DiogoPacheco_AlfredoSternheim

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Depois, fui analisar e entendi por que eu havia gostado. Foi o impacto da sensibilidade. Já o intelectual é o seguinte. Você começa a pensar: “Puxa, não gostei dessa música. Mas todas as orquestras do mundo tocam. Todos os maestros do mundo regem. Estou aqui num país subdesenvolvido ouvindo num raro programa de música clássica A Sagração da Primavera. Será que o problema não é meu?” Eu procurei compreende-la, conquistála. Uma semana depois, ela virou Mozart para mim. Era tão bonita quanto a música de Mozart e tão fácil de ouvi-la. Então o programa da Vera, que tinha como prefixo uma suíte do Bach, me ajudou muito. Fui muito influenciado por esse programa e, claro, por meu irmão. De início, não o acompanhava espontaneamente aos ensaios. Eu era menino, não tinha independência para ficar na rua. O Assis nasceu em 1914, era onze anos mais velho. Depois, ele foi contratado pela rádio Gazeta que se orgulhava de ter um grande elenco de intérpretes da música lírica. Mais tarde, eu tive lá o meu primeiro emprego. Fui contratado como copista. Não lembro bem o ano, se 1940, 1943. Pouco tempo depois, fui substituto do Assis no primeiro Coral Paulistano, lá no Theatro Municipal, que tinha sido fundado pelo Mário de Andrade. O Theatro Municipal tem dois corais. Um deles é o Paulistano. Para fazer grandes espetáculos e importantes concertos, se juntava os dois. Era o Coral Municipal. E quando o Assis saiu, foi morar no Rio de Janeiro, já entrei. Tinha voz de tenor, tomei aulas com o professor dele, o Francisco Murilo e logo estava cantando no Coral Paulistano onde aprendi muito. O coral foi criado em 1936 pelo Mário de Andrade e teve, entre os maestros, o Camargo Guarnieri, que também era famoso compositor, o Fructuoso Viana, o Miguel Arquerons.

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