Painel 65

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Nº 65 Junho/2010

Nº 65 Junho/2010

Um país de

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Mais que um esporte, futebol ajuda a definir cultura brasileira

Futebol abre espaços para educação e ações sociais na infância

Como ganhar a Copa? Especialistas fazem apostas para 2010

A caminho do centenário, Nhô Quim é paixão dos piracicabanos

CIÊNCIA & CULTURA

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Boleiros Mais que um esporte, futebol ajuda a definir cultura brasileira

Futebol abre espaços para educação e ações sociais na infância

Como ganhar a Copa? Especialistas fazem apostas para 2010

A caminho do centenário, Nhô Quim é paixão dos piracicabanos

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carta do editor

Expediente Órgão Laboratorial do Curso de Jornalismo da Unimep Reitor: Clóvis Pinto de Castro Diretor da Faculdade de Comunicação Belarmino Cesar Guimarães da Costa Editor: Paulo Roberto Botão (MTB 19.585)

Futebol: arte e sedução

O

futebol é, sem dúvida, o esporte mais importante do país. É o que reúne maior número de praticantes e de fãs, movimenta mais dinheiro, possui mais audiência na televisão e cobertura jornalística. A seleção

brasileira é a que venceu mais copas do mundo e os jogadores brasileiros

Editores Assistentes: Luan Antunes Renan Bortoletto

estão entre os mais valorizados no mercado mundial. Afinal, qual a explicação para este fenômeno? Por que o esporte exerce

Editor de Imagem e Fotografia: Thomaz Fernandes Redatores: Alinne Schmidt Amanda Dantas Camila Tavares Camila Viscardi Carla Bovolini Danielle Moura Iuri Botão João Henrique Lopes Larissa Zazirskas Leonardo Moniz Ribeiro Lígia Paloni Luan Antunes Luiza Mendo Mariana Blanco Mayara Cristofoletti Natali Carvalho Rafaela Ometto Raphaela Spolidoro Renan Bortoletto Samanta Marçal Soraya Defavari Stéphanie Tomazin

tamanho fascínio entre os brasileiros, de todas as idades, de todas as classes sociais? Apresentar informações que ajudem a construir respostas para estas perguntas é o principal objetivo desta edição da Painel, que traz ao longo de suas páginas uma coletânea de textos dos mais diversos gêneros sobre o assunto: são reportagens, artigos, crônicas e entrevista. O destaque fica para a entrevista principal, na qual o experiente jornalista Marcoas Guterman, editor de capa de O Estado de S. Paulo, analisa o futebol em todas as suas faces. O entrevistado é autor do livro “O futebol explica o Brasil – Uma história da maior expressão popular do país” e na conversa com os editores desta Painel apresenta hipóteses bastante interessantes sobre as interfaces entre o futebol e a cultura brasileira. A abordagem sobre a Copa do Mundo 2010 inova ao não se prender ao factual do evento, mas apresentar especulação instigante sobre os fatores que respondem pelo sucesso de uma seleção na disputa. A reportagem é complementada por artigo sobre a África do Sul, construído a partir da estadia de uma das estudantes da Unimep no país sede no período que antecedeu a competição.

Diagramação e Arte Final: Sérgio Silveira Campos Foto de Capa: Mayara Cristofoletti

A leitura dos textos permite depreender que a expressividade dos africanos e a riqueza cultural do continente certamente irão marcar esta 19ª Copa. Destaca-se também no conjunto a reportagem sobre o Esporte Clube XV

Correspondência: Faculdade de Comunicação Campus Taquaral, Rod. do Açúcar, km 156 - caixa postal 68 – CEP 13.400.911 telefone: (19) 3124-1677

de Novembro, o alvinegro piracicabano que é um dos mais importantes símbolos da cidade. A reportagem debate as razões do amor que os moradores de Piracicaba sentem pelo time, que mesmo em períodos de resultados ruins consegue atrair os torcedores ao estádio. Como sustenta o hino do clube, trata-se de um “glorioso esquadrão”, “na vitória ou na derrota”. A edição também traz reportagens sobre a importância do futebol como instrumento de educação, o fanatismo que une e divide torcedores, os percal-

Visite nosso site: www.unimepjornal.com.br PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Junho/2010

ços da profissão de jogador, a importância do preparo físico e alimentação, a presença da mulher e a história do futebol no país, além de um interessante relato sobre os bastidores de uma partida disputada no Barão de Serra Negra, em Piracicaba. É isso. Boa leitura. 3


Cynthia da Rocha

O Futebol é a coisa mais importante do país

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Para Guterman, valorização do esporte como parte da história demorou um século no Brasil

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Luan Antunes

luan.antunes@gmail.com

Renan Bortoletto

bortolettorenan@yahoo.com.br

M

ais que um papo de boleiro. Historiador e jornalista do Grupo Estado, Marcos Guterman dá uma aula de história e futebol. Jornalista desde 1989, Guterman trabalhou por 15 anos na Folha de S. Paulo e hoje edita a primeira página de O Estado de S. Paulo. Graduado e pós-graduado em história pela PUC-SP, o santista assumido é autor do livro “O Futebol Explica o Brasil”, obra que mostra a ligação do futebol com o brasileiro, como o maior fenômeno social que esse país já viu. O jornalista recebeu a equipe da revista Painel na redação do Estadão, em São Paulo, para falar principalmente sobre o livro do Guterman historiador, mas como bom brasileiro, terminou a conversa como o Guterman torcedor palpitando sobre futebol, copa e seleção.

 Como você relaciona a identidade dos brasileiros com o futebol? O futebol chega ao Brasil no final do século XIX como esporte de elite. A república começa branca, aristocrática, rica e industrial e ao se desenvolver tem uma massa de trabalhadores à margem, sem poder de organização. E o esporte entra junto com o capital inglês, que é o que bancou o Brasil independente e a república no começo. Só que o futebol, uma dessas coisas que acontecem uma vez a cada milênio, encontrou no Brasil terreno para se tornar o esporte da paixão do brasileiro. Ele é o que é no Brasil por duas razões. Primeiro que, diferentemente de todos os outros esportes, o time mais fraco tem chances de ganhar. Quando o futebol chega, existe um abismo social tão violento entre a elite e a massa trabalhadora, que quando você coloca no mesmo campo de jogo, elite e massa, essa massa pode ganhar. No campo somos literalmente 11 contra 11. E segundo que é um esporte muito barato. Com isso você vai ter uma pressão dessa massa

querendo participar dos campeonatos competitivos que só a elite participava. No Rio de Janeiro, por exemplo, até a década de 20 eram proibidos negros, ou quem não tivesse outro emprego, jogarem campeonato oficial. No início, então, não havia profissionalização? De fato, o futebol tinha que ser obrigatoriamente amador. Entramos atrasados no profissionalismo, mas quando entramos, formamos uma seleção muito forte que ganhou o Sul-Americano em 1919, com Arthur Friedenreich sendo o primeiro grande herói. Filho de negra com alemão, Friedenreich era negro de olhos verdes. É essa mistura que acabou gerando uma coisa mística no Brasil, que Gilberto Freire chama nos anos 30 de mulatismo. É ali que o futebol se torna realmente um esporte nacional e o brasileiro se identifica como uma forma de expressão da brasilidade. Qual o fator que garante que em nenhum momento desse período de mais de 100 anos

A política para ser mais importante que o futebol só em momentos de ruptura, como Diretas Já e Caras Pintadas PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Junho/2010

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Fotos: Cynthia da Rocha

o futebol se desassociasse da vida política e social do país? Como o esporte é muito popular, ele é mais que uma expressão. Nenhum político abriria mão de tentar explorar essa expressão. E não me surpreende que o façam, porque devem fazer e seria estúpido se não fizessem. Porque, essencialmente, uma manifestação popular com tamanho poder de mobilização não pode ser desprezada pela classe política. Nenhum ditador, nenhum democrata, nem de esquerda e nem de direita. Não é uma prerrogativa ideológica ou de matiz político. Se o momento do futebol segue a estabilidade econômica de uma nação, porque países mais equilibrados não tiveram maior sucesso nas copas, já que a América do Sul tem nove títulos? Não vejo isso. A Alemanha chegou a mais finais de copa do que o Brasil, e sempre foi um país mais rico que o Brasil. Tem países que se identificam mais com o jogo, produzem jogadores com mais eficiência. Eficiente é o Brasil, foi a menos finais e ganhou duas a mais. Mas a competitividade da Alemanha, que é a terceira economia do mundo é inegável. Como historiador, qual sua avaliação de iniciativas como o Museu do Futebol? Você acredita que isso vá se expandir? Demorou 100 anos. O futebol sempre foi tratado como uma anedota no Brasil. Mas, parece que entenderam que o futebol é de uma importância transcendental para o país. Sabe o que fez mal para o Brasil e essa memória? A ditadura. Porque ela se aproveitou do futebol, mas tem esse peso negativo para história. Nós passamos 20 anos achando que o futebol é circo, quando na verdade, a maioria dos brasileiros gosta de futebol como parte da própria vida. Eu sou da elite, e passei anos da minha vida escondendo que amava futebol. Hoje não só amo como es-

O futebol tem esse charme. Só ganhar não é interessante crevi sobre, e enfrentei as resistências da academia com a minha dissertação de mestrado. Hoje parece que virou a mania da vez na academia, mas ainda está muito incipiente. Quantos museus do futebol nós temos no país? É mais provável que tenhamos mais museus sobre o futebol do Brasil na Europa do que aqui. Eu tenho certeza absoluta que se eu for pra Inglaterra, vou achar coisas do Brasil lá que não tem aqui. Porque lá preservam a memória do futebol mundial como uma parte da cultura inglesa. Até que ponto a legião de jogadores que vive no estrangeiro é influenciada pela situação no país? Ficam divididos. Eles sabem que fu-

tebol que dá prestígio, que garante vaga na seleção, que garante independência financeira, não é jogado aqui, e sim na Europa. Por outro lado amam jogar no Brasil. Pergunta para o Robinho se ele quer voltar para a Inglaterra. O cara jogando no meio desses moleques do Santos faz o que quer, é o dono do time, jogando barbaridades, vai ganhar tudo que disputar. Vocês acham que ele quer voltar lá para Manchester? Não é nem para Londres, porque se fosse ainda teria certo apelo. A questão da visibilidade pesa muito? Com certeza. Vinte anos de carreira é muito pouco. Eu já passei, e sei que quando você acorda já fez vinte anos de carreira. E eles sabem que 20 anos na melhor das hipóteses, porque se tomar um pontapé, e romper o ligamento, acabou. Quantos jogadores efetivamente vão ganhar dinheiro? Tem milhões jogando bola. Provavelmente só mil vão ser as estrelas. O resto vai ser operário, ganhando seus três mil reais por mês. Veja o Atlético Goianiense quanto se ganha lá, na média? O cara deve ganhar cinco mil reais. É time de primeira divisão do Campeonato Brasileiro. O Brasil tem cinco mundiais, não é qualquer campeonato. Então a primeira oportunidade que aparece para jogar na Ucrânia, no Azerbajão, o cara vai. Só que devem ir com dor no coração, porque eles sabem que se divertem jogando aqui. Os fenômenos de times de massa como Flamengo e Corinthians: como se explica algo que não se caracteriza pelos resultados dentro de campo? Está no DNA. Não sei dizer qual foi o turn point do Flamengo, que começou como um time de elite, junto de Fluminense e Botafogo. O Vasco é que vai romper isso em 1923, como o primeiro time a ter negros e pobres jogando. Mas Flamengo eu não sei. O São Paulo nasce com o DNA de time de rico, para ser o sucessor do Paulistano, que no início do futebol no Brasil se recusou a profissionalizar-se e acabou com o departamento de futebol. Já o PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Junho/2010


Corinthians é um time fundado para ser dos trabalhadores, operários, o que não significa também que ricos não torçam, é algo que foge do controle, é identidade. O DNA é popular, e não muda. Cada time tem o porquê de você se identificar com ele. O caso do Santos se construiu em cima do Pelé. Torcer para um time não quer dizer então que seja por causa de títulos? Não. Lógico que se um time ganhar mais títulos e ficar em evidência, o moleque que está para escolher um time, ele pode ir naquele, mas não é automático. Essa história de que o pai determina – estou brigando com meus filhos para serem santistas, com um consegui, o outro é uma luta – não é automático, é uma identidade própria. Quem influencia mais o outro entre futebol e política? Não tenha dúvidas que é o futebol. O futebol é a coisa mais importante do país. O congresso para. A política para ser mais importante que o futebol só em momentos de ruptura, como Diretas Já e Caras Pintadas. Ainda mais agora que a política entrou em trilho de normalidade democrática, ganhe quem ganhar, não haverá ruptura. Essencialmente nada muda, e por isso a política é uma coisa que entrou na normalidade. Agora o futebol não entra nunca e é sempre apaixonante. Tudo indica próximos governos mais gestores. Os clubes brasileiros também vivem esse amadurecimento. São coisas concomitantes?

Não de uma coisa com a outra, mas existe a ligação de uma nova maneira de ver o mundo. O Brasil está se tornando rapidamente uma potência, e vejo pela perspectiva de que ao se tornar uma potência internacional, se capitalize ao ponto dos times segurarem seus craques. O Brasil vai se tornar a Meca dos grandes jogadores e não a Europa. Talvez os meus filhos possam vivenciar esse fenômeno que está aí no mesmo trilho do desenvolvimento do país. Nelson Rodrigues dizia que precisávamos nos livrar do complexo de vira-lata e Juscelino Kubitschek prometia cinqüenta anos em cinco. É possível relacionar a auto-estima do Brasil com as conquistas dos primeiros mundiais? Todos os relatos da época apontam nessa direção. O otimismo, a BossaNova, o Brasil campeão do mundo com Garrincha e Pelé, Brasília, o Juscelino com aura de modernidade, tudo isso conduziu o país para paz e otimismo. Os anos 50 foram mágicos, havia uma democracia bastante vigorosa no Brasil. A fotografia de 1958 era de conjugação das conquistas. Eu gostaria de ter vivido nessa época, parecia que o Brasil era imparável. Mais do que é hoje. Se terminasse o livro hoje, que paralelo você estabeleceria entre a retomada econômica com a volta ou permanência de grandes jogadores no Brasil? É outro livro. O marco zero seria a

eleição do Lula, fechando um ciclo republicano completo, em que a república começa branca e de elite e termina em um torneiro mecânico na presidência. Daqui pra frente é pensar com outro olhar. A abordagem, talvez nisso, é lícito pensar no retorno dos jogadores ou na não saída de nossos craques, porque aqui será lugar para se ganhar dinheiro. A copa de 2014 vai obrigar a seleção brasileira, talvez, a olhar mais para os jogadores que estão atuando aqui. O torcedor brasileiro hoje não está automaticamente do lado da seleção. Você como santista menos ainda? Não. Eu sou dos caras que torço pela seleção brasileira independentemente. Lógico, que você torce com mais ou menos gosto, mas eu sou daqueles caras que torce mesmo, acho um absurdo torcer contra, só porque não convocou esse ou aquele jogador. Lamento por causa do Ganso, um dos me-

O torcedor brasileiro hoje não está automaticamente do lado da seleção PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Junho/2010

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lhores jogadores que a gente tem hoje. Mas a gente tem que entender, o treinador está lá, ele sabe o que tem que fazer. O período de jejum de títulos da seleção – de 1970 a 1994 – coincide com a fase de uma geração que desacredita no Brasil? A ausência de títulos coincidiu claramente com a crise do país, crise de confiança, crise dos modelos, o início da decadência dos clubes que ficaram dependentes de favores oficiais, o inchaço de campeonatos por conta de interesses políticos, o amadorismo da administração, com exceção talvez de 82, quando Giulite Coutinho, presidente da CBF tinha uma visão mais empresarial. Mas montar uma equipe excepcional não foi gratuito. Acordamos do sonho do milagre econômico e caímos no pesadelo da dívida impagável, e a dependência do futebol brasileiro do capital estrangeiro. Na seleção de 86 eram dois jogadores do exterior, em 90 já eram 12. Vamos ganhar 94 com o modelo europeu, time cheio de volante, jogo truncado.

