O Noviço

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AMBRÓSIO, o mesmo — Hum, hum, hum... FLORÊNCIA — Vossa Reverendíssima está constipado; talvez o frio da noite... AMBRÓSIO, disfarçando a voz — Sim, sim... FLORÊNCIA — Muito bem. CARLOS, À parte — Não conheci esta voz no convento... FLORÊNCIA — Mas para que Vossa Reverendíssima não perdesse de todo o seu tempo, se quisesse ter a bondade de ouvir-me em confissão... AMBRÓSIO — Ah! (Vai fechar as portas.) FLORÊNCIA — Que faz, senhor? Fecha a porta? Ninguém nos ouve. CARLOS, ŕ parte — O frade tem más tenções... AMBRÓSIO, disfarçando a voz — Por cautela. FLORÊNCIA — Assente-se. (À parte:) Não gosto muito disto... (Alto ) Reverendíssimo, antes de principiarmos a confissão, julgo necessário informar-lhe que fui casada duas vezes; a primeira, com um santo homem, e a segunda, com um demônio. AMBRÓSIO — Hum, hum, hum... FLORÊNCIA — Um homem sem honra e sem fé em Deus, um malvado. Casou-se comigo quando ainda tinha mulher viva! Năo é verdade, Reverendíssimo, que esse homem vai direitinho para o inferno? AMBRÓSIO — Hum, hum, hum... FLORÊNCIA — Mas enquanto não vai para o inferno, há de pagar nesta vida. Há uma ordem de prisão contra ele e o malvado não ousa aparecer.

AMBRÓSIO, levantando-se e tirando o capuz — E quem vos disse que ele não ousa aparecer? FLORÊNCIA, fugindo da cama — Ah! CARLOS, à parte — O senhor meu tio! AMBRÓSIO — Podeis gritar, as portas estão fechadas. Preciso de dinheiro e muito dinheiro para fugir desta cidade, e dar-mo-eis, senão...

FLORÊNCIA — Deixai-me! Eu chamo por socorro!


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