O Caminhense

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1971 - 2015

QUINZEnário | 30 DE OUTUBRO de 2015 | Nº 1601 | Ano XLIII | Directora: Elsa Guerreiro Cepa | www.jornalc.pt | Preço Anual: 30€

Remodelação do Mercado Municipal de Caminha com 4 propostas possíveis EMPREENDE

Palmitos nasceram de uma história de amor Associações e clubes do concelho reuniram com vereador do Deporto

Caminha recebeu 14º Encontro Nacional do Árbitro Jovem

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ENTREVISTA

Jorge Fão

faz balanço de 10 anos como deputado na Assembleia da República “Pretendo continuar a ser uma voz critica mas também colaborante”

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ENTREVISTA

O CAMINHENSE, sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Jorge Fão faz balanço de 10 anos co deputado na Assembleia da Repúb “Pretendo continuar a ser uma voz critica mas também colaborante”

CAMINHA

Depois de ter exercido durante os últimos 10 anos as funções de deputado na Assembleia da República eleito pelo partido socialista, Jorge Fão está de regresso ao concelho para voltar à escola e ao ensino. Apesar de não ter sido eleito, o exdeputado socialista garante que não se vai afastar da vida política ativa. A nível do distrito e do concelho garante que vai continuar a ser uma voz ativa, critica mas também colaborante. Em entrevista ao Jornal C Jorge Fão faz um balanço da sua atividade enquanto deputado eleito pelo circulo eleitoral de Viana do Castelo, um distrito que evoluiu muito nos últimos 10 anos mas onde há ainda muito para fazer. O ex-deputado faz ainda uma análise à atual situação politica que o país atravessa e considera que neste momento a prioridade é formar um Governo estável para Portugal. Jornal Caminhense – (JC) Portugal tem vivido nos últimos dias uma agitação política fora do comum face aos resultados das últimas eleições legislativas. Sem uma maioria no parlamento, os partidos tem-se desdobrado em en-

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contros à procura de soluções governativas. Que comentário lhe merece o que está a acontecer? Jorge Fão – (JF) – Em primeiro lugar julgo que temos que ter bem presentes os resultados das últimas legislativas. De facto o Partido Socialista (PS) não estava claramente à espera deste desfecho porque esperava que as suas propostas e mensagens políticas tivessem outro acolhimento junto do eleitorado o que não veio a acontecer. Perdemos as eleições e isso é um dado indesmentível. Tivemos uma percentagem de votos inferior à Coligação Portugal à Frente (PAF), coligação que de resto conseguiu, de forma hábil, disfarçar a responsabilidade do PSD e o CDS/PP pelos últimos 4 anos de Governo que tantos problemas tem causado na nossa sociedade. Mas o que é facto é que os cidadãos fizeram esta opção e os eleitores são naturalmente quem tem o poder de tomar estas decisões. Perante estes resultados colocam-se agora vários cenários que todos temos vindo a acompanhar com atenção, também com preocupações e sobretudo, com expetativa. A questão tem que ficar resolvida rapidamente porque o funcionamento da vida económica, social e institucional, não se compadece de muito tempo de indefinição. Há neste momento duas hipóteses possíveis de solução governativa para o país: uma que será aquilo que tradicionalmente resulta do normal funcionamento da nossa democracia ou seja, o Presidente da República, depois de ter ouvido os partidos, indigitava, como realmente veio a acontecer, o representante do partido mais votado, neste caso o PSD e Passos Coelho para formar Governo. Nesta solução já se percebeu que o PSD e o CDS/PP coligados não têm condições para governar porque não têm maioria no Parlamento e daqui resulta o grande desafio para o Presidente da República. Cavaco Silva repetiu insistentemen-

te nos últimos tempos que era fundamental um Governo com estabilidade e neste momento a Coligação não consegue apresentar esse quadro de estabilidade porque não tem maioria no parlamento. O outro cenário é a possibilidade de, na sequência das negociações que têm vido a ser desenvolvidas pelo líder do Partido Socialista António Costa, haver a possibilidade de um acordo do PS com o Bloco de Esquerda e o PCP para apresentarem uma outra solução governativa, esta com estabilidade garantida por uma maioria parlamentar. Cabe agora ao Presidente da República tomar uma decisão. Estamos na expetativa… JC - Acha que António Costa, apesar de não ter ganho as eleições, tem legitimidade para ser primeiro ministro de Portugal? JF – António Costa, como líder do segundo partido mais votado e porque está legitimado pelos órgãos competentes do PS para fazer negociações, tem todas as condições para negociar os vários cenários possíveis para construir soluções de Governo para o país. Outra coisa bem diferente é que tipo de decisão final é que o PS vai tomar neste processo. Na reunião da Comissão Política, o Secretário Geral deu conta de qual é o ponto atual da situação e auscultou o partido para se definir qual o passo seguinte, que tipo e em que condições esses compromissos podem ser estabelecidos. Em suma eu entendo que o Secretário Geral António Costa tem toda a legitimidade para desenvolver, em nome do PS, negociações à esquerda e à direita, tendo sempre em conta que os interesses do país e a construção de uma solução de governo com estabilidade devem sempre estar em primeiro lugar. Por outro lado deve ter em conta aquilo que são as expetativas da sociedade portuguesa que passam por um virar desta página da austeridade e pela condução do país para uma si-

