Arquitetura itinerante e evento

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Identificação e leitura de três

4.

Arquitetura Funcionalista

0-

Novo modo de pensar a arquitetura segundo

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situações de vazio urbano: Vazio mirante: barreira, integração,

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Bernard Tschumi

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Ideia de evento

permanência (CADERNO 1)

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Vazio panorama: encontro, atração,

ai

Substituição do binômio forma-função pelo

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permanência (CADERNO 2)

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binômio espaço-evento

Vazio disjunção: sobreposição,

os

Relação disjuntiva entre espaço e evento

de

inclusão, travessia, permanência

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5.0

Crítica ao programa Exposição dos contextos teóricos no projeto

Materialidade e forma arquitetônica

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do Parc de La Villet (Bernard Tschumi,

(CADERNO 3)

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1987)

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Considerações Finais

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Política em um contexto geral Exposição do termo Espaço Eventural Ideia de consenso e sua substituição

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pelo dissenso Exposição de projetos que enfatizem o tema: Fun Palace

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Relação arquitetura e política

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(Cedric Price, 1970), Teatro “On The Fly” (Assemble, 2012) e “The Playing Field” (Assemble, sem data encontrada) Considerações Finais 2

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” 3


RESUMO: A ARQUITETURA ITINERANTE PODE SER ENCARADA COMO OPOSIÇÃO A UMA IDEIA DE ARQUITETURA ETERNA, IMUTÁVEL. ELA ACOMPANHA AS DIVERSAS RENOVAÇÕES QUE A SOCIEDADE É SUJEITA, POSSIBILITANDO ASSIM SUA REUTILIZAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO. SE ASSOCIADA AO CONCEITO DE EVENTO, ELA SE VINCULA MAIS AOS SEU USUÁRIOS PODENDO PROVOCAR SITUAÇÕES E ACONTECIMENTOS ÚNICOS. SE DESVENCILHA DA IDEIA DE UM ESPAÇO PROGRAMADO, PREVISÍVEL, PARA SE TORNAR ALGO INUSITADO, IMPREVISÍVEL, IRREPETÍVEL. COM ISSO, O PRESENTE TRABALHO PRETENDE EXPLORAR E TESTAR O ALCANCE QUE ESSES CONCEITOS TEM PARA PENSAR A/AGIR NA CIDADE. ALÉM DISSO, IRÁ MOBILIZA-LÓS PARA ENFRENTAR UM DOS PROBLEMAS CENTRAIS EXISTENTES NAS CIDADES CONTEMPORÂNEAS. PODEM OS VAZIOS URBANOS SE TRANSFORMAREM EM ESPAÇOS DE AÇÃO COLETIVA E CÍVICA? 4

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5


“Os lugares já não são interpretados como recipientes existenciais permanentes, mas entendidos como intensos focos de acontecimentos, concentração de dinamismo, torrentes de fluxos de circulação, cenários de fatos efêmeros, cruzamentos de caminhos, momentos energéticos.” (Josep Maria Montaner, 2001.Pag.44)

Assim configura-se a Arquitetura Itinerante, que teve seu

O edifício para o Palácio de Cristal, concebido em 1851

Neste contexto, destacamos como exemplo o grupo

início no período pré-histórico, através do nomadismo.

por Joseph Paxton, é um exemplo marcante neste sentido.

