentes das comunidades: Aruanda, Lembrança, Libertador e Fortuna. A ideia foi começar pelas comunidades com forte presença da Agricultura Familiar e pelas nascentes com maior grau de degradação e com uso da água destinado ao Consumo Humano. Agora, na segunda fase, através do Programa Petrobras Ambiental, os trabalhos se estendem à formação de professores, formação de lideranças e às atividades de comunicação ambiental.

Os pequenos agricultores de Itanhém que, em sua maioria, vivem da pecuária, recebem arame, estacas, mudas e assistência técnica para conservarem suas terras preservadas. Cabe a eles abriPATROCINIO

A água tornou-se um ativo tão precioso quanto a pecuária e as lavouras. Na última década, vários projetos surgiram no país com o intuito de apoiar os produtores rurais na conservação das nascentes em suas propriedades. O município baiano de Itanhém, que faz divisa com MG, foi um dos primeiros a aderir a tais projetos, também encontrados em outros lugares, como Espírito Santo, Rio de Janeiro e Paraná. Há três anos, a ONG Terra Viva, em parceria com Associações Comunitárias, Sindicatos e Órgãos

O senhor Osvaldo tomou esta atitude, com o apoio dos vizinhos, dos técnicos do Projeto Águas da Bahia e da Família, pois já viu as cabeceiras d´água desaparecerem nas propriedades de outras comunidades. “A terra é arada e gradeada sem nenhuma proteção, plantam capim e o gado vai lá e estraga tudo”, lembra. Portanto, quando o projeto Águas da Bahia, bateu a sua porta, “minha cabeça já estava lá na frente”, orgulha-se. Para viabilizar o projeto, a ONG Terra Viva incluiu como prioridade a cerca, o arame e as mudas para reflorestar a área.

REALIZAÇÃO

Riacho em Itanhém – BA, palco de projeto pioneiro de preservação de mananciais

rem mão de atividades agrícolas em áreas de nascentes e apoiarem a equipe do Projeto Águas da Bahia no trabalho de cercar áreas, plantar mudas e monitorar o trabalho. Na prática, o projeto ajuda para que a legislação ambiental seja cumprida. O Código Florestal determina que nascentes, matas ciliares e mananciais sejam Áreas de Preservação Permanente (APP) e que se mantenha 20% da propriedade com cobertura vegetal (Reserva Legal). Segundo Francisco Colli, Coordenador do Projeto, apoiar materialmente os produtores foi uma necessidade. “Só é possível reverter a degradação com apoio do material aos agricultores familiares ”, analisa. O Senhor Osvaldo participa das Reuniões da Associação Comunitária e, pelo menos duas vezes por ano, participa de Intercâmbios do Terra Viva. “O importante é buscar conhecimento”, aconselha. Aos 51 anos, ele não diminuiu a intensidade do trabalho. Cuida do sítio com a família, planta verduras agroecológicas e cria pequenos animais como galinhas, patos e porcos. A dedicação é tão grande que foi nomeado representante do Projeto Águas da Bahia em sua comunidade. Mas existem também agricultores em situação oposta em outras regiões. Nos últimos quatro anos, muitos que fazem uso da irrigação de pastos para produção de leite, passaram a ser obrigados a buscar a Outorga pelo Uso da Água. A irrigação consome 70% do volume retirado dos mananciais. Apesar do município de Itanhém ter na água um de seus maiores patrimônios - conta com rios perenes em quase todo o seu território -, ele não zela por sua conservação. Os agressivos desmatamentos impedem as chuvas de infiltrarem na terra, os rios e mananciais recebem descargas de adubos e esgotos domésticos. Por essa razão, após a iniciativa do Projeto Águas da Bahia, a Prefeitura também iniciou projetos de Recuperação de bacias, sendo parceira do projeto gestado pela ONG Terra Viva com a finalidade de preservar o ciclo hidrológico, que garante não só o abastecimento, mas a vida das plantas e dos animais.

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O PODER DA UNIÃO Mutirões comunitários em ações de recuperação ambiental

Situação das nascentes do município de Itanhém que não participam do projeto.

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REALIZAÇÃO

O trabalho em mutirão surgiu com o objetivo de colaboração entre as famílias, amigos, vizinhos e companheiros das comunidades de agricultura familiar para agilizar os trabalhos, aumentar a produtividade e ao mesmo estreitar os laços de amizade entre os mesmos. É nos mutirões que acontece o encontro de diversos companheiros e a troca de experiência por meio de conversas. A partir da década de 80, com o esvaziamento do campo, as comunidades se desestruturaram e, consequentemente, esvaziaram-se os mutirões. A partir do ano de 2006, com o trabalho de formação agroecológica através da Ong Terra Viva nos municípios de Itamaraju, Prado, Jucuruçu e Itanhém, as famílias começaram a se reunir para participar das atividades de formação e sentiram a necessidade de retomar o trabalho de mutirão, pois assim facilitava o aprendizado nas capacitações. Através do programa de formação agroecológica e do trabalho em mutirão, foram desencadeadas diversas ações nas comunidades de agricultura fa-

miliar que interferiram de forma positiva na qualidade de vida das famílias de agricultores, como: • Recuperação da lavoura cacaueira através da clonagem com variedades tolerantes à vassoura de bruxa e manejo adequado; • Implantação de sistemas agroflorestais; • Recuperação de nascentes, matas ciliares em margens de rios e córregos e áreas degradadas. Os mutirões se tornaram espaço de discussão e implantação do projeto de desenvolvimento rural sustentável do Terra Viva junto à agricultura familiar com as seguintes ações: socialização do conhecimento, intercâmbios técnicos regionais, plantio de mudas florestais nativas nas nascentes, margens de rios, córregos, áreas degradadas e em áreas de sistemas agroflorestais diversificados de produção. Segundo Arnaldo Fernandes, diretor do Terra Viva: “O Projeto Águas da Bahia dificilmente teria alcançado suas metas de recuperação ambiental com êxito sem o uso dos mutirões comunitários. Hoje entendemos que o mutirão é peça fundamental no crescimento da agroecologia.”

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“Um único hectare de Mata Atlântica preservado gera, em média, 1.328.600 litros de água por ano”. Fonte: Programa Mata Ciliar do Governo Paulista

NASCENTE DA FAZENDA BOA VISTA

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REALIZAÇÃO

PROPRIEDADE ZENILTO PEREIRA DA SILVA ARUANDA / ITANHÉM- BA

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SAF’s - SISTEMAS AGROFLORESTAIS RECOMPONDO PAISAGENS NA MATA ATLÂNTICA A preservação da Mata Atlântica no Extremo Sul da Bahia tem como principal ator de interatividade as comunidades de agricultura familiar tradicional, assentamentos de reforma agrária e aldeias indígenas Pataxó, que se entrelaçam em um diversificado mosaico, integrando a paisagem regional. Partindo da premissa de que as unidades de conservação existentes e a legislação ambiental são insuficientes para conservar a biodiversidade da Mata Atlântica, em especial os recursos hídricos, o projeto Águas da Bahia se apóia no desenvolvimento de sistemas sustentáveis de produção agrícola orientados pela agroecologia desenvolvidos em 10 comunidades rurais nos municípios de Itamaraju, Prado, Itanhém e Jucuruçu.