tuação diferentes daquela que temos tido nos últimos tempos onde, contrariamente à mensagem hábil e populista que a Coligação tem conseguido passar, existe um conjunto de indicadores ao nível do peso da carga fiscal, do rendimento das familias, da pobreza, do desemprego e da emigração que são claramente piores do que eram há 4 anos atrás. Tenho a certeza e de outro modo não seria aceitável que o que está na mente do António Costa e dos decisores do PS é garantir a defesa dos interesses do país, construir estabilidade governativa e provocar uma viragem no trajeto negativo que a nossa vida coletiva experimentou nos últimos anos. JC – Esteve durante 10 anos no Parlamento, conhece bem o que é a oposição à esquerda. Acredita que um eventual Governo que resulte de uma coligação à esquerda vai resultar? Acha que o diálogo entre a esquerda vai ser possível ao fim de 40 anos de democracia? JF – Sendo eu um homem de esquerda e atendendo à Declaração de Princípios e aos ideais do Partido Socialista, não posso deixar de, teorica e conceptualmente, desejar que o PS esteja sempre mais próximo dos partidos à nossa esquerda, outra coisa bem diferente é formar um governo com esses partidos. Até hoje isso nunca aconteceu , sòmente houve situações de colaboração, cooperação e aliança ao nível autárquico muito pontuais, principalmente em Lisboa. No parlamento isso infelizmente nunca foi possível. Se por um lado eu considero que este é o nosso caminho, por outro não deixo de ter reservas, interrogações, dúvidas e até fortes preocupações relativamente a este cenário de uma coligação com o PCP e o BE. Porquê? Exatamente por causa da experiência dos meus 10 anos de vida parlamentar, de contato com os protagonistas e lideres destes partidos, de perceber a sua dinâmica, objetivos e até

aquilo que é o seu ADN político. Tenho seríssimas reservas sobre qual será o comportamento e a fiabilidade destes dois partidos em matéria de estável e garantido apoio a um governo minoritário do PS. O BE e o PCP tem tido e continuam a ter, como “desporto político favorito”, combater… bater no PS. Aliás ainda durante a última campanha eleitoral houve mesmo uma altura em que o próprio António Costa de insurgiu contra essa agressividade desses partidos para com o PS. Mesmo não indo mais longe, basta recuarmos a 2011, todos nos lembramos como é que estes partidos se comportaram na Assembleia da Republica aquando da apresentação do PEC 4 e como , a meio da anterior legislatura, aliados ao PSD e ao CDS, derrubaram o então governo do PS. Atendendo a que o ADN político destes dois partidos não me parece que tenha mudado, os seus protagonistas principais são os mesmo e a base de apoio da militância também não se alterou, das duas uma, ou há uma cambalhota profunda do BE e do PCP abdicando das suas principais bandeiras de combate político para apoiarem um governo minoritário do PS, ou então prevejo que a prazo, e provavelmente não muito longo, possa haver problemas de estabilidade neste relacionamento e de garantia da continuidade desse apoio. Recordo que a estabilidade de um governo, a meu ver, não é só garantida por uma maioria aritmética de deputados no Parlamento é necessário contar com o clima que se gerará na concertação social e a forma como a sociedade em geral reage a este denominado “governo da esquerda” Enfim, há aqui uma grande expectativa em relação a tudo isto e eu acredito que António Costa está a fazer tudo com muita ponderação e a negociar de forma suficientemente garantida. Se as coisas vierem a evoluir no sentido da construção de governo minoritário do PS com o apoio do PCP e do BE eu en-

