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meio cinéfilos, podem jogar conversa fora na noite porque não precisam, exatamente, trabalhar como a rapaziada mais abaixo na linha social. São sujos e feios, mas não são malvados. Lutam com meia dúzia de vocábulos e a gíria da vez em teorias tatibitates sobre política, filosofia, religião, amor & problemas existenciais em geral. Depois desaparecem, deixando lugar para outra leva/geração mais ou menos igual. Não se sabe direito o que a vida e o mercado de trabalho fazem com eles, mas pressente-se. É aqui que entram a literatura e o teatro para falar desses filhos piorados do poema de Carlos Pena e, mais atrás, do nostálgico romance O Amanuense Belmiro, do mineiro Ciro dos Anjos, que começa assim: Ali pelo oitavo chope, chegamos à conclusão de que todos os problemas eram insolúveis. Só que a ficção atual retrata um panorama mais estranho, mais pesado. O Cemitério de Automóveis e seu dramaturgofundador, Mario Bortolotto, gostam muito do assunto e estão abrindo espaço para autores afins como Pellizari, Reinaldo Moraes, Marcelo Mirizola e Daniel Galera. As ovelhas desgarradas do espetáculo são os exjovens de barzinhos, agora um tanto drogados e bastante alcoolizados, encarando pequenas histórias de solidão e desvios de rota. O arco vai do hilariante bêbado de boteco ao viciado em coisas injetáveis. Mas o espetáculo tem quase

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