Dentre os diversos sistemas produtivos que incorporam atributos de sustentabilidade crescente, os sistemas agroflorestais são os que mais se aproximam da paisagem natural e demonstram serem capazes de prestar serviços ambientais que minimizam os impactos da produção agrícola nos agroecossistemas. A partir dessa constatação, o projeto promoveu ações de implantação de agroflorestas nas comunidades de Farinha Lavada, Gado Bravo e Barra do Buri em Jucuruçu, Aruanda, Libertadora e Fortuna em Itanhém, Aldeia Nova de Monte Pascoal em Prado e Assovale, Santo Agostinho e Nova Alegria em Itamaraju.

SAF’s IMPLANTADOS - DIVERSIFICANDO O ROÇADO Os sistemas agroflorestais implantados a partir da realidade local utilizaram os recursos disponíveis e os conhecimentos de agricultores e agricultoras acumulados ao longo do tempo. Em função dessa metodologia, as agroflorestas surgiram a partir de roçados de ciclo curto como mandioca, milho e feijão, de pastagens degradadas ou de monoculturas arbóreas como café e cacau para avançarem em diversidade e complexidade de espécies. Dessa forma, os sistemas agroflorestais dos agricultores familiares do projeto Águas da Bahia incorporaram características variáveis e flexíveis visando

DEBATES E REFLEXÕES - O PRIMEIRO PASSO Para melhorar a percepção dos agricultores e agricultoras sobre a importância dos sistemas agroflorestais foram realizados vários momentos de debate e reflexão para que eles pudessem fazer suas escolhas. O primeiro passo foi a realização do diagnóstico rápido participativo em cada uma das dez comunidades onde a equipe técnica do projeto e as famílias participantes conseguiram retratar a realidade da comunidade como um todo, através de técnicas participativas e de visitas in loco. Em seguida, foi realizado o curso modular de educação ambiental agroecológica, com participção de 35 pessoas, em cada comunidade, para que os agricultores e agricultoras pudessem refletir sobre suas práticas agrícolas e as consequências para o ambiente.

atender as necessidades das famílias e o mercado local. Pois as culturas de ciclo curto introduzidas no sistema iniciaram a produção após os primeiros meses de implantação, proporcionando às famílias retorno econômico rápido e garantindo uma maior segurança alimentar e nutricional. Foi a partir dessa estratégia que os agricultores desenvolverem suas agroflorestas como explica a agricultora de Aruanda, Dona Aloízia Vieira “Deu certo porque quando eu colhia e cuidava das lavouras branca eu também tava cuidando das outras que demora chegar”.

de agricultores e agricultoras da região, pois a agrofloresta é um sistema que gera renda e alimento para as famílias e presta importantes serviços ambientais como a fixação de carbono, conectividade de fragmentos florestais isolados e aumento da diversidade biológica como enfatiza Amilson Almeida, Liderança do Projeto em Jucuruçu “Fazemos uma agricultura que valoriza o meio ambiente e garante o nosso sustento sem comprometer o sustento das futuras famílias de agricultores familiares. Esse trabalho é desenvolvido em parceira com o Terra Viva e seus parceiros aqui na região.”

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REALIZAÇÃO

À medida que os temas foram sendo abordados, os participantes optaram por adotar uma nova postura em relação ao meio, a modificar a forma com que eles se relacionavam em comunidade e a sua maneira de trabalhar a terra. Nessa perspectiva, os intercâmbios técnicos regionais se tornaram momentos privilegiados para os agricultores e agricultoras trocarem conhecimentos e reafirmarem suas escolhas. Com isso, esse sistema de produção foi sendo adotado por um crescente número

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SAF’s - SISTEMAS AGROFLORESTAIS RECOMPONDO PAISAGENS NA MATA ATLÂNTICA RETORNO ECONÔMICO E SEGURANÇA ALIMENTAR As agroflorestas que seguiram essa orientação aumentaram a quantidade e a diversidade de produtos nas feiras livres e nos programas governamentais do PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) no município de Prado e do PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) no município de Itanhém.

Diversidade similar de produtos agrícolas vem sendo ofertada na feira do povoado de Coqueiro no município de Jucuruçu por famílias das comunidades de Farinha Lavada, Gado Bravo e Barra do Buri.

A tabela abaixo apresenta a quantidade dos produtos comercializados originários das agroflorestas e o valor pago ao agricultor no município de Itanhém através do PNAE: Produtos

Quantidade (Kg) Valor pago (R$)

Aipim Banana prata Batata doce Couve Banana da terra

9.819 8.946 2.604 2.385 1.208

6.874,00 6.262,20 2.544,00 8.945,62 1.449,60

Total

24.962

26.075,42

Fonte: Centro de Ecodesenvolvimento Rural Organizado - CEDRO, 2010.

As famílias participantes do projeto no município de Itanhém forneceram 24.962 quilos de alimentos no período de julho a novembro de 2010 para 13 escolas da rede municipal de ensino. Estes estabelecimentos de ensino atendem 2.527 alunos com insegurança alimentar e nutricional.

CACAU - O RETORNO DA FLORESTA DE ALIMENTOS No caso dos sistemas agroflorestais com cacau, cupuaçu e açaí a introdução inicial de bananeiras ofereceu a sombra necessária para proteger as plantas do sol. Porém, como o sombreamento da bananeira não é definitivo, plantou-se árvores como jatobá, sapucaia, cajá, ingazeira ou uma cultura como a seringueira que, além de oferecer sombra, é mais uma fonte de renda.

A substituição gradual e sistemática de cacaueiros atacados pela vassoura de bruxa por hastes de cacaueiros tolerantes à doença renovou nos agricultores e agricultoras a expectativa de a cabruca novamente ser um importante sistema de produção que integre a renda monetária das famílias acompanhadas pelo projeto.

Visando recuperar importantes áreas de cacau em cabruca que foram severamente atacadas pela doença vassoura de bruxa, a equipe técnica do projeto organizou mutirões comunitários para introduzir variedades de cacau tolerantes à doença. A técnica adotada foi a enxertia por garfagem conhecida na região por clonagem.