Archigram, fundado em 1961 na Inglaterra, utilizavam novas

Segundo Freitas (1999), os homens eram forçados a se

Embora não tenha sido considerada uma obra de importância

formas de comunicação da cultura de massa para composição

deslocar por territórios que lhes melhor oferecesse alimentos

arquitetônica à época (Paxton não tinha a Arquitetura como

de seus projetos utópicos, como forma de oposição a

e materiais para confecção de utensílios, obrigando-os

profissão, mas sua experiência na construção de grandes

representação convencional. Ainda, suas ideias e objetos

ao uso de estruturas leves e flexíveis que ajudassem nas

estufas era a resposta tecnológica adequada à ocasião),

arquitetônicos foram difundidos de maneira estratégica,

suas construções de habitação. Sendo assim, ela surgiu

logo se tornou uma referência decisiva devido ao uso dos

atribuindo do fenômeno de comunicação, traduzindo assim

A arquitetura itinerante pode ser encarada como oposição

como solução de sobrevivência e deu origem a técnicas de

elementos industrializados, que permitiu a integração do

seus projetos e ideias em uma linguagem contemporânea.

a uma ideia de arquitetura eterna, imutável. Versátil e

construções que perpetuam até hoje.

ambiente interno-externo, o vencimento de grandes vãos e a

flexível, ela acompanha as diversas renovações por quais passa a sociedade, possibilitando assim sua reutilização e

flexibilidade da estrutura.

Desde então, a Arquitetura Itinerante vem passando por

O grupo idealizava uma arquitetura que tinha ideias e princípios particularmente relacionados às transformações da vida humana e das tecnologias de acordo com o período. Com

diversas transformações. No império romano foi desenvolvido

De fato, as descobertas tecnológicas e espaciais do Palácio

uma estrutura chamada Velariae, destinada apenas às

de Cristal anteciparam muitas características da arquitetura

Se associada ao conceito de evento, adquire ainda a

atividades de lazer nos espaços públicos, principalmente em

itinerante (e voltadas para ações eventuais) produzidas na

capacidade de se vincular mais aos seu usuários, podendo

Anfiteatros. Constituída em uma cobertura retrátil de linho

contemporaneidade. Além disso, o enfoque do trabalho será

provocar situações e acontecimentos únicos. Se desvencilha,

suspensa por cordas, era facilmente montável e desmontável.

o ponto em que os conceitos das estruturas itinerante do

assim, da ideia de um espaço programado, previsível, para se

Após esse período, as tendas entraram em desuso devido à

Império Romano (as Velariae) se ligam às feiras de exposições

tornar algo inusitado, imprevisível, irrepetível.

escassez de matéria prima, sendo somente retomadas com a

industriais, isto é, quando novidades de uso e de programa se

chegada do período industrial, quando foram reutilizadas com

Tratava-se de uma experimentação arquitetônica no

desvinculam da forma arquitetônica, proporcionando ideias de

novos materiais e técnicas construtivas.

seio da reorganização produtiva que marcou o período.

evento, de encontros, de acontecimentos. Ambos exemplos

Os desdobramentos da revolução industrial, inauguram

colocam para a arquitetura novas maneiras, novos hábitos,

um novo modo de representação para seus produtos.

novos comportamentos sociais, que pedem assim uma nova

Convencionalmente denominada como “cultura de massa”,

ideia de espaço, e de como este pode ser construído.

demarca um forte apelo à produção de imagens, como

transformação.

Com isso, o presente trabalho pretende explorar e testar o alcance que esses conceitos têm para pensar a/agir na cidade. Além disso, irá mobilizá-los para enfrentar um dos problemas

De fato, a revolução industrial foi a grande precursora

centrais existentes nas cidades contemporâneas: podem os

dos avanços de materiais metálicos pré-fabricados, o que

vazios urbanos se transformarem em espaços de ação coletiva

transformou a maneira de construir. Tornando-se mais rápida

e cívica?

e eficiente, desenvolveu ainda mais os projetos de caráter

Assim se constitui a ideia de itinerância e vento deste

itinerante. Além disso, essa evolução também alavancou

estudo: tecnologias mais atuais como o Steel Frame,

os meios de deslocamento com o surgimento da máquina

as projeções audiovisuais, as estruturas pneumáticas e

a vapor, que possibilitou o transporte dessas matérias

tensionadas, além dos sistemas de encaixe, que possibilitavam

primas difundindo o desenvolvimento desse novo modelo de

o desmembramento das estruturas para sua posterior

produção industrial.

