Um século de jornalismo na Bahia 1912 - 2012

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Simões Filho e A Tarde Edivaldo M. Boaventura

O ponto de partida da criação do jornal, no conturbado ano de 1912, é a figura exponencial do seu fundador, Ernesto Simões Filho, jornalista, político e empreendedor. O jornal foi a sua trincheira de combatente e enérgico jornalista em defesa da Bahia e da liberdade de expressão. Simões Filho manifestou precocemente o seu direcionamento para a imprensa. O fundador marcou a construção de uma empresa editorial de peso como o jornal A TARDE. É significativa a tiragem do periódico e mais ainda a sua identidade com os interesses da Bahia. A força do seu talento evidenciou-se no jornalismo vigoroso, na política combativa e na inovação empresarial. O caminho por ele percorrido foi sempre de lutas, de campanhas, de exílios a atentados, com capacidade de resistência e de combate que só lhe fizeram crescer a imagem.

fotografia, um instantâneo. A revista não foi além do trigésimo número e somente os seis primeiros foram publicados sob a responsabilidade do futuro fundador de A Tarde.”1 A experiência com O Carrasco, O Papão e na Gazeta do Povo, de certa maneira, prepararam a criação do jornal que sonhava. Formado em direito, aderiu de imediato à política, como partidário de J.J. Seabra. Com esse alinhamento chegou até a dirigir os Correios na Bahia e compôs a bancada seabrista, na Assembleia Estadual. Uma vez afastado de Seabra, que assumiu o governo do Estado da Bahia, em 29 de março de 1912, logo em seguida, em 15 de outubro, Simões lançou o jornal A TARDE, a maior realização de sua vida. O ano de 1912 foi significativo e feliz, não somente pela criação do jornal como também pelo nascimento de sua filha primogênita, Regina, que lhe sucedeu anos depois no comando do jornal.

Mesmo nas ocasiões que comportariam maior descontração, conservava a postura elegante e altiva. A foto é da sua viagem aos Estados Unidos, em companhia de outros diretores de jornais. No volante do jipe, uma jovem oficial das Forças Armadas americana. Simões Filho, por volta dos quatorze anos de idade, criou seu primeiro jornal chamado “O Carrasco”. Em 1904 criou “O Papão”, um jornal em formato de revista de caráter humorístico e satírico.

Nascimento do fundador Nasceu, no Recôncavo, na próspera cidade de Cachoeira, em 4 de outubro de 1886, dia consagrado a São Francisco de Assis. A família Simões é originária de Itiúba, nos sertões da Bahia. Mas a Cachoeira daquela época era um dos mais importantes e dinâmicos entrepostos comerciais que recebia mercadorias da capital e as enviava para o interior, revertendo em troca produtos a serem comercializados em Salvador ou exportados. O nascimento de Simões Filho no Recôncavo baiano explica certos aspectos de sua personalidade. Estudou o primário na sua cidade natal, continuando os estudos no Colégio São José, em Salvador, dirigido pelo notório professor João Florêncio Gomes. Neste estabelecimento, ainda com 14 anos, revelou-se precocemente jornalista lançando o periódico O Carrasco. Quatro anos depois, foi a vez de O Papão. Para Cláudio Veiga, esta revista é um retrato da Bahia em 1904: “A evocação não chega a ser um filme, mas uma

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