Victoria aveyard a rainha vermelha 01 a rainha vermelha

Page 49

— O que quero de você é impossível — dispara Tiberias. Um ardor tênue em seu olhar revela o desejo de me incinerar. Lembro das palavras da rainha. — Bom, não fico triste por você não poder me matar. O rei ri. — Não disseram que você era esperta. Sou inundada de alívio. A morte não está à minha espera aqui. Ainda não. Ele lança ao chão uma pilha de papéis, cheios de anotações. A primeira folha traz as informações de costume: meu nome, data de nascimento, pais e uma manchinha marrom de sangue. Também há uma foto minha, a mesma da identidade. Encaro aquela imagem de mim mesma, aqueles olhos aborrecidos, cansados de esperar na fila da fotografia. Como gostaria de mergulhar na foto, na garota cujos únicos problemas eram o recrutamento e a barriga vazia. — Mare Molly Barrow, nascida em 17 de novembro de 302 da Nova Era, filha de Daniel e Ruth Barrow — Tiberias começa a recitar de cor, expondo minha vida. — Desempregada, será recrutada no próximo aniversário. De vez em quando vai à escola, suas notas são baixas, e tem uma lista de infrações que levariam à cadeia na maioria das cidades. Roubo, contrabando, resistência à prisão são apenas algumas. Resumindo, você é pobre, rude, imoral, limitada, simplória, amarga, teimosa: uma chaga em seu vilarejo e em meu reino. Levo um tempo para assimilar o choque de palavras tão francas. Mas não contesto. Ele tem toda a razão. O rei levanta. A essa proximidade, posso ver que sua coroa é extremamente afiada. As pontas podem matar. Ele prossegue: — Contudo, você também é algo mais. Algo que não posso compreender. Você é tanto vermelha quanto prateada, uma peculiaridade com consequências fatais que é incapaz de entender. Então, o que faço com você? Ele está me perguntando mesmo? — Me deixe ir embora. Não vou dizer uma palavra a ninguém. O riso agudo da rainha interrompe minha fala. — E as Grandes Casas? Também farão silêncio? Vão esquecer a menininha elétrica de uniforme vermelho? Não, não vão. — Você sabe qual é meu conselho, Tiberias — a rainha acrescenta. — Resolve nossos dois problemas. Deve ser um conselho ruim, pelo menos para mim, porque Cal cerra o punho. O movimento chama minha atenção e finalmente o encaro. Ele permanece imóvel, resignado e quieto; certamente foi treinado para isso. Seus olhos, porém, ocultam uma chama. Por um instante, nossos olhares se cruzam, mas desvio o rosto antes que possa lhe pedir para me salvar. — Sim, Elara — diz o rei, assentindo. — Não podemos matá-la, Mare Barrow. A ideia de um “ainda não” permanece no ar. O rei continua. — Portanto, vamos escondê-la à vista de todos, onde poderemos observá-la, protegê-la e tentar entendê-la. O brilho nos seus olhos faz com que me sinta uma refeição prestes a ser devorada. — Pai! — estoura Cal. Seu irmão — o príncipe mais magro e pálido — segura seu braço e contém novos protestos. O caçula tem um efeito calmante e Cal volta à linha.


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.