“O projeto foi um incentivo para quem não acreditava mais no cacau. Esse projeto trouxe grande novidade para o retorno da lavoura do cacau que é uma floresta de alimento. Hoje eu to ensinando pra outros agricultores a recuperar a sua roça de cacau.” Sebastião Teles Agricultor familiar de Gado Bravo, Jucuruçu

No caso dos sistemas agroflorestais com cacau, cupuaçu e açaí, a introdução inicial de bananeiras ofereceu a sombra necessária para proteger as plantas do sol. Porém, como o sombreamento da bananeira não é definitivo, foram plantadas árvores como jatobá, sapucaia, cajazeira, ingazeira ou uma cultura como a seringueira que, além de oferecer sombra, é mais uma fonte de renda. O gráfico abaixo apresenta produtos comercializados originários das agroflorestas no município de Itanhém através do PNAE.

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REALIZAÇÃO

Fonte: Centro de Ecodesenvolvimento Rural Organizado - CEDRO, 2010.

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SAF’s - SISTEMAS AGROFLORESTAIS RECOMPONDO PAISAGENS NA MATA ATLÂNTICA AVANÇOS E CONQUISTAS Nesta primeira fase do projeto, foram implantados e recuperados 42 hectares de sistemas agroflorestais compondo os mais variados sistemas com cacau, café, banana, cupuaçu e demais frutíferas. Se considerarmos essa diversidade de sistemas agroflorestais desenvolvidos, pode-se afirmar que não existe um receituário técnico definido e padronizado, mas uma gama de possibilidades orientada por princípios ecológicos, exigindo o contínuo processo de experimentação de quem o adotar. Destaca-se que os avanços conquistados na implantação dos sistemas agroflorestais com a execução do projeto é atribuída à postura de respei-

IMPLANTAÇÃO DE UM SISTEMA AGROFLORESTAL EM ÁREAS DEGRADADAS to adotada pela equipe técnica ao conhecimento local originado das experiências de agricultores e agricultoras, pois são eles os verdadeiros protagonistas deste processo de recompor os agroecossistemas. Desta forma, foi a experiência desses agricultores e agricultoras que contribuíram no desenho de sistemas agroflorestais com características ecológicas que estão recompondo paisagens na Mata Atlântica e garantindo retorno econômico satisfatório a agricultura familiar.

É importante destacar que não existem receitas para a implantação de um sistema agroflorestal, pois cada lugar, cada terra e objetivo de produção do agricultor ou agricultora são diferentes. Desta forma, a implantação de um sistema agroflorestal é orientada por alguns princípios que podem ser aplicados nas mais diferentes realidades.

Princípios para a implantação de sistemas agroflorestais: 3 - Ótima Adaptação das Plantas

1 - Máxima Densidade de Plantas Quanto mais adensado for o plantio, melhor e mais rápida será a recuperação do solo. O adensamento faz parte de uma estratégia de aumentar ao máximo a cobertura do solo, utilizando muitas plantas com a finalidade de produzir folhas e raízes no próprio local. Além disso, num plantio mais adensado o microclima do local muda mais rápido, refrescando a terra e as plantas, favorecendo uma maior atividade dos microrganismos no solo.

2 - Máxima Diversidade de Espécies Muitas plantas precisam de espécies “companheiras” para se desenvolverem plenamente. Isso vale especialmente para as árvores nativas e cultivos que naturalmente são originários da mata. Por isso, deve-se imitar a natureza dentro do sistema agroflorestal consorciando os cultivos agrícolas, árvores frutíferas e plantas adubadeiras, da mesma forma que a própria natureza faz. Plante espécies que ocupam diferentes andares e camadas no solo com diferentes ciclos de vida, assim cada espécie completa a outra no espaço e tempo.

As espécies de plantas que podem ser usadas no início da implantação de um sistema agroflorestal dependem muito do estágio de degradação da terra, da exposição e da inclinação (baixada, encosta, topo de morro) do local. Numa terra bem degradada, a estratégia inicial deve ser a produção de matéria orgânica usando plantas resistentes ao solo fraco e compactado com uma alta capacidade de produzir matéria orgânica e descompactar a terra. Em terras pobres a diversidade é naturalmente menor, porque são poucas plantas que se adaptam nessas condições. Desta forma, deve-se aumentar a densidade usando todos os espaços vazios para o plantio. Muitos cultivos agrícolas não se desenvolvem ou são atacados por doenças e insetos por que o solo não está suficientemente preparado para recebê-los.

Com a alta diversidade de espécies aumentam as chances de não haver ataques de insetos ou doenças nos cultivos e pode-se ao mesmo tempo obter vários produtos como alimentos, madeira, ração para animais, plantas medicinais, matéria orgânica e lenha.

Práticas do Manejo Agroflorestal Capina Seletiva

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REALIZAÇÃO

A capina seletiva começa alguns meses após o plantio. Este manejo visa retirar através da capina ou roçada, todos os capins e ervas que já atingiram seu estágio de maturação ou florescimento. Com isso, a influência negativa no desenvolvimento das culturas será diminuída e a matéria orgânica originada da capina seletiva será usada para a cobertura morta no local.

Poda de Rejuvenescimento A poda de rejuvenescimento é o corte da parte aérea das plantas adubadeiras que atingiram seu estágio máximo de produção. O objetivo é revigorá-las, permitindo a entrada de luz solar no sistema, regulando o espaço e a dominância das plantas dentro do consórcio e aumentado a cobertura do solo com galhos e folhas das plantas podadas.

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GESTÃO EM PARCERIA Uma estratégia intimamente ligada à capacidade do Terra Viva de disseminar sistemas sustentáveis de produção agrícola e de preservação ambiental são as parcerias existentes no campo de atuação da entidade. As parcerias no projeto têm duas dimensões bem distintas. A primeira é orgânica, histórica, com as organizações dos agricultores familiares, especificamente os Sindicatos dos trabalhadores da agricultura familiar e das associações de base local na área de abrangência do projeto. A outra é institucional, são constituições estratégicas e fundamentais para a geração e acumulação de conhecimento novo. Esta proposta no projeto revela a intenção de um aprofundamento nas relações com os parceiros,

prevendo a gestão compartilhada nas ações locais. Uma das metas do projeto é relativa ao Planejamento, Monitoramento e Avaliação (PMA), que se consolida nas reuniões semestrais que ocorre entre os parceiros. A proposição de parceria com órgãos de governo teve uma prática objetiva neste projeto, resultando em ações pontuais realizadas em conjunto e alguma complementaridade nas ações de campo.

PARTICIPAÇÃO EM REDES Entende-se por rede um conjunto de pessoas e/ou instituições que compartilham serviços e informações por meio de relações regulares e sistemáticas, visando a objetivos comuns de interesse socioambiental.

O Terra Viva e o projeto Águas da Bahia participa: FÓRUM SÓCIO-AMBIENTAL DO EXTREMO SUL DA BAHIA Este fórum discute o Desenvolvimento Regional Sustentável e Articulação política para apresentar propostas aos governos municipal e estadual.

