Informativo S.O.S. Vida, ed. fev/2021

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Ano 16 | Nº 46 Fevereiro | 2021

Infectologistas derrubam mitos sobre a vacina contra a Covid- 19 3

Andador adaptado melhora a mobilidade de paciente

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Paciente com ELA em Aracaju reencontra com o mar

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Parto de emergência é realizado em meio a engarrafamento


Editorial

SAÚDE MENTAL

CUIDANDO DE QUEM CUIDA Programa da S.O.S. Vida ajuda familiares e cuidadores no enfrentamento da pandemia

O CARO LEITOR, Esta edição traz um assunto de interesse público e extremamente relevante, que são as fake news que circulam nas redes sociais e grupos de compartilhamento de mensagens sobre as vacinas contra a Covid-19. Dois médicos infectologistas da S.O.S. Vida esclarecem e desmentem várias notícias falsas sobre o assunto e falam da importância da imunização para vencer a pandemia. Outra matéria importante mostra a parceria da S.O.S. Vida com a Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública que propicia experiência prática em atenção domiciliar por parte de médicos residentes. É uma forma de difundir o Home Care no meio acadêmico ao mesmo tempo em que estimula a investigação científica dentro da empresa. O leitor vai acompanhar também uma entrevista com o médico psiquiatra Cássio Silveira, especialista em psicogeriatria, que destaca como a crise gerada pela Covid-19 impactou os idosos. Segundo ele, muitos que tinham uma vida ativa passaram a ficar em casa, recolhidos, e isso teve grande impacto do ponto de vista psicológico. O informativo traz ainda a iniciativa de nossa equipe de Aracaju que adaptou um andador para que uma criança com dificuldade de mobilidade pudesse ter mais qualidade de vida. Nessa mesma linha, temos uma reportagem mostrando um paciente nosso com Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), que teve a oportunidade de tomar um banho de mar. A dificuldade de locomoção não impediu que ele tivesse esse momento de lazer e descontração, tão importantes para quem está internado em Home Care. Boa leitura! José Espiño Médico e Presidente da S.O.S. Vida

EXPEDIENTE Esta é uma publicação da S.O.S. Vida

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s profissionais da área de saúde que atuam na linha de frente de combate à COVID-19 foram bastante impactados com a crise sanitária, muitos deles comprometendo a própria saúde mental. No Home Care, os cuidadores têm também sentido as consequências da pandemia, expostos ao estresse e com medo da contaminação. Um programa que a S.O.S. Vida desenvolve já há alguns anos, chamado “Cuidando de quem cuida”, tem ajudado essas pessoas a enfrentarem as adversidades e seguirem em frente no serviço de atenção aos pacientes. Conforme explica a psicóloga da S.O.S. Vida Cláudia Cruz, esse programa atende tanto os cuidadores e familiares, quanto os profissionais da empresa que atuam na assistência. São encontros em que os participantes expõem seus medos, aflições e dificuldades, trocam experiências e são orientados sobre como lidar com essas questões. O último foi no final do ano passado. Acontece geralmente de forma presencial, mas, por conta da pandemia, foi virtual. “É o momento em que acolhemos os cuidadores e aproximamos a equipe assistencial da família”. Cláudia Cruz lembra que no último encontro foi abordado o mito de Quíron, um deus da mitologia grega que era metade humano e metade animal. Embora imortal, após sofrer uma flechada, não conseguia curar a si mesmo, ficando condenado a viver em sofrimento. Os ferimentos de Quíron serviram para que ele, por meio de sua própria dor, fosse capaz de compreender a dor dos outros. “Esse exemplo serviu para que refletíssemos sobre a importância do autocuidado”, destaca Cláudia.

Cláudia Cruz Psicóloga da S.O.S. Vida

Além de debater esse mito grego, o evento abordou também a pandemia e suas consequências para a saúde mental.

AUTOCUIDADO É ESSENCIAL Cláudia Cruz ressalta que a principal recomendação aos cuidadores tem sido o autocuidado. “Muitas vezes cuidamos do outro, mas não prestamos atenção aos sinais que nosso próprio corpo emite. Não podemos negligenciar de nossa saúde física e mental”. A especialista lembra que a pandemia provocou uma grande mudança na rotina dos cuidadores, que ficaram impedidos de realizar atividades importantes como as de lazer, e sobrecarregados por assumirem os cuidados de forma exclusiva, às vezes sem o apoio de familiares e amigos. Cláudia recomenda, por exemplo, que o cuidador priorize um tempo durante o seu dia, nem que sejam 30 minutos diários, para fazer algo que gere prazer e o ajude a se desligar um pouco dos cuidados ao paciente. Essa medida simples ajuda a diminuir a tensão e melhora o manejo do estresse e da ansiedade. “A saída é buscar ajuda psicológica e encontrar maneiras de ocupar o tempo livre com coisas que deem sentido à vida, que fortaleça o indivíduo para que ele possa estar bem e assim manter o cuidado com qualidade”.