O Paulo Henrique Ganso vai ser um Sócrates, um cara com uma elegância

Em sua opinião, o futebol é vivido de momento ou de comprometimento como preconizou o técnico Dunga? É um pouco das duas coisas. Eu entendo o Dunga, mas temos que parar e pensar: se ele perder, ele é uma besta, mas se ganhar ele é bestial, como dizia Otto Glória. O técnico nunca vai escapar de ser o grande centro porque é ele quem convoca, treina e coloca a cara pra bater. Já que é ele quem tem que levar aqueles jogadores, que não são necessariamente os melhores, mas que se enquadram no esquema da seleção, então temos que respeitar no mínimo as escolhas dele. Se fosse o técnico da seleção, convocaria Paulo Henrique Ganso e Neymar ou o fato de serem muito novos poderia prejudicar o time na Copa? Se fosse levá-los, quem sairia? Ele podia ter levado o Ganso, o cara está pronto pra jogar. Juventude não é desculpa. Grandes jogadores, não só do Brasil, mas de outras seleções, fizeram excelentes copas do mundo. Pelé é uma exceção, um ponto fora da curva, com 16 anos estava na seleção.

Resenha

Leitura para brasileiro, historiador e boleiro O Livro “O futebol explica o Brasil – Uma história da maior expressão popular do país” do historiador e jornalista Marcos Guterman, especialista em regimes totalitários, analisa o mito social que é o futebol, dentro do período que se estende entre a chegada do esporte pelos ingleses no final do século XIX, até 2002, ano em que o capitão Cafu, 100% Jardim Irene, ergue a copa esbanjando orgulho de sua origem, e em que o país elege a força popular Lula. É

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dentro deste ciclo completo, da república que começa de elite e termina na eleição de um ex-torneiro mecânico, que Guterman desenha década por década a influência do futebol na vida política econômica e social do país. Os discursos de Getúlio Vargas no Estádio São Januário em momentos de profissionalização do esporte, os projetos audaciosos de JK em meio à conquista de 58, o uso do tri pelo ditador Médici em 70, e a década de 90, marcada pela dependência

do capital estrangeiro e uma seleção canarinho cada vez mais européia, não são fatos de mera coincidência. Na visão do analista são umas das várias jogadas nacionais que transformam o futebol na melhor explicação do que é Brasil, descritas em uma obra indispensável para boleiros, aulas de História e para o brasileiro entender-se melhor como sociedade.

Divulgação

Serviço O Futebol Explica O Brasil. Marcos Guterman. Editora Contexto. 272 págs. Preço médio: R$ 39.

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Fotos: Cynthia da Rocha

Vou lembrar o caso do Maradona, que em 78 também tinha 18 anos e já era um gênio, e o técnico Minote não o levou no seu auge. O Paulo Henrique Ganso vai ser um Sócrates, um cara com uma elegância, mas não pode ser comparado ao Pelé ou Maradona. O Dunga não gosta de dar o braço a torcer. Eu só achei que ele fosse levar o Adriano, mas eu acho que ele tem alguma informação que nós não sabemos. O recado que ele mandou para as pessoas e principalmente aos seus jogadores foi de que ele é leal a todos, então nós viemos até aqui e ganhamos todos os títulos jogando muito bem, diga-se de passagem, com excelentes jogos contra as melhores seleções do mundo. Um certo encanto pelo futebol do Ganso é que constrange um pouco a suposta grossura ou ‘quadradice’ da seleção brasileira. Se olharmos os jogos do Brasil, ganhamos com autoridade incontestável os principais desafios. Então, o Dunga está coberto de razão, ele tinha que preservar aqueles jogadores que agüentaram todas as críticas lá atrás. Eu só levaria o Ganso, e a saída do Kléberson seria uma possibilidade. O Júlio Baptista acho totalmente dispensável. O Ganso lá na frente, colocando os caras na cara do gol seria ótimo. Qual seleção chega mais preparada para levar a Copa? Brasil. Nós jogamos contra Portugal, que é nosso principal adversário na primeira fase da Copa do Mundo e metemos seis gols neles com Cristiano Ronaldo e tudo. Ganhamos da Argentina lá, com Messi e torcedor a favor. Isso não significa que iremos lá e ganhar, pode ser que nem passemos da primeira fase, por isso o futebol é engraçado. O Brasil de 66 tinha acabado de ser bi-campeão do mundo, chegou ‘botando banca’ na Inglaterra e não passou da primeira fase, com Pelé em campo. A Copa da África do sul promete ser um espetáculo dentro e fora de campo. Você acredita que a paixão e o acolhimento de um povo consi-

África era só AIDS, miséria e guerras civis, e hoje estamos vendo que existe vida

derado pobre possam abrilhantar ainda mais? Vai ser maravilhoso. Isso tudo já começou, e só a perspectiva ajuda. Nunca se lançou tanto suplementos ou revistas sobre a África. De repente, tem um interesse turístico sobre a África, discussão sobre quem é potência e quem não é. Até cinco anos atrás, África era só AIDS, miséria e guerras civis, e hoje estamos vendo que existe vida, alegria e uma potência. Tudo bem que ainda está muito longe de uma América Latina, mas o mundo está voltado na África finalmente, e acho que demorou. A Fifa fez a coisa certa, levou a copa pra Ásia, e agora pra África. Quando você acha que um país africano leva uma copa, e o que seria necessário para isso? Antes mesmo que nós imaginemos. Acho que os campeonatos africanos ainda são fracos, mas muitos africanos jogam na Europa e esse intercâmbio é importante. Acho que eles tinham que jogar mais aqui no Brasil. As experiências são muito raras, me lembro de dois que vieram aqui jogar no Santos. Podemos apostar numa Nigéria, Camarões, Gana que também tem tradição de copa. A África do Sul também vai chegar, porque tem dinheiro para investir em treinadores e centros de treinamento. A lógica do futebol é que o mais forte ganhe, mas nem sempre isso acontece. Você me perguntou qual seleção estava mais preparada e eu respondi que era o Brasil, mas por muito pouco, uma unha. Eu não me surpreendo se uma seleção africana já nesta Copa ficar campeã por causa do clima. Não me sai da cabeça a final da Copa de 98, o Brasil com aquela seleção sensacional, entramos em campo e quando tocou o hino da França acabou a Copa ali. Os franceses engoliram e foram campeões com aquela eletricidade toda. Tem dia que o adversário está no 220V e você nem pega direito.  9


Luiza Mendo

sumário

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Larissa Zazirskas

Mayara Cristofoletti

12 18 20 24 28 29 32 36 38 40 44 46

O que faz um campeão Artigo - A África além da Copa Memória preservada Paixão pelo XV Crônica – Tragédia não anunciada Fanatismo Brincadeira de gente grande Desafios e contradições Talento, técnica e muita emoção Bastidores de uma partida de futebol Com a bola, as mulheres Prorrogação – Dribles e casualidades

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OPINIÃO

Além das quatro linhas Renan Bortoletto

bortolettorenan@yahoo.com.br

A

19ª edição da Copa do Mundo, realizada este ano na África do Sul, será um show fora dos gramados. Toda a magia e a expectativa criadas entorno da maior competição esportiva do futebol se tornará ainda mais brilhante em terras africanas, que acolhem pela primeira vez um evento de tamanha magnitude. Reflexo disso foram os primeiros jogos e a abertura oficial da Copa do Mundo. A mistura de etnias e folclores, e a miscigenação de crenças e povos distintos levam à África não só uma paixão mundial, mas também um “impulso” para o desenvolvimento econômico e principalmente social no continente. Com relação ao comportamento do povo africano e do recebimento de todas as 32 delegações que fazem parte do mundial, não há o que reclamar. Equipes e jogadores foram recebidos com muita festa e, por incrível que pareça, sem distinções. Os africanos – alvos de racismo durante décadas por diversos países do mundo – mostraram uma indiferença bárbara perante todos, inclusive aos ‘boleiros’ de plantão que lá estão.

Tudo isso pode ser explicado por uma simples palavra: identidade. O futebol não só é o maior fenômeno social existente, mas é também capaz de difundir grandes massas e transcender qualquer tipo de preconceito. Por trás do evento existem corações, fanatismo, existe pulsação. Cada um respirando o ar de Copa do Mundo seja negro, pardo, mulato ou branco. O que me fez entender ainda mais este “pivô” que é o futebol em todo o mundo foi a entrevista realizada com o editor da Primeira Página do jornal O Estado de S. Paulo, Marcos Guterman, que estampa esta edição da revista Painel. Autor do livro “O Futebol Explica o Brasil”, o jornalista e historiador enxerga o futebol como um dos fenômenos populares que mais influenciaram uma nação. E as concepções do futebol vão muito além de um simples jogo dentro das quatro linhas. Por trás disso tudo, o cenário dá lugar à política, a própria identidade da pessoa com o esporte, que deposita nele todas as esperanças de conquista, luta e amor. O futebol-arte, ou o futebol truncado, disputado, sempre será o responsável por aquele frio na barriga e, de fato, não há sentimento melhor do que vestir a camisa de seu país e vibrar.

Ficha Limpa é reserva Luan Antunes

luan.antunes@gmail.com

E

m 11 de maio de 2010 o Brasil parou para ver a lista de convocados do técnico Dunga. Convocação que, segundo o Instituto Datafolha, fez a aprovação do técnico entre os brasileiros cair de 57% para 49%. E com os nomes dos jogadores revelados, 190 milhões se colocam a discutir o assunto com a propriedade de quem acompanha como paparazzi o cotidiano dos cogitados. É a pressão do que deve ir porque é o estouro do ano e o que tem que ficar fora por causa da conturbada vida pessoal. Uma semana depois, o dia 19 também guardara em suas horas um marco. O Senado aprovara por unanimidade o projeto ‘Ficha Limpa’ – sancionado pelo presidente Lula em 4 de junho. Nome sujo não se candidata. No dia 24, outra pesquisa Datafolha revelou que apenas 55% dos brasileiros com idade entre 17 e 70 anos votariam mesmo que não fossem obrigados. Mas o clima é de copa e diante da maior festa do país do futebol eleição fica para depois. As ruas são invadidas pelo verde e amarelo, bandeiras matam no peito as sacadas dos

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prédios. O povo se veste, se pinta e fica doente. É uma febre sem tamanho, com foco de contágio nas bancas de jornal. Para álbum dos craques, não tem idade. E passa o tempo, e na telinha da sala só dá, ainda mais, futebol. Passamos pela copa com a imensa aflição que esse raro momento de patriotismo nos reserva. Aflição que morrerá de uma maneira ou de outra, seja com a copa na mão ou com a eliminação, não importa. Daqui a quatro anos é o que interessa. Ao deixarmos o coliseu da bola e das traves, caímos ao mundo das eleições. Mal a bola termina de rolar, e o verde e amarelo permanecem nas ruas, mas cedendo espaço às outras cores de nossa aquarela política. As interessantes figurinhas pagas do álbum de copa são eliminadas, abrindo alas para o santinho gratuitamente distribuído. O número 9 do atacante sai da TV para entrar a legenda do partido. O que os brasileiros não podem ‘apagar’ da copa para a eleição é a antena. Que o auge da democracia alcançado nos últimos anos de estabilidade econômica seja representado pela presença maciça de um povo analisando cada proposta. O projeto Ficha-Limpa é necessário. Mas ele pode ser reserva, quando se vota com consciência. 11


Grandes jogadores, harmonia, qualidade e regularidade podem ser decisivos

O que faz um

campeão

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Romário, campeão em 94; italianos comemoram título sobre o Brasil em 82

África 2010

Iuri Botão

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Leonardo Moniz Ribeiro

leonardo.moniz.ribeiro@gmail.com

A

Fotos: Divulgação

Copa do Mundo de Futebol da África do Sul será a 19ª a ser disputada. Nestes 80 anos de competição – o primeiro torneio foi disputado em 1930, no Uruguai, sete seleções se sagraram campeãs e o Brasil é o maior vitorioso, com cinco títulos. Às vésperas desta nova edição, mais uma vez, o debate entre os amantes do esporte gira em torno de quem vai levantar o caneco. A resposta é difícil de ser dada e uma avaliação minuciosa dos resultados ao longo dos anos mostra que a aposta em uma seleção é sempre arriscada. Para especialistas – técnicos e ex-jogadores consagrados – há, entretanto, vários fatores que podem fazer um campeão. 

Zidane levou a França à final em 2006 PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Junho/2010

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Eduardo Gonçalves de Andrade é mineiro de Belo Horizonte e atua como colunista esportivo no jornal O Povo, de Fortaleza (CE), e em vários outros jornais do Brasil, além de ser comentarista da Rádio Jovem Pan. Por este nome talvez pouca gente o conheça, mas basta chamá-lo pelo apelido, Tostão, para que as primeiras lembranças do Mineirinho de Ouro, atacante do Cruzeiro e da Seleção Brasileira em 1966 e na seleção do tricampeonato, em 1970, cheguem à cabeça dos que estão na casa dos 50 anos. Apesar da curta carreira (Tostão parou de jogar futebol aos 27 anos), o ex-jogador ostenta a maior média de gols no Campeonato Mineiro e é seguido de longe por Reinaldo, que jogava no rival Atlético Mineiro. Afiado na bola e nas palavras, por meio das quais alfineta , critica e analisa o futebol como ninguém. Tostão garante: “Quem ganha a Copa do Mundo é o time que está melhor no mês do torneio, e não necessariamente o que é considerado melhor antes do mundial”. E completa: “Como há vários jogos mata-mata, não basta ter um bom time. O imponderável entra também em campo nesses momentos, ainda mais em um jogo equilibrado”. O craque mostra por que sempre foi bom de drible em campo. Esquivando-se de dar uma única resposta, Tostão afirma que há várias maneiras de ganhar e de perder, e que “as milhares de teorias” para explicar as vitórias e derrotas são construídas depois do resultado. Jornalista da nova geração, Mauricio Noriega, do canal SporTV, é mais pragmático. “Grandes jogadores”. Com as duas palavras

Maradona encara zagueiro inglês na copa de 1986

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‘Injustiças’ clássicas A Copa do Mundo é competição que marca a carreira de um atleta. Recentemente, nomes como o do atacante brasileiro Ronaldo e do meio campista francês Zinedine Zidane se consagraram neste torneio, e depois foram considerados pela Fifa, entidade máxima do futebol mundial, como os melhores jogadores do planeta. Mas nem tudo é motivo de alegria em uma Copa do Mundo. Uma das principais características que o mundial de futebol conserva, desde sua criação em 1930, é seu curto período de disputa em que um lance fortuito pode eliminar uma grande seleção do torneio. Muitas das equipes consideradas favoritas ao título já foram eliminadas de forma surpreendente. De acordo com o jornalista Antero Greco, a surpresa nos mundiais não é algo fora do comum. “Injustiças houveram várias. O Brasil de 1950 é a primeira delas, porque era formado por jogadores de altíssima

qualidade. A Hungria, na Copa do Mundo de 1954, era considerado um dos melhores times de todos os tempos nos mundiais e perdeu”, diz Antero. Em 1954, na Suíça, a Hungria havia vencido todos os seus jogos até a decisão. Na final, enfrentaria a Alemanha, equipe que já havia batido por 8x3 na primeira fase. O resultado daquela partida surpreendeu a todos. Com uma vitória por 3x2, os alemães não apenas se vingaram dos húngaros, mas protagonizaram uma das maiores surpresas de todas as Copas ao levantarem a taça pela primeira vez em sua história. O jornalista apresenta outros exemplos. “Não podemos esquecer da Holanda em 1974, porque revolucionou a forma de jogar, e o Brasil de 1982, que lembrou um pouco aquela Holanda de oito anos antes ”. Em 1974, a Alemanha foi novamente protagonista ao bater na final o Carrossel Holandês liderado por Johann Cruyff. A seleção brasileira de 1982, que praticava um futebol vistoso PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Junho/2010