tendo que a garantia da estabilidade dese acordo deveria ser dada pelo envolvimento direto de representantes desses partidos na equipa governativa e um programa comum aprovado pelas direções nacionais dos 3 partidos. Se assim fosse acho que ficaríamos todos um pouco mais tranquilos relativamente à estabilidade desta situação. Aquilo que eu não quero de todo que aconteça é que o PS saia dessa experiência mais dividido, descredibilizado e, eventualmente, traído. Isso é que eu, como socialista, não quero que aconteça. JC – Mas há esse risco? JF – O PS corre efetivamente esse risco nesse possivel cenário. Mas é claro que também se correm politicamente riscos na eventualidade de segiur a opção de sustentar um governo da direita e isso teria até contradições profundas com aquilo que é a matriz do pensamento político do PS e daquilo que foi o discurso do Secretario Geral durante a campanha eleitoral comprometendo-se com o virar de página da austeridade, recuperar o rendimento das famílias, baixar a carga fiscal, acelerar o funcionamento do quadro comunitário, travar a emigração, combater a pobreza, recuperar a dignidade dos serviços públicos, nomeadamente a saúde, segurança social, a educação, etc , ou seja, nestas opções corremse sempre riscos e portanto eu acho que o Secretario Geral que é um político experiente e conhecedor destas lides estará a desenvolver as negociações de uma forma cautelosa para reduzir ao míninmo os danos políticos para o PS que resultem desta situação. JC – Estamos portanto perante um ensaio. Mas eu pergunto: estará Portugal, com todas as suas fragilidades, em condições de suportar ensaios? Será que esta é a melhor altura? JF – Esse facto é outro dado que é indispensável colocar em cima da mesa das negociações e


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como blica ter em linha de conta nesta estratégia. A sua questão é muito importante porque a conjuntura económica, financeira e até social do país apresenta indicadores claros de muitos problemas e muitas fragilidades. Nunca um governo em Portugal como o do PSD/CDS-PP deixou o país tão mal como este deixa. Estamos a falar de um governo que termina a sua função com um PIB inferior àquele que recebeu quando lá chegou. Somos um país com uma economia muito frágil e com acordos e exigências por parte dos credores muito significativas. Corremos o risco das promessas de um Governo à esquerda, apoiado pelo Bloco e pelo PCP, esbarrarem com aquilo que é a realidade financeira do país, e das exigências dos nossos credores. Não conhecemos a real situação do país e corremos o risco de chegar ao governo e nos depararmos com um quadro bem mais difícil no plano financeiro e económico do que aquele que consideramos, nomeadamente no cenário macro económico que o PS apresentou e que foi a base do seu programa eleitoral. Isso é que tem que ser de todo evitado. Seria desastroso se o PS chegassem ao Governo no pressuposto de que tem uma determinada situação financeira que lhe permite pôr em prática algumas políticas e depois chegue à conclusão que a realidade é outra e portanto não poderia cumprir as suas promessas. Os cidadãos estão completamente cansados deste tipo de comportamentos políticos e a nossa democracia está no limite da tolerância dessas práticas enganosas. JC – Falava-me no início da entrevista dos resultados eleitorais do PS nas últimas legislativas. Assumiu que houve de facto uma derrota do PS. JF – É evidente, os números dos resultados eleitorais não dizem outra coisa. JC - A nível distrital o PS não conseguiu ir além dos 2 deputados que já tinha conquistado há 4 anos. Estava à espe-

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ra de uma derrota tão grande no Ato Minho? JF – Não. Decididamente não estava. Percebi, contudo , ainda antes do início da campanha eleitoral, que contrariamente àquilo que era o cenário idealizado há cerca de 2 ou 3 meses atrás, dificilmente ganhariamos estas eleições. Já tenho alguns anos de experiência de campanhas eleitorais, de contato com as pessoas, de perceber e ler nos olhos, nas palavras e nas reações, qual o estado de alma de quem nos ouve. Não havia entusiasmo, não havia alegria, havia uma receptividade relativamente passiva das pessoas em relação à nossa mensagem e portanto eu achei sempre que nós teríamos dificuldade de ganhar as eleições, mas sinceramente nunca pensei que o resultado fosse tão penalizador e de alguma forma até injusto para o PS no distrito de Viana do Castelo. Sinceramente eu estava convicto que os seis deputados de Viana do Castelo se equilibrariam 3 a 3. Isso não aconteceu e, como disse há pouco, até me parece injusto. Mas em política muitas vezes não há justiça, nem gratidão e em democracia o Povo é quem mais ordena Perdemos as eleições, esta é a realidade, foi este o resultado e temos agora que fazer com pormenor uma análise deste desfecho para percebermos onde estão as razões deste resultado eleitoral que é claramente uma derrota para a estrutura distrital do PS e para aqueles que de alguma forma integraram esta solução quer de lista de candidatos quer de toda a estrutura organizativa da campanha eleitoral. Quem negar esta realidade ilude-se a si próprio e presta um mau serviço ao PS. JC - No distrito o PS só venceu em Paredes de Coura talvez porque o cabeça de lista, Tiago Brandão Rodrigues, é natural de lá. Mas em Cerveira, de onde é natural José Manuel Carpinteira e Sandra Pontedeira e Caminha de onde é natural Jorge Fão isso não aconteceu. O PS foi derrotado. O que é que correu mal? JF – No distrito não há tradição de grandes resultados nas eleições legislativas para o PS, apesar de já termos tido muito melhores votações do que aquela que agora tivemos. Não sou daqueles que considere que tanto faz ter uns candidatos como outros porque o resultado será sempre