REDE DE AGROECOLOGIA E AGRICULTURA FAMILIAR DO EXTREMO SUL DA BAHIA Esta rede articula as organizações que desenvolvem atividades em Agroecologia, Desenvolvimento Sustentável e Agricultura Familiar.

REDE ATER NORDESTE Esta Rede articula organizações do nordeste que desenvolvem projetos sobre Construção do Conhecimento Agroecológico e Políticas de Assistência Técnica e Extensão Rural em Agroecologia.

POLÍTICAS PÚBLICAS O projeto tem buscado atuar em sinergia e/ou às vezes interferindo na formulação e implementação de políticas públicas O Projeto está fortalecendo o processo de articulação junto aos órgãos públicos para implementação e consolidação de políticas que atendam às necessidades dos agricultores e agricultoras familiares através da execução do Pnae e do PAA/Conab nos municípios de Jucuruçu, Itanhém e Prado. A equipe do Projeto Águas da Bahia está participando ativamente na comissão de gestão do Projeto Água Preta Verde e tem contribuído com assessoria nas ações de educação e de recuperação ambiental de nascentes. A participação nos Conselhos Municipais de Meio Ambiente de Itanhém e Itamaraju tem garantido o debate a respeito da recuperação ambiental e da proteção dos recursos hídricos dos municípios foco do projeto.

COMITÊ DE BACIA Ações que o projeto desenvolve para fomentar a criação e fortalecer o Comitê de Bacia

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REALIZAÇÃO

As reuniões de PMA (Planejamento, Monitoramento e Avaliação), aumentou o grau de acerto nas ações e atividades do projeto, e possibilitou o acumulo das discussões sobre agroecologia, como referência, para um desenvolvimento nacional sustentável.

O fomento se dá através da participação direta da Representante Legal do Terra Viva na secretaria executiva da comitês das bacias dos Rios Peruípe, Itanhém e Jucuruçu. Essa secretaria está realizando a articulação de entidades dos vários segmentos da sociedade para participar das reuniões e encontros regionais viando a implementação formal dos comitês de bacia. Durante este período houve o processo eleitoral e aprovação dos regimentos internos, a atual Diretoria do comitê foi instituída em novembro de 2010.

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PARCEIROS

PROJETO Águas da Bahia

Apoio decisivo para o SUCESSO na REALIZAÇÃO das ações e atividades do PROJETO Espaço para encontros, mobilização das famílias e alimentação Associação dos Pequenos Produtores Rurais de Coqueiro e Região

Viabilização da participação de agricultores/as e lideranças rurais nas capacitações do projeto

Associação da Comunidade Indígena Pataxo Aldeia Nova

Centro de Ecodesenvolvimento Rural Organizado – CEDRO

Associação dos Pequenos Produtores Rurais de Santo Agostinho

Assoicação de Meio Ambiente de Itanhém – AMAI

Associação dos Pequenos Produtores Rurais de Aruanda

Cooperativa Regional da Agricultura Familiar Agroecológica do Entorno do

Associação dos Pequenos Produtores Rurais de Itanhém – APPRI

Descobrimento - CAFAED

Estagiários e profissionais para os eventos de educação ambiental Centro de Ensino Superior do Extremo Sul da Bahia/Faculdade Faculdade de Teixeira de Freitas - Pitágoras Universidade Norte do Paraná - UNOPAR

Sementes, mudas e técnicos para as atividades de campo Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira – CEPLAC Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola - EBDA

Estúdio para gravação e veiculação dos programas de rádio Chão e Vida com duração de 01 hora Associação Comunitária Alternativa/Rádio Tropical FM 87,9

Veiculação das edições do programa de rádio Chão e Vida com acréscimo de 30 minutos

Articulação das comunidades de Itanhem, Jucuruçu e Indígena para os eventos de educação e recuperação ambiental Conselho Indigenista Missionário – CIMI

Sindicato dos Trabalhadores Rurais na Agricultura Familiar do Vale do Jucuruçu Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Itanhém e Vereda

Monitoramento de evolução da qualidade da água através de análises laboratoriais Empresa Baiana de Águas e Saneamento – EMBASA

Realização da segunda etapa do quarto módulo de educação ambiental para lideranças rurais comunitárias e capacitação da equipe do Terra Viva Home Design Comércio de Produtos Publicitários Ltda Parcerias Institucionais

Doação de Sementes e mudas florestais nativas e frutíferas (7.000 MUDAS) Superintendência da Agricultura Familiar SUAF/SEAGRI – BA

Meta do Projeto

Decorrer do Projeto PATROCINIO

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Biofábrica de Cacau

Início do Projeto

valor estimado dos serviços e produtos se fossem pagos seria R$ 40.790,00

Total Atingido

11

Centro de Extensão da CEPLAC – CENEX

Transporte das mudas doadas

Com 11 parceiros o

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Rádio Extremo Sul AM

Hoje com 22 parceiros e valor estimado de serviços e produtos é R$ 87.430,00 39


PROGRAMA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL AGROECOLÓGICA Um dos focos do Projeto Águas da Bahia é o programa de educação ambiental, no propósito de contribuir no processo de construção do conhecimento agroecológico, através dos cursos de formação para lideranças rurais comunitárias, agricultores e agricultoras familiares, professores das escolas do campo e intercâmbios de saberes. Assim, consideramos de suma importância as abordagens sobre educação ambiental, pois acreditamos ser um instrumento de transformação da realidade. Neste contexto, os cursos de formação buscaram promover momentos de discussão e reflexão sobre os recursos naturais água, solo e floresta. Considerando estes fatores, é importante que a proposta de educação ambiental propicie junto às organizações da sociedade civil a multiplicação das informações e dos conhecimentos que são inerentes à formação da consciência agroecológica. Pensar a educação ambiental é compreender as dimensões da realidade, reconhecendo e valorizando o saber popular e a diversidade cultural dos sujeitos, construindo uma nova forma equilibrada de se relacionar com a natureza, promovendo o campo como espa-

Princípios Metodológicos do Curso de Educação Ambiental Agroecológica

ço de vidas humanas, com dignidade, respeito, construção de identidade e cidadania. Portanto, educar na perspectiva da emancipação humana é o nosso grande desafio, pois acreditamos que a educação é um instrumento de transformação da consciência e da realidade. Assim sendo, estamos contribuindo para o processo de resistência e soberania dos sujeitos do campo. Sendo assim, a escola é um dos espaços de formação que possibilita, além de ler as palavras, a ler o mundo, no propósito de transformar a realidade, com a finalidade de ir além dos conteúdos curriculares, exercendo a função social e contribuindo para o processo de elevação da consciência. Neste sentido, é de suma importância que os temas referentes à educação ambiental sejam priorizados nas escolas, não se restringindo apenas aos conceitos, mas provocando uma reflexão sobre as abordagens socioambientais, no intuito de formar cidadãos conhecedores dos valores essenciais para exercer o cuidado com a terra, a água, as florestas e com o ser humano, aprendendo a valorizar a vida em suas várias dimensões, social e ambiental. Nesta perspectiva, a escola tem o desafio de ser um instrumento mediador do diálogo, da troca de formação e informações e de construção coletiva, criando parceria com as comunidades, viabilizando atitudes de intervenção na realidade, com ações críticas e coerentes, contribuindo para a mudança de hábitos e promovendo o bem estar social, comprometido com um projeto de educação ambiental mais amplo.

