FomeDeBola_LuizZaninOricchio

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época, o recém-inventado cinema era uma reles atração de feira e o futebol não passava de um jogo entre amigos, uma brincadeira inocente da elite. É assim mesmo: quando se buscam os mitos de origem pisa-se terreno incerto, versões se contradizem ou convivem alegremente. Neste caso, como em outros, talvez seja melhor ficar com a sacada de um clássico faroeste de John Ford, O Homem que Matou o Facínora: se a lenda for melhor que o fato, imprima-se a lenda. E ponto final.

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Lenda ou fato, existe algo bem real em tudo isso: cinema e futebol chegaram praticamente juntos ao Brasil nos últimos anos do século XIX. Logo encontraram adeptos, se difundiram, caíram de vez no gosto do público, tornaram-se populares. Seria fácil imaginar que esse esporte e essa forma de entretenimento (porque no início o cinema não era ainda uma arte) teriam tudo para dar-se as mãos e iniciar um diálogo intenso. Mas será que foi assim? Quando comentei o desejo de escrever um livro sobre a presença do futebol no cinema brasileiro, o documentarista João Moreira Salles riu e disse que seria o mesmo que fazer uma pesquisa sobre as escolas de samba de Tóquio, tão pobre seria o material disponível. De fato, à primeira vista o cinema tratou mal a grande paixão dos brasileiros. Tão socialmente enraizado é o jogo da bola entre nós que deveria ter rendido filmes memoráveis e em quantidades


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