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mente ao trabalho que realizei. Tenho a perfeita noção e consciência de que na política os ciclos têm um principio e têm um fim e que são necessários novos protagonistas até para melhorar o trabalhos desenvolvido pelos anteriores. Aquilo que eu espero e desejo , sinceramente, é que os dois deputados eleitos pelo PS façam um bom trabalho na defesa dos interesses do Alto Minho.

o mesmo, isso seria uma completa desvalorização dos atores locais e da sua participação na vida política, mas tenho noção de que é efetivamente a “onda nacional”, a dinâmica dos media e a atuação dos líderes dos partidos e dos grandes momentos de campanha que mais condicionam os resultados. Aliás nestas legislativas houve a novidade daquelas sondagens diárias que contribuíram muito para influenciar e formatar a opinião dos eleitores. Mas o que há que reconhecer é que no distrito, a forma como organizamos o processo de campanha eleitoral, não deu resultados. Repare-se, por exemplo, em Vila Nova de Cerveira, representada com o segundo e o terceiro elementos da lista, perdemos as eleições. Aqui em Caminha, ocupando eu o 4º lugar, também não tivemos o resultado que pretendíamos ter. Paredes de Coura foi o único concelho onde conseguimos ganhar mas, mesmo assim, com margem frágil. Seria de esperar um resultado melhor tendo em conta que o cabeça de lista é de lá natural e, na minha opinião, penso que será um homem bem formado no campo dos princípios, bem intencionado no plano da intervenção política, voluntarioso, com energia e portanto estou convencido que poderá

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fazer um bom trabalho como deputado. JC - Ao concorrer em 4º lugar não considera que o PS o quis afastar? JF – Eu não leio isso como tal. Como sabe os partidos têm as suas próprias lógicas de jogos de poder e a política tem ciclos e portanto não esperava uma situação muito diferente. Desde o momento em que o Secretário Geral, aconselhado por alguns dos meus camaradas do distrito de Viana do Castelo, escolheu o Tiago Rodrigues como cabeça de lista, tendo o atual Presidente da Federação exigido ser segundo da lista e sendo necessário cumprir a lei da paridade, não restava outra possibilidade que não fosse eu concorrer em 4º lugar. Sinceramente não me senti menos honrado com esse facto porque achei que continuava a ter potencial de intervenção política que deveria colocar à disposição do meu partido. Foi nesse sentido que aceitei ser 4º sabendo desde o princípio que não seria eleito. A política não é uma profissão, é uma passagem e eu entendi-a sempre como tal. Empenhei-me o mais possível enquanto exerci estas funções. Tenho noção de que não fiz mais do que a minha obrigação mas sinto a consciência tranquila relativa-

JC - Que influência poderão ter os resultados das últimas legislativas em próximos atos eleitorais, nomeadamente as presidenciais em 2016 e as autárquicas em 2017? JF – O tempo na política não é o mesmo tempo do dia a dia. Um ano ou dois em política podem representam uma eternidade. Cada vez as coisas são mais imprevisíveis, nomeadamente os contextos, as atitudes dos protagonistas e as dinâmicas da atividade dos partidos, o que faz com que não consigamos prever com rigor o rumo dos acontecimentos. Por outro lado, os próprios eleitores são cada vez mais exigentes e mais escrutinadores da atividade dos políticos e ainda bem que assim é. Portanto cada eleição é uma realidade diferente e não me parece que se possa dizer que este resultado nas eleições legislativas va ter mais ou menos influências nas eleições seguintes. Os eleitores separam perfeitamente as situações, autárquicas são autárquicas, legislativas são legialativas e as eleições presidenciais são também uma realidade distinta . JC - Ao longo dos 10 anos em que exerceu funções de deputado teve, certamente, momentos melhores e outros piores. Gostava que me elegesse o melhor e o pior momento enquanto deputado da nação. JF – Momentos em concreto é difícil mas se quiser podemos dividir isso em blocos de tempo melhores e piores. De facto houve um bloco de tempo entre 2005 e 2011 que eu considero que foi muito bom. Foi um tempo em que o distrito se sentiu bem tratado em que se desenvolveu um grande investimento público. Eu estive ligado à maior parte dessas iniciativas que acompanhei politicamente e às quais dei o meu modesto contributo quer na intervenção parlamentar, quer no contato persistente junto dos decisores da

