REVISTA MARIANDO NOS LIVROS #1

Page 1

MARIANDO NOS LIVROS PRIMEIRA EDIÇÃO


QUERIDO LEITOR

Redação Revisão Projeto gráfico Maria Carolina Silva de Sousa

Contatos: mariandonoslivros.blogspot.com.br mariandopeloslivros@gmail.com instagram/mariandonoslivros facebook.com/mariando-nos-livros

A revista MARIANDO NOS LIVROS é uma publicação semestral independente. É proibida a reprodução total ou parcial desta publicação para qualquer finalidade, sem prévia autorização.

Ler é um hábito que faz parte da vida de muitas pessoas, seja para verificar alguma informação ou se aventurar por uma obra fictícia. Embora possa ser considerada uma forma de aprendizado, é uma realidade proporcionada a uma parcela da população brasileira, pois segundo a última pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, estima-se que 104,7 milhões de brasileiros (ou 56% da população acima dos 5 anos de idade) leram partes de um livro nos últimos três meses. Felizmente, os jovens fazem parte da estatística sempre crescente de leitores, algo visível entre diversas editoras, seja pela tiragem de livros vendidos ou pela agitação em suas redes sociais. Um exemplo perfeito é a obra “Você tem a vida inteira” do autor carioca Lucas Rocha, que recebeu uma nova edição após sua publicação em terras estrangeiras. O fato deste livro fazer muito sucesso, não se deve apenas a escrita maravilhosa de Lucas, mas também por apresentar de forma simples e didática, um assunto importante como o HIV para um público jovem que se encontra atuante ou simpatizante ao movimento LGBTQIA+. Deste modo, torna-se importante continuar a existir projetos e ações de incentivos à leitura, como o trabalho desenvolvido pela equipe do Sem Spoiler, criado pelo Alfrêdo Neto em 2018. Hoje, eles são uma grande fonte de atualizações literárias, além de incentivadores de autores independentes e produtores de conteúdo. Assim, como pontapé para as próximas publicações da revista MARIANDO NOS LIVROS, convido você, querido leitor, a desbravar os conteúdos especiais que trouxe para esta primeira edição. Espero que gostem, pois tudo foi feito com muito amor e entusiasmo. Boa leitura, Maria Carolina


SUMÁRIO

NOVIDADES PAG.5 PAG.6

ENTREVISTA CONVIDADO PAG.8

PAG.10

INDICAÇÕES SNEAK PEEK PAG.11



AGOSTO

Fonte: Divulgação.

Fonte: Divulgação.

NOVIDADES

SETEMBRO

Cartas Para Martin Autora: Nic Stone Tradução: Thaís Paiva Editora: Intrínseca

Tipo uma história de amor Autor: Abdi Nazemian Tradução: Vitor Martins Editora: HarperCollins Brasil

De forma comovente e impactante, a autora nos presenteia com a história do jovem Justyce McAllister, que após ser agredido e detido injustamente, começa a observar sua vida com um olhar mais crítico. Assim, inicia um projeto: escrever cartas para Martin Luther King Jr., um dos mais importantes ativistas políticos pelos direitos dos negros, símbolo da luta contra a segregação racial nos Estados Unidos. Livro necessário e importante.

Um young adult LGBTQIA+ que traz uma jornada de autoconhecimento belíssima e comovente entre três jovens: Reza, Judy e Art. Em meio ao final da década de 80, com o surto da AIDS e a perseguição contra homossexuais, o autor nos apresenta com muita gentileza e sabedoria, uma história que fala de amor, amizades, laços familiares, autoaceitação e respeito ao próximo. Leitura mais do que obrigatória para todos nós.

TRECHO: “Você não pode mudar a forma como as outras pessoas pensam e agem, mas você tem controle total sobre você. No final das contas, a única questão que importa é esta: se nada no mundo mudar, que tipo de homem você vai ser?”