Construir pontes entre os saberes tradicional e científico; Construir o conhecimento com o grupo; Relacionar teoria e prática; Praticar valores ecológicos; Partir da realidade vivenciada; Valorizar a diversidade na natureza e na sociedade.

Curso de Educação Ambiental Agroecológica para Agricultores e Agricultoras Familiares O curso de educação ambiental agroecológica para agricultores familiares foi realizado nos municípios de Itamaraju, Itanhém, Prado e Jucuruçu com a participação de 140 pessoas. Além das discussões teóricas, aconteceram as atividades de campo com a prática de oficinas participativas.

nas concepções acerca dos recursos hídricos e nas leis ambientais, como também nas oficinas participativas e nos dias de campo comunitários, no intuito de articular os conhecimentos científicos com conhecimentos empíricos, tendo como ponto de partida as experiências locais das comunidades.

Meta do projeto: 100 pessoas – Número de participantes: 140 As abordagens referidas nos cursos buscaram potencializar o conhecimento agroecológico. Sensibilizando os agricultores acerca da preservação e conservação dos recursos, água, solo e florestas, as discussões permearam no campo da biodiversidade e do desenvolvimento sustentável, promovendo a capacitação dos agricultores, visando fortalecer e inovar o trabalho na agricultura.

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REALIZAÇÃO

Adotou-se como metodologia do trabalho o debate teórico, apoiado

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CURSO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL AGROECÓLOGICA PARA LIDERANÇAS RURAIS COMUNITÁRIAS O programa de educação ambiental agroecológica capacitou 35 lideranças das associações rurais e do movimento sindical dos vales dos Rios Jucuruçu e Itanhém. O curso foi constituído de 04 módulos, realizados no município de Itamaraju. Meta do projeto: 25 pessoas – Número de participantes: 35 pessoas Os conteúdos desenvolvidos no curso foram articulados com as práticas desenvolvidas nas comunidades, estabelecendo para além de uma relação de diálogo e de parceria, momentos de trocas de experiências, informações e de construção do conhecimento. Tendo como pressuposto a missão do Terra Viva que é contribuir para o fortalecimento da agricultura familiar, através da atuação participativa no desenvolvimento sustentável, na construção e socialização do conhecimento agroecológico potencializando o protagonismo de agricultoras e agricultores, o processo de formação buscou intensificar as discussões no sentido de compreender o projeto de desenvolvimento para o campo previamente estabelecido. Desse modo, existe

INTERCÂMBIO DE SABERES

o campo da agricultura familiar e o campo do agronegócio e compreender como se dão essas relações é acumular forças e conhecimento, potencializando as organizações da sociedade civil e populares. Outro foco desta proposta curricular foi criar as possibilidades das lideranças desenvolverem o potencial como agentes de transformação, mobilizando as comunidades, divulgando as informações, internalizando o papel das lideranças na luta pela conquista dos direitos dos trabalhadores, a construção da identidade camponesa e a promoção de uma vida digna para os sujeitos do campo.

Os Intercâmbios Técnicos Regionais são momentos de trocas de experiências entre as comunidades, possibilitando construir o conhecimento agroecológico a partir das vivências dos agricultores e das agricultoras familiares, promovendo momentos de apreciação do trabalho desenvolvido em determinadas regiões. Os intercâmbios são internos nas comunidades de atuação do projeto e externos em outras organizações que desenvolvem o trabalho que tenha como foco a agricultura familiar e a agroecologia. O Projeto Águas da Bahia promoveu intercâmbios técnicos regionais no noroeste do Estado do Espírito Santo, na cidade de São Gabriel da Palha, visitando o trabalho desenvolvido pela CEMAAF-SGP (Central Municipal de Associações da Agricultura Familiar de São Gabriel da Palha), Associação APAIOU (Associação dos Agricultores Familiares do Córrego Apaiou), para socializar experiências sobre o processo de comercialização dos produtos agroecológicos, que são vendidos em uma loja específica e entregues para os programas do governo federal PAA/CONAB e PNAE.

Terra Vista em Arataca, comunidades rurais atendidas pelo Serviço de Assessoria a Organizações Populares - SASOP, comunidades rurais de Jucuruçu, comunidades rurais de Itanhém e Assentamento Nova Esperança em Prado, totalizando aproximadamente 150 pessoas, em 10 intercâmbios. Os intercâmbios ocorridos na região sul e baixo sul da Bahia, no propósito de conhecer experiências de áreas de assentamentos de reforma agrária que busca para além da conquista da terra, mas também a educação e a dignidade. Abordando as estratégias de como fomentar o desenvolvimento sustentável e provocar o debate sobre as relações de gênero e a participação da família na comunidade, bem como estratégias de comercialização dos produtos da agricultura familiar.

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REALIZAÇÃO

Outro enfoque da visita foi a preservação dos recursos hídricos, visando à recuperação de áreas degradadas. Outros intercâmbios realizados foram no Parque Nacional de Monte Pascal, Assentamento

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RELATO DE UM INTERCÂMBIO NO BAIXO SUL DA BAHIA O Trabalho Desenvolvido pelas Agricultoras do Assentamento Dandara e da Comunidade Barroso – Camamu – Bahia

A este respeito, Maria Andrelice Silva dos Santos, uma das líderes do grupo das mulheres relata a importância da organização das mulheres para romper com o sistema de exclusão e submissão que historicamente as mulheres têm enfrentado, na luta por uma sociedade livre do preconceito e da exclusão. Del “ Nós temos uma missão que é passar o que aprendemos, para que não morra com agente, o que nós não passamos estamos devendo. As mulheres vieram de uma tradição que, desde que nascem, já são excluídas e subestimadas. Estamos nos escondendo. Para as mulheres Dandarianas, saber que existe outras mulheres que estão nesta luta nos dá força. Temos que praticar e repassar para outras comunidades”.

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Outra atividade realizada pelo grupo das mulheres são os momentos de lazer, buscando socializar as alegrias e as conquistas e, com isso, contribuem no processo de sensibilização das mulheres para que se dêem conta do quanto são importantes, e assim aprendam a valorizar a vida e a sua condição de mulher e de ser humano, que é movido de sentimento e de sonhos. Este intercâmbio proporcionou a troca de experiências, acumulando os conhecimentos inerentes às vivências das agricultoras do Extremo Sul da Bahia e o que mais chamou a atenção foram as formas como as agricultoras das comunidades de Dandara e Barroso cultivam a terra, diversificando as culturas, sem agressão ao meio ambiente.