Administração Central. De 2005 a 2011 foi uma grande satisfação pelos objetivos alcançados e existiram de facto diversos momentos de alegria e realização no exercício das minhas funções. JC – Pode recordar alguns? JF – Sim. Por exemplo a concretização da recuperação da Estrada Nacional 13, uma obra que o Alto Minho ambicionava há muito tempo, que foi muito difícil de conseguir e custou muito dinheiro; a construção das variantes de Ponte da Barca e de Arcos de Valdevez; a construção da ponte de Lavradas entre Arcos e Ponte da Barca; a construção do acesso à Ponte de Vila Nova de Cerveira; a reparação da Ponte Eiffel que tinha grandes problemas de estabilidade e de segurança , o nó de Mazarefes, etc. Mas existem muitos outros como por exemplo na área da educação. Durante esse período de tempo construiram-se 23 novos centros escolares, foi uma revolução completa na qualidade do parque escolar do 1º ciclo no distrito de Viana do Castelo; uma profunda intervenção na Escola de Monserrate e na Escola de Santa Maria Maior. Mas houve mais, construíramse 7 novos lares para idosos, 6 centro de dia, 11 creches, 11 unidades de saúde familiar e entraram em funcionamento 5 ambulâncias de suporte imediato de vida. A conclusão do Portinho de Vila Praia de Âncora; a recuperação do Hospital Psiquiátrico da Gelfa; 7 novas unidades de cuidados continuados, tudo isto em seis anos, é preciso que as pessoas tenham isto bem presente. E podia continuar a dar outros exemplos como foi o caso das escolas superiores de Desporto e Lazer de Melgaço e de Ciências Empresariais de Valença; diversos relvados em vários locais; polidesportivos, etc. JC – Mas falou de dois blocos… JF- Exatamente. Temos um segundo bloco que vai de 2011 até agora onde eu me senti e sinto muito menos realizado e bem mais triste com o resultado do meu desempenho. O que nós tivemos neste período de tempo de governação do PSD/CDSPP foi uma clara manifestação de abandono e até de desprezo em relação aos problemas

do distrito de Viana do Castelo. A forma como por exemplo foram tratados os Estaleiros de Viana do Castelo (ENVC). Ainda hoje acho que teria sido indispensável ter remodelado e modernizado aquela empresa, mantendo-a como maioritáriamente pública. Repare que se destruiu completamente uma organização que tinha mais de 60 anos de experiência e atividade na área da construção naval que era um ícone da identidade histórica, social e laboral do distrito. Para que? Para a privatizarem e agora tratarem de forma privilegiada aqueles que são os seus detentores. Privilegiada porque lhe fazem ajustes diretos no valor de 70 milhões de euros que no passado não fizeram, é preciso não esquecer que durante 3 anos a empresa esteve parada. Enfim, a forma como os ENVC foram desmantelados representa para mim uma derrota política e uma grande tristeza. Mas é também uma tristeza a forma como este Governo tratou o processo da perda da exclusividade do Vinho Verde Alvarinho atribuida à Sub-Região de Monção e Melgaço, tenho seríssimas preocupações em relação às consequências dessa decisão no futuro. Entendo que a perda desta exclusividade vai redundar claramente numa redução da mais valia desta produção. Isto acarreta o quê? Provavelmente uma menor capacidade de sustentabilidade das explorações vitivinícolas e portanto menos possibilidade de fixação ao território por parte das pessoas. Este Governo negligenciou completamente este problema e cedeu aos interesses dos grandes comercializadores de vinhos da região dos vinhos verdes. Quer outro exemplo? A forma perfeitamente inaceitável como trataram a APPACDM. Relativamente ao Centro de Atividades Ocupacionais e ao Lar Residencial do Cabedelo, a decisão e o modo como este Governo, o Ministro da Segurança Social e o Diretor Distrital da Segurança Social se comportaram, foi completamente inaceitável. A APPACDM pode e terá certamente as suas fragilidades financeiras, alguns problemas de gestão do passado, mas não podia ter sido tratada da forma que foi, porque presta um serviço público de valor incalculável no distrito de Viana do Castelo a cidadão portadores de deficiência. Mas veja-se também, por exem-