TRECHO: “Não se esqueça de mim. De nós. Todos nós. O que fizemos. Pelo que lutamos. Nossa história. Quem somos. Eles não vão ensinar sobre nós nas escolas. Não querem que tenhamos uma história. Não nos veem. [...] Você precisa fazer com que eles nos vejam.” REVISTA ML | PÁGINA 5


ENTREVISTA

NOTAS DO ENTREVISTADO

lhante na mesma rede em que eu pudesse me inspirar. Quando o conteúdo começou a tomar forma, e o Sem Spoiler ganhou uma identidade própria, entendi que era algo promissor. ML: Foi difícil começar a postar os conteúdos com assiduidade? F: Sim. O mais difícil foi conciliar a quantidade de conteúdo diário que eu queria produzir e a administração do perfil com minha rotina diária. Eu não sabia por onde começar e sinto que estou aprendendo até hoje. Agora, já temos uma grande rede de contato e muitos pedidos de divulgação, então dificilmente falta assunto.

Foto cedida pelo entrevistado

ML: Qual foi a sua principal motivação para faO “booktwitter”, como é chamada a co- zer do SS algo que pudesse lhe trazer retorno munidade de leitores na rede social, sempre foi financeiro? engajado na divulgação de suas obras preferidas. Contudo, ainda não existia um perfil que pu- F: O mundo das finanças pessoais. Comecei a desse causar tanto impacto quanto o conquistado me interessar mais sobre o assunto um pouco pelo Sem Spoiler (SS), criado em 2018 por Alfrê- antes de criar o perfil. Acompanhava religiodo “Fred” Neto, um pernambucano muito simpá- samente a Nathalia Arcuri (canal Me Poupe!). tico que sempre traz ótimas dicas literárias em Apesar de discordar de boa parte das opiniseu perfil pessoal (@fredreadit). Hoje, com seus ões dela hoje, reconheço que foi alguém immais de 96 mil seguidores, o portal apresenta portante para minha formação. Foi no momento atualizações diárias com notícias, lançamentos e em que vi que podia ganhar dinheiro com aquiconteúdo exclusivos para seu público. Convidei o lo que eu já fazia de graça na internet há meFred, que gentilmente aceitou o convite, para um ses que pensei em profissionalizar o conteúdo. pequeno bate-papo sobre a criação e curiosidades dos bastidores do SS. Confira: ML: Como é a rotina e relação entre o “staff” do SS? Existe a preocupação de ter-se uma equipe MARIANDO NOS LIVROS: Como você pensou mais diversificada? na criação do Sem Spoiler (SS)? Já era algo que tinha em mente antes? Quais foram suas motiva- F: Toda a equipe Sem Spoiler se dá bem, há ções? um clima de amizade entre todos. Estamos diariamente em contato, em geral pelo Telegram, FRED: O Sem Spoiler para mim, a princípio, para definir as pautas, avisar as últimas novidaera apenas mais um hobby na internet. Sem- des e criar o conteúdo. A preocupação com a pre me interessei pelo mercado editorial e pe- equipe diversificada existe, e é algo que dislos últimos lançamentos, então achei que era cutimos com frequência. Ainda preciso resoluma boa plataforma para falar sobre aquilo ver questões burocráticas antes de aumentar a que eu gostava. Não tinha grandes planos, até equipe, mas a expectativa é de que pelo menos porque na época não havia outro perfil seme- a equipe de freelancers cresça nesse sentido.