reconstrução, contém o traço evolutivo da arquitetura

Antes de tudo, convêm olhar mais atentamente para alguns conceitos chaves para a arquitetura itinerante e a ideia de evento na arquitetura. Longe de encerrar as questões levantadas entre uma e outra, neste primeiro momento serão recortados alguns problemas mais centrais a serem debatidos ao longo deste estudo e que nortearão as ações de projeto. Itinerante é aquilo que transita, que se desloca, que viaja. Cada vez mais o homem se configura como um sujeito nômade na cidade, com a busca constante de se adaptar às transformações vividas pela sociedade e refletidas em seus hábitos. Deste modo, a arquitetura também está inserida nesse contexto, onde se desvencilha do conceito de construção estática, garantindo novas possibilidades de ocupação no espaço.

Com o uso de novos materiais como o ferro, vidro e concreto consequente à revolução industrial, desenvolveram-se novas tipologias arquitetônicas associadas a grandes vãos

itinerante, conforme defendido por Freitas (1999) em um sentido técnico-construtivo e também sócio-cultural. Daí a importância representada pelas experiências

cobertos. Dentre elas, encontramos os pavilhões para as exposições internacionais, desenvolvidos para reunir o poder, produtivo das principais potências industriais da época.

arquitetônicas dos períodos entre 1960 e 1970. Neste período, alguns pensadores/arquitetos vieram a contestar a forma como a arquitetura estava sendo apresentada e imposta

Nestas verdadeiras competições pela liderança econômica mundial, em que a disputa tecnológica se tornava uma questão primordial, as próprias edificações se tornavam protagonistas. 6

sobre a sociedade, estudavam uma nova maneira de projetar que negava a arquitetura funcionalista, avançando assim nos conceitos de arquitetura itinerante e de evento.

isso, eles transformaram a produção arquitetônica hegemônica à época, norteada por um princípio rígido, estabilizado e durável, para novas alternativas de planejamento focadas em princípios como a mobilidade, a flexibilidade, a instabilidade, a mutabilidade, a efemeridade e a instantaneidade.

instrumento decisivo para as práticas de consumo, alçada a um novo comportamento social e cultural. O grupo Archigram encarou a imagem de maneira positiva, utilizando esse tipo de apresentação em seus projetos como forma de provocar a sociedade à absorver sua característica marcante. No entanto, um contraponto às experiências do Archigram se torna fundamental. A imagem pode ter uma perspectiva oposta, na concepção de Guy Debord. Filósofo, agitador social e diretor de cinema, para o autor o conceito de imagem está ligado ao “espetáculo”. Exposta em seu livro “A Sociedade do Espetáculo”, o “espetáculo” traduz a imagem como influenciadora, alegando que toda a forma de representação e interpretação dominam a sociedade, tornando-a alienada e passiva. Essa vulnerabilidade atua a favor do capitalismo, que se expande através dos espetáculos, por isso a força de sua presença e ação sobre as pessoas. 7


como Archigram, e que se desenvolve na esteira das críticas

programados; de indefinição de programas; um espaço que

colocadas por Debord, se encontra nos pensamentos de

permita o novo, o inusitado. (Sperling, 2008)

Bernard Tschumi sobre a imagem, que não pretendia estar

Dissidência pode ser entendida também no conceito

relacionado a qualquer corrente ou linguagem advindas do

trabalhado por Zygmunt Bauman, que tem como princípio na

espetáculo, por não acreditar na imagem como atuante na

sua arquitetura, a instabilidade, o dinamismo e a fluidez.

arquitetura.