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QUALIDADE DE VIDA

FISIOTERAPEUTA DA S.O.S. VIDA ADAPTA ANDADOR PARA MELHORAR A MOBILIDADE DE PACIENTE Equipamento foi adaptado para treinar a marcha de criança de 2 anos

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m andador adaptado está fazendo com que a pequena V. M., de 2 anos, consiga se deslocar pela casa e interagir mais com o ambiente, mesmo com suas limitações de mobilidade. A criança, que é atendida pela equipe multidisciplinar da S.O.S. de Aracaju, tem uma síndrome chamada displasia tanatofórica tipo 1, que compromete seu crescimento e repercute em outras funções do organismo. Os órgãos internos crescem, mas a estatura não acompanha, o que a torna dependente de ventilação mecânica.

Gislaine Rocha Fisioterapeuta

Como ela estava ficando mais ativa, Gislaine teve a ideia de fazer um andador adaptado para a menina com o objetivo de treinar a marcha até ela conseguir caminhar sozinha. “O equipamento não sustenta a cabeça, mas o andador permite que ela ganhe força nas pernas”, diz a especialista, acrescentando que teve todo o apoio da família para a iniciativa. O equipamento tinha que ser leve para a criança empurrar sozinha. Gislaine pesquisou o material e a mãe comprou. A técnica de enfermagem que acompanha a criança, Gilda Meire, e seu marido Mateus

também participaram desse esforço. Como Mateus trabalha com madeira, ele ajudou a fazer os recortes e a colocar as rodinhas. A pediatra da S.O.S. Vida, Bianca Costa, destaca que, como a menina é muito pequena, cerca de 50 centímetros de estatura, um andador normal não serviria. Assim como a roupa e o sapato é adaptado, o andador também precisou ser criado, permitindo que ela saia da postura deitada e tenha mais contato com os irmãos. Dra. Bianca destaca que a criança já superou a idade prevista na literatura médica, que prevê a morte nos primeiros meses de vida. A mãe, a bióloga Alzira Roberta Guimarães, está muito satisfeita com o resultado. Ela conta que a filha está interagindo mais depois da fisioterapia e dos cuidados da equipe multidisciplinar. “Sem esse apoio da S.O.S. Vida não sei como seria. A começar que ela não estaria nem em casa conosco e sim no hospital”.

Alzira conta que a filha tem evoluído muito com o suporte do Home Care e também com o amor e apoio da família. Ela confirma o que diz a médica da S.O.S. Vida. “Minha filha só faz contrariar os médicos, desde que nasceu”. Ela conta que mantém contato com a mãe de uma criança de 11 anos, que vive nos Estados Unidos sem dispositivos de suporte. Ela diz que consultou um especialista que garantiu que essa síndrome deixou de ser fatal. “Minha filha é uma alegria na casa. Eu costumo dizer que ela veio para cuidar da gente e não a gente para cuidar dela”.

“Minha filha é uma alegria na casa. Eu costumo dizer que ela veio para cuidar da gente e não a gente para cuidar dela”

Informe S.O.S. Vida | Ano 16 | Nº 46 | Fevereiro.2021

A solução de mobilidade foi sugerida pela fisioterapeuta da S.O.S. Vida, Gislaine Rocha, que acompanha a criança desde que ela tem 4 meses. A profissional conta que graças à fisioterapia e terapia ocupacional, a menina evoluiu bastante a parte motora, passando a pegar objetos, a rodar de um lado para o outro sozinha e a movimentar a cabeça e as pernas.

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QUALIDADE DE VIDA

ALEGRIA NO REENCONTRO COM O MAR Paciente com ELA é levado em ambulância da S.O.S. Vida para a praia

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ato de ir à praia pode ser corriqueiro para quem mora em uma cidade com orla marítima, mas para uma pessoa em especial essa experiência ganhou um significado especial. Acamado há dois anos e com dificuldade de locomoção, Nelson Matos, 64, se emocionou ao tomar banho de mar novamente durante passeio organizado pela equipe de Cuidados Paliativos da S.O.S. Vida (SE).