ENTREVISTA

ML: Em seu perfil pessoal, você sempre levanta a bandeira da leitura por meio do eBook. Poderia, por favor, nos falar um pouco mais sobre este assunto e se acredita que o mercado para a leitura digital tende a crescer. F: O eBook é rápido, prático e, geralmente, muito mais barato que o livro no formato físico. Ainda há uma resistência considerável quanto ao formato, e o público de “fora da bolha” da literatura precisa ser educado a respeito das maneiras legais de consumir livros digitais. Quando você soma a isso a aposta das editoras em edições de luxo e com brindes, dá para entender porque o formato é pouco atrativo. De qualquer forma, vimos um crescimento considerável nas vendas nesse período pandêmico. Com sorte, essa tendência continuará. ML: Se sente satisfeito pela forma como o SS cresceu neste último ano ou entende que ainda existe muito trabalho a ser realizado? F: O ano de 2020 foi uma jornada intensa. Nem nas minhas maiores metas eu imaginei que estaríamos, no meio de setembro, nos aproximando da marca de 100 mil seguidores. Os números não são tudo, claro, e também me orgulho do trabalho que estamos fazendo — as entrevistas com autoras como Maggie Stiefvater e Becky Albertalli, as parcerias pagas com editoras como Companhia das Letras e Grupo Editorial Record, e até mesmo a influência na venda dos direitos de um livro estrangeiro após o interesse do nosso público. Tem sido uma jornada gratificante e com certeza há muito a ser feito ainda, mas estamos trilhando um bom caminho. ML: A partir da sua fala sobre o processo de pensar em profissionalizar o SS, tem alguma dica de organização e foco para quem deseja ter seu próprio negócio ou ter maior disciplina para cuidar de um blog? F: Antes de tudo, é necessário que você acredite naquilo que você faz. Se faz sentido e te motiva, já é um bom começo. Todavia, só isso não basta,

é preciso pensar também como você vai alcançar seu objetivo maior com esse projeto ou negócio. Com quem você pode contar? Por onde você vai começar? Qual seu público? Como chamar a atenção das marcas? Quanto tempo você pode dedicar diariamente a esse projeto? Quanto você está disposto a investir nele, financeiramente falando? Como você vai reaver esse investimento? Qual sua meta de crescimento? Quais seus valores, princípios e objetivos? São muitas as perguntas. Acredito que com esse planejamento e foco, fique mais fácil de chegar aonde você deseja. ML: Quais são os próximos passos para o SS? F: No momento, o que mais discutimos é a criação (finalmente) do site do Sem Spoiler. É algo que deve demorar, porque certamente será o maior investimento financeiro que já fizemos, então tudo precisa estar organizado nos mínimos detalhes. Esperamos direcionar nossas entrevistas e artigos inéditos para lá, gerando um conteúdo pouco encontrado em outros sites do ramo. ML: Agradeço muito por sua participação. Por último, poderia nos indicar três livros que são especiais para você e descrever o porquê de suas escolhas. F: “Um milhão de finais felizes”, porque é preciso encontrar esperança no meio do caos. “Uma coisa absolutamente fantástica”, porque é a melhor história possível sobre internet, fama e radicalismo político. “Such a fun age”, porque esse livro não saiu da minha cabeça desde que o li.

CONHEÇA E ACOMPANHE O SS NO TWITTER!