Classifica como formas líquidas, a capacidade de se adaptar

Tschumi pretende, em um contexto de crise, em que se

às contingências, o dinamismo no uso do espaço e do tempo,

é necessário rever as bases que sustentam a arquitetura,

a possibilidade de mutação nas funções ou nos programas e a

oferecer à sua teoria a discussão. Assim, buscou uma nova

transformabilidade de espaços e de materiais.

maneira de pensar a arquitetura, essa que para ele está ligada

Bauman reformula o modo de se pensar a arte, ligando-a com

a um movimento e a um espaço que tem relação “disjuntiva”

o espaço, com a arquitetura, com a sociedade, essa portanto

com o evento, que se caracteriza num acontecimento não

converte os seus espectadores em usuários, ocasionando

programado e não repetível, e que só pode ser configurado

assim intervenções nos espaços urbanos. Tanto a arte quanto

através de sua relação de integração e conexão com a

a arquitetura são manifestações conceituais, contextuais e

sociedade.

processuais que estão sempre em transformação. As suas

Tschumi afirma que pensar a arquitetura criticamente ainda

relações se dão nos encontros, onde arquitetura convive com a

estava ligada a outros aspectos, pontua, o papel político, social

arte que se converte.

e cultural conservador de representação, além da permanência da ideologia dominante que para ele impunha uma maneira

da

escala

do

objecto

metamorfose,

nomadismo,

tecnologia,

flexibilidade e consumo, cruzam-se com fluxo,

desenvolvendo um pensamento que até hoje se perpetua.

espaço e ambiente para criar imagens urbanas de

arquitetura (sinônimo da cidade,

uma complexa máquina autónoma. Uma cidade

que poderia estar em todo o lado e em lugar

Tschumi,1994) é a projeção da sociedade

nenhum, onde os elementos seriam substituídos

e é iniciada por ela, não se pode construir

sem sentimento de culpa, e a sua história deixaria

algo que não seja a imagem do que já

de

organização

estratégia

do

território

está presente, mas ao mesmo tempo há o desejo de criar a possibilidade para uma nova

sociedade

(Walker,

Tschumi,2006)

ter

passado.

(MENESES,2007,p.100)

Temos, enfim, que as cidades são organismos vivos, são paisagens em constante mutação que acompanham a forma como a sociedade vai se urbanizando e como os territórios

No ano de 2008, o professor e pesquisador David Sperling

respondem a essa urbanidade. Neste contexto o caminho

aprofundou a ideia sobre evento e espaço já apresentada,

se apresenta na arquitetura itinerante como alternativa das

colocando à frente outras teorias que são de interesse

questões abordadas.

ressaltar, buscando dar maior amplitude a política no campo da arquitetura, Sperling explora o “Espaço Eventural”, emprestado do filósofo Badiou, e que para ele representa um espaço 8

Instant CityIn a Field, Typical Set-up, Peter Cook,Archigram 1969

de

Assim, ele contradiz todas as teorias da arquitetura moderna,

a

transposição

arquictetónico para a escala da cidade, as noções

de desenvolver a arquitetura através da forma-função.

“Se

Na

Pack, Londres, abrilde 1968. Archigram Archives).

de dissidência, de encontro das diferenças; de eventos não

Ron Herron, Oasis, colagem, 1968 (Archigram Magazine, n. 8, Popular

Um posicionamento mais atento às contradições de grupos

9


Nesta perspectiva, a arquitetura de evento vai ser explorada em seu alcance para falar e agir na cidade, mais especificadamente nos vazios urbanos que segundo (Furtado e Oliveira, 2002) são caracterizados como terrenos economicamente ineficientes e incompatíveis com as necessidades de terra para atender às demandas sociais. Contudo, através de uma intervenção arquitetônica, esses vazios podem ser potencializadores de espaço, geradores de usos inesperados, criadores de comunidade, espaços que dão aos seus usuários uma forma dinâmica de apropriá-los. Para ser possível o desenvolvimento desse projeto, cabe aprofundar o entendimento sobre o conceito de imagem e como ele aliena a sociedade; a crítica à arquitetura funcionalista, que deslumbra com a ideia de crítica ao programa e a forma-função; por fim, ressaltar o papel do arquiteto na ação política e compreender as noções de espaço eventural e dissidência.