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Nelson tem uma doença chamada Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), que limita sua locomoção e comunicação, mas não impede que ele possa sair eventualmente de casa. O passeio à praia foi organizado pela geriatra da S.O.S. Vida Luana Brandão com o intuito de melhorar a qualidade de vida e aliviar o sofrimento do paciente. “Ele estava muito triste, então questionei se tinha algo que gostaria de fazer e ele deixou claro que queria ir à orla. Começamos a construir essa possibilidade com o apoio da família e foi muito gratificante, um momento de inclusão”, conta a geriatra. “Minha família sempre foi muito ligada à praia e quando surgiu a ideia de levá-lo, ficamos muito felizes porque ele estava desejando muito. Foi um dia inesquecível e especial”, conta a filha Fernanda. De acordo com ela, apesar de o pai

ter dificuldade para falar, era possível perceber a felicidade em seu rosto. “A fisionomia dele mudou, demonstrando que estava alegre. Quando voltamos para casa, ele estava mais calmo e dormiu bem”, relata. O passeio foi acompanhado pela geriatra Luana Brandão, que é res-

Nelson Matos Paciente

ponsável pelo tratamento de Nelson, e pela equipe de Cuidados Paliativos da S.O.S. Vida, incluindo assistente social e enfermeira. O transporte até à Praia do Sarney, em Aracaju, foi realizado na ambulância da empresa, com o suporte necessário para garantir a segurança de Nelson. “Esses momentos são importantes para pacientes em fase avançada da doença. Eles precisam se sentir bem, ter qualidade de vida. E proporcionar isso é relevante para evolução da doença, para o bem-estar emocional que acaba acarretando no bem-estar físico dele. Faz parte da nossa assistência e principalmente quando fala de paciente em Cuidado Paliativos”, explica Luana Brandão. O acesso ao mar foi realizado em uma cadeira anfíbio, cedida pelo projeto Estrela do Mar, instalado no restaurante Solarium.


EMERGÊNCIA

MÉDICA DA S.O.S. VIDA FAZ PARTO DE EMERGÊNCIA EM MEIO A ENGARRAFAMENTO Dra. Mayara Cinthia e equipe estavam passando pelo local quando foram chamados para dar socorro à gestante

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A mãe estava bem tranquila, lembra a médica. “Quando ela pegou a criança no colo e colocou para mamar foi a coisa mais bonita que eu podia ver”, destaca Dra. Mayara,

“Quando ela pegou a criança no colo e colocou para mamar foi a coisa mais bonita que eu podia ver”

acrescentando que a experiência inusitada mostrou como é importante estar sempre preparado. “Na faculdade aprendemos que em um ambiente de emergência, nós profissionais de saúde seremos as pessoas mais capacitadas para assumir o comando. É importante manter a calma, a confiança, acreditar que tudo vai dar certo e prestar socorro a quem precisa”. Mayara conta que ficou bem feliz com o desfecho do caso. “Nosso trabalho envolve servir, acolher, prestar socorro e assistir os pacientes a qualquer momento”. Em meio à crise sanitária provocada pelo novo coronavírus, a médica disse ter visto no nascimento de Benjamin um bom presságio. “Foi uma

dose de esperança. Diante de tantas mortes e situações que a gente tem vivido com essa pandemia. A gente entende nesses momentos, que o nosso serviço é tão importante e nos traz esperança”. O parto aconteceu na Avenida Paralela porque a família estava indo para um hospital depois de ter o atendimento recusado em outras unidades de saúde. A gasolina acabou no trajeto e o pai saiu para comprar combustível. Quando chegou ao carro vindo do posto de gasolina, ele ficou emocionado ao saber que estava tudo bem. Os policiais que estavam no local solicitaram o atendimento do SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência Serviço), que chegou logo depois do parto.

“Nosso trabalho envolve servir, acolher, prestar socorro e assistir os pacientes a qualquer momento”

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A médica conta que, apesar de não ser o local adequado para um parto, o procedimento foi um sucesso. A profissional fez o corte do cordão umbilical e garantiu os primeiros cuidados para reduzir o sangramento da mãe Joseane, enquanto ela aguardava a remoção para um hospital. “Foi um momento de grande tensão, mas graças a Deus deu tudo certo”.