REVISTA ML | PÁGINA 7


CONVIDADO

Ao entrar no esProcesso de escrita Mais do que palavras tande da Bienal do Livro enfileiradas podem 2018, me deparo com um Você tem a vida autor panfletando seu liinteira demorou oito meses expressar vro de estreia chamado para ficar pronto. Todos os “Você tem a vida inteira”. Numa cafeteria na região da Paulista, três personagens possuem A história apresentava três características do autor, antes da pandemia, o autor de young personagens - Ian, Victor que utiliza sua própria viadult com temática LGBTQIA+ Lucas são de vida para criar e Henrique - que têm suas Rocha, compartilhou comigo alguns uma proximidade mais ínvidas mudadas quando é detalhes sobre sua vida pessoal e o tima com seus leitores. As dado um diagnóstico de processo de produção e divulgação de primeiras ideias do livro HIV. Intrigada pelo plot e por se tratar de um livro “Você tem a vida inteira”, surgiram quando Lucas young adult (jovem adulto) trabalhava em uma revista seu livro de estréia o comprei e fiquei na exde saúde do Centro Brasipectativa de iniciar a leitura. Qual não foi minha surpresa leiro de Estudos de Saúde (Cebes) no mesmo prédio da ao terminar em apenas um dia e sentir um misto de emo- Fiocruz, entidade não-governamental que está sempre a ções pela história sensível e escrita envolvente. Deste desenvolver formação e qualificação de recursos humamodo, retornei no final de semana seguinte para elogiar nos para o SUS. Ao realizar a revisão de um artigo sobre o autor e dizer que havia virado sua fã nº1. Foi assim que HIV/AIDS, percebeu que o conhecimento acerca do concomeçou minha relação entre leitora e escritor com Lucas tágio e diagnóstico, mesmo com os avanços científicos, não era algo de entendimento pleno de uma boa parceRocha. la das pessoas, especialmente ao notar os comentários Carioca de nascença, mudou-se e viveu em Bra- que provinham da falta de discernimento sobre o assunto. sília dos 3 aos 7 anos, quando retornou ao Rio de JaneiA partir desta ideia de levar informação por meio ro, onde morou até o seus 26 anos. Hoje, trabalha como bibliotecário no extremo da região leste de São Paulo, re- dos livros, começou a produzir a obra que se tornaria um alizando projetos para públicos de diversas faixas etárias. dos sucessos de 2018. Com o objetivo de tornar sua hisSempre tido pelo sua família como um bom moço, sentia tória mais acessível e imersiva ao tema, optou por colocar de seus pais a cobrança em ter um desempenho escolar três perspectivas que mostram os mitos e verdades sobre exemplar. Considerava-se introvertido, o que dificultava a sorologia. Por isso, o trabalho de campo foi essencial, seu envolvimento com outras crianças. Foi na quinta série, pois parte das referências que encontrava eram datadas por meio de sua professora de ciências, que adentrou e sempre com um teor muito técnico. Na ficção, pouco no universo dos livros, quando ela lhe emprestou os livros se era visto. Neste ponto, torna-se clara a importância da série Harry Potter de seu filho. Depois disto, Lucas foi da leitura sensível, especialmente quando é um assunto construindo seu repertório, passando por autores como delicado que representa uma realidade que precisa ser Agatha Christie, Machado de Assis, Fiódor Dostoiévski discutida e não mais estigmatizada. e Mary Shelley. Quando houve o “boom” do Orkut, conheceu diversas comunidades de escritores de fantasia e ficção científica, gêneros literários que passou a consumir e o inspiraram a escrever sua primeira história. Nela, o leitor acompanha um lobisomem que acorda ao lado da esposa morta e buscar descobrir o que aconteceu. A partir deste romance e de sua busca pela publicação, conheceu sua agente Gui Liaga, que o introduziu aos livros young adult - que já faziam muito sucesso no mercado exterior. Apesar de apresentar ressalvas iniciais em conhecer o gênero, acabou por se apaixonar, pois enxergou uma forma positiva e aberta de contar suas histórias.

Sentar, pensar e digitar Ao questioná-lo sobre como funciona sua técnica de escrita, Lucas conta que quando escreve é um processo automático, literalmente senta e sai escrevendo. “Produzo um texto simples porque quero que a pessoa entenda, mas sem deixar de despertar alguma sensação, mesmo que seja de raiva (risos)”. Em suas outras obras como nos contos “Cinco dias para o fim do mundo” e “A Aventura do Peru de Natal” (da coletânea Todas as cores do Natal) é possível identificar tal posicionamento e talento do autor. Inclusive, neste ponto da conversa, Lucas conta que


CONVIDADO

os clássicos tiveram muita influência em seu repertório e que são leituras válidas de serem feitas. “Parafraseando o Ítalo Calvino: “um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer”. Quando terminei de ler Dráculo, por exemplo, percebi que não era um bicho-papão como eu imaginava”. Mas, também deixa claro que “a leitura não é um modo de sofisticação. Para mim, ler nada mais é do que você assistir a um filme sem fala”.