10

11


A vida nas sociedades que dominam as condições modernas de

da mercadoria, formando assim a base da alienação. “O

nas políticas de desenvolvimento urbano, sobretudo no

produção (industrialização e sistemas de consumo) é o relato

espetáculo, como organização social da paralisia da história

mercado de lazer e do turismo. Através dessa arquitetura,

do surgimento e da multiplicação de espetáculos, tudo que

e da memória, do abandono da história que se erige sobre

certos espaços considerados degradados e/ou abandonados

antigamente era diretamente vivido e experienciado se afastou

a base do tempo histórico, é a falsa consciência do tempo”

pelo meio urbano, podem se transformar em uma grande

em uma “representação”, constituindo uma nova situação

(DEBORD, 1997:108).

oportunidade de especulação financeira.

As considerações de Debord apresentam uma irrealidade

O termo icônico foi usado para nomear o chamado “Efeito

de uma sociedade real, que quanto mais se submete,

Bilbao”, por consequência da obra do Museu Gugghenheim

Debord é enfático ao dizer: “O espetáculo

contempla, aceita e se baseia nas imagens dominantes,

construído em 1997 na cidade espanhola, projetado por Frank

é o capital em tal grau de acumulação que se

menos irá compreender sua própria existência, seus desejos

Gehry como forma de recuperação econômica da cidade de

torna imagem.” E “o espetáculo é o momento

e sua essência. O sujeito da “sociedade do espetáculo”,

Bilbao.

em que a mercadoria ocupou totalmente

então, atravessou um processo de transformação de

a

sua subjetividade, onde deixou de “ser” para “ter”. Ainda

social que é estudada por Guy Debord e definida como “sociedade do espetáculo”.

vida

social.”

(DEBORD,2007,p.26;30)

O espetáculo é, em sua íntegra, o resultado do modo de produção material existente em nossa sociedade. Nasceu e se aperfeiçoou para afirmar no tecido das relações sociais as escolhas feitas pela forma produtiva e de troca hegemônicas, isto é, o espetáculo atua a favor do capitalismo, sendo o consumo então, o objetivo final. Nessa sociedade, o espetáculo corresponde a uma fabricação concreta da alienação, o mundo que o espetáculo mostra aos homens é fundamentalmente o mundo da mercadoria: “o homem alienado daquilo que produz, mesmo criando os detalhes do seu mundo, está separado dele. Quanto mais sua vida se transforma em mercadoria, mais se separa dela.” (Guy Debord –1969. Pag 27). Debord, tem uma perspectiva marxista, concentrando sua crítica à veneração da mercadoria, a qual ele nomeia de “fetichismo da mercadoria”, através de seu estudo da percepção das relações sociais envolvidas na produção, não como relações entre pessoas, mas relações entre dinheiro e mercadoria negociadas no mercado, desenvolvendo assim o seu ideal anticapitalista. Neste contexto, em uma lógica de espaço/tempo, Debord pontua que através dessa ideologia a sociedade fetichista desenvolve o “tempo espetacular”,

exercício formalista ao espectador.

Por um lado, o que vemos em Bilbao trata de ir contra

segundo Debord, o sujeito consequentemente enfrenta um deslizamento generalizado do “ter” para o “parecer”, no qual o consumo não se desenvolve apenas pelo valor do seu uso, mas pela aparência que este produto irá lhe proporcionar, gerando uma situação ilusória, de permanente incompletude.

as certezas do Movimento Moderno, das suas bases às convicções, da funcionalidade ao sentido da obra arquitetônica. Essa é a dimensão crítica de Gehry. Sua arquitetura de desconstrução, eliminou por si só as formas convencionais e propositais, caracterizando em uma metodologia oposta a da composição, onde lógica, razão, e as