MULHERES DO CAMPO E AGROECOLOGIA

TRANSPONDO BARREIRAS E QUEBRANDO PARADIGMAS EM PROL DO DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL

Ao observar a realidade, percebemos que os discursos sobre o “acelerado” processo de conquista da igualdade entre os gêneros ocorre de maneira equivocada, pois vivemos em uma sociedade patriarcal, onde o trabalho da mulher ainda é visto como algo limitado, sendo os trabalhos entre homens e mulheres hierarquizados e sem o mesmo reconhecimento. Esta problemática é concebida também no campo quando, na maioria dos casos, a propriedade da terra e os demais patrimônios estão em nome dos homens e mesmo o trabalho que é realizado pelas mulheres na agricultura é visto como ajuda, e não como alguém que participa ativamente do desenvolvimento agrícola. É importante recordarmos que, segundo os nossos antepassados, foram as mulheres as provedoras do surgimento da agricultura. No entanto, o trabalho das mulheres agricultoras não é valorizado e tampouco é considerado o esforço na dupla jornada dos afazeres domésticos e do cultivar a terra. Neste contexto, ainda é muito presente a desigualdade entre os sexos, em virtude de um processo histórico de exploração e de dominação. Assim, as relações sociais e humanas que são construídas adquirem um caráter de poder de um gênero sobre o outro, e são as mulheres submetidas a viver segundo as normas impostas pela sociedade. Embora vivamos sobre esta lógica desigual e sem o devido reconhecimento, as mulheres agricultoras têm buscado superar este modelo de sociedade a que têm sido submetidas, por meio das organizações sociais nas comunidades de agricultores e agricultoras familiares. Nesta perspectiva, o Projeto Águas da Bahia no decorrer dos dois primeiros anos de execução provocou mudanças significativas de comportamento que são essenciais para o processo de formação da consciência agroecológica e de atuação das mulheres nos PATROCINIO

No assentamento Dandara há um grupo de mulheres que tem rompido com os preconceitos, através da organização do trabalho na agricultura, assim tem fortalecido os valores da coletividade e da cooperação, cultivando hortaliças nos quintais, garantindo a alimentação para o sustento das famílias, como também tem resgatado as tradições familiares através do cultivo de plantas medicinais, fomentando a medicina alternativa, criando possibilidades de sobrevivência no campo e promovendo a autonomia das mulheres, além do cultivo da agricultura, há também a criação de galinhas. Essas iniciativas têm a parceria do SASOP, vinculados aos fundos rotativos, sendo a produção comercializada nas feiras livres da cidade de Camamu, situada no Baixo Sul da Bahia.

A importância deste trabalho é para além das conquistas das mulheres por sua independência e por seus direitos, mas também por propiciar o processo de formação da consciência, e potencializar a construção do conhecimento agroecológico. Estas questões foram observadas através da maneira como as mulheres das comunidades lidam com a terra, não usando agrotóxicos e inseticidas, adotando como método de trabalho o manejo do solo, e assim estabelecer uma relação de respeito com a natureza.

REALIZAÇÃO

A Comunidade Barroso é composta de pessoas afro descendentes, fruto de um processo de exclusão das populações negras no Brasil, que tem conseguido, graças à organização de homens e mulheres, o reconhecimento dos territórios quilombolas. E que, através de um processo de lutas e resistências, tem fortalecido a organização da agricultura familiar naquela região.

órgãos públicos e entidades sociais. Assim olhamos para trás e o que se vê? Vemos as mulheres. Mulheres plantando mudas, participando dos cursos, seminários, reuniões, caminhadas pelas águas, viajando para participar dos intercâmbios, discutindo sobre o projeto, tomando decisões, lutando pelos ideais e preparando aquele famoso “rango da roça”, temperado com muito amor para compartilhar com os companheiros nos mutirões. O casamento entre as mulheres da agricultura familiar e o Projeto Águas da Bahia tem se mostrado uma união bastante produtiva e marcada pela reciprocidade. Essas agricultoras exploraram de forma magnífica a capacidade de se organizar com compromisso e determinação, tornando possível a execução do projeto e construindo de forma sistematizada e autônoma novas práticas, valores e propostas de inserção ativa da mulher em todas as dinâmicas sociais. Assim, pode-se dizer que essa é apenas a conquista de uma luta diante da grande batalha que as agricultoras brasileiras têm pela frente. As cores, vozes, pés e corações femininos, muitas vezes castigados pelo sol e pela vida de labuta, percorrem um longo caminho em busca da aceitação de seu real potencial como formadoras de opinião e agentes modificadoras do espaço rural brasileiro. Estas mulheres cidadãs vêm dando um exemplo de força e coragem, trazendo o sentido da luta das mulheres do campo para o escopo do Projeto Águas da Bahia, transpondo as barreiras do roçado e do fogão à lenha, historicamente vistos como o único espaço que lhes cabia e proliferando sua causa para o asfalto das cidades e para as mesas de discussões políticas e sociais, demonstrando não ter fronteiras à luta por uma ampla reforma agrária, pelo manejo sustentável do meio ambiente, pela valorização permanente dos sujeitos do campo e pela soberania alimentar.

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LIDERANÇAS RURAIS COMUNITÁRIAS Quando a ONG Terra Viva iniciou o planejamento estratégico do último triênio, o Conselho Deliberativo sentiu a necessidade de estruturar projetos de desenvolvimento sustentável para o Extremo Sul da Bahia, tendo a agricultura familiar como a principal protagonista das ações de transformação da realidade com foco na reversão da degradação ambiental de importantes corpos hídricos, dos remanescentes de mata atlântica e das precárias condições em que se encontravam os solos agrícolas.

cípios de Prado, Itamaraju, Jucuruçu e Itanhém, a ONG contou com a dedicação de mais de 30 lideranças comunitárias que voluntariamente articularam as ações em suas localidades. Visando qualificar a atuação dessas lideranças comunitárias dos 04 municípios foco, a ONG Terra Viva realizou, através do Projeto Águas da Bahia, um curso modular com a participação total de 35 líderes. Os Módulos abordaram os temas: água, recursos naturais, biodiversidade, população e degradação; interrelações na mata atlântica, conservação ambiental e desenvolvimento sustentável na mata atlântica: ações governamentais, privadas e o papel das organizações da agricultura familiar; o Extremo Sul da Bahia: perspectivas e ameaças para a proteção da água e desenvolvimento sustentável; comunicação e técnicas participativas.