Tele Santana comanda a seleção em 82: tragédia

e tinha em seu meio campo jogadores da categoria de Zico, Sócrates, Falcão e Toninho Cerezo, foi eliminada pela Itália, tecnicamente inferior, antes mesmo da decisão. Tostão discorda da opinião do jornalista. Para ele não se pode usar o termo injustiça neste tipo de competição. “A Copa do Mundo, inexplicavelmente, é a única competição curta e com jogos matamata em que não houve uma única grande zebra, ou seja, um time pequeno ou mesmo intermediário, que nunca foi apontado por ninguém

como favorito, ser campeão. A Hungria em 1954, a Holanda de 1974 e o Brasil de 1982 tinham times melhores que seus adversários, mas, em jogos mata-mata, é comum não vencer o melhor, ainda mais quando a diferença entre os adversários é pequena. Não acho que tenha sido injusto”, argumenta. Paulo Roberto Falcão era um dos líderes da seleção brasileira comandada por Telê Santana em 1982, na Copa do Mundo da Espanha. De dentro do gramado do Estádio Sarriá, em Barcelona, o meio campista participou da derrota para a Itália por 3x2, partida que consagrou o italiano Paolo Rossi, que anotou os três gols contra o Brasil. A derrota ainda hoje é lembrada com pesar por Falcão. ”O resultado final da competição não foi justo, o Brasil merecia ser campeão pelo futebol que jogou. O resultado do jogo também não foi justo, o mais certo seria um empate. Mas futebol nem sempre é ato de justiça, é só um jogo”, constata. Injustiça ou não, o que ninguém quer é entrar para a galeria das grandes equipes que nunca ganharam a Copa do Mundo.  Fotos: Divulgação

Sócrates e Zico comemoram gol em 82

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o comentarista nascido em Jaú, interior de São Paulo simplifica a equação que, para ele, aponta todos os campeões. “Cada um tem seu estilo, mas não me lembro de uma seleção campeã do mundo que não tivesse, pelo menos, uns três grandes jogadores”, diz ao justificar a resposta. O catarinense Paulo Roberto Falcão, que defendeu um dos melhores times de todos os tempos e que não foi campeão mundial, a seleção do Brasil de 1982 (leia matéria nesta página), é ponderado – a exemplo dos comentários que faz na Rede Globo – ao apontar as características para um time vencer a Copa do Mundo. “Não há uma coisa só. Grupo, qualidade dos jogadores, boa orientação técnica e tática, peças de reposição. Claro que tudo passa pela qualidade individual, mas há muitos aspectos. Também a preparação emocional é importante”, enumera Falcão, que brilhou no Internacional de Porto Alegre, no São Paulo e na Roma, da Itália. O perfil de um time campeão, para ele, também é variado. “Não há um tipo só. Mas normalmente ganha quem tem mais qualidade. Só pegando os três maiores ganhadores – Brasil, Itália e Alemanha – já se vê que têm estilos diferentes”, exemplifica, citando o pentacampeão Brasil, a tetracampeã Itália, e a Alemanha, que ganhou o mundial em três oportunidades. Análise Enquanto Tostão, Noriega e Falcão justificam de forma breve para chegar às qualidades que levam um time a ser campeão da Copa do Mundo, o jornalista Antero Greco, que trabalha na área esportiva há mais de 30 anos, esmiúça toda a linha de raciocínio que embasa seu pensamento sobre o assunto. Para ele, não há um fator determinante, mas vários. Necessariamente incluídos: “planejamento, concentração e, claro, qualidade do elenco”. A exemplo de Tostão, ele também relaciona o resultado da Copa à duração da competição e, portanto, à fase que atravessam os jogadores durante o fatídico mês do torneio. “Conta muito o momento que vivem os jogadores, ou pelo menos alguns com potencial de decisão. E depende também da aposta do treinador na ocasião. Exemplo recente, para não ir longe: Rivaldo e Ronaldo, em 2002, atravessavam período de incerteza, com contusões e forma física precária. Felipão (Luiz Felipe Scolari, o técnico) acreditou nos dois, que retomaram o ponto de equilíbrio justamente na Copa e foram brilhantes”, exemplifica, em referência à 15


seleção que levou o Brasil ao pentacampeonato ao vencer a Alemanha, na final, por 2 a 0. Greco, que atualmente apresenta o jornal SportsCenter, na ESPN Brasil, e é colunista do caderno Esportes, do jornal O Estado de S. Paulo, ainda dá outros dois exemplos. “Outro, mais antigo: em 1962, Pelé se contundiu na segunda partida no Chile, mas sua ausência foi compensada pelo talento fora do comum de Garrincha e pela juventude e garra do Amarildo”, fala, sobre a seleção do bicampeonato. “A Argentina, em 1986, chegou ao título sobretudo porque contava com um Maradona na plenitude da carreira”, conclui. Copa a copa Antero Greco define o perfil do time campeão de duas maneiras: o time mais harmonioso, ou com o futebol mais envolvente, ou Fotos: Divulgação

Grupos da primeira fase podem ser decisivos para o resultado

Campeões são os favoritos na África do Sul Melhor jogador, melhor conjunto, melhor momento. Os especialistas no assunto apontam estes e outros elementos como fundamentais para que uma seleção ganhe uma copa do mundo. Independente destes e outros fatores, o mundo conhecerá este ano um novo campeão do mundo de futebol, em torneio que será disputada pela primeira vez no continente africano, em um país sem tradição no futebol, a África do Sul. O fato em si já é uma grande novidade. O Brasil, único país que nunca ficou de fora de nenhuma copa e maior vencedor do torneio com cinco títulos conquistados, sempre é apontado como favorito. O futebol apresentado pela equipe comandada pelo técnico Dunga e a admiração globalizada que incentiva o time, são aspectos favoráveis ao Brasil, único que venceu a competição em todos os continentes.

A África do Sul, que joga o torneio em seus domínios, não é apontada como favorita. Apesar deste fator ter prevalecido nas Copas de 1930, 1934, 1966, 1974, 1978 e em 1998, quando as seleções de Uruguai, Itália, Inglaterra, Alemanha, Argentina e França, respectivamente, conquistaram o título, o país africano comandado pelo brasileiro Carlos Alberto Parreira tem chances relativamente pequenas de passar da fase de grupos, já que não tem tradição no futebol e não é apontado por nenhum especialista sequer como um dos candidatos à surpresa da competição. O ex-jogador e comentarista Paulo Roberto Falcão aponta a Inglaterra de Fábio Capello

Álbum das Estrelas A Copa do Mundo pode ser decidida por alguns destes craques. O Brasil, que conta com as defesas de Julio Cesar, a visão de jogo de Kaká e os gols de Luis Fabiano, encara na primeira fase a Costa do Marfim, do artilheiro Drogba, e Portugal, do habilidoso Cristiano Ronaldo. Se passar da primeira fase, os brasileiros podem encarar logo nas oitavas de final a Espanha, organizada pelo maestro Xavi. As outras favoritas também tem

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seus craques. Os argentinos apostam suas fichas no atual melhor atleta do planeta, Lionel Messi. A Inglaterra conta com o oportunismo de Rooney. A velocidade de Ribery é a arma da França. O sucesso de Holanda e Alemanha passa pelos pés dos meio campistas Sneijder e Ballack, respectivamente. Os atuais campeões do mundo trazem no gol a segurança de Buffon. Candidatos não faltam. A hora é agora para todos eles.

Cristiano Ronaldo (Portugal) Nome: Cristiano Ronaldo Santos Aveiro Idade: 25 anos Altura e peso: 1,88m/75kg Posição: Atacante Clube: Real Madrid

Messi (Argentina) Nome: Lionel Messi Idade: 22 anos Altura e peso: 1,70m/65 kg Posição: Atacante Clube: Barcelona

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Brasil é a aposta da maioria dos especialistas

como forte concorrente ao título. “Os favoritos são os mesmos de sempre. O Brasil, a Alemanha, a Itália, a Argentina. Mas o grande adversário a ser batido é a Inglaterra, que vai incomodar. A seleção da Espanha também deve ser levada em consideração”, aponta. Sempre coerente em suas opiniões, Tostão afirma que Espanha e Brasil são hoje as melhores seleções, mas ressalta que é no momento em que será disputada a competição que se poderá fazer uma boa avaliação. “Hoje Brasil e Espanha são os melhores. Não sei se serão melhores na Copa do Mundo. A equipe da Espanha é a que gosto mais de ver jogar”, afirma o ex-atleta.

Kaká (Brasil) Nome: Ricardo Izecson dos Santos Leite Idade: 28 anos Altura e peso: 1,86m/82kg Posição: Meio Campista Clube: Real Madrid

A opinião de Antero Greco na hora de apontar os favoritos também é pautada pela prudência. O jornalista afirma que o time espanhol é forte, mas faz ressalvas. “Vejo o Brasil com bom potencial, até porque o Dunga conseguiu montar uma equipe estável, embora longe de ser brilhante. Também não há equipes tinindo por aí. Não desprezaria jamais Itália e Alemanha, pela história na competição, nem a Argentina, que tem elenco de qualidade. A Inglaterra há tempos mostra regularidade e a Espanha joga bem, mas... é a Espanha. Na hora H, pode falhar ou ser garfada, como aconteceu em 1962, 1986 ou em 2002. De qualquer forma, nunca a Espanha teve um elenco de tanta qualidade como agora. É para ficar de olho nela”, conclui. O jornalista Maurício Noriega compartilha a opinião de Antero e afirma que “Copa do Mundo não tem grandes novidades entre os favoritos, são as seleções grandes, sempre: Brasil, Itália, Alemanha, Argentina. Depois tem um segundo escalão com Inglaterra, Espanha e Holanda”. A sorte está lançada. E você, já fez sua aposta?

Rooney (Inglaterra) Nome: Wayne Rooney Idade: 25 anos Altura e peso: 1,78m/80kg Posição: Atacante Clube: Manchester United

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a equipe mais regular que, segundo ele “soube entender as regras da competição”. No primeiro caso ele cita as seleções do Uruguai, campeã em 1930, a Itália, de 1934, as seleções Brasileiras de 1958, 1962 e 1970, e a Argentina de 1986. Já os times que jogaram “com o regulamento debaixo do braço”, como se diz, são para ele as três seleções campeãs da Alemanha, de 1954, 1974 e 1990, as ‘Itálias’ de 1938, 1982 e 2006, o Brasil de 1994 e 2002, a França de 1998, a Inglaterra de 1966, o Uruguai de 1950 e a Argentina de 1978. “Como se vê, na maioria das vezes prevaleceu o conjunto mais regular, aquele que soube superar os sobressaltos da Copa”, define. O fato é que o assunto dá muito pano para manga, e, definir um só critério para que se possa formar um time campeão está longe de ser tarefa fácil. Afinal, se alguém soubesse a fórmula do sucesso, toda a polêmica que move o futebol estaria encerrada.  Beckenbauer chegou a ser chamado de rei pelos alemães por conduzir país ao título

Xavi Nome: Xavi Hernandez Idade: 30 anos Altura e peso: 1,70m/69kg Posição: Meio Campista Clube: Barcelona

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ARTIGO

A África além da Copa Carla Bovolini

carlabovolini@yahoo.com.br

O

mundo está acostumado a assistir a eventos esportivos de grande porte em países de primeiro mundo, mas este ano a Copa do Mundo de Futebol será na África do Sul. O país é pobre, marcado por lutas sociais e principalmente raciais, e cheio de cicatrizes, de um passado recente, que não estão totalmente curadas. Visitei o país em abril, começando por Joanesburgo, o que me deixou apreensiva. A cidade sede da Copa do Mundo 2010 é onde está o maior estádio do evento, conhecido como Soccer City, para surpresa dos torcedores localizado no subúrbi negro de Soweto. Para os mais desinformados vale lembrar que este local ficou mundialmente conhecido na época do Apartheid por ser foco de resistência anti-racista e de protestos dos negros contra a política oficial de discriminação racial, foi o lar de dois prêmios Nobel da Paz: Nelson Mandela e Desmond Tutu. Hoje, Soweto é um bairro que abriga mais de 3,5 milhões de pessoas, virou ponto turístico. Nos últimos anos indícios de prosperidade começaram a aparecer na região. É possível andar por ruas asfaltadas, alguns lugares já dispõem de saneamento básico e existem casas bem estruturadas. Por outro lado, a pobreza ainda impera no Soweto, mas nada que atrapalhe o turismo internacional por suas ruas muitas vezes estreitas. Europeus e americanos gostam de ver de perto uma favela, coisa que nós brasileiros já estamos acostumados. O Apartheid teve o seu fim decretado por Nelson Mandela em 1994, e por ser uma data muito recente posso afirmar que brancos e negros convivem bem, apesar das diferenças, mas a questão cultural ainda é um empecilho para que esta convivência melhore. Algumas pessoas, os mais velhos, carregam ainda um ódio racial e não aceitam a nação arco-íris defendida por Mandela. Andando por “Joburg” , uma cidade muito mais organizada que São Paulo, por exemplo, as separações são muito óbvias. Os brancos residem em grandes e luxuosos condomínios fechados que mais parecem “bunkers”, tamanha a segurança do local ou insegurança dos habitantes, enquanto os negros ainda moram no Soweto.