Se o desenvolvimento do modo de produção capitalista,

noções tradicionais de arquitetura foram desestabilizadas.

através da ênfase na imagem, impactou de maneira ampla o tecido da vida social, a ideia de espetáculo atingiu também a prática da arquitetura. Esta passa a ser pensada como um instrumento para o consumo, no momento em que a edificação se torna um ponto de destaque no espaço, e a criação do lugar passa a ser uma questão econômica, como estratégias para geração de lucros e benefícios frente à dinâmica urbana e

Gehry desenvolve o museu através da sobreposição e conexão de segmentos de um volume fragmentado, de deformação, de deslocação, desenvolvendo formas irregulares harmônicas entre si, com forte valor escultórico. Dentro desse contexto, o edifício caracteriza a arquitetura como imagem, proporcionando sensações e aparências vinculada à esse volume, resumindo em uma arquitetura de exterior, que tem

produtiva na qual se insere.

como evidencia sua casca.

Esta condição da arquitetura pode ser melhor verificada

No conjunto, fica evidente o valor plástico das formas livres, e

na assim chamada “Arquitetura Icônica”, que busca com

a expressão do gesto artístico, apresentados no museu, unidos

frequência em seus projetos desenvolver formas mais

à uma negação da objetividade dos meios arquitetônicos,

orgânicas e impactantes, com fechamentos mais livres,

como modo de reforçar a excitação dos sentidos. Importante

acentuando um valor escultórico e formalista. Tem como objetivo introduzir uma cultura sensacionalista, espetacular, popular e apresentar uma nova paisagem de destaque para a cidade. (Almeida, 2010)

observar, neste aspecto, como a arquitetura de Ghery tem um papel econômico e político contraditório a seus anseios: apesar de sua forma complexa e “rebelde” em relação ao ideário arquitetônico de seus mestres, o edifício se comporta

caracterizado pelo poder de desassociar o público do tempo

De fato, diante do cenário competitivo desencadeado pelo

muito bem dentro de uma economia global extremamente

real, os levando a um tempo virtual, que está essencialmente

capitalismo globalizado, a arquitetura icônica reforça a lógica

competitiva. Essa seria a limitação da crítica de Gehry, muito

ligado à experiência intersubjetiva privilegiada para o consumo

do consumo de imagens, estando cada vez mais presentes

próxima aos questionamentos de Debord: ela proporciona um 12

13


MUSEU GUGGHENHEIM dbaron) Frank Gehry, Guggenheim Museum Bilbao, 1993-97 (photo: Ardfern, CC )

Museu Guggenheim de Bilbao / Gehry Partners (photo: Flickr User: © FMGB Guggenheim Bilbao Museoa, 2017

Projeto que foi contra as convicções do movimento moderno Elimina formas propositais e convencionais Arquitetura desconstrutivista Formas irregulares Trabalha com sobreposição de volumes fragmentados Reforça a excitação dos sentidos Arquitetura como imagem