O Projeto Águas da Bahia surgiu com uma proposta de mobilizar diferentes organizações regionais para enfrentar os principais problemas encontrados em comunidades rurais da região da Costa do Descobrimento. O projeto articulou várias ações de educação ambiental como cursos modulares, intercâmbios, dias de campo e seminários, além de ações de recuperação ambiental e implanIntercalado com os módulos, as litação de sistemas agroflorestais atraderanças participaram de viagens de vés de mutirões comunitários. intercâmbio no sul da Bahia e norte Diante de todas as atividades de- do Espírito Santo para trocarem exsenvolvidas que participaram dire- periências com outras lideranças de tamente 10 comunidades dos muni- organizações da agricultura familiar

preocupadas com a degradação ambiental e a sustentabilidade do meio rural. Os momentos de capacitação promovidos pelo projeto se tornaram um espaço de integração regional e de troca entre as diversas lideranças participantes que debateram o desenvolvimento territorial a partir da perspectiva da diversidade cultural e da auto-afirmação, motivada pela presença de lideranças indígenas Pataxó, lideranças das áreas de reforma agrária, lideranças de comunidades tradicionais e do movimento sindical da agricultura familiar.

Agentes transformadores da realidade As lideranças rurais comunitárias se tornaram os pilares sustentadores do projeto em suas comunidades por serem fomentadores e fomentadoras de novas atitudes com relação ao ambiente e por manterem o contínuo processo de experimentação nos sistemas produtivos agroflorestais.

A dedicação e o comprometimento dessas lideranças ampliaram os impactos do projeto, pois tais lideranças também são agricultores e agricultoras familiares que tomaram a iniciativa de desencadear as ações de recuperação ambiental em suas áreas. Desta forma, com sua vivência prática, puderam sensibilizar outros agricultores e motivá-los a ampliarem suas áreas de recuperação e a introduzirem novas práticas agrícolas em suas propriedades. Há muitos outros resultados alcançados a partir da capacitação que o projeto não dá conta de mensurar com precisão como o aumento do nível de organização local para a superação de problemas coletivos, a interferência mais qualificada nos debates de reuniões, seminários e congressos,

além da melhor interlocução junto e mutirões de recuperação ambienao poder público sobre as demandas tal. Estas lideranças garantiram a execução das atividades de campo que as comunidades apresentam. e fortaleceram a sustentabilidade do A gestão do projeto foi executada projeto à medida que novas áreas de com a participação dessas lideranças recuperação ambiental e de agroflocomunitárias que contribuíram com restas foram implantadas. as ações de articulação, capacitação

As lideranças rurais potencializaram os impactos do projeto em suas comunidades contribuindo para a sensibilização e mobilização das pessoas nas ações de proteção dos recursos naturais - água, floresta e solo.

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REALIZAÇÃO

Hoje, a região conta com um considerável grupo de lideranças formador de opinião entre as comunidades e organizações da agricultura familiar comprometido em construir uma nova realidade que tem, na preservação ambiental e na produção susten-

tável de alimentos, os seus principais projetos de intervenção em políticas públicas, com uma atuação em conselhos municipais, comitês, colegiados territoriais e fóruns regionais.

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MOMENTO MÍSTICO DO CURSO DE LIDERANÇA Em 1991, acreditando nas possibilidades de transformação no campo da agroecologia e da agricultura familiar, um grupo de agricultores se desafiou em fazer diferente, construir a história de um novo jeito. Assim o Terra Viva, nestes 19 anos, vem construindo, com a parceria das comunidades do Extremo Sul da Bahia, um novo jeito de se relacionar com a natureza e com o ser humano. Nesta dinâmica de construir juntos, a cada passo dado, acumulamos experiências que se materializam em conhecimentos. A realização dos quatro módulos do curso de capacitação de liderança permitiu que conhecêssemos pessoas que não apenas passaram por nossas vidas, mas que farão parte da nossa história. Cada pessoa com seu jeito simples de ser gente se constitui nas comunidades que são protagonistas das conquistas que o Terra Viva tem adquirido ao longo destes anos. Neste sentido, é com muita alegria que afirmamos que as comunidades de Fortuna, Libertadora e Aruanda fazem parte de nossa história, por serem comprometidas com um projeto de desenvolvimento para o campo, que visa uma melhor qualidade de vida para as famílias. Determinação, compromisso e espírito de sacri-

A IMPORTÂNCIA DO PROJETO PARA A ESCOLA

fício são características que fazem parte do perfil das comunidades de Gado Bravo, Barra do Burri e Farinha Lavada, pois lutam em defesa do meio ambiente e, acima de tudo, em defesa da vida. Para existir não basta apenas estar vivo. Por isso, registramos a atuação das comunidades indígenas, Aldeia Nova de Monte Pascoal e Aldeia Pé do Monte, que superam a cada dia os preconceitos, e lutam em defesa dos seus valores, de sua cultura e do seu território tradicional. Lutar pela justiça social e pelos direitos humanos são características das associações de cédula da terra, Assovale, Santo Agostinho e Nova Esperança, que foram ousadas em romper com as cercas do latifúndio. A esses companheiros, que são parte da realização dos nossos sonhos, os nossos aplausos pela dedicação, coragem e sobretudo pela parceria indispensável na execução dos nossos projetos. Sendo eles sujeitos do processo histórico do Terra Viva. Os nossos encontros proporcionaram, além da troca de conhecimentos, troca de carinho, afetos, respeito e muitos abraços. Assim, somos convocados a simbolizar este momento com um forte abraço, fortalecendo os laços que aqui foram estabelecidos.

O Projeto Águas da Bahia está sendo de grande relevância para a Escola Dolírio Rodrigues dos Santos, pois aborda um elemento essencial à vida no planeta: a Água, cuja quantidade e qualidade encontram-se ameaçadas por poluentes e outros fatores, como desperdício, por exemplo. Espera-se haver uma maior conscientização de nossos alunos, bem como de nossas respectivas famílias no tocante a mudanças de hábitos no uso sustentável e preservação desse bem tão indispensável para a vida. Outra importância seria abordar a temática da legislação sobre as nossas águas, alertando a Escola e a Comunidade para a urgência da preservação do meio ambiente, chamando a atenção para a preservação das nossas nascentes, mostrando de perto a realidade da nossa Bacia Hidrográfica e conhecendo melhor as nossas nascentes.

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REALIZAÇÃO

Ficamos gratos quando recebemos o convite para participar desse projeto, pois o mesmo

foi abraçado por toda a escola. Só temos a dizer que foi de grande importância para a vida da Escola e toda a sua equipe. Como o projeto foi marcante em minha vida, ou seja, na vida de toda a Escola? A mudança não acontece, senão partindo de nós mesmos. O projeto trouxe um despertar, não só para a comunidade em geral, mas para cada um de nós professores, individualmente, pois nos levou a certas atitudes, como reivindicar abastecimento de água com qualidade para a população e reflorestar as nascentes, no intuito de fazermos nossa parte como cidadão que somos. Através desse projeto, conseguimos trabalhar com toda a escola de um modo geral: Fundamental 1, Fundamental 2, Ensino Médio e a turma do EJA, socializando as informações e repassando-as para a comunidade onde constatamos a urgente necessidade de cuidar de nossas nascentes.