plo, o que este Governo fez na Escola Secundária de Ponte de Lima, outra mágoa para mim. Parou as obras de recuperação quando chegou em 2011 e neste momento ( 2015) julgo que ainda não foram retomadas. Mas acrescento ainda os acessos ao Porto de Mar de Viana do Castelo onde nada evoluiu; a modernização da linha do Minho onde também nada aconteceu; o acesso rodoviário a Paredes de Coura e à Fronteira da Madalena que continuam por avançar. Na saúde não há uma única novidade, não conseguiram sequer pôr em funcionamento a Unidade de Cuidados Continuados de Melgaço, assim como também não há novidades em relação à educação. Isto foi sem dúvida o período de maior tristeza do meu desempenho de funções porque lutei por estas causas mas não consegui que fosse concretizado nenhum destes objetivos. Porque? Porque este Governo do PSD e do CDS/PP e os seus representantes distritais nada fizeram para que isto acontecesse. JC - Foi eleito deputado pelo circulo eleitoral de Viana do Castelo. Teve oportunidade de conviver com Governos em que o PS era poder e outros em que era o PSD. Como é estar num lado e no outro? JF – No desempenho da atividade política parlamentar há sempre dificuldades a contornar numa situação ou na outra. Quando integramos um grupo parlamentar que suporta um Governo com a nossa cor partidária, temos uma série de obrigações de solidariedade e regras de funcionamento que é preciso respeitar o que muitas vezes nos retira espaço para podermos agir e reagir politicamente de acordo com o que aconselha a nossa consciência porque temos que ter noção que integramos um grupo parlamentar que tem que funcionar como um coletivo. Temos obrigações de solidariedade e de fidelidade para com as estartégias do partido pelo qual somos eleitos. Por isso, nesses momentos, também é difícil ser deputado apoiando um Governo da nossa própria cor, Foi contudo claramente bem mais difícil exercer estas funções com um Governo do PSD e CDS/PP como foi o caso deste último. Porque? Pela insensibilidade e indisponibilidade que demonstraram para resol-


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ver os problemas da nossa região e do distrito. JC - Como vê o distrito de Viana do Castelo passados estes 12 anos? JF – Eu considero que nós fizemos caminhos de evolução significativos. Aliás acabei de lhe enumerar o grande investimento em várias áreas feito durante seis anos, muito fruto do trabalho empenhado dos autarcas do Alto Minho e da comunidade Intermunicipal em colaboração com governos do Partido Socialista. O distrito de Viana, apesar de continuar a ter carências, deu um salto significativo. Temos desafio grandes para o futuro que passam pela atração de investimento e pela criação de emprego para fixar a população. Temos problemas relacionado com o envelhecimento da população e a baixa taxa de natalidade que, neste caso, no nosso distrito é inferior à média nacional. Ainda assim eu julgo que o distrito tem um conjunto de condições quer pela sua riqueza patrimonial, paísagistica e ambiental, quer pelas infraestruturas de que dispõe, para ser resiliente, atrativo, competitivo e para ter esperança no futuro. Precisamos é que a Administração Central nos ajude e não nos abandone como nos abandonou nos últimos 4 anos. JC - Acha que enquanto deputado defendeu bem o seu distrito? JF – Eu na minha vida estou habituado a fazer avaliações quanto aos meus desempenhos quer no plano pessoal, quer profissional, quer político. Relativamente à pergunta há uma coisa que lhe posso dizer com toda a certeza e segurança: eu procurei estar sempre atento, disponível, interventivo e preocupado com as questões do meu distrito que necessitavam de uma intervenção da administração central. Sendo certo que podemos sempre fazer mais e melhor, eu acho que fiz um trabalho que me deixa tranquilo. Consegui no meu entender honrar as funções de deputado, procurei fazer um trabalho de proximidade com as pessoas, responder e estar presente naquilo que foram as inumeras solicitações e sobretudo ter iniciativa para levantar os problemas e reivindicar solução para esses mesmo problemas. Se eu tivesse continuado a exercer fun-