14

15


O problema que devemos enfrentar nesse contexto refere-se

fundo, o controle, o gerenciamento de pessoas, a formulação

tentando se tornar) uma pessoa diferente

à noção de que a imagem não toca apenas o aspecto visual dos

de regras e a obtenção da obediência. No contexto mais

daquela que se tem sido até então. “Tornar-

cenários públicos, mas também sua interpretação como marca,

recente, quando as formas de consumo da “sociedade do

se outra pessoa” significa, contudo, deixar de

daí o problema de que as cidades e regiões são cada vez mais

espetáculo” se intensificaram, Bauman acredita em um novo

ser quem se foi até agora, romper e remover a

obrigadas a se mercantilizar, seja atraindo novas indústrias

momento da modernidade, caracterizado pela dissolução das

forma que se tinha, tal como uma cobra se livra

ou mesmo o lazer e o turismo. Muitas cidades buscam mais

forças dominantes, e pela busca da reintrodução dos antigos

de sua pele ou uma ostra de sua concha; rejeitar,

atrativos no intuito de reforçar cada vez mais as imagens

“sólidos” (isto é, o sistema de valores e crenças estáveis e

uma a uma, as personas usadas – que o fluxo

que “as tornem mais e mais qualificadas não só aos olhos de

perenes que orientavam a vida cotidiana) em sua nova forma

constante de “novas e melhores” oportunidades

Esta nova arquitetura é definida por acontecimentos onde o

seus moradores, mas também que as façam atrair um número

social moderna, à qual ele nomeia de “modernidade líquida”.

disponíveis revela serem gastas, demasiado

espaço e o tempo aparecem conjuntamente como elementos

sempre crescente de visitantes e turistas” (CASTELLO). Os

Essa era marca a passagem para a modernidade capitalista

estreitas ou apenas não tão satisfatórias quanto

adaptáveis e com funções múltiplas. Através dessa nova

lugares que habitamos passam a ser encarado, então, muito

baseada no lucro em formas inéditas.

foram no passado. Para apresentar em público

consideração do uso dos espaços o objeto não impõe uma

um novo eu e admirá-lo no espelho e nos olhos

ordem, permitindo assim, novas composições criativas como a

dos outros, é preciso tirar o velho das vistas,

arte.

mais em função de seu sucesso econômico e financeiro do que qualquer outro sentido cívico (político, social, cultural ou ambiental), tornando-se commodities, objetos com valor de troca. O espetáculo vinculado à arquitetura, pode ser entendido, enfim, pela importância da imagem da arquitetura icônica, nesta corrida pelo sucesso instantâneo de público e consequentemente de retorno financeiro de seus investidores.

“O “derretimento dos sólidos”, traço permanente da modernidade, adquiriu, portanto, um novo sentido, e, mais que tudo, foi redirecionado a um novo alvo, e um dos principais efeitos desse redirecionamento foi a dissolução das forças que poderiam ter mantido a questão da ordem e do sistema na agenda política. Os

da “modernidade líquida”. Para se inserir nesta nova modernidade, a arquitetura líquida deve se libertar das formas ditas tradicionais, baseadas na estabilidade e na permanência, substituindo-as pela fluidez, desvencilhando-se da condição de permanência da “modernidade sólida”.

nossas e de outras pessoas, e possivelmente

“Produzir

também da memória, nossa e delas. Ocupados com nós

a

autodefinição

praticamos

a

e

a

para

a

experiência

do

fluido e torná-las disponíveis para análise,

autoafirmação,

destruição

formas

experimentação

criativa

e

projetos

urbanos,

ainda

hoje são mais um desejo do que uma realidade

diariamente” (BAUMAN, 2009, p. 99-100).

alcançável. Dar forma à experiência sinestética do

Consequentemente, a saturação das imagens, cada vez mais

sólidos que estão para ser lançados no cadinho

A sociedade na experiência líquida da modernidade, com sua

fluxo no movimento da metrópole, distanciando-

presentes na vida cotidiana através de diferentes formas

e os que estão derretendo neste momento,

identidade flexível, faz uma busca fugaz pela felicidade, a qual

se do planejamento programático puramente

(incluindo a arquitetônica) faz com que as pessoas passam

o momento da modernidade fluida, são os

exige adaptabilidade e mudanças constantes. Dessa forma,

visual e das regulações preestabelecidas, de

a vê-las de uma maneira mais individualista e personalizada.

elos que entrelaçam as escolhas individuais

a era da compatibilidade universal deixa de possuir lugares

modo a experimentar outros acontecimentos,

O que não significa que sejamos totalmente capazes de nos

em projetos e ações coletivas – os padrões de

definidos, agora os indivíduos devem lutar “livremente” por

outras

manifestar através de nossas próprias imagens. Pelo contrário,

comunicação e coordenação entre as políticas

sua conta e risco para se inserir numa sociedade cada vez mais

fundamentais

resta a dúvida se neste contexto estaríamos cada vez mais

de vida conduzidas individualmente, de um

seletiva econômica e socialmente.

