CasaDeMeninas_JulianoTosi

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5. De Ir e Vir Renata ficou cutucando; Maurício evitou o assunto até que ela o abordasse diretamente: - O que você estuda, afinal? - Que que te importa isso? - Nada, sei lá... Enfiou a cara no vidro, ofendida. Fazia sol e a luz acentuava a mudança na paisagem, à medida que se aproximavam da Penha. Renata não conhecia São Paulo direito e se impressionava com as sucessivas alterações: das casas imponentes dos Jardins até a Zona Leste, tinha a impressão de percorrer muitas cidades, mas, sobretudo, de assistir a uma degeneração programada da paisagem. À medida que o carro avançava, a cor verde e os espaços amplos davam lugar à fuligem que se acumulava nas paredes frontais das casas que, progressivamente, se comprimiam. O traçado razoavelmente inteligível das ruas dava lugar a uma sucessão de trevos e entroncamentos construídos uns sobre os outros. Agora, mesmo quando passavam por área verde, não era uma natural euforia que ela evocava, mas o esquecimento a que são relegadas as regiões mais pobres. - Que que você está querendo? – perguntou Maurício depois de algum tempo? – Cagar na minha cabeça que nem a outra? Não sou cara de muito estudo. Sou de trabalho...

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