Foto: Reprodução Rede Bahia

ma cena inusitada chamou a atenção de quem passava pela Avenida Paralela na manhã do dia 28 de janeiro: uma gestante deu à luz em pleno engarrafamento. O trabalho de parto foi conduzido por uma equipe da S.O.S. Vida que passava pelo local no momento e parou para prestar assistência. A médica Mayara Cinthia, a técnica de enfermagem Cátia Couto e o motorista Almerindo Neto estavam no ambulância e contribuíram para que o bebê Benjamin viesse ao mundo com saúde.

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FAKE NEWS

INFECTOLOGISTAS DERRUBAM MITOS SOBRE A VACINA CONTRA A COVID-19 um importante passo para o enfrentamento da pandemia

Matheus Todt Infectologista

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vacina contra a Covid-19 já está sendo aplicada em todos os estados brasileiros, um importante passo para o enfrentamento da pandemia causada pelo novo coronavírus. Mas nem todos estão convencidos em tomar as doses, muito por conta das fakes News (notícias falsas) que circulam nas redes sociais e grupos de compartilhamento de mensagens eletrônicas.

Não há relatos de qualquer tipo de eventos adversos como esse.

Ouvimos dois infectologistas da S.O.S. Vida, Dr. Matheus Todt e Dra. Monique Lírio, sobre o assunto e eles explicam tecnicamente alguns dos principais mitos envolvendo a vacinação. Acompanhe a seguir e fique bem informado, com base na ciência.

Resposta: Não há qualquer evidência científica sobre o uso de qualquer vacina (ou medicamento) que cause doenças como o autismo. A vacina da Pfizer, por exemplo, tem um risco maior de gerar reações alérgicas sérias em pessoas que já possuam histórico alérgico grave. Essas reações podem ocorrer com vários medicamentos. Uns dos principais associados a alergias graves é, por exemplo, a aspirina.

Dr. Matheus Todt

Vacinas alteram o DNA Circulam nas redes sociais boatos de que as vacinas contra Covid-19, em especial as genéticas, alteram o DNA. A teoria teve origem em uma declaração da osteopata americana Carrie Madej, que afirmou em um vídeo na internet que “esta tecnologia vai criar uma nova espécie e, talvez, destrua a nossa”.

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Resposta: Medicamentos que utilizam manipulação genética não são novidade na área de saúde. Medicamentos para doenças reumatológicas e alguns quimioterápicos utilizam técnica semelhante.

A vacina pode causar outras doenças, como autismo ou doenças autoimunes Mensagens nas redes sociais afirmam que as vacinas podem causar doenças autoimunes. Outras, afirmam que vacinas em geral causam autismo.

A vacina da Covid-19 contém chips implantados para controle das pessoas Uma teoria da conspiração afirma que a pandemia do novo coronavírus não passa de um plano de Bill Gates para possibilitar a implantação de microchips rastreáveis nas pessoas. Resposta: Existem chips implantados nos celulares, televisões, computadores e carros. Em medicamentos, não existe essa tecnologia.

A vacina CoronaVac não é segura simplesmente porque é chinesa Desde a divulgação de que a fase 3 de testes clínicos da vacina chinesa CoronaVac seria realizada no Brasil, produzida em parceria com o Instituto Butantan e aplicada na população brasileira, as redes sociais foram inundadas com alegações de que a vacina não seria segura simplesmente por ser chinesa. Resposta: A vacina da chinesa Sinovac Biotech utiliza tecnologia consagrada, é produzida por uma gigante farmacêutica, além de ser mais barata e mais fácil de armazenar. Ou seja, é uma das melhores vacinas disponíveis no momento.

Vacina causa infertilidade em mulheres Viralizou nas redes sociais uma mensagem afirmando que a vacina da Pfizer, em parceria com a alemã BioNTech, causa infertilidade em mulheres. Segundo o texto, uma resposta imunológica contra a proteína spike poderia levar à infertilidade em mulheres por um período não especificado. Resposta: As proteínas spike não têm semelhanças biológica com hormônios sexuais, por isso não há possibilidade de a vacina (criada a partir desta proteína) gerar infertilidade.