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Os efeitos de séculos de separação racial ainda são claros. A África do Sul é o 2º país mais desigual do mundo segundo o Índice Gini, atrás apenas de sua ex-colônia e vizinha Namíbia. Apesar de o país possuir a economia mais forte do continente, uma em cada quatro pessoas e aproximadamente 40% da população vive abaixo da linha de pobreza, ou seja com um pouco mais de R$ 3,00 por dia. O grande evento trouxe um pouco de esperança para esta população e existem projetos gerando emprego. Segundo a BBC Brasil uma aposta é o Laduma (gol, na língua zulu), no qual um grupo de 2.010 pessoas de diversas regiões, grande parte desempregada, vêm sendo treinadas para serem sommeliers, especialistas em vinho. A idéia é que eles supram a falta de profissionais na área, necessários para atender à alta demanda de turistas esperados para o evento. Engana-se aquele que vai com a imagem da pobre

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Carla Bovolini

África. Sim, o continente africano é pobre, mas a África do Sul é um país que como o Brasil e está em desenvolvimento. Por exemplo, ocupa a 129ª posição no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) 54 pontos longe do Brasil que ocupa a 75° posição, longe do lugar ocupado pelos piores colocados, entre os quais alguns do continente africano. Talvez por isso a imagem de miséria esteja na cabeça de muitos torcedores. As belezas da África do Sul estão espalhadas por todo o continente e muito bem preservadas. A ONU reconheceu oito lugares do país como patrimônios históricos da humanidade. Quatro deles são culturais, três naturais e um mistura as duas vertentes. O mais famoso e arrepiante de todos é a Robben Island, que abriga a famosa prisão dos tempos do Apartheid e que aprisionou o ícone local Nelson Mandela por 18 anos. Os guias turísticos são pri-

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sioneiros da época do regime segregador, o que traz muito mais veracidade ao passeio. Após conhecer o local tive certeza da força de Mandela, no frio é extremamente frio e no calor torna-se um local insuportável. A Copa vai além de Joanesburgo. Nossa seleção passará por cidades com Durban, Porto Elizabeth e a bela Cidade do Cabo, por onde também passei. Durban é a maior cidade indiana fora da Índia. Ao visitá-la, preparem-se para ver muitos turbantes e burcas vestindo os moradores, até mesmo nos parques aquáticos e nas praias da cidade, afinal o Oceano Índico é o cartão postal e ponto de encontro de turistas e residentes. Nesta cidade encontra-se o deslumbrante estádio Moses Mabhida no qual foram gastos mais de US$ 400 milhões, um elefante branco reconstruído por arquitetos e engenheiros alemães somente para receber oito jogos da copa. Já virou um dos principais pontos turísticos e rende dinheiro para a prefeitura. Entre as suas atrações está o Sky Car, um teleférico que leva os turistas sob o estádio e de onde se tem uma vista belíssima. Para quem ainda gosta de altura é possível saltar de bung jump dos seus arcos. A Cidade do Cabo é nossa velha conhecida dos tempos de escola, afinal o Cabo das Tormentas, rebatizado de Cabo da Boa Esperança, está bem ali e, graças as suas águas gélidas, conservado e sem nenhuma mansão construída a sua margem. Os banhos de mar são insuportáveis devido à baixa temperatura e o vento pode carregar alguém mais desavisado, por isso o nome inicial Tormenta. Foi nesta cidade aparentemente calma que os meus problemas começaram. Após 12 dias de viagem por toda a costa e prestes a embarcar de volta me dei conta que a África do Sul como o nosso país tem problemas sociais que elevam a criminalidade. Fui assaltada dentro do hotel, de onde carregaram o cofre com todo o meu material para a produção de matérias especiais. O fato tido como isolado pelos gerentes do estabelecimento colocou em prova toda a preparação que os africanos fizeram para a Copa do Mundo. Prepararam os estádios, a infra-estrutura, os transportes, os hotéis, geraram empregos mas esqueceram-se do principal, diminuir a criminalidade e aumentar a segurança, ou pelo menos tentar. À parte este incidente, o que vale é que este ano é o ano da África. Preparem as vuvuzelas e que comecem as torcidas, claro que para quem vai, fica a dica, a África do Sul é um país além da Copa do Mundo. 

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Memória

preservada Museus e acervos pessoais resguardam cultura e tradição do futebol

Imagens do futebol: vídeos e fotos mostram história do esporte

Stéphanie Tomazin tetetomazin@uol.com.br

Soraya Defavari

soye_rdp@hotmail.com

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futebol emociona. Repare, perceba e preste atenção na alegria de um torcedor quando seu time é campeão. Impressione-se com a angústia do sofredor que acompanha seu clube ser rebaixado, mas, que mesmo assim, ainda tem esperança e torce por ele, defendendo-o no íntimo de seu coração com todo fervor. A força deste esporte entre os brasileiros é tão grande que resulta em um esforço da sociedade para conhecer e, principalmente, preservar a sua história, como elemento mesmo imbricado à formação cultural do país. Um dos maiores exemplos deste esforço foi a implantação, em 2008, em São Paulo, do Museu do Futebol. Instalado no estádio Paulo Machado de Carvalho, o Pacaembu, o empre20

endimento conta com 6.900 metros quadrados, área integralmente dedicada a mostrar, com detalhes e muita ilustração, cada aspecto do esporte. Para contar a história do futebol, o museu associa elementos históricos, fatos e registros que marcaram época. O acervo é constituído de peças audiovisuais – fotos, vídeos, áudios, animações – e estimula a interatividade com o visitante. A mostra está disposta em quatro pavimentos, nos quais é possível encontrar, por exemplo, um ambiente onde há cabines de rádios para ouvir as narrações de radialistas famosos, como Ary Barroso e Osmar Santos. Para ouvir os gols de sua preferência, o visitante pode escolher pelo nome do locutor preferido ou pela época em que

aconteceu, o que passa a impressão de se estar mudando de emissoras. Outra curiosidade é a sala onde se veem e ouvem as torcidas dos principais clubes do Brasil. Os participantes podem vibrar com seus times em telas verdadeiramente cinematográficas, o que leva os apaixonados pelo futebol a viverem, ou reviverem, emoções inesquecíveis. Também se destaca uma sala dedicada aos principais ícones da cultura brasileira.O ambiente contém imagens do compositor Villa-Lobos, do poeta Carlos Drummond de Andrade, do pintor Cândido Portinari e da cantora Carmem Miranda, entre outros. Neste mesmo espaço é possível conferir imagens da Copa do Mundo de 1950, nas quais contrastam a alegria ligada à PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Junho/2010


Fotos: Soraya Defavari

construção do estádio e a tristeza com a derrota na final da Copa daquele ano para o Uruguai em pleno Maracanã. A coordenadora do Núcleo de Documentação e Pesquisa do Museu do Futebol, Daniela Alfonsi, destaca a sua importância como elemento ligado à cultura do país. “O Museu do Futebol trabalha a importância que esse esporte teve na formação cultural: as influências que nosso modo de ver teve na configuração do “jeito brasileiro” de jogar. Com isso, é possível preservar a memória do esporte e também preservar usos, costumes e sentidos da nossa sociedade”, afirma Daniela diz que o público que visita as dependências do museu é variado, mas, ainda a imensa maioria – cerca de 70% dos 1.200 visitantes/dia – é

Os Primeiros Campeonatos no Brasil Fonte: Museu do Futebol de São Paulo

Origem e evolução no Brasil Para a maioria dos historiadores que se dedicam ao futebol, o esporte teria surgido no Brasil em meados de 1870, introduzido por marinheiros ingleses e/ou holandeses. Também há registros de que padres jesuítas haviam trazido o jogo da Europa, e de que teria aportado por aqui pelas mãos, ou pés, de ingleses radicados no Brasil. Mas é a partir do trabalho do brasileiro Charles Miller que o futebol começa a ser, de fato, difundido. Nascido em 1874, no Brás, zona leste de São Paulo, e filho de pai inglês e mãe brasileira, Miller estudou na Inglaterra entre 1884 e 1894. Voltou de lá com as regras do Football Association, duas bolas de couro e uniformes para organizar os primeiros jogos na várzea do Carmo (bairro do Brás, em São Paulo), entre ingleses e brasileiros da Companhia de Gás, do London Bank e da São Paulo Railway. O Museu do Futebol de São Paulo inclusive reserva uma sala que mostra a história que começa com Charles Miller e vai até os primórdios da profissionalização do esporte, e da aceitação de atletas negros e mestiços, a partir dos anos 1920. As imagens mostram dos barões do café ao povo mais humilde,

que conquistou o futebol e o reinventou. O antropólogo Roberto da Matta, no livro Futebol Arte - a Cultura e o Jeito Brasileiro de Jogar, de Jair de Souza, Lucia Rito e Sergio Sá Leitão, de (Editora Senac, 1998), enfatiza que o futebol não é brasileiro, mas que a relação do brasileiro com o esporte é tão profunda, que se confunde com a própria cultura brasileira. “A relação entre povo e futebol tem sido tão profunda e produtiva que muitos brasileiros se esquecem que o futebol foi inventado na Inglaterra e pensam que ele é, como a mulata, o samba, a feijoada e a saudade, um produto brasileiro”, escreve. Apesar de ter sido, no início, reservado apenas à elite – médicos e advogados –passou por verdadeira revolução a partir de 1923, quando o Vasco da Gama, formou o primeiro time integrado em sua maioria, por negros. As marcas do novo grupo de praticantes foram a habilidade e o improviso. Para surpresa dos rivais, foram campeões cariocas e assim, fizeram perceber que as regras eram fáceis, e que qualquer lugar e qualquer bola serviam para a sua prática.

1902

1905

1906

1908

1914

1915

Primeiro Campeonato Paulista, vencido pelo São Paulo Athletic Club

Primeiro Campeonato Baiano, vencido pelo extinto Internaciona

Primeiro Campeonato Carioca, vencido pelo Fluminense

Primeiro Campeonato Paraense, vencido pela extinta União Esportiva

Primeiro Campeonato Amazonense, vencido pelo Manaos Athletic

Primeiro Campeonato Mineiro, vencido pelo Atlético

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masculina. A coordenadora informa que o Museu tem como objetivo atrair o público feminino, como estratégia para expandir a cultura e a tradição do futebol. A cidade de Piracicaba, de ricas tradições no cenário nacional do futebol, também conta um rico acervo, aliás, avaliado no ano 2.000 pela FPF (Federação Paulista do Futebol) como o maior e mais completo acervo histórico sobre o futebol. O acervo “Rocha Netto” foi formado pelo jornalista Delphim Ferreira da Rocha Neto (19132003) e está instalado no CCMW (Centro Cultural Martha Watts), no Campus Centro da Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba). O “colecionador” deu início ao arquivo aos seis anos de idade e dedicou praticamente toda a vida à sua montagem. Atualmente, soma cerca de 50 mil fotografias sobre o futebol. São livros, coleções de jornais e revistas especializadas, o que totaliza em média 30 mil textos. Joceli Cerqueira Lazier, coordenadora do CCMW e NUC (Núcleo Universitário de Cultura) da Unimep,

Fotos: Soraya Defavari

Acervo Rocha Netto: memória em Piracicaba

diz que procura através da manutenção do acervo e de sua divulgação preservar não só a memória do jornalista Rocha Netto, mas também contribuir para a educação e a pesquisa sobre o futebol. “Preservar não é apenas manter viva a história, mas dar continuidade à mesma. Quando se fala em história do futebol, conta-se também a história de grande parte das pessoas que tiveram e têm suas vidas marcadas de alguma forma por este esporte”, explica Joceli.  

• Homem que se cobriu de talco pelo seu time por mais de quarenta anos? Guilhermino dos Santos, o Careca, torcedor-símbolo do Fluminense, morreu vítima de problemas respiratórios.

Futebol-Arte - Souza, Jair Souza, Lúcia Rito e Sérgio Sá Leitão, Editora SENAC, 1998 O Futebol explica o Brasil - Uma história da Maior Expressão Popular do País - Autor: Marcos Guterman, Editora Contexto, 2009 Por que não desisto - Futebol, Dinheiro e Política - Juca Kfouri, Editora Disal, 2009

Como o Futebol explica o Mundo - Um olhar inesperado sobre a globalização - Franklin Foer, Editora Jorge Zahar, 2005

• Times que já viraram nome de marca de cerveja? Vasco da Gama, em 1927; e Flamengo, em 1928.

Dicas de filmes Boleiros - Era uma vez o futebol/1998

• Maior goleada? Botafogo e Mangueira, com incríveis 24 a 0.

• A única seleção que participou de todas as copas foi a brasileira.

• Cartões amarelos e vermelhos. Surgiram em 1970, introduzidos pela Fifa na Copa do Mundo de 1970.

• Maior goleada no estádio do Maracanã? Foi em 1956. Flamengo 12 X São Cristovão 2.

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Dicas de Livros:

Loucuras do Futebol - 288 Histórias Reais... E Absurdas - Emedê, Editora Panda Books, 2003

Fatos curiosos

• Números nas camisetas. Surgiram em 1950.

Para saber mais

• Maior público pagante da história? Brasil X Paraguai pelas Eliminatórias da Copa de 70, com 183.341 pagantes.

Pra frente, Brasil/1983 GOL!/2005 Ginca – A alma do futebol brasileiro/2006 1958: O Ano em que o mundo descobriu o Brasil/2008 PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Junho/2010


anos JORNALISMO UNIMEP

E pensar que um dia a gente também já foi foca


Paixão pelo XV

Conhecido em todo o Brasil, alvinegro piracicabano é símbolo da cidade 24

Camila Tavares

kamitavares@hotmail.com

Samanta Marçal

samanta.marcal@gmail.com

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erto do seu centenário, a ser comemorado em 2013, o Esporte Clube XV de Novembro é uma das grandes paixões do piracicabano. A paixão alvinegra contagia crianças, jovens, adultos, idosos, homens e mulheres, que exigem dos jogadores muito amor à cami-

sa e a Piracicaba. O time é ícone cultural e querido por sua história e tradição e, mesmo sem vencer um campeonato importante desde 1995 e ter permanecido na série A3 do Campeonato Paulista de Futebol durante muitos anos – conseguiu o acesso para 2011 – tem uma das maiores torcidas do interior de São Paulo. O que muitos se perguntam é: afinal, a que se deve essa imensa paixão, “na vitória ou na derrota”? PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Junho/2010


Camila Tavares

Fundado em 15 de novembro de 1913, pelo Capitão da Guarda Nacional, Carlos Wingeter, o clube piracicabano celebrou momentos que marcaram a história do futebol e da cidade. As vitórias que renderam as duas estrelas bordadas na camisa oficial foram o bi-campeonato do interior em 1948, quando foi o primeiro com direito à lei de acesso e subiu para a 1ª Divisão da Federação Paulista de PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Junho/2010

Futebol, e o Campeonato Brasileiro da série C em 1995. Outra conquista importante foi o vice-campeonato paulista em 1976, quando o Palmeiras foi campeão. Desde sua fundação são 11 títulos. O presidente do XV, Luis Beltrame, acredita que a paixão piracicabana pelo time é resultado de vários fatores. “O clube ganhou a simpatia da população que se orgulha dos títulos conquista-

dos e da referência que causa por ser muito conhecido e respeitado. Mesmo nas partidas da série A3, em número de público ganha de muitos times que estão na série A1”, diz Beltrame. Quando o assunto é o XV, o presidente da Associação Varzeana de Futebol de Piracicaba, Dinival Tibério, é muito bem informado e assume o fanatismo. Tibério foi diretor do clube na década de 80 e acredita que o fenômeno do amor incondicional dos torcedores é resultado de uma paixão que passa de pai para filho. “Meu pai foi goleiro do XV, eu fui diretor e minha família inteira é alvinegra. Quando você chega a outra cidade ou país, é inevitável alguém te perguntar como vai o velho Nhô Quim”, argumenta. O capitão da equipe que conquistou o título em 1995, Reginaldo Amstalden, o Biluca, revela que foi muito emocionante fazer parte do clube num momento tão importante. “Era emocionante ver a torcida acompanhando os jogos por toda parte como Brasília e Rio de Janeiro. Aonde a gente ia jogar chegavam vários ônibus lotados de torcedores. Foi maravilhoso”, conta o veterano. Proprietário de uma escola de futebol em Piracicaba, Biluca mantém o vínculo com o futebol. Quando se aposentou do esporte, em 2001, foi convidado para trabalhar do time de base do XV, mas recusou porque estava empenhado na escolinha e por acreditar que não teria total liberdade para desempenhar o trabalho. “Não podia deixar de administrar algo que é meu para passar a ser mandado. Você tem certa liberdade, mas não é cem por cento”, afirma. Dificuldades O fator financeiro assombra os clubes do interior que, via de regra, possuem poucos recursos para manter sua estrutura. Os responsáveis têm que administrar o salário dos jogadores e de todos os envolvidos, 25


Trajetória e títulos conquistados

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entre outros fatores, recebemos e-mails e telefonemas exigindo providências, somos abordados nas ruas e ainda tem o protesto das torcidas organizadas”, afirma. A responsabilidade de preservar a qualidade e tradição da equipe é dever de todos os envolvidos e, claro, é cobrada pela torcida fiel. “Só quem jogou aqui sabe o quanto representa a camisa do XV. Tem que ser muito honesto e transmitir isso para os torcedores”, afirma o ex-jogador quinzista, Hamilton de Souza, que jogou pela equipe de 86 a 90. Como o time está há quase 15 anos sem conquistar um título, a pressão da torcida é intensa. A exigência é que as campanhas sejam cada vez melhores e que o jogador demonstre raça em campo. “Tem que jogar bem e conseguir resultado. Quem vem pro XV sabe que a torcida está com sede de vitória e quer ver coração e futebol jogando juntos”, afirma o torcedor, Paulo Morales, de 41 anos.