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SEMINÁRIO ÁGUAS DA BAHIA: SOMANDO EXPERIÊNCIAS, DIVIDINDO CONHECIMENTOS OFICINAS

PALESTRAS

Com os temas recuperação de nascentes, clonagem de cacau, coleta de sementes, produção de mudas florestais/frutíferas e sistemas agroflorestais na mata atlântica, as oficinas viabilizaram a socialização das experiências locais dos agricultores e agricultoras familiares.

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Participaram representantes dos órgãos públicos; acadêmicos do CESESB, da UNOPAR e da PITÁGORAS; estudantes das escolas Inácio Tosta Filho, São João Evangelista e Colégio Estadual Luis Eduardo Magalhães; estudantes da rede municipal de ensino; Cedro; agricultores e agricultoras representantes das Associações e Sindicatos parceiros dos municípios de Itanhém, Jucuruçu, Itamaraju e Prado, diretores do Terra Viva e simpatizantes. Na oportunidade, contamos com a apresentação da Banda Marcial da Escola Inácio Tosta Filho demonstrando a cultura brasileira e o talento da juventude.

PLANTIO DE ÁRVORES NA PRAÇA Na grande concentração de chegada da caminhada na Praça Castelo Branco, embalados pela poesia de Olavo Bilac “Velhas Árvores”, houve o plantio de mudas nativas de Jequitibá, Pau Brasil, Paineira Rosa e Jacarandá. As árvores foram plantadas com o objetivo de sensibilizar a população acerca da preservação e conservação dos recursos naturais água, solo e floresta.

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A CAMINHADA PELAS ÁGUAS

Os agricultores e as agricultoras protagonistas demonstraram suas experiências de proteção da água, recuperação florestal, organização comunitária, produção de conhecimentos e de desenvolvimento sustentável, através de imagens, depoimentos e oficinas participativas.

REALIZAÇÃO

O seminário “Águas da Bahia, Somando Experiências, Dividindo Conhecimentos”, realizado nos dias 19 e 20 de outubro de 2010 proporcionou o reconhecimento das experiências locais desenvolvidas pelas comunidades de agricultura familiar nas bacias dos rios Jucuruçu e Itanhém.

Abordando temas de relevância para o projeto e para o processo de formação dos agricultores, trazendo reflexões sobre questões atuais, como as Alterações no Código Florestal Brasileiro, tema discorrido por José Augusto Tosato - Engenheiro Agrônomo, diretor do INGÁ (Instituto de Gestão de Águas e Clima), e Sistemas Agroflorestais como Estratégia de Recuperação Ambiental, com as contribuições de Henrique Souza, Engenheiro Agrônomo consultor do Projeto Corredores Ecológicos. Um ponto alto do seminário foi a Apresentação das Experiências Locais de Proteção das Águas e Desenvolvimento Rural Sustentável, feita pelos agricultores e agricultoras, protagonistas do Projeto Águas da Bahia.

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A COMUNICAÇÃO COMO FERRAMENTA FUNDAMENTAL NA MOBILIZAÇÃO SOCIAL

Programa de Rádio Chão e Vida Multiplicando experiências agroecológicas no Extremo Sul da Bahia

“Esse programa está sendo mais do que uma escola para nós, porque estamos aprendendo e ensinando para as pessoas de outras comunidades.”

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Os temas discutidos no decorrer da programação chamam a atenção da população rural para a importância da preservação dos recursos hídricos e demais questões ambientais de grande relevância. Aliado a esses temas são abordadas questões referentes à participação da mulher nos movimentos sociais, diversidade cultural, agroecologia e agricultura familiar.

Um bom sistema de comunicação faz com que todos os envolvidos trabalhem na mesma direção, focalizando os esforços para alcançar objetivos comuns. Além disso, a comunicação atua na opinião pública e na percepção da comunidade. Por isso, trata-se de uma ferramenta estratégica que impacta diretamente os resultados do projeto na comunidade. Além disso, é por meio da informação que as pessoas entendem a função das instituições e como elas contribuem para o desenvolvimento da sociedade.

Atualmente, nas comunidades atendidas pelo projeto, existe um ciclo de transmissão de informações e mensagens, que é um fenômeno capaz de gerar influências.

Nesse contexto, a comunicação tem sido um fator determinante para a consolidação do Projeto Águas da Bahia, seja na mobilização social ou na divulgação dos resultados alcançados. Em 2010, houve um ganho acrescido de notoriedade do projeto no extremo sul da Bahia, a partir da

Outdoors

Plotagem de veículo

Banners

Adesivos

Folders

Placas

Faixas

Spots e programas de rádio

Cartazes

Neste sentido, podemos afirmar que a comunicação é fator primordial para a continuidade das ações e o sucesso do Projeto Águas da Bahia. A sinergia que permeia o alinhamento das informações e a publicidade implica em maior mobilização social e mais eficácia na divulgação. Este processo é alimentado por ações voluntárias e involuntárias, e o seu resultado verdadeiro é a percepção formada pelo seu público. Um trabalho consistente de comunicação contribui para a perpetuidade do projeto e é revelado quando a visibilidade percebida se aproxima de seus valores almejados.

Os depoimentos e entrevistas de agricultores e agricultoras familiares que estão inseridos no Projeto Águas da Bahia reforçam a importância de se ter a agroecologia como ciência norteadora no desenvolvimento de sistemas sustentáveis de produção e de preservação ambiental.

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Como diz o agricultor familiar de Gado Bravo, Sebastião Teles:

O Programa Chão e Vida é veiculado duas vezes por semana. Aos sábados, na Rádio Tropical FM 87,9, das 17:00h às 18:00h e aos domingos, na Rádio Extremo Sul AM 830, das 6:30h às 7:30h.

divulgação de suas ações por meio de peças publicitárias como:

REALIZAÇÃO

Com o objetivo de socializar informações, experiências e prestar serviços de educação ambiental e cidadania para agricultores e agricultoras familiares de toda a região do Extremo Sul da Bahia, o programa de rádio Chão e Vida, realizado pelo Terra Viva, chega aos lugares do campo que dificilmente outros meios de comunicação chegariam com tamanha rapidez, oferecendo aos ouvintes um veículo de informação a serviço de sua comunidade.

Os projetos ambientais são agentes de construção social. Por meio de ações sustentáveis, observa-se o aumento da promoção de valores e conceitos que priorizam a melhoria da qualidade de vida, o aumento do bem-estar dos cidadãos e a diminuição da desigualdade social. Neste contexto, o papel da comunicação é de fundamental importância, pois ela confere visibilidade e legitimidade pública aos assuntos da responsabilidade socioambiental das organizações.

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