A vacina contra a Covid-19 tem que ter pelo menos 90% de eficácia para ser aprovada Dra. Monique Lírio Infectologista

A imunidade conferida pelas vacinas contra a Covid-19 dura pouco O tempo de duração da imunidade gerada pelas vacinas contra Covid-19 e a possibilidade de a pessoa contrair a doença, mesmo vacinada, também são pontos divulgados massivamente por quem busca desencorajar a população a se vacinar. Resposta: Como é uma doença nova e os estudos sobre a vacina foram elaborados no sentido de determinar sua segurança e eficácia, e não ainda para avaliar a longevidade da imunidade, ainda não se sabe exatamente quanto tempo dura o efeito imunizador da vacina –- nem o que vem depois de se desenvolver e curar a doença. O que sabemos é que, ao contrário da infecção natural, pela qual podemos receber uma dose viral variável (alta, média ou baixa) que produz diferentes níveis de imunidade, uma vacina oferece uma dose pré-determinada que sabemos que causa uma resposta imune forte e adequada, capaz de prevenir a infecção em uma grande porcentagem dos casos. Uma das grandes vantagens é que as vacinas não causam, na maioria dos casos, os efeitos colaterais de uma resposta imune extremamente robusta, que em muitas pessoas pode ser prejudicial e causar danos aos órgãos, especialmente aos pulmões no caso da Covid-19. Sem vacina, passar pela doença é “uma roleta russa: enquanto para algumas pessoas ela não causa problemas, para outras causa problemas muito sérios. E para outras, efeitos não tão

A taxa mínima de eficácia de um imunizante contra a Covid-19 é alvo de boatos e informações desencontradas, com alguns afirmando que se o índice não chegar a 90% a vacina não é eficaz. Resposta: Uma vacina ideal contra o vírus deve ser efetiva após uma ou duas doses, prevenir pelo menos 70%, mas idealmente 80% das infecções, trabalhar em grupos de risco, como adultos e pessoas com condições pré-existentes, garantir uma proteção de, no mínimo, seis meses e reduzir a infecção pelo SARS-CoV-2. Alguns resultados divulgados mostraram-se promissores. Mas, é claro, que dados como tempo de imunidade e eficácia na população geral (nos estudos, é selecionado um perfil de pacientes) ainda não são conhecidos. A vacina da farmacêutica Pfizer em parceria com a alemã BioNTech apresentou 90% de eficácia em resultados preliminares. A análise da farmacêutica avaliou que 94 dos 43.538 voluntários que participam dos testes foram infectados pela doença. São necessários 164 casos confirmados para caracterizar a vacina como totalmente funcional. Já a biofarmacêutica Moderna afirmou que sua vacina é 94,5% eficaz contra a covid-19. O número foi obtido após testes realizados em mais de 30 mil voluntários. Destes, apenas 95 pessoas foram infectadas com a doença depois de a vacina ser aplicada. Entre os casos, 90 voluntários estavam no grupo de placebo, enquanto outras 5 pessoas receberam as duas doses da proteção.

Voluntários dos testes já morreram por terem se submetido ao uso das vacinas.

A vacina contém na sua composição células de fetos abortados e podem transmitir o vírus do HIV. Segundo essas teorias, os fabricantes estariam escondendo as mortes de voluntários para não prejudicar a reputação da vacina. Além disso, a composição do imunizante traria células de fetos abortados. Por fim, como algumas vacinas utilizam o adenovírus (Oxford e Sputinik), vetor viral usado nas pesquisas para o desenvolvimento de um imunizante contra o HIV, surgiu essa teoria. A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou instituições e autoridades sobre o que chamou de “infodemia”. Elas consistem em teorias da conspiração, fake news, rumores e outros conteúdos divulgados em torno da pandemia, que contribuem para aumentar os casos e as mortes por Covid-19. Primeiramente, é importante ressaltar que antes de uma vacina começar a ser testada na população, ela passa por testes de seguranças para definir questões iniciais como dose do imunizante, número de aplicações, dentre outros. Toda pesquisa é submetida a avaliação de um Comitê de Ética em Pesquisa antes de ser iniciada. Pesquisas que utilizassem HIV como vetor, células de fetos abortados ou que pudessem modificar o DNA sequer seriam aprovadas. Vacinas ou medicamentos que nas fases iniciais de teste não se mostrarem seguras não são liberadas para a fase III, que é quando se aplica a vacina em um número maior de voluntários. Além disso, existem órgãos que monitoram vacinas e medicamentos depois que eles chegam ao mercado, como o Food and Drug Administration (FDA). É preciso ter cuidado com as informações. Devem-se utilizar sites confiáveis (de órgãos oficiais de saúde ou revistas científicas) para obter dados verídicos. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que autoriza as pesquisas clínicas sobre a proteção no país, informou que apenas maiores de idade podem receber as doses. Além disso, a Anvisa afirmou que não houve nenhum relato de mortes nem de reação adversa grave relacionadas às imunizações.

