JoaoBatistaDeAndrade_MariaDoRosarioCaetano

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tornavam íntimos, o ego sabiamente massageados permanentemente por aqueles que detinham o poder político. O nobre, então era entrevistar alguém importante, não somente políticos e autoridades institucionais mas, autoridades de qualquer espécie, desde que da elite e famosos. O interesse meu e do Fernando criava uma situação que acabei retratando em meu filme A Próxima Vítima filmado em 82, usando, aliás, a própria redação da Globo/SP como cenário.

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No filme, o repórter representado por Antônio Fagundes chega tarde à redação, quando todos os assuntos nobres já haviam sido distribuídos, restando a ele uma pauta rejeitada por todos, carregada da questão social: os assassinatos num bairro pobre de São Paulo. Sem opção, o repórter acaba mergulhado na miséria e na violência da sociedade brasileira. Era assim. Quem podia, abocanhava logo as entrevistas e os assuntos nobres. Os outros, sem opção, ficavam com os assuntos “menores”, onde se incluía o povo. A visão que eu e Fernando levamos para a Globo era, como já disse, a visão de uma democratização da tela e de interesse pelos reais problemas da sociedade, em contraposição às fantasias institucionais e à alienação dos noticiários até aquele momento.


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