ções naturalmente que procuraria fazer melhor. Com o tempo vamos adquirindo experiência e sobretudo vamos construindo redes de relacionamento e de influência política que são atributos que poderia pôr ao serviço do nosso distrito onde não temos conseguido construir lobbie de pressão política junto da administração central. Repare que as grandes decisões são tomadas nos departamentos governativos e não nos nossos territórios, infelizmente. Procurei dignificar o exercício das funções de deputado, respeitar aquilo que são as regras do meu partido ao nível do grupo parlamentar tendo sempre presente a defesa dos interesses da minha região. Fiz este percurso e felizmente fui de alguma maneira reconhecido pelos meus camaradas na própria Assembleia da República onde exerci funções de Secretario da Mesa, fui Presidente da Sub-Comisão Parlamentar de Segurança Rodoviária, VicePresidente da Comissão Parlamentar de Agricultura e Mar até ao final do mandato e, por último, Vice-Presidente da bancada parlamentar. Enfim adquiri um conjunto de experiências e competências e procurei fazer o melhor possível. JC - Ficou alguma coisa por concluir? JF – Ficaram aquelas que já lhe enumerei e outras, nomeadamente o facto de não termos conseguido avançar rigorosamente nada no acesso ao Porto de Mar de Viana, à modernização da linha do Minho, acessos a Paredes de Coura isto no que se refere a infraestruturas. Regredimos profundamente no financiamento da Unidade Local de Saúde do Alto Minho que coordena todo o serviço nacional de saúde no distrito tendo baixado significativamente o financiamento desta unidade prejudicando a qualidade dos serviços. Infelizmente, estando concluida desde 2012, não entrou em funcionamento a Unidade de Cuidados Continuados de Melgaço, uma infraestrutura que me parece indispensável para responder a um território envelhecido. Estes são aspetos que claramente me deixam triste e onde não consegui atingir os objetivos e que na minha opinião devem agora concentrar a energia dos deputados eleitos pelo PS na próxima legislatura. JC - Jorge Fão começou a sua

carreira política em Caminha e durante muitos anos exerceu cargos políticos no concelho, nomeadamente na Câmara e Assembleia Municipal. É por isso inevitável fazermos uma análise, ainda que breve, da política concelhia. Nas últimas eleições autárquicas, no comício do PS em Caminha, fez o diagnóstico do que seria necessário fazer no concelho. Referiu-se de forma particular ao atraso a que está votado o concelho de Caminha Passados dois anos que balanço faz da governação socialista… Acha que já foi encontrado um novo caminho para Caminha? JF – De facto a minha vida política, social e cívica começou, como disse, aqui neste território de que muito gosto e com esta gente com quem me identifico. Comecei em 1978 ou 79, não tenho a certeza, como membro da Assembleia de Freguesia da minha terra, Moledo. Depois fui fazendo o meu percurso até chegar à Assembleia Municipal. Fui dirigente concelhio do meu Partido, fui candidato à Câmara, fui vereador na oposição, até chegar ao exercício das funções de deputado. O percurso foi feito subindo quase todos os degraus. Eu acho que o concelho de Caminha e os meus camaradas que têm a responsabilidade de o dirigir, em particular o presidente Miguel Alves, têm feito um trabalho dedicado, empenhado, no sentido de ir encontrando, num quadro de dificuldade financeira, que é um aspeto que é preciso ter em atenção, as melhores soluções para o concelho. Estes dois anos penso que têm sido muito difíceis. Para ser franco não tenho acompanhado com muito pormenor alguns aspetos da gestão, mas tenho noção que o caminho que tem sido seguido, tem sido um caminho difícil. Tenho confiança que os objetivos traçados e que ainda não tenham sido atingidos se-lo-ão durante os dois anos de mandato que ainda falta cumprir. Há necessidade de se evoluir em alguns aspetos com vista à melhoria das nossas condições infraestruturais e particularmente do desenvolvimento económico e social do concelho, mas por aquilo que vou acompanhando acho que o rumo está traçado e o objetivo será atingido relativamente àquilo que é o cumprimento do programa eleitoral do atu-

al executivo e que eu, como socialista e amigo, espero que seja bem sucedido. JC - Nas últimas autárquicas os caminhenses votaram numa mudança… depois de 12 anos de governação PSD acha que essa mudança está a acontecer? JF – Há alguns indicadores em que essa mudança de comportamento e atitude se sente. Desde logo porque temos bem presente a forma extremamente autoritária, despótica e até, arrogante como atuava o anterior executivo. Falo com conhecimento de causa porque, como sabe, fui vereador da oposição e tive oportunidade de viver isso de muito perto. Repare nas consequências que daí resultaram , nomeadamente ao nível da conflitualidade e do contencioso judicial que a Câmara anterior acabou por construir com a comunidade e que tem vindo a deixar um rastro de grandes problemas em termos de condenações nos tribunais e pagamento indemnizações. Nesse aspeto eu acho que há uma mudança significativa. Neste momento temos um exercício muito mais democrático, mais aberto, provavelmente também mais criticado e mais sindicado porque na política as coisas são assim mesmo: quanto mais abrimos a informação e mais diálogo estabelecemos, mais objeto de critica somos. Sinceramente e como lhe disse, não tenho tido muita oportunidade de conversar em pormenor com meu camarada Presidente de Câmara, dada a falta de tempo quer de um quer de outro, espero agora com mais calma conseguir estabelecer esse diálogo para perceber melhor das dificuldades com que se debate esta gestão e dos projetos que pretendem pôr em prática. JC - Continuamos sem uma ligação eficaz a Espanha, sem uma zona industrial capaz de fixar emprego, sem uma política cultural definida, sem uma política capaz de valorizar o turismo, sem a revisão do PDM concluída, com a requalificação da marginal de Caminha por fazer entre outras. Passados estes dois anos não acha que já se devia ter algo mais concreto em relação a estas questões? JF – Eu tenho que começar por lhe dizer que não dou anuência a esse elencar de questões que referenciou e também lhe