Informe S.O.S. Vida | Ano 16 | Nº 46 | Fevereiro.2021

Foto: Adelmo Borges

graves, porém duradouros e incapacitantes”. Por fim, outra vantagem da vacina é que, ao fornecer uma dose fixa, é garantida uma “resposta imunológica padronizada” em toda a população. É uma forma de controlar a resposta e não deixá-la ao acaso.

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IMPACTOS PSICOLÓGICOS DA PANDEMIA EM IDOSOS Especialista em psicogeriatria destaca como a crise gerada pela COVID-19 impactou esse público

Fotos: Adelmo Borges

ESPAÇO MÉDICO

escores de cognição, a partir de um exame chamado mini mental. Esse teste avalia, de forma rápida, a função cognitiva de uma pessoa. Um indivíduo perde geralmente um ou dois pontos por ano, mas depois da crise sanitária eu tive pacientes que perderam até cinco pontos. Isso mostra como a privação de estímulos cognitivos e de socialização comprometeram a qualidade de vida desse público. No subgrupo de pacientes que têm algum tipo de demência ou comprometimento cognitivo, isso foi ainda mais relevante.

Esses pacientes tinham antes uma vida social ativa?

Cássio Silveira Médico psiquiatra

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médico psiquiatra Cássio Silveira concedeu entrevista ao informativo da S.O.S. Vida abordando, entre outros assuntos, os efeitos da pandemia entre os idosos. Especialista em psicogeriatria, ele destaca como a crise gerada pela COVID-19 impactou esse público, que está há quase um ano confinado em casa, com a rotina totalmente alterada. Acompanhe a seguir a entrevista.

De que forma a pandemia repercutiu em seus pacientes? Tenho experiência em acompanhar pacientes idosos, em especial aqueles que têm demência e comorbidades, com comprometimento cognitivo. Com a pandemia, percebi uma queda muito grande da funcionalidade, uma diminuição nos

Exato. Uma das medidas de controle da pandemia foi o isolamento social dos idosos porque eles são grupo de risco para a doença. Parece pouco, mas aquela rotina que eles tinham de comprar o pão da casa, conversar com o porteiro, encontrar amigos para dar um passeio na praça, terminou de forma abrupta. Não questiono a necessidade dessas medidas de isolamento, mas precisamos nos atentar para uma consequência psicológica considerável e percebo isso na prática. Os idosos estão procurando cada vez mais os consultórios, ansiosos, deprimidos. A vacina está chegando, o que é bom, mas depois que tudo isso passar teremos outro desafio: lidar com as consequências psicológicas que a pandemia vai gerar.

“Os idosos estão procurando cada vez mais os consultórios, ansiosos, deprimidos”


No caso de pacientes em Home Care, como tem sido a abordagem do ponto de vista psiquiátrico?

O aumento da ansiedade e da depressão e já vemos isso hoje, mas depois da pandemia esse cenário deve se agravar. Os idosos que procuram meu consultório estão muito preocupados em adoecer e também com seus familiares. Essa pandemia tem uma característica sui generis. Nas grandes crises que a humanidade passou, as pessoas se uniam, davam as mãos, um ajudava o outro. Com essa pandemia, as pessoas estão com medo de se tocar, cada vez mais afastadas.

O que é recomendável para um idoso que está tendo esse comprometimento cognitivo? Antes de tudo ele precisa ser avaliado. Vale lembrar que comorbidades clínicas, como diabetes, hipertensão doenças renais, não estavam sendo tratadas por conta da pandemia. Ou seja, muitos problemas clínicos estão emergindo porque os idosos se recolheram em casa. No que diz respeito à psiquiatria, o primeiro passo é uma análise criteriosa, antes de prescrever uma medicação. Até porque muitos casos de depressão e ansiedade não têm indicação. Para casos mais graves sim, mas com o idoso é preciso ser

“O Home Care faz uma abordagem multidisciplinar, que atende o indivíduo como um todo e favorece a desospitalização”

“Muitos problemas clínicos estão emergindo porque os idosos se recolheram em casa” ainda mais criterioso. Isso porque os efeitos colaterais de uma medicação nesse público são mais graves do que numa pessoa jovem.