Rede de apoio Para quem já acompanha as redes sociais do autor, sabe que ele é amicíssimo de Victor Martins, autor de “Quinze Dias” e “Um milhão de finais felizes”. A rede de amigos que formou ao longo dos anos e dos encontros em eventos literários faz toda a diferença na vida de Lucas. Ele conta que conheceu Martins quando pediu para que ele fosse seu leitor beta (uma das primeira pessoas a ler o seu livro), no que ele recebeu a seguinte resposta: “Só se for LGBT!”. A partir daí surgiu uma amizade cheia

publicação do livro em solo americano foi fechada. Contudo, antes do livro de fato ter sido finalizado para publicação, houve algumas mudanças para adequação do público, como as idades dos personagens para que correspondesse ao grupo etário que se destina o young adult. Mesmo com estas adaptações, Lucas disse que a única coisa que ele “bateu o pé” para não ser modificado foi a referência ao Cazuza, um símbolo para nossa cultura e na visibilidade das pessoas soropositivas. No dia 2 de junho deste ano, Where We Go From Here, título inglês escolhido para o livro, foi publicado com tradução de Larissa Helena. Com sua segunda edição nacional a venda em livrarias e plataformas e-commerce, Lucas já está na produção de seu próximo livro, o que deixa seus leitores (me incluo aqui) ansiosos por ver mais do que ele pode nos presentear. De fato, seus livros são oportunidades para nos deixar ainda mais envolvidos em histórias com representatividade e que dialogam com nosso mundo factual.

“Leitura não é um modo de sofisticação. Para mim, ler nada mais é do que você assistir a um filme sem fala”. de parceria. Lucas diz que ter esta de rede apoio, especialmente entre os autores independentes é muito fundamental. “A gente não precisa competir para ter público. Podemos nos unir, porque o leitor que lê um, vai querer ler o outro”.

Lançamento em solo americano O pontapé para o lançamento nos Estados Unidos surgiu na própria Bienal do Livro 2018, quando o autor estadunidense David Levithan, que participou da tarde de autógrafos do evento, pediu para a agente literária de Lucas algumas obras young adult brasileiras. Neste combo estava justamente Você tem a vida inteira, sendo o primeiro do monte recrutado. Assim que chegou ao selo PUSH da Scholastic Press, dedicado à Literatura para Jovens Adultos e LGBTQI+ (no qual Levithan é o fundador), o editor responsável para análise foi Orlando dos Reis, que tem pais brasileiros. Segundo Lucas, quando Reis leu as primeiras páginas, ficou apaixonado pela escrita e história, então como forma de divulgar dentro da editora, traduziu e imprimiu os três primeiros capítulos e saiu distribuindo. Então, em outubro do mesmo ano, a

ADQUIRA O SEU EXEMPLAR!

REVISTA ML | PÁGINA 9


Fonte: Divulgação.

Fonte: Divulgação.

INDICAÇÕES

GIOVANA TAVEIRA AUTORA DE ENTRE WILL & VODKA

NATALIA SAJ AUTORA DE QUINTO ESTÁGIO

“Eu poderia citar vários livros que tocaram minha vida, mas vou escolher um que me marcou no sentido mais afetivo possível. Quando eu estava no Ensino Fundamental II, precisávamos ler alguns livros para as provas bimestrais, e eu não gostava de ler. Então minha mãe, na maior da paciência, lia o livro comigo em voz alta. Eu me lembro de me sentar na cama com ela, bem do lado, e ir acompanhando com os olhos o que ela ia falando. Era um momento nosso. E teve esse livro, o que mais gostamos de ler juntas: A Magia da Árvore Luminosa, da coleção Vagalume. Foi o primeiro livro que fez eu me conectar com os personagens, que me deu vontade de viver com eles a aventura, que me fez chorar e pedir por mais. É o livro que ainda discutimos juntas e falamos piadinhas internas. Um dos meus livros favoritos da vida.”

“Belas Adormecidas. É muito difícil ter um livro de terror com críticas sociais sobre o mundo machista em que vivemos, muito menos de um escritor homem. Muito menos de um best-seller que é ícone em seu gênero e tem mais de cinquenta anos de sucesso no mercado. Um mundo em que todas as mulheres dormem, e os homens se desesperam. O ódio, o abuso, a negação, tudo funciona em uma alegoria perfeita do que vivemos como mulheres: somos abusadas, agredidas, mortas, porque, por alguma razão, não correspondemos aos instintos primitivos (não só sexuais) dos homens. É aterrador, mas poético. É sobrenatural, mas ainda, dramático, como todo bom livro do mestre do terror é. Por isso, Belas Adormecidas, escrita pelo rei Stephen King e seu filho Owen King, foi um ponto fora da curva, e ao passo que me liberou gatilhos e me fez chorar demais, é um livro arrebatador, que me deixou mais do que feliz em lê-lo: me deixou esperançosa de que, talvez, nossas vozes não estejam gritando no vazio.”