Acervo

garantir uma boa estrutura do campo para treinamento, adquirir materiais esportivos, entre outras demandas exigidas no meio do futebol. No caso do XV, os problemas enfrentados pela equipe vão além da dificuldade para o acesso enfrentada nos últimos anos. Devido às dívidas acumuladas com impostos, créditos trabalhistas e processos na justiça, que somam mais de oito milhões de reais, segundo Beltrame, parte do patrimônio teve que ser vendida para saldar o que foi possível. Para Beltrame, a única esperança de quitar as dívidas é a equipe obter sucesso dentro de campo. “Se o clube fechar, ninguém recebe. Eu acho que se o XV chegar à série A1 pagamos todo mundo rapidinho.” O torcedor do Nhô Quim pode colaborar financeiramente com o clube de duas formas. A primeira é se tornar sócio-torcedor e optar pela categoria mais conveniente, alternativa que hoje atrai apenas em torno de 300 pessoas. A segunda é através do pagamento da conta de água, com o valor quase simbólico de R$ 1,00, o que é viabilizado graças à aprovação de uma Lei pela Câmara de Vereadores. Este pagamento, entretanto, é facultativo, e segundo Beltrame o valor arrecadado atualmente é em torno de R$10 mil por mês, o que em sua opinião é pouco, já que a cidade possui mais de 150 mil ligações de água. Ser um dos representantes de um time tão estimado pela população não é tarefa fácil. Beltrame conta que as cobranças vão além do que é possível ver nos estádios. “Se o jogador faz corpo mole ou não está jogando bem aqui como jogou em outro time,

1947

1948

1949

1967

1969

1975

Primeiro campeão do Campeonato Profissinal de Futebol do Interior

Bi-campeão do Campeonato Profissional de Futebol do Interior e campeão Paulista de Série A2

Campeão do Torneio Início, da Federação Paulista de Futebol

Campeão Paulista da Série A2

Campeão do Torneio “Brasil Central”

Vencedor do Torneio Incentivo “José Ermírio de Moraes Filho”

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Camila Tavares

nhava para o centro do gramado, e marcou impedimento. O lance gerou reclamação revolta por parte de jogadores e torcedores do time da casa, mas apesar da pressão o juiz confirmou a decisão do bandeirinha e garantiu o acesso do alvinegro piracicabano. O time que conseguiu o acesso à A2 foi comandado pelo técnico Moisés Erget, para quem treinamento pesado, dedicação do elenco, apoio e a cobrança dos torcedores foram fundamentais. O resultado foi comemorado pelo gerente de futebol do XV. “Um clube próximo de completar 100 anos, único da cidade e com possibilidade de acesso, tinha a necessidade de sair da série A3”, comenta o gerente Paulo de Moraes que trabalha com o XV de Piracicaba há oito anos. Nestes momentos de vitória, as canções alvinegras dão o tom. De um lado, o hino oficial, composto por Anuar Kraide e Jorge Chaddad, que é famoso e tradicional na cidade. De outro, o “hino popular”. Cantado há anos pelas torcidas, afirma as raízes “caipiracicabanas” do time e faz muita gente se divertir por brincar com o sotaque característico da cidade em trechos como: “... Cáxara de forfe, carcanhá de grilo, bícaro de pato, XV! Cra, cra, cra. XV! Cra, cra, cra...” 

Acervo

Já o torcedor mirim, Sérgio de Oliveira, 12, gosta da emoção provocada nos jogos. “Quando eu assisti à partida entre o XV e o Atlético Sorocaba, fiquei assustado quando o estádio ficou em silêncio com a derrota da equipe, parecia que alguém tinha morrido”, conta. Paulo faz referência à final entre o XV de Piracicaba e o Atlético de Sorocaba no segundo semestre de 2008, pela Copa Paulista, quando aos 49 minutos do 2º tempo o Atlético fez um gol e venceu por 3x2. Jogando em casa, o XV precisava de um empate para vencer o Campeonato. E como nos últimos anos a história tem sido marcada pelo drama, o acesso à A2, conquistado em maio deste ano, também veio com muito sofrimento e somente na última partida da fase final do torneio, disputada contra o Comercial, em Ribeirão Preto. O XV também precisava de um empate no confronto para conseguir a vaga, mas sofreu um gol aos 47 minutos do segundo tempo, quando o jogo estava 0 x 0. Marcado o tento o assistente Luis Alexandre Nilsen levantou a bandeira, contrariando o árbitro, que já cami-

1976

1983

1984

1990

1995

2010

Vice-campeão do Campeonato Paulista de Futebol da Série A1

Campeão Paulista da Série A2

Conquistou o campeonato do Torneio “Ray-OVac”

Campeão do Troféu “Ricardo Teixeira”

Campeão Brasileiro da Série C

Conquista o acesso à Série A2

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Camila Tavares

crônica

Tragédia não anunciada Leonardo Moniz Ribeiro

leonardo.moniz.ribeiro@gmail.com

A

noite de 29 de novembro de 2008 tinha tudo para ser histórica. No dia seguinte eu completaria 22 anos e o presente deveria vir na véspera, quando meu XV de Piracicaba disputaria a decisão da Copa Paulista de Futebol. O adversário era o Atlético de Sorocaba, uma equipe tecnicamente limitada. Assim como eu, muitas das mais de 20 mil almas que presenciaram aquela partida estavam crentes de que poderiam ver o Nhô Quim campeão. Desde 1995, quando o clube venceu o Campeonato Brasileiro da Série C, decisão foi uma palavra que passou longe do estádio municipal Barão de Serra Negra. Naquele sábado, acordei transpirando ansiedade. A partida estava marcada para as 19h. Horas antes, eu estava em frente ao estádio, acompanhado de amigos que havia acabado de conhecer. Quando o ônibus da equipe piracicabana apontou na rua Silva Jardim, que dá acesso ao estádio, eu percebi que os meus próximos dias dependeriam do que aqueles homens fizessem no gramado. Ao entrar no Barão, notei um colorido em branco e preto. Camisas zebradas e balões com as duas cores lotavam as arquibancadas. O árbitro Rodrigo Cintra apitou o início do jogo e meu time jogava pelo empate. Mal sabia que era o início de uma batalha épica. Com 14 minutos, o Atlético de Sorocaba fez o primeiro gol. Um silêncio religioso percorreu o estádio. Aos gritos tímidos de apoio, o XV parecia engrenar. Aos 37 minutos da primeira etapa, Preto cruzou para a área em uma cobrança de

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falta. Não houve desvio na trajetória que a bola fez até as redes. O grito de gol foi impiedoso com qualquer surdo. Fim do primeiro tempo, faltavam 45 minutos. Sete minutos da segunda etapa. O atacante quinzista Fábio Santos sofreu um pênalti que ele mesmo cobrou. Caminhando lentamente, ele chutou no lado esquerdo do goleiro, que não conseguiu impedir o gol: 2x1. Os primeiros gritos de campeão surgiram. E desapareceram quando o Atlético empatou. O quarto árbitro assinalou que teríamos três minutos de acréscimo. Nunca poderia imaginar o que aconteceria depois. Eu já estava no vigésimo Pai Nosso quando o meio campista do Atlético, Givanildo, cruzou para a área. A bola sobrou para outro jogador adversário, Luizão. Quando ele bateu na bola, faltavam exatos doze segundos para completar os três minutos acrescidos pelo árbitro. Chutou sem força, seu corpo estava mal posicionado. Mas a bola entrou. A palavra decepção era branda para descrever o momento. O silêncio não explicava nada. Às 21h03, Rodrigo Cintra apitou pela última vez. O XV perdia. Estava concretizada uma tragédia não anunciada. Não posso descrever o que se passou no gramado, pois as lágrimas me cegavam. Chorei abraçado junto ao meu avô, Hélio, e perguntei a Deus o porquê daquilo. Sem obter resposta, fui convencido por amigos a deixar o Barão de Serra Negra às 21h40. Três anos depois, continuo freqüentando o estádio e estou convencido de que aquela partida foi apenas um acidente. Não há tragédia que supere o amor a um clube de futebol. Sem dúvidas, um sentimento maior.

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Fanatismo

João Henrique Lopes

Torcedores fazem loucuras por seus times, mas nem todos embarcam nessa onda

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jhplopes@gmail.com

Rafaela Ometto

rafaela.ometto@gmail.com

“M

eu time é minha religião e a camisa, meu manto.” A afirmação é da corinthiana fanática Carolina Hackman, mas com certeza já foi dita por muita gente, com a mesma ou outras palavras, em referência ao “timão” ou a outros clubes brasileiros que são referência para muitos brasileiros. No mais, o futebol é paixão nacional, isso não há como negar e, salvo raras exceções, pode-se considerar que o mundo gosta do esporte. 

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Amor pelo São Paulo não tem limites

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XV de Piracicaba. “Eu chegava a ficar uma semana chorando e brava se o XV perdia”. Além do futebol, Teresa gosta muito de vôlei de praia, futebol de salão e baralho. Casada há 50 anos com o porteiro João Duarte Filho, 80, Teresa virou são-paulina e confessa que anda meio desanimada com a situação atual do time de Piracicaba. Nos dias que passa jogo na televisão, a senhora que não liga muito para novela, fica feliz e sabe que vai ter “alguma coisa que preste para assistir”. Já João gosta de futebol, mas garante que não é tão fanático assim. “Eu assisto, mas se tiver outra coisa pra fazer, eu paro de assistir e vou fazer”. Curiosamente, após o almoço de domingo, Teresa fica com a família até às 15h45, quando se prepara para ver o jogo que começa, normalmente às 16 horas. “Pego o ônibus e venho embora Casados há 50 anos João e Teresa dividem opiniões apenas sobre futebol

João Lopes

para conseguir uma camiseta forrada de autógrafos. Essa loucura Carolina já fez. Ela conta com orgulho: “Tenho mais de 50 camisetas do time, fora toalhas de praia e banho, lingerie, caneca, chaveiro, mouse pad...”. Atitudes assim, apesar de incompreensíveis para “não fanáticos”, são saudáveis, porém há outras que põem a vida em risco. É o caso dos problemas recorrentes com torcidas organizadas, principalmente em jogos considerados clássicos, como Corinthians e Palmeiras. Brigas, pontapés, empurrões, spray de pimenta, facas, e até ameaça de morte são comuns em jogos que envolvem grandes torcidas. Cenas de violência invadem os estádios e transformam o que era para ser uma festa, em verdadeiro campo de guerra. E quando isso acontece, nem mesmo a polícia consegue controlar a baderna. Para se ter uma idéia do número elevado de participantes de torcidas organizadas nos maiores time do Brasil, dados do Data Folha, divulgados em abril desse ano, mostram que as duas maiores torcidas do país reúnem perto de 20 milhões de pessoas. O carioca Raphaela Spolidoro Flamengo lidera o ranking com mais de 22 milhões, seguido pelo paulista Corinthians, com cerca de 18 milhões. Totalmente contra esse tipo de acontecimento que invade os gramados, Teresa Perin Duarte, 75, dona de casa, afirma que fica triste quando isso acontece. “Tem que ir pra se divertir e não matar o outro”, dispara. Fã incondicional de futebol, ela afirma que desde os 10 anos sempre gostou muito de ver qualquer time entrando em campo. E isso não é comum em sua família de sete irmãos. “Só eu mesma que gosto, meus irmãos não ligam tanto quanto eu. Da família toda, o único que mais gostava era meu pai”. Teresa também conta com orgulho que quando jovem sofria muito pelo

Rafaela Ometto

No caso de Carolina, a paixão nasceu cedo. Ainda garotinha, com apenas seis anos de idade, ganhou uma camiseta do tio, corinthiano fanático. Desde então, com 24 anos, membro da Gaviões da Fiel de Indaiatuba, cidade onde mora, nunca mais deixou de seguir o time por onde quer que fosse. “Já gastei metade do meu salário pra ver um jogo em campo. Sem contar as vezes que fui trabalhar com sono por ter chegado tarde de alguma excursão”, conta. A jovem revela que já assistiu a mais de 100 jogos no estádio e conta que quando era muito nova ainda chegou a falsificar a assinatura do pai para poder assistir seu primeiro jogo no Morumbi. “Meu pai é sãopaulino, e não quis assinar pra mim, então falsifiquei e fui ver o jogo com meu tio.” O fanatismo pelo time leva as pessoas a tomarem atitudes que poderiam ser consideradas como absurdas por muita gente. Uma delas é esperar horas e horas em frente ao vestiário dos jogadores

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Mayara Cristofoletti

Sede da Coração Santista local de festa e amizade

pra casa pra ver o jogo sozinha, tranquila. É disso que eu gosto!”. O marido revela ainda que caminha diariamente e que já disputou jogos quando jovem. “Eu cuido da minha saúde e acho importante praticar exercícios”, afirma o porteiro que gosta mais de praticar do que de assistir. Apesar do time do Santos não ter a maior torcida organizada – segundo a pesquisa do DataFolha – é apenas a 9º em número de torcedores –, em Piracicaba a Torcida Coração Santista, que existe há 5 anos, soma 4000 filiados, dos quais cerca de 300 são frequentadores assíduos. É o que afirma o presidente Geraldo Antonio Dias Berno, proprietário de um despachante, que divide o local de trabalho com outros objetos como quadros, faixas e até uma calopsita que canta o hino do Santos. Questionado sobre seu fanatismo pelo time, Berno responde: “É tudo!”. E acrescenta: “Criei a torcida para, além da diversão, poder ajudar o próximo”. Na cidade de Piracicaba, a instituição é conhecida por realizar campanhas do agasalho e também no Natal. Independente do time, Berno enfatiza que o espírito de união da torcida sempre prevalece e desavenças nunca aconteceram. “Nunca nos envolvemos em briga, também porque a torcida é formada por muita família”, conta.