No caso de profissionais de saúde que estão na linha de frente de combate à Covid-19, como está sendo essa realidade? Atendo colegas que estão física e psicologicamente esgotados. Existe uma síndrome que infelizmente tem sido cada vez mais comum em profissionais de saúde, que é a Síndrome de Burnout, ou do esgotamento físico e mental do profissional. Ocorre quando ele é exposto a uma carga de trabalho exagerada ou com grande responsabilidade. Isso leva o indivíduo a ficar mais irritado, impaciente e não consegue dormir adequadamente, dentre outros sintomas. Mesmo quando ele se afasta do ambiente de trabalho, não consegue se desligar totalmente. Precisa de tratamento psicoterápico e às vezes farmacológico.

O Home Care é um atendimento mais completo, na medida em que podemos prestar uma assistência domiciliar em pacientes que não conseguem ser atendidos em ambulatório. É uma abordagem multidisciplinar que atende o indivíduo como um todo e favorece a desospitalização. Um paciente hospitalizado tem mais possibilidade de ter complicações. Se ele foi devolvido ao lar precocemente, as sequelas psicológicas são atenuadas. Existe uma complicação chamada “delirium”, muito comum em pacientes idosos com hospitalização prolongada, que causa alucinações. Quando eles voltam para casa essa chance diminui.

O Sr. poderia citar algum caso de sucesso que atendeu em Home Care? Sim. Uma paciente com mais de 80 anos que passou por hospitalização prolongada por conta de uma infecção respiratória e precisou ser traqueostomizada. Antes da doença, ela tinha uma autonomia muito grande e era bastante ativa. Progressivamente foi perdendo essa autonomia. O retorno dela para o lar com limitação de movimentos fez com que desenvolvesse um quadro depressivo. Os medicamentos antidepressivos, junto com a reabilitação feita pelas equipes de fisioterapia, enfermagem e fonoaudiologia, restabeleceram as funcionalidades da paciente, que voltou a andar, comer e beber sem auxílio. Hoje ela é totalmente independente.

Cássio Silveira é médico psiquiatra formado pela Escola Baiana de Medicina e Saúde Pública, com residência médica em psiquiatria pelo Hospital Universitário Edgard Santos (UFBA) e aperfeiçoamento em psicogeriatria pela USP. Sua área principal de atuação é com idosos que apresentam transtorno de ansiedade e de humor. Trabalha em consultório particular e em uma clínica de Salvador.

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O Sr. poderia citar exemplos dessas consequências?

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PRÁTICA MÉDICA

MÉDICOS RESIDENTES APRENDEM COMO ATUAR EM HOME CARE Parceria com a Escola Bahiana de Medicina propicia experiência prática em atenção domiciliar

“N

o início parece um pouco intimidador, acompanhar pacientes com casos tão complexos em casa, mas depois você começa a entender que eles estão melhor lá do que se estivessem em um hospital”. É assim que o médico Bruno Góes, 30 anos, avalia as oito semanas que passou acompanhando atendimentos da S.O.S. Vida junto com um médico visitador da empresa. Bruno participou da parceria para estágios em residência médica em medicina de família e comunidade, um convênio entre a S.O.S. Vida e a Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública. Os residentes ficam dois meses fazendo visitas, atuando dois dias na semana.

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O médico destaca que na Bahiana não teve contato com esse tipo de serviço e que a experiência foi muito importante para a sua formação. “Na Bahiana existem visitas

domiciliares, mas não é igual ao que a S.O.S. Vida oferece. Aprendi muita coisa e recomendo para todos os residentes em medicina”.

Bruno Góes Médico

“Na Bahiana existem visitas domiciliares, mas não é igual ao que a S.O.S. Vida oferece. Aprendi muita coisa e recomendo para todos os residentes em medicina”

Ele conta que acompanhar pacientes em cuidados paliativos, por exemplo, foi uma experiência muito rica e que acrescentou muito à sua formação. Ele destaca ainda que percebeu que é possível capacitar a família a cuidar do paciente, um aprendizado que ele vai levar para a sua profissão. Bruno pretende usar o conhecimento que adquiriu no seu TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) e atuar como médico de família. Os residentes são acompanhados por médicos visitadores, mas a supervisão é feita pelo profissional da base, sob a coordenação de Dra. Ana Rosa Humia, que possui formação pelo Ministério da Saúde em preceptoria de Residência Médica.


“Com a presença de acadêmicos na instituição, conseguimos alinhar melhorias para os processos internos e estimular práticas inovadoras, por conta desse olhar criativo da formação dos residentes, sob supervisão dos médicos visitadores da atenção domiciliar”. Segundo ela, é uma troca muito rica. “Nossos médicos visitadores, ao mesmo tempo em que estão supervisionando e conduzindo o acompanhamento, também têm acesso à novas possibilidades e compartilham experiências”.