digo que cada uma delas mereceria um debate o que exigiria da minha parte recolher muito mais informação e falar com os responsáveis atuais do município para perceber qual o exato ponto da situação de cada uma das questões que elencou. Mas eu julgo que esta nossa conversa não é para falar especificamente sobre os temas do concelho mas sim sobre o balanço das minhas funções enquanto deputado. Naturalmente que eu não me esquivo de forma nenhuma a conversar sobre as questões do meu território especifico, mas não é neste momento que eu vou tecer qualquer tipo de comentário sobre este assunto. Acho que há aí alguns exageros na forma como coloca as questões. Penso que algumas delas estarão em desenvolvimento mas, como lhe digo, não estou em condições nem para contradizer nem para aprovar, sendo que parto do princípio que essa é uma apreciação demasiado negativa daquilo que é o desempenho do atual executivo. JC - Diz-se que político uma vez, político para sempre. Está disposto a regressar à política ativa no concelho de Caminha? JF – Eu nunca deixei de estar na política ativa e vou continuar ativo na política dentro daquilo que sejam as solicitações que me sejam dirigidas e daquilo que seja a avalição que eu faça da utilidade da minha disponibilidade em cada momento. Acho que antes de partirmos para qualquer desafio na vida, devemos sempre saber se vamos ser úteis ou não ao coletivo. Na vida política ativa nunca devemos dizer nunca e eu tenho isso bem presente. Agora vou regressar à minha atividade profissional, à minha escola e eu encaro isso como mais um desafio. Vou ter que me reinserir numa atividade profissional na qual já não estou há bastantes anos e onde houve uma grande evolução a vários níveis e isso para mim é um grande desafio. No plano partidário manter-meei militante ativo e sobretudo vigilante e critico, disso ninguém tenha a menor dúvida, porque essa é também uma exigência que se faz a qualquer militante de um partido, mas também saberei ser colaborante e disponível para encontrar soluções. No plano distrital da organização do partido acho que temos problemas muito grandes. Julgo que

esta última liderança tem sido muito pouco conseguida e neste momento o partido está com enormes problemas e com uma grave crise de coesão e de relacionamento interpessoal o que dificulta a atividade e afirmação do PS no distrito. Nos documentos que suportaram as minhas duas últimas candidaturas, uma a Presidente da Federação e outra a Deputado, eu disse e escrevi aquilo que sentia sobre o estado do partido e a prova está à vista. Temos na maior parte dos concelhos do distrito de Viana do Castelo problemas sérios nas estruturas do nosso partido e a verdade é que não tem havido a esse nível nem empen-hamento, nem capacidade de reforçar a alma do partido, de cultivar o pensamento critico e dar voz pública ao PS Assim sendo no plano distrital manter-me-ei, como é obvio e como é minha obrigação, atento, interventivo e critico. Por último, em termos cívicos e de exercício da cidadania para aquilo que for solicitado e que eu entenda ser útil, continuo disponível. Foi sempre assim na minha vida e é assim que vai continuar a ser. JC - Passando os olhos pelo seu currículo só lhe falta mesmo ser presidente da Câmara de Caminha. Está disponível para uma candidatura? JF – Isso é um assunto completamente extemporâneo. Como lhe disse há pouco o tempo em política é muito imprevisível e esse é um tema que não se coloca. A Câmara de Caminha tem uma liderança, a liderança do meu camarada e amigo Miguel Alves, que está a desenvolver o seu trabalho. Está a meio do seu mandato e eu estou convencido que estão reunidas as condições para ter sucesso no exercício deste cargo e porventura querer recandidatar-se. Eu fui candidato à Câmara em 2001 imbuído de um espírito de serviço público, com um conjunto de ilusões e pensando que na altura podia ser útil ao meu concelho. Na altura isso não foi assim entendiddo pelos eleitores, entretanto passaram 14 anos e muitas coisas mudaram, eu próprio também mudei. Neste momento julgo que é importante concentrarmo-nos noutras coisas como por exemplo na formação e estabilidade de funcionamento do Governo e nas eleições presidenciais, porque esses são os dois desafios políticos imediatos e os quais vou acompanhar.

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