CONHEÇA OS LIVROS DAS AUTORAS CITADAS.


da de Elisabeth tomou ar de confissão.

SNEAK PEEK TRECHO DO LIVRO O FEITIÇO DOS ESPINHOS MARGARET ROGERSON “O sussurro se infiltrou em sua mente, tão esquisito e inesperado quanto o toque frio e gosmento de um peixe debaixo da água do lago. Elisabeth se sobressaltou e olhou para cima. Se a Diretora tinha ouvido a voz, não o demonstrou. — Aprendiz, eu te vejo… Elisabeth engasgou. Ela fez o que a Diretora instruíra e tentou ignorar a voz, mas era impossível se concentrar em qualquer outra coisa com tantos olhos a observando, acesos, sinistros e inteligentes. — Olhe para mim… olhe… Lentamente e com firmeza, como se atraída por uma força invisível, Elisabeth começou a abaixar o rosto.

— É tudo que sempre quis. — Lembre-se de que há muitos caminhos abertos para você — disse a Diretora, a cicatriz distorcendo sua boca em uma expressão quase triste. — Antes de escolher, tenha certeza de que o que realmente deseja é a vida de guardiã. Elisabeth assentiu, sem conseguir falar. Se tinha passado na prova, não entendia por que a Diretora aconselharia que ela considerasse abandonar o sonho. Talvez tivesse se mostrado despreparada e imatura de outra forma. Se fosse o caso, ela simplesmente se esforçaria mais. Ainda tinha um ano até fazer dezessete e poder treinar no Colégio, e neste tempo poderia se provar sem dúvida alguma, ganhar a aprovação da Diretora. Esperava que fosse bastar. Juntas, forçaram o grimório a voltar à arca. Assim que tocou o sal, parou de se debater. Os olhos viraram para cima, mostrando meias-luas de um branco leitoso antes das pálpebras caírem. O estrondo da tampa arrebentou o silêncio sepulcral do cofre. A arca passaria anos, talvez décadas, sem ser aberta. Estava segura. Não era mais ameaça alguma. No entanto, não conseguiu banir o som da voz de seus pensamentos, nem a sensação de que ainda veria o Livro dos Olhos de novo — e que ele a veria também.”

— Pronto — disse a Diretora, a voz soando fraca e distorcida, como se falasse debaixo d’água. — Acabamos. Scrivener? Como Elisabeth não a respondeu, a Diretora fechou o grimório com um estrondo, cortando a voz no meio de uma frase. Elisabeth recobrou os sentidos de repente. Ela ofegou, o rosto queimando de humilhação. Os olhos estavam furiosos e esbugalhados, se dirigindo a ela e à Diretora. — Muito bem — disse a Diretora. — Você aguentou muito mais do que o esperado. — Quase me pegou — cochichou Elisabeth. Como a Diretora podia parabenizá-la? O suor frio grudado em sua pele a fez tremer no ar gelado do cofre. — Sim. Era o que eu queria te mostrar hoje. Você leva jeito com os grimórios, tem uma afinidade que nunca vi numa aprendiz. Mesmo assim, ainda tem muito a aprender. Quer se tornar guardiã, não quer? Falando na frente da Diretora, sob o testemunho das estátuas angelicais enfileiradas na parede, a resposta suspira-

O feitiço dos espinhos Margaret Rogerson Gênero: Fantasia Ano: 2020 | 528 páginas Tradução: Sofia Soter

ADQUIRA O SEU EXEMPLAR

REVISTA ML | PÁGINA 11



Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.