HOME CARE NA ÁREA ACADÊMICA A gestora da Atenção Domiciliar da S.O.S. Vida, a médica Cristiara Allem de Freitas, acredita que essa parceria ajuda a difundir a cultura do Home Care no meio acadêmico. “Geralmente o médico sai da graduação sem nenhum contato com internação domiciliar”. Além disso, ela destaca o aumento da credibilidade e visibilidade da S.O.S. Vida, que passa a ser uma formadora de novos talentos. “Temos hoje dificuldade de mapear profissionais para trabalhar no ramo. Portanto, esse médico residente tem

“A S.O.S. Vida atua com atendimento domiciliar e também com cuidados paliativos, dois campos em que o médico de família pode e deve se inserir”. potencial para ser aproveitado futuramente pela empresa”. A médica Ana Rosa Humia, coordenadora do programa de Cuidados Paliativos da S.O.S. Vida, usa o próprio exemplo pessoal para destacar a importância dessa iniciativa. Ela fez estágio na empresa quando era residente em medicina em 2007, na época uma parceria com a Universidade Federal da Bahia (UFBA). “Esse estágio mudou a minha vida completamente. Meu trabalho começou aqui e fui evoluindo profissionalmente e hoje assumo a coordenação médica da Atenção Domiciliar. Nunca me desvinculei da S.O.S. Vida”. A médica lembra que depois que começou a visitar os pacientes em Home Care percebeu que era possível conciliar seu interesse profissional (medicina de saúde da família) na atenção domiciliar. Dra. Ana Rosa destaca o empenho do presidente, Dr. José Espiño, que sempre buscou desenvolver o conhecimento científico na instituição, aproximando a S.O.S. Vida do mundo acadêmico. “Ele sempre desejou estar perto de quem produz ciência e reciclar o conhecimento da instituição”.

EXPERIÊNCIA ENRIQUECEDORA

Ana Rosa Humia Médica

Para a Dra. Rita de Cassia de Carvalho, preceptora no Programa de Residência de Medicina de Família e Comunidade da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, esse programa está em consonância com o que está previsto nas Diretrizes do MEC e da Sociedade

Rita de Cassia de Carvalho Médica

Brasileira de Medicina de Família e Comunidade - SBMFC, que é dar aos alunos uma visão dos diversos campos de atuação da especialidade. “A S.O.S. Vida atua com atendimento domiciliar e também com cuidados paliativos, dois campos em que o médico de família pode e deve se inserir”. Ela destaca que o médico residente tem contato com pacientes acamados e em cuidados críticos, sendo esse estágio uma experiência que enriquece o aprendizado. Sobre o futuro da iniciativa, a médica enfatiza que a parceria iniciada em 2020 transcorreu de forma bastante eficaz e harmoniosa, “apesar de todos os percalços que a pandemia nos trouxe”. O objetivo em 2021 é mantê-la e fazer com que possa funcionar em todo seu potencial. “Quero aproveitar para agradecer à enfermeira Gleide Regina Oliveira, à Dra. Ana Rosa Humia e a Dr. José Espiño pela amizade e pela confiança demonstrada durante todo o processo”.

“Temos hoje dificuldade de mapear profissionais para trabalhar no ramo. Portanto, esse médico residente tem potencial para ser aproveitado futuramente pela empresa”.

Informe S.O.S. Vida | Ano 16 | Nº 46 | Fevereiro.2021

De acordo com a assessora do Núcleo de Pesquisa e Ensino (Nupec), a enfermeira Gleide Regina Oliveira, esse tipo de parceria sempre fez parte do interesse da diretoria da S.O.S. Vida, que dessa forma busca estimular a investigação científica e criar um ambiente de ensino e aprendizagem dentro da empresa.

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Parceiros no cuidado! O cuidado implica em ajudar os outros e promover o bem-estar. Existe uma infinidade de formas de cuidado, o nosso envolve levar assistência especializada ao domicílio. Entrar nos lares das pessoas traz uma responsabilidade imensa, por isso reunimos uma grande equipe em torno da missão de cuidar da saúde das pessoas. UMA EQUIPE DE PESSOAS DEDICADAS, COMPROMETIDAS E PRONTAS PARA ATUAREM COMO PARCEIRAS NO CUIDADO


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