MiguelBorges_AntonioLeaoDaSilvaNeto

Page 109

jornal; e questiona, achando que deveria haver, sim, um plantão no dia seguinte, sábado. Eu lembrei que a gente não circulava no domingo, ele insistiu. Até pensei que ele podia estar certo, mas o pessoal já tinha ido embora mesmo e eu não quis dar o braço a torcer. Não deu outra. Eu estava em Ipanema, no apartamento onde morava com Suely, quando estourou no sábado a notícia sensacional sobre o motim dos cabos no Sindicato dos Metalúrgicos: simplesmente, o Governo mandou uma tropa do exército lá no Sindicato para debelar a rebelião, mas a tropa aderiu. 108

Mal pude dormir. Os matutinos amanheceram com manchetes e fotos fabulosas na primeira página: soldados e armas no Sindicato, fuzis nas mãos de sindicalistas, uma festa. Parecia a versão brasileira da revolução soviética, com a união de operários e soldados, só faltavam os camponeses. Fui correndo para a redação, cedinho. O Hélio, que nem ia ao jornal aos domingos, apareceu logo depois: Que furo nós levamos! E agora? Eu argumentei que aquelas fotos, no dia seguinte, já seriam velhas. E ele: Mas nós precisamos dar alguma coisa, somos um jornal político. Apertado, eu chutei: hoje o dia vai ser quente, nós

Miguel Borges miolo.indd 108

8/4/2009 22:36:24


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.