Outro lado? Mas, por mais incrível que possa parecer para os apaixonados torcedores, há gente que não suporta o futebol e nem ao menos consegue entender o porquê do esporte ser considerado paixão nacional. É o caso do programador Ricardo Recchia, 24. “Futebol é o pão e circo dos ignorantes. Ver um monte de gente correndo atrás de uma bola não requer muita inteligência, por isso faz tanto sucesso”, afirma com convicção. Ele não conhece as regras do jogo, tampouco os jogadores. Mas para tudo isso existe uma explicação. Ele acha um “absurdo o dinheiro que envolve em uma tranqueira dessas. O Caroline tem mais de 50 camisetas do ‘timão’ jogador recebe milhões para jogar uma hora e meia, é medíocre”. Recchia ainda problematiza a fanáticos que choram, brigam, maquestão e compara os recursos en- tam e até mesmo tentam suicídio por volvidos no esporte com a falta de causa do time”, argumenta. A falta de interesse do assistendinheiro para áreas básicas com saúde e educação. “O futebol é realmente te pelo futebol começou quando supervalorizado no Brasil, e não há criança. Apesar de ter sido obrigado o que justifique tanto dinheiro gasto a torcer pelo Santos, afirma que em um único esporte em um país com sempre preferiu a natação e a leitutantas áreas carentes. Jogadores com ra. “Nunca gostei de futebol, tanto contratos milionários enquanto hospi- na educação física quanto no vídeo tais sofrem com falta de recursos para game”. A visão é compartilhada por atender à população. As prioridades familiares de Ferreira. Ele conta conta que apesar de ter um irmão estão totalmente erradas”, analisa. Quem compartilha dessa idéia é santista e outro corinthiano, “nino assistente de despacho Camargo da guém perde seu tempo em frente Silva Ferreira. Para ele o fanatismo à TV para assistir qualquer tipo de do povo brasileiro pelo futebol é uma jogo, seja clássico ou até mesmo a loucura. “O povo brasileiro “ama”, final do Brasileiro”. Esses relatos de quem não gosjá na Europa, os países e as pessoas ta de futebol podem “respiram” futebol não soar estranhos num só como esporte, mas Maiores torcidas do Brasil (em milhões) país que tem o futecomo negócio, onde gira bol como paixão nabilhões de dólares por 1º Flamengo...............22,62 cional, mas, Recchia ano”. Para sustentar sua 2º Corinthians............17,89 e Ferreira garantem tese de que há exagero, 3º São Paulo..............11,09 que entre amigos esse Ferreira lembra episódio tipo de opção não de 2008, quando o Vas4º Palmeiras................8,26 gera nenhum probleco perdeu o jogo e foi re5º Vasco......................5,41 ma pessoal, todos se baixado, e um torcedor 6º Cruzeiro...................4,44 respeitam. Recchia tentou se jogar da mar7º Grêmio.....................3,60 afirma que tem amiquise do estádio. “Não gos que gostam de sou contra as pessoas 8º Internacional............3,44 futebol muito mais que gostam do trabalho 9º Santos.....................3,10 que ele, mas ninguém dos jogadores, como 10º Atlético-MG............2,51 é fissurado.  profissionais, sou contra Fonte: DataFolha/19 de abril de 2010

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Brincadeira de

gente grande Lígia Martins Paloni ligia.paloni@terra.com.br

Mayara Cristofoletti

mayara.cristofoletti@gmail.com

C

huteiras nos pés pequenos, camisa do time no peito e, no coração, um sonho. As terças, quintas e sábados crianças e adolescentes do Jardim Tóquio, em Piracicaba, tentam aproximar desejo e realidade. O palco: um campinho de futebol próximo à escola municipal do bairro, onde os treinos são sagrados. No período da manhã 33 crianças, de sete a 14 anos participam da “pelada” e, à tarde a turma é de adolescentes de até 18 anos. O número de alunos chega a 80. “Se eles estudam de manhã, treinam à tarde, e vice versa”, afirma Roque Souza Laé, treinador dos garotos e coordenador do projeto, criado por ele mesmo, há 18 anos, para “ocupar o tempo”. “Eu não queria me aposentar e ficar parado em casa, esperando a morte. Sem contar que não ‘existia’ nada parecido aqui no bairro e esses meninos precisavam de um incentivo. Hoje já passaram mais de três mil alunos pela escolinha”, afirma ‘seo’ Roque. O projeto não possui vínculo com nenhuma organização pública ou privada e o único requisito para participar é que o aluno esteja na escola. O treinador conta que se fica sabendo que o aluno falta às aulas na escola, cobra e dá bronca, pois todos são obrigados a estudar. Ao observar o treinamento, percebe-se que Roque realmente treina

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seus alunos de coração: está sempre atento às jogadas, dá dicas individuais, cobra disciplina e incentiva o companheirismo. Ao menor sinal de confusão, por um gol “suspeito” de impedimento e que daria vitória a um dos times, ele dá o veredicto: “Terminou empatado”. Todos parecem concordar e a briga termina. No dia em que esta reportagem foi realizada, ao perceberem que alguém estava lá para fotografá-los e conhecer suas histórias, as crianças parece que sentiam o gostinho – ou pelo menos um aperitivo – da fama que muitos buscam com o futebol. Posaram para fotos e queriam ser notados pelo que já realizavam. Nomes de ídolos, como o fenômeno Ronaldo, estampavam suas camisas escondidas pelos coletes azul, amarelo ou vermelho, que os separam em diferentes times. Os mesmos que eles valorizam e dispõem organizadamente em pilhas após o jogo. ‘Seo’ Roque se orgulha de quem já saiu de lá com o dever cumprido e um emprego dos sonhos. Ele estima que aproximadamente 30 alunos de sua escolinha “viraram” jogadores profissionais e foram para o Corinthians, São Paulo, Bragantino e times paranaenses. Mas, o treinador não aprova as “peneiras” com método de seleção dos seus pupilos para times maiores. Prefere uma forma mais sutil. “Eu monto um time com os alunos mais experientes e proponho um jogo com times profissionais, convocando olheiros para observar o desempenho deles”, explica. Além disso, existem

Projetos sociais, iniciativas de líderes comunitários e escolinhas abrem caminho para as crianças

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Fotos: Mayara Cristofoletti

alunos mais novos que já estão ‘prometidos’ para clubes da região, como XV de Piracicaba, Rio Branco e um time particular de Americana. Além de apostar em carreiras profissionais para seus alunos, o treinador faz com que eles sempre participem de campeonatos. Ele afirma que cada categoria que treina já ganhou um título e os torneios disputados são os mais diversos: jogos comunitários, campeonatos de liga e até mesmo campeonatos sulamericanos. Ao invés de assistir aos jogos de futebol pela televisão, aos domingos ele vê seus aprendizes ao vivo, disputando com outros times. “Domingo é o dia reservado pra competições”, afirma. Mas o projeto pessoal de “seo” Roque não pára no futebol de campo. Ele também possui times de futebol de salão, equipes de natação e atletismo. Educação “Há quatro anos estou na associação e tenho a companhia do meu pai, que também joga futebol desde criança. Isso significa mais que uma profissão, é um desejo maior de fazer gols e se divertir em campo”.

“Gosto de receber o apoio dos meus pais em querer ser um jogador e há três anos, participo do treinamento aqui na comunidade. Jogar é muito importante na minha vida e é preciso muita responsabilidade para estar em campo. Vou lutar para conseguir realizar meu sonho”. Os depoimentos são dos alunos do Educando pelo Esporte, Rodrigo Marques da Cruz e Luis Pedro Fonseca, de 12 e 11 anos que estavam prestes a entrar em campo para um amistoso preparatório da 12ª Copa Rocha Netto, em um sábado pela manhã durante a elaboração desta reportagem. A competição é um dos chamarizes do projeto Educando pelo Esporte, que se assemelha muito à iniciativa do ‘seo’ Roque, mas ganhou institucionalidade. Há 13 anos a fundação Educando pelo Esporte usa o futebol e outras atividades educativas como uma forma de motivar crianças e adolescentes. Baseado na união entre o sonho de uma carreira no futebol e a iniciativa de acompanhamento escolar, o projeto atende 180 crianças e adolescentes de sete a 17 anos que residem nos bairros Caxambu e Paulicéia em Piracicaba, e tem garantido muitos resultados positivos às comunidades.  

Partida entre participantes do Educando pelo Esporte

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Alessandro Demétrio Franco, carinhosamente apelidado de Chapinha pelos alunos do projeto, é um dos professores de educação física e treinador do Educando pelo Esporte, mas afirma que não é só de sua boa vontade que depende a entidade. Ela é mantida através de trabalhos voluntários, empresas que fazem doações mensais, festas e contribuições através da Nota Fiscal Paulista. Além de acolher crianças e ensinar o valor do esporte na educação, os organizadores pretendem ampliar a sede da fundação e oferecer sala de vídeos, de informática e dar continuidade ao auxílio na vida dos garotos destes bairros. “Não somos apenas escolinha de futebol, nós também prezamos pela educação destas crianças”, afirma Chapinha. Participam da iniciativa, professores de educação física, estagiários, pedagoga e assistente social, o que garante aos alunos acompanhamento nos estudos e também nas horas vagas. Além de participarem de campeonatos e jogos com outras comunidades, as crianças também trabalham com música, com os instrutores de fanfarras e aprendem a tocar instrumentos musicais, como o violão e o cavaquinho. Para Chapinha, a associação é uma forma de tirar as crianças da rua e proporcionar momentos de lazer e aprendizado em um lugar seguro e preparado. 

Realização & frustração Para Jefferson Andrade Siqueira, um “sãopaulino roxo” de 22 anos, o sonho de criança se tornou realidade. Hoje o jogador profissional tem o passe comprado pela Fiorentina, da Itália, e está jogando emprestado no Società Sportiva Cassino, de Roma. Segundo a mãe do jogador, Ivanilda Novais Andrade Siqueira, as primeiras palavras do filho foram ‘mãe’, ‘pai’ e ‘bola’ e para ela não havia dúvidas sobre seu destino. Aos seis anos, Jeff, como é conhecido, começou a frequentar a escolinha

de futebol do São Paulo Center na cidade de São Paulo e somente a partir dai sua mãe pode trabalhar tranquila, sem deixar o menino jogando bola pelas ruas. Ele tinha o sonho de participar de campeonatos pelo mundo afora. Junto com o início na escolinha veio a revelação: ele já era um sucesso dentro de campo, perdia apenas para a timidez que surgia ao ouvir seu nome entoado pela torcida. Certo dia, um treinador do clube pediu aos pais que investissem no garoto, pois ele tinha um futuro promissor. Foi ai que dona Nilda resolveu ajudar ainda mais o filho em tudo que fosse preciso, e não faltaram momentos de oração para que Jefferson conquistasse seu maior objetivo. Ao estrear em seu primeiro campeonato, Jeff marcou dois dos três gols do seu time. Aos poucos, foi conquistando seu reinado nos campos e ganhou admiradores. Certa vez foi um olheiro do Paraná Clube resolveu levá-lo para um teste na cidade, onde foi escolhido para ficar. Aos 16 anos, saiu de casa para se tornar profissional e ser o camisa nove da equipe. Aos poucos, o jogador se profissionalizou definitivamente e disputou um campeonado sub-20. Na oportunidade, Jefferson foi descoberto por times

ESCOLINHAS Uma boa alternativa para aqueles que podem pagar pelas aulas de futebol são as escolinhas particulares, muitas delas mantidas por ex-jogadores e treinadores que passaram por equipes profissionais. Flávio Conceição, Careca, Marcelinho Carioca são alguns dos jogadores que apostaram nesta alternativa após o encerramento de suas carreiras. As mensalidades custam em torno de 50 reais e recebem crianças e adolescentes de cinco a 15 anos. O valor da matrícula depende de cada escolinha, já que algumas oferecem uniformes e acessórios para os jogos. Nestes casos, as taxas podem chegar a até 80 reais.

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Fotos: Mayara Cristofoletti

‘Seu’ Roque e os alunos do Jardim Tóquio

da França, Itália e Holanda e optou por jogar na Fiorentina por causa do idioma, aparentemente mais fácil. Aos poucos, ganhou espaço no futebol europeu e até nos jogos de futebol de videogames como o PES – Pro Evolution Soccer 2010, onde compete pelo clube italiano e ganha os direitos de imagem da Fifa pelo jogo. Hoje em dia, não é só o motivo de orgulho de dona Nilda – que coleciona fotos, medalhas e troféus do filho. Se tornou um sucesso do futebol europeu e é conhecido pela garra e determinação. Outro lado Mas, se todos os brasileiros que sonham com uma carreira nos campos tivessem a sorte e o talento de Jefferson, as coisas seriam bem diferentes. O jornalista e locutor da rádio Jovem Pan, Rogério Assis, comenta que apesar do sonho de se tornar um jogador

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profissional ser viável e inspirador, quando não se torna realidade é uma frustração que se leva para sempre. Principalmente quando a família apóia a decisão da criança, mas cobra resultados, muitas vezes motivada por interesses financeiros. Assis, que é radialista desde os 15 anos, trabalha com esportes há dez, narra e comenta jogos na Jovem Pan AM. Na sua opinião, os pais e treinadores têm papel fundamental na formação de um jogador profissional. “Ele tem de estar cercado de pessoas que não o enxerguem apenas como uma mercadoria e ser entregue a profissionais capacitados, pessoas que tenham a responsabilidade de lhe fazer um jogador”, afirma. Para ele, a intenção de ganhar dinheiro com o futebol é proveniente da ganância dos pais ou de quem é responsável por orientar o atleta. As crianças, segundo ele, são guiadas pelo sonho

de se tornarem iguais aos ídolos, o dinheiro é apenas a onseqüência. “Geralmente eles calçam chuteiras da mesma cor, usam acessórios iguais ao dos ídolos – como uma munhequeira – ou deixam os cabelos com cortes parecidos”, conta. O radialista comenta que o futebol não é mais idolatrado no Brasil como antigamente e que isso é o reflexo dado pela moeda brasileira não se equiparar às moedas estrangeiras, como dólar e euro. Assim que os jogadores são notados por times de fora, surge muita pressão por parte da família e de empresários, que ficam esperançosos em relação à carreira do jogador. São poucos os que não cedem à tentação e dentre os casos conhecidos está o do goleiro Marcos, do Palmeiras, que, ao ser cotado para jogar na Inglaterra não quis deixar suas origens e sua família. O jornalista também não é a favor, na maioria das vezes, das “peneiras”. Ele comenta que é difícil uma seleção ser bem feita e que raramente algum garoto é escolhido. “O que deve ser feito é uma uma análise criteriosa do jogador. Uma avaliação do menino, sua estatura, se ela é indicada para aquela posição que ele quer treinar, entre muitos atributos. Isso infelizmente não acontece. Não se avalia em nenhuma função alguém em minuto. É necessário olhar mais atentamente e com tempo”, defende. 

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Desafios e contradições Profissão é sonho de muitos, mas poucos conseguem vencer no futebol Camila Viscardi

camila_viscardi@hotmail.com

Danielle Moura

J

danielleksm@hotmail.com

ogar futebol profissionalmente é o sonho de milhões de crianças no Brasil, que desde cedo praticam o esporte em campinhos improvisados, escolinhas ou mesmo na rua. Mas, são poucos os que conseguem. Eliton Deola, 27, é um deles. Joga atualmente como segundo goleiro da Sociedade Esportiva Palmeiras, um dos quatro maiores times do estado de São Paulo.

