JeffersonDelRios-VolII_JeffersonDelRiosVieiraNeves

Page 293

292

A peça é um lento desmoronar de aparências familiares. O casal alimenta velhas decepções. Os filhos afundam em ressentimentos e culpam o pai e a vida. Tudo numa aparência de normalidade – e até momentos de bom humor. O que impressiona é justamente esta simulação de rotina que encobre tragédias (um filho que morreu). No meio de uma amável conversa, algo sai do trilho. Entre o melodrama e a tragédia grega O’Neill chora pelas pessoas comuns e por todas as almas sensíveis. É a grandeza do artista superior. Concentrar na poesia o que a cultura grega clássica, Marx, Freud teorizam. Embora a ação esteja situada em 1912, e pareça distante, guarda paralelos com o autor (que tinha 24 anos nesse ano) e detalhes relevantes (a tuberculose era fatal. A penicilina injetável só apareceria nos anos 1940). No mesmo período, curiosidade ou intenção de O’Neill, a família Barrymore oferecia ao mundo intérpretes de vida tumultuada – Lionel, Ethel e, sobretudo, John Barrymore, talentoso e bêbado, como o filho John Jr. (pai da jovem Drew Barrymore, que agora volta ao cinema depois de quase afundar a carreira no álcool). Ou seja, ecoa na peça algo dessas sagas malditas dos reis ingleses e que, na América, parece ser quase um padrão histórico e social (os Rockefeller, os Kennedy).

12083300 miolo.indd 292

28/7/2010 15:46:56


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.