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“Todo menino sonha em ser jogador de futebol e o meu sonho não foi diferente”, lembra. O começo da carreira foi precoce, aos oito anos. “Até os 12 anos, não pensava em jogar futebol de campo porque gostava mais de futebol de salão. Foi então que a prefeitura contratou um treinador e daí em diante comecei a treinar na grama. Apesar de não gostar, com três meses de treino um time da cidade vizinha veio atrás de mim. Foi quando comecei a me adaptar no campo”, conta. Até defender o time da capital, Deola suou bastante. “Em 1998 quando eu tinha 14 anos, fiz algumas peneiras, mas, sem sucesso. Um amigo da minha cidade que estudava Educação Física na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e também era árbitro de futebol, conseguiu que eu

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Fotos: Divulgação

Deola, do Palmeiras: espaço no Parque Antartica

fizesse testes no Guarani e Ponte Preta, mas também não deu certo”, conta. Após várias decepções, foi indicado por outro amigo para um teste no Atlético de Sorocaba. Passou e assim começou sua carreira como jogador profissional. Ele está no Palmeiras desde 2000. Apesar da promessa de futuro promissor, especialmente altos salários, nem todos conseguem manter a carreira, pois as pressões e dificuldades são grandes. Eduardo Henrique Ávila de Oliveira treinou por um ano e meio no time do seu coração: o Cruzeiro Esporte Clube. Mas, no seu caso as dificuldades falaram mais alto, e o garoto, hoje com 19 anos, abandonou o sonho. “Eu entrei no Cruzeiro sem conhecer ninguém. Em certo momento, essa falta de alguém que me apoiasse começou a pesar. É muita pressão para uma criança. Tinha 14 anos e já morava sem meus pais”, afirma. Para a família, a separação também é complicada. “Eu e meu marido sofremos muito quando ele quis ir para o Cruzeiro, afinal ele era uma criança e nunca tinha ficado longe de casa e da família, estava acostumado com a gente sempre por perto, cuidando, ajudando e protegendo. Ficamos com medo, afinal que mãe não fica preocupada ao saber que não terá mais o filho “debaixo da asa”, comenta Simone Ávila de Oliveira. Deola também já passou por isso e comenta: “No começo foi muito ruim ficar longe dos meus pais. Eu nem tinha completado 15 anos e já morava a quase 1000 quilômetros de distância deles. Mas isso é uma coisa que você começa a ter que lidar para não se prejudicar. Sei que este é um PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Junho/2010

dos grandes motivos de desistência de jogadores nas categorias de base, mas eu consegui”. Uma das características que melhorou com o passar dos anos e que chama muita atenção dos garotos são os benefícios. Salários e condições para exercer a profissão evoluíram muito nas últimas décadas. Jogadores dos anos 70 que ingressassem no futebol tinham direito, normalmente, apenas a um quarto para se alojar e uma ajuda financeira simbólica. Atualmente o jogador da categoria de base recebe um salário mínimo ou mais, além de todo apoio necessário dos departamentos que o clube disponibiliza, inclusive, às vezes, para sua família. A rotina de treinos também é pesada e exige muita dedicação e esforço, o que leva a riscos de desgaste físico e contusões. Os tipos mais comuns de machucados são distensões no tornozelo e nos músculos da perna, fratura de ossos e lesões nos joelhos. “Normalmente a preparação física é intensificada no início da temporada. Durante a semana temos o trabalho com bola e a parte tática e técnica. Quando estamos em concentração, há um horário certo para se alimentar e nos dias em que não estou concentrado, tento seguir as regras também”, conta Deola. A realidade dos jogadores também é muito diferenciada de um time para outro e entre as muitas divisões do futebol brasileiro. Ao contrário do que ocorre nos clubes grandes, que disputam a primeira divisão, em clubes do Acre, por exemplo, é comum jogadores possuírem outro emprego devido à necessidade de sustentar a família. São os atletas-mecânicos, serralheiros, pedreiros e também marceneiros.  37


Talento, técnica e muita força Preparação física e alimentação são cada vez mais valorizadas no futebol Luíza Mendo

lumendo.jornal@gmail.com

Mariana Blanco

marianablanco.jornal@hotmail.com

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iversão que atrai muitas pessoas no mundo, especialmente no Brasil, o futebol é um esporte bastante completo em relação ao esforço físico que requer. Sua prática, por mais prazerosa que possa parecer, exige sacrifícios, treino e, principalmente, muito preparo. O bom desempenho do jogador depende não só de sua habilidade, mas também de condicionamento e preparação físico. Os clubes profissionais nunca iniciam uma competição sem o que se chama de “pré-temporada”, período de treinamento anterior no qual um dos objetivos é colocar os atletas em forma. A ênfase nesta etapa é a avaliação e preparação física dos jogadores, atividade que além de tudo evita contusões durante os jogos. Os testes começam pela composição corporal, quando é feita a checagem de peso. Nos testes subseqüentes se detecta o percentual de gordura de cada atleta. Depois disso, passa-se a uma avaliação clínica, que inclui testes ergométricos, para avaliar a saúde do coração e dos pulmões. Segundo o fisiologista Sergio Camarda, profissional responsável pelo condicionamento físico, suplementação e orientação nutricional dos 38

atletas, a periodicidade dos testes completos depende do calendário de cada clube, mas eles devem ser feitos pelo menos duas vezes ao ano. No caso da análise da composição corporal, o acompanhamento é feito mensalmente para verificar se houve alteração no peso de cada jogador, já que este é um dos fatores que influencia no seu desempenho. Após os testes, o fisiologista detecta a intensidade do treinamento a ser definido para cada um. Assim, o avaliado passa para próxima etapa, que é acompanhada por um preparador técnico. Este trabalho é parte do contexto do esporte e visa o conjunto da preparação do atleta, a fim de que possa desenvolver plenamento a sua parte técnica. A partir daí são feitos os treinos específicos e globalizados, que variam dependendo da posição em que o jogador atua. Durante a competição também se analisam periodicamente as condições dos jogadorres, o que é fundamental para saber se pode suportar uma temporada ou um jogo desgastante e evitar lesões. “Os atletas basicamente têm o treino de condicionamento geral de resistência, força e velocidade. Perto de alguma competição, os treinos são mais específicos, de acordo com a demanda de cada posição e do sistema tático que o treinador vai utilizar”, explica o preparador técnico do Esporte Clube XV de Novembro de Piracicaba, Ronaldo Grimaldi. A preparação física também entra em ação em caso de lesões. Dependendo do caso, o fisioterapeuta pode definir um tratamento que permite acelerar a recuperação do jogador, para que não fique muito tempo fora dos treinos e jogos. O início do tratamento

sempre visa tirar a dor do atleta e nesta etapa são usados aparelhos e exercícios para a musculatura e equilíbrio. E não há como escapar da rotina de treinos, já que nos clubes profissionais, a boa preparação é condição básica para jogar. Todos são avaliados a partir de testes de velocidade, resistência, força, aeróbia e anaeróbia, e também

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Fotos: Luiza Mendo

Rotina dos atletas envolve treinos e muitos testes físicos

trabalho de cinética (força da perna). O jogador Taison dos Santos, 34, que está tentando voltar a ter uma carreira no XV há três meses conhece bem esta realidade. Ele ficou nove meses sem treinar e dez meses sem jogar. Por estar parado há muito tempo e em função da sua idade, ele necessita de treino específico, a fim de vencer os testes de condicionamento aeróbico ou chamado condicionamento cardio–respiratório, e um teste especifico para musculatura e força da coxa. “Muda muito a rotina. Preciso comer em horários certos, evitar gordura, fritura e refrigerante, acordar cedo, treinar todos os dias”, afirma o atleta. A alimentação correta é outro fator que favoreAlimentação balanceada é fundamental para bom rendimento PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Junho/2010

ce o melhor desempenho esportivo e evita carências nutricionais. A dieta do jogador deve ser equilibrada, ter qualidade, variedade e moderação. Pode-se assim, obter ganho de energia, reduzir doenças, cansaço, aumentar o tempo de atividade do atleta, recuperar os músculos depois do treino e melhorar a saúde geral. Segundo a nutricionista Cinthia Furlan, o almoço e o jantar devem ser realizados até quatro horas antes do treino, para que ocorra uma digestão total. Esta refeição deve ser rica em carboidratos, com pouca proteína e sem gordura. As pequenas refeições devem ser realizadas entre uma a duas horas antes do treino ou jogo e neste caso o lanche deve ser rico em carboidratos e com um pouco proteína. Para os jogadores terem sucesso em campo, a hidratação também deve ser feita periodicamente e para isso podem ser usadas bebidas isotônicas e principalmente água. Além disso, logo após o treino ou a

partida, os estoques de carboidratos devem ser repostos, para que a energia perdida seja recuperada. Os minerais e as vitaminas também precisam ser consumidos, pois previnem lesões, reduzem a fadiga do pós-treino e melhoram o sistema imunológico. Frutas e sucos naturais são ótimas opções. Os jogadores de futebol têm necessidade energética de pelo menos de 430 calorias diárias, baseada em uma dieta com quatro a cinco refeições por dia. Ótimas opções de proteínas são: iogurtes, carnes magras, leite, queijos magros (ricota, queijo branco, minas ou lights), presunto magro ou peito de peru, ovos, feijão, lentilha, ervilha, grão de bico, soja, barrinha de proteínas e etc. E para finalizar, mais uma vez, a água não pode faltar. “A ingestão de proteína, neste momento, também é importante, pois é o nutriente responsável pela reestruturação da massa muscular que pode ficar comprometida durante o treinamento ou jogo intenso”, explica a nutricionista. E ressalta: “A cervejinha não é liberada, nenhuma bebida alcoólica é liberada para atletas”. A restrição, segundo ela, ocorre por que o álcool se metaboliza a partir do carboidrato, e a presença da bebida na corrente sanguínea diminui a quantidade do glicogênio do sangue e do fígado.  39


Bastidores de uma Larissa Zazirskas

Alinne Tritto Schmidt alinne_ccrcc@hotmail.com

Amanda Dantas

mandikka_2003@hotmail.com

Larissa Zazirskas

larizazirskas@hotmail.com

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omingo, 18 de abril de 2010. Dia de jogo no estádio Barão de Serra Negra em Piracicaba. A bola vai rolar as dez horas da manhã. Muito antes deste horário a correria se instala, por que para que o espetáculo aconteça muitas pessoas precisam trabalhar, e muito. São profissionais de áreas muito distintas, que atuam nos “bastidores” do jogo e sem os quais não aconteceria. 6h30

O administrador do estádio Barão de Serra Negra, Luiz Pizani Neto, abre os portões para os primeiros funcionários, que já estavam aguardando no local. Responsável pelos serviços gerais no Barão é o primeiro a chegar. É ele que abre o campo e deve checar se eletricista, encanador, faxineiro e outros profissionais sob a sua supervisão já chegaram e estão trabalhando. Sua responsabilidade é observar, detalhadamente, entre outras coisas, se existe alguma falha no gramado, na pintura do campo e/ou do estádio, e se a limpeza dos banheiros foi feita. Com 32 anos de experiência, Pizani afirma que sua função é administrativa. Destaca, porém: “Sou fundamental para o jogo. Sem a minha presença a partida não acontece. Eu sou, praticamente, a última pessoa a sair do estádio e durante a partida tenho que ficar atento a qualquer problema que aconteça”. O administrador conta que muitas vezes passa sufoco, como quando durante a realização de um jogo ocorreu um acidente, na avenida Independência (onde se localiza o Barão) que provocou a queda de um poste de energia elétrica. “Todas as luzes do estádio se apagaram e tive que telefonar para a CPFL (Companhia Paulista de Força e Luz) e explicar a urgência de se resolver o problema”, lembra.

O sucesso de um jogo depende de uma legião de profissionais

Alinne S

7h00

Chegam ao estádio: o porteiro, o narrador esportivo, o fiscal responsável pelo credenciamento da imprensa, o gerente do XV de Piracicaba e o tenente da Polícia Militar, com seus subordinados. 40

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partida de futebol Alinne Schmidt

Schmidt

Larissa Zazirskas

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O narrador Mário Luis Trica comenta que no seu caso a maior preocupação, antes do jogo, é com a parte técnica. “Chego bem antes de começar, por que esses aparelhos dão muito problema e precisamos fazer tudo funcionar direitinho”, afirma. Ele explica que para fazer a transmissão precisa de um amplificador de linhas (para a comunicação entre o locutor e a emissora), uma maleta de retorno (para a rádio se comunicar com a cabine) e um aparelho de utilidade para o repórter que vai ficar em campo com o microfone sem fio. Instalada e verificada a aparelhagem é preciso testar a modulação de voz, para que o áudio dos locutores e comentaristas fique num mesmo volume, Antes do inicio do jogo Trica estuda a escalação para se familiarizar com o time e não trocar o nome dos atletas. Segundo ele, o maior problema é quando os jogadores entram em campo e ele não conhece o time adversário. “Eu marco pelo número da camisa e pelas características de cada um. Por exemplo: eu vejo que o número 5 é o Zé, e o Zé é mais gordinho; o número 8 é o João, e o João é mais moreninho; o número onze é o Pedro, e ele usa chuteira branca. Eu dou umas marcadas desse tipo, para não errar durante a transmissão”, explica. Na cabine, junto com narrador, fica um comentarista, que analisa o desempenho das equipes durante o jogo, no caso da rádio Educadora AM, Fábio Sterde Tedesco. O locutor deixa passar de dez a doze minutos de bola rolando e em seguida já pede a opinião do comentarista. “Antes do jogo, eu traço uma expectativa do que pode acontecer. No intervalo comento o que aconteceu e o que pode acontecer no segundo tempo”, fala Tedesco sobre o seu trabalho. Mas, apesar de todas essas precauções, erros acontecem. Trica conta um destes momentos: “Antigamente tinha uma repórter que fazia torcida usando um microfone com fio. Nós ligávamos os fios dela na mesma aparelhagem que a nossa. A repórter avisou de última hora que ia conseguir chegar a tempo para o jogo, porém quando ligou a rádio já estava no ar e durante a transmissão, não é aceitável qualquer tipo de erro. Como eu não podia parar o que eu estava fazendo dei instruções para o Fábio sobre o que fazer. Quando ele foi conectar os cabos tirou a rádio do ar e bem nessa hora o XV fez um gol. Resultado: a rádio não conseguiu transmitir o fato mais esperado pelos ouvintes”, lembra aos risos.  41


O fiscal da FPF (Federação Paulista do Futebol), Alcides de Carvalho, também chega ao estádio às 7h00. Ele é o responsável por fazer o credenciamento da imprensa que trabalha dentro do local, pois somente com a credencial os repórteres podem atuar no gramado. “Nós pegamos a credencial e damos um colete para eles trabalharem. Todos que ficam dentro do campo precisam estar identificados”, explica. Todos os portões que dão acesso ao gramado são fiscalizados, para evitar a entrada de pessoas não autorizadas. “Se alguém entrar pelo portão e agredir o árbitro é responsabilidade nossa. Se alguém pular o alambrado e entrar, é responsabilidade do policiamento”, salienta o fiscal. Outro profissional que chega ao Barão neste horário é Alaor Antonio Menegale, assessor do XV de Piracicaba. Seu primeiro compromisso é preencher a planilha de escalação oficial do jogo, que precisa ser entregue 45 minutos antes do inicio da partida. É o tempo máximo permitido pelo estatuto, caso contrário a equipe recebe multa para cada minuto de atraso. Outra penalidade prevista é pelo atraso para o time entrar em campo. Eles precisam entrar juntos com o juiz ou no máximo três minutos após. “Durante o jogo faço anotações dos cartões amarelos, cartões vermelhos e anoto substituições. O clube tem o auxiliar técnico que anota também essas informações, porém, o que manda é a sumula do quarto árbitro, que é uma súmula oficial. Ele não pode errar”, explica Menegale. O assessor também direciona para a sala de imprensa, para a entrevista coletiva, o treinador e os jogadores que tiveram maior destaque durante a partida. “Antes quando não tinha sala de imprensa, os repórteres quase entravam no chuveiro quando o jogador tomava banho para conseguir entrevista”, comenta ironicamente. O porteiro do estádio, Antonio Carlos Frigo, trabalha há 16 anos no Barão. “Fazemos uma reunião para escalar o pessoal que vai ficar em cada portão. Enquanto os policiais não liberarem, não podemos abrir para os torcedores entrarem. Durante o jogo eu permaneço aqui porque sempre chegam torcedores atrasados”, comenta. Frigo lamenta que na sua função não consegue acompanhar a partida e muitas vezes fica angustiado ao ouvir os gritos dos torcedores e não saber exatamente o que está acontecendo em campo. Para o tenente Cury, da Polícia Militar, que tem papel importante para a garantia da segurança de todos, a estratégia de planejamento começa dias antes da data do jogo. Para isso, conta com informações enviadas pleos responsáveis pela partida, como a estimativa de público, situação do time no campeonato, entre outras. Os policiais são distribuídos em vários pontos, como em viaturas em frente aos portões, no lado externo com motos, no interior do campo com cães e nas arquibancadas. Cury explica que a função do cão é de presença e intimidação, e que é bastante útil para inibir tentativas de pular o alambrado. 42

Entre as tarefas dos policiais está a vistoria no estádio. “Olhamos para ver se não tem nenhuma pedra, pau, ferro, ou algum tipo de material que possa ser arremessado no campo. Somente quando a vistoria termina e tudo está em ordem nós liberamos a entrada dos torcedores”, explica. O gerente administrativo do XV de Piracicaba, João Braga, designa as tarefas para os funcionários. Ele é responsável pelo controle salarial, pelo uniforme, pelas verificações da estrutura do estádio, por entrar em contato com a polícia militar, ou seja, pela coordenação geral da equipe e tem uma visão clara de sua responsabilidade. “Eu coordeno as funções gerais que devem ser cumpridas na administração de um estádio de futebol.” Até o intervalo do jogo, Braga contabiliza os ingressos, vendidos até o momento, e dessa maneira calcula a quantidade de torcedores que compareceram ao estádio. Quando termina a partida, fica uma hora a mais, para efetuar o pagamento de todos os jogadores e funcionários. 8h00

É a vez de José Antonio do Amaral Caprânico, bombeiro civil há 20 anos. Ele distribui os extintores nos lugares marcados e acessíveis ao público, nas partidas à noite verifica as luzes de emergência, e observa atentamente as movimentações no estádio, principalmente nas arquibancadas.

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Fotos: Larissa Zazirskas

nhor permaneceu de um dia para o outro e só fomos encontrá-lo quando seus familiares sentiram sua falta e foram procurar no estádio, local onde sabiam que ele esteve presente”, conta Caprânico 9h00

Médicos, assistentes técnicos e vendedores ambulantes atuam antes, durante e depois do jogo

Chegada do juiz Douglas Willian, formado pela Associação de Árbitros de Piracicaba e Região, que atua há seis anos. Ele explica que existem dois tipos de arbitragem: a armadora e a profissional e que nos dois casos é fundamental a boa comunicação entre juiz e assistentes de campo. “Se um assistente erra, nós árbitros, somos os responsáveis, pois acatamos suas decisões”, afirma. Antes do inicio da partida, sua primeira tarefa é comunicar aos assistentes a maneira como gosta de trabalhar e todos os sinais que usa durante o jogo. Além disso, deve verificar a presença de ambulâncias e o ambiente do campo em geral. Willian relata que no intervalo da partida árbitros e assistentes se reúnem no vestiário para discutir os lances duvidosos do 1º tempo. No final, fazem a súmula do jogo, com a anotação dos gols, cartões amarelos e vermelhos e outros detalhes. 9h15

Finalmente, os portões são abertos aos torcedores. Policiais, bombeiros e outros profissionais já estão espalhados pelo campo. 10h00

O bombeiro civil é responsável pela prevenção de incidentes, já o bombeiro militar fica no batalhão e é chamado quando o acidente já aconteceu e precisa ser solucionado. A presença dos bombeiros civis é uma exigência da policia militar e nenhum evento começa sem que os mesmos estejam no local. “Somos em quatro bombeiros e cada um de nós possui rádios comunicadores, pelos quais dialogamos durante toda a partida, dependendo da expectativa de público, esse número aumenta” explica Caprânico. Ao final da partida eles recolhem o material e fazem uma varredura em todo o estádio. Estes profissionais também viveram muitas experiências e tem histórias para contar. Uma delas envolve a morte de um torcedor no estádio. “Num determinado jogo, um zelador que trabalhava no albergue noturno faleceu assistindo ao jogo. O pessoal achou que ele estava alcoolizado e ele foi deixado no Barão. O sePAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Junho/2010

Começa o jogo. Enquanto torcedores vibram nas arquibandas e torcem pelo sucesso de seu time, uma legião de pessoas continua trabalhando. São gandulas, juiz, bandeirinhas, jogadores, paramédicos, policiais, vendedores ambulantes, bombeiros, assistentes, radialistas, repórteres, bilheteiros. Presentes, muitas vezes não são notados, mas se estiverem ausentes certamente farão falta e eventualmente até inviabilizam a disputa. 11h48

Fim do jogo. Termina mais uma partida de futebol, mas muita gente ainda trabalha. Policiais se dirigem ao portão para acompanhar a saída dos torcedores, radialistas fazem seus últimos comentários sobre a partida, juiz, bandeirinhas, jogadores e técnicos descem para os vestiários e bombeiros se preparam para fazer a varredura no campo. 13h30

Os últimos funcionários deixam o estádio e os portões são fechados. Ah, o jogo, foi 1 a 0 para o XV de Piracicaba sobre o RedBull, em partida válida pela série A3 do Campeonato Paulista de Futebol.  43


Apesar do preconceito e dificuldades, futebol feminino conquista espaço

Com a bola,

as mulheres Raphaela Spolidoro

raphaela.spolidoro@gmail.com

Natali Carvalho

natali.jornal@gmail.com

F

alar de futebol feminino não é novidade nem neste século, nem no passado. No entanto, não faz muito tempo que as mulheres conquistaram espaço neste território tido como essencialmente masculino. A presença da mulher no esporte é mais antiga do que se pensa. A primeira partida de futebol feminino aconteceu em Londres, no ano de 1898, entre as equipes da Inglaterra e Escócia. No Brasil, a primeira partida foi realizada em São Paulo, em 1921, e reuniu catarinenses contra tremembeenses. O avanço feminino, no entanto, já enfrentou oposição. Em 1964, o CND (Conselho Nacional de Desportos) proibiu essa prática no Brasil, decisão que demorou 17 anos para ser revogada. Nas olimpíadas, a modalidade só foi admitida em 1996, ano em que a representação brasileira conseguiu o quarto lugar e ficou perto de sua primeira medalha, resultado que se repetiu em 2000, nas Olimpíadas de Sydney. Entre os obstáculos para o crescimento da modalidade está o preconceito, ligado, por exemplo, ao desnuda44

Vanessa Marques, jogadora do XV (ao lado) e Isabela, fã incondicional do SPFC

mento do corpo e uso de maquiagem, situação que chegou a impedir que elas freqüentassem estádios, como no caso envolvendo o Conselho de Torcedores Russos, que proibiu a venda de ingressos às mulheres. O sociólogo Fábio Santos conta que a partir do momento em que as mulheres começaram a jogar futebol, a repulsa nasceu por conta do esporte ser visto como atividade física bruta e até mesmo violenta. “Os equipamentos eram destinados a homens, o campo, os horários de jogos, enfim tudo era voltado para os eles. Não havia espaço para o desenvolvimento de equipes femininas porque os ‘professores’ não aceitavam treinar mulheres”, afirma. Santos conta também que houve um tempo em que a rejeição foi completa e aquelas que insistiam eram vinculadas à prostituição ou rotuladas de “sapatão”. Mas, com o passar dos anos e devido ao espetáculo dos jogos, patrocinadores brasileiros começaram

a ver um nicho de mercado e possibilidade de lucro com a competição feminina, inclusive por que ganhou incentivo em outros países. Neste aspecto, o avanço na área mercadológica foi decisivo. “O preconceito está ultrapassado. Alguns canais de televisão já transmitem jogos de mulheres. As marcas que produzem materiais esportivos estão adaptadas também para medidas femininas. O espaço só tende a aumentar e se solidificar com a chegada de novos patrocínios para esta atividade e, principalmente, elas estão mostrando que é possível manter o lado feminino”, afirma o sociólogo. Início A jogadora da equipe de futebol feminino do XV de Novembro de Piracicaba Vanessa Marques, xx, conta que o interesse em se tornar jogadora surgiu porque passou boa parte da infância com o irmão e participava das PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Junho/2010


brincadeiras dele, na rua ou no próprio quintal da casa. O gosto pelo esporte, segundo ela, foi reforçado nas aulas de educação física da escola. “Participei de diversos campeonatos escolares, até que em 2001, através de uma amiga, surgiu a oportunidade de treinar futsal com o técnico Rogério Dias. Foi aí que comecei a participar de campeonatos na cidade e região. Hoje jogo campo e faço parte da equipe de futebol feminino do XV de Piracicaba”, conta a jogadora. Vanessa acha o preconceito, dentro ou fora das quatro linhas, abominável, mas admite que o problema existe. Ela conta que passou por diversas situações que mostram uma visão estereotipada do futebol feminino. “Ao saberem que jogo futebol é comum virem em seguida com a frase: ‘Nossa, não parece!”. A atleta dá de ombros e garante que não desiste. “Vivemos numa sociedade machista desde os seus primórdios, muita coisa tem mudado, mais ainda há muito que melhorar. Essa mudança precisa vir tanto da sociedade quanto de nós, pois devemos trabalhar e nos preocuparmos com a imagem que passamos do futebol feminino.” Fotos: Raphaela Spolidoro

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Torcida Isabela Gaeta é torcedora fanática do São Paulo Futebol Clube. A primeira vez que assistiu a um jogo foi em 2002. Acompanhada pelo pai, freqüentador assíduo dos estádios, viu o seu time do coração enfrentar o Vasco da Gama, em pleno Morumbi.

Em sua opinião, no futebol a tradição é passada de pai para filho, mas no caso das mulheres a situação pode ser diferente. “Elas começam a paixão cedo por causa da mídia explícita e não é só através da televisão. A influência de parentes também pesa na escolha”, diz Isabela. Ela explica, entretanto, que entre as mulheres outros fatores podem influenciar, como a paixão pelo namorado. “Infelizmente esse é o motivo mais comum de todas, porque na maioria das vezes a namorada deixa de torcer depois do fim do namoro e muda de time.” A torcedora freqüenta estádios há aproximadamente oito anos e diz que nunca sofreu preconceito. Ela acredita que a atitude está na boca de pessoas que não entendem o verdadeiro conceito de torcer pelo time e que, muitas vezes, parte dos próprios torcedores ao não levarem suas namoradas ou filhas para os estádios por acharem que é esporte de homem. Na sua opinião, eventuais ofensas ou preconceitos à mulher dentro do estádio são decorrência da postura que elas impõem. “Os jogos do São Paulo que freqüento hoje, junto com torcida organizada (ou uniformizada), só me trazem alegria e prazer. Mesmo estando presente no dia-a-dia dos jogos, mantenho meu ponto crítico e sei que as organizadas não são muito bem vistas. Mas tenho minha opinião diante disso e não dá para negar que quem consegue chamar mais atenção, agitar e incentivar o time somos nós, afirma. Caroline Caldari Antonicelli também é fanática por futebol e conta que a paixão começou quando era criança. Por morar com os primos e brincar com eles, gostar do esporte foi conseqüência. O primeiro jogo que Caroline assistiu, junto com o pai aos cinco anos, foi do XV de Piracicaba, no estádio Barão de Serra Negra. Desde em 2005 ela faz parte da organizada Comando Feminino Esquadrão, do XV de Piracicaba. Ela também garante que nunca sofreu preconceito por isso. “Torcida organizada é totalmente o contrário do que muita gente pensa. É apenas a união de pessoas que vão aos estádios pelos mesmos ideais”, enfatiza.  45


PRORROGAÇÃO

Dribles e Casualidades Belarmino Cesar Guimarães da Costa * Em determinados instantes um lance magistral pode definir o destino humano e o resultado de uma partida, tal como na imagem que sintetiza o filme “Match Point”, de Woody Allen, cuja cena emblemática é o volteio da bola de tênis na rede: dependendo do seu deslocamento incerto, que se passa pelo hiato entre a conquista e o fracasso derradeiro, magicamente existe o instante da esperança e da casualidade. É a ilustração que me leva à cidade de São Carlos quando, em 6 de março de 1968, ladeado pelo meu pai corinthiano e meu avô paterno santista, de quem herdei o nome e a noção de afeto, o Corinthians encerrava um longo tabu de uma década, ao vencer o Santos, no Pacaembu, pelo Campeonato Paulista. Gol de Paulo Borges era o som estridente que vinha da emissão radiofônica e, a partir daquele dia, as cores preta e branca passariam a significar simbolicamente a bola que atravessaria a rede do tempo. É da longa passagem do tempo que viria, numa escolha incerta no momento de exuberância de Pelé, a comemorar o primeiro título: em 1977, depois de amargar o vice-campeonato contra o Palmeiras, na final do Paulista de 74, com Rivelino em campo. Outro volteio incerto da bola do tempo se daria na final do Brasileiro, quando em Porto Alegre, em 76, a vitória do Internacional frustraria a expectativa do título, um sonho vivido na memória de meu pai, em 1954, no ano do Centenário da Cidade de São Paulo. Aprendi que futebol é tecido pela emoção, daí nunca me interessar pelos campeonatos europeus ou com times que não trazem memórias de lugares e histórias de vida. Então, mesmo sem títulos em minha infância e início da juventude, e com os sonhos constantemente interrompidos na Taça Libertadores, a condição de ser corinthiano e entender que futebol não é a pátria de chuteiras, e sim um traço da identidade cultural, faz com que este esporte seja compreendido para além dos resultados pragmáticos. Se sofrimento e superação sempre foram estigmas da alma alvinegra, não se olvidariam também as glórias: é o time que mais conquistou o Paulista, tem quatro Brasileiros, três títulos da Copa do Brasil, sendo ainda campeão do primeiro mundial reconhecido pela Fifa!

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Desde as memórias mais remotas, além de acompanhar a participação do Corinthians nos diferentes campeonatos, vivenciei inúmeras situações de praticar o futebol, inicialmente como goleiro: jogando na Escolinha do Vasco da Gama, em Rio Claro, e no time do Grupo Escolar Vila Indaiá, quando em 1972, no antigo Estádio Municipal, o título do infantil era revestido de sonhos de ser atleta. Antes de completar a maioridade, e com isto a razão, deixei o gol e fui para a ponta esquerda (camisa 11): velocidade, dribles incertos e habilidade mediana, eis uma combinação explosiva para fazer gols improváveis, lances inesperados e, numa mesma proporção, desperdiçar situações que até mesmo o atual ataque do Palmeiras concluiria facilmente. Como o futebol é constituído de “dribles e casualidades”, e depois de percorrer os campos de futebol amador pelo “Asa Futebol Clube”, e nas pelejas no Ginásio de Esportes, em Rio Claro, um acontecimento inusitado e, como se fosse algo próximo do realismo fantástico, ocorreu em meados dos anos oitenta: jogava pelo time dos jornalistas do interior contra a capital, num encontro de profissionais, em Piracicaba, quando na arquibancada se encontrava João Saldanha, técnico da seleção brasileira que montou a base do time da Copa de 70, no México. O regime militar impossibilitou sua continuidade na seleção, talvez tenha derivado daí o silêncio de uma convocação nunca cumprida, apesar dos cinco gols anotados naquele jogo entre jornalistas. A partida assistida por João Saldanha (que também nasceu em 12 de julho) habita a memória e, mesmo que não haja notícia que o torne fato, um aspecto é insofismável: no futebol, o sonho pulsa realidade! Belarmino Cesar Guimarães da Costa é jornalista, doutor em Educação e diretor da FACOM/Unimep.

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Nº 65 Junho/2010

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