futuro.” (SOLÀ-MORALES, 1977, p. 47-48)

reféns de imagens produzidas externamente, pela indústria

lado, e as ações políticas de coletividades

e seu apelo desenfreado ao consumo. Essa mudança foi

humanas, de outro” (BAUMAN, 2001,p. 12).

performances, da

é

um

dos

arquitetura

que

desafios visa

o

Bauman avançou sua teoria em diversas vertentes, neste

A arte da vida que girava em torno de um plano prévio, de

contexto, interessa explorar a arquitetura, contextualizada por

coisas permanentes, passa a ser enxergada através das

Curiosamente, Bauman enxerga na forma líquida da

Solá Morales através de um termo emprestado de Bauman,

incertezas que são as únicas certezas permanentes, em uma

“As comunidades se tornam cada vez mais

modernidade a lacuna que libertaria o indivíduo para se

caracterizada como “Arquitetura Líquida” - no limite, uma

sociedade onde o momento presente é composto por aparatos

dispensáveis... As lealdades pessoais diminuem

identificar. O fato de se tornar uma pessoa diferente se torna

busca pela superação das contradições que prendem o sujeito

montáveis, desmontáveis e que se movimentam. Então, a

seu âmbito com o enfraquecimento sucessivo

uma obrigação, a identidade individual está em contínuo

moderno às relações alienantes identificadas por Debord.

modernidade líquida encontra-se em estado de revolução

dos laços nacionais, regionais, comunitários,

estado de nascimento e em constante modificação.

estudada pelo filósofo Zygmunt Bauman, para quem:

de vizinhança, de família e finalmente dos

“Uma arquitetura líquida, fluida, não é voltada para a

“Praticar a arte da vida, fazer de sua existência

representação ou o espetáculo...” (Apud SOLÀ-MORALES,

uma “obra de arte”, significa, em nosso

1977, p. 47-48). Nestas circunstâncias a arquitetura

mundo líquido-moderno, viver num estado de

defendida por Solá-Morales se desvencilha da abordagem da

A modernidade anterior à Bauman (e cuja transformação

transformação permanente, auto-redefinir-se

imagem, concentrando-se na imprevisibilidade da vida líquida

foi analisada e teorizada por Debord) teve como pano de

perpetuamente tornando-se (ou pelo menos

que atenta para a apropriação humana nos espaços e no tempo

laços que nos ligam à imagem coerente de nós mesmo” (apud Bauman,2003, p. 48)

16

permanente.

17


Coberturas móveis. Imagem © Miguel Braceli

Na era do barateamento da imagem, onde tudo é exposto o

consumo, vislumbramos a oportunidade de que essa atitude

tempo todo através dos meios de comunicação, como filmes,

ativa das pessoas proporcione relações criativas, autônomas,

televisão, internet, dentre outros. E considerando ainda que só

emancipadoras e não alienantes. Assim, o indivíduo passa

imagens que chocam alcançam uma permanência na memória,

a conquistar sua liberdade de ação e pensamento, na busca

concordamos com o pensamento de Guy Debord, acreditando

continua de realização e autoafirmação, redefinindo seus

que neste contexto os arquitetos não devessem colaborar

vínculos com o meio. Contudo, para pensar a arquitetura desta

com a produção de mais imagens chocantes e espetaculares.

maneira é necessário rever os seus preceitos, repensando o

Porém, em outro âmbito, entendemos e acreditamos no poder

modo como ela estava sendo produzida desde o movimento

que a imagem tem sobre uma sociedade, não a encarando

moderno, e também revisar a própria postura do arquiteto,

como um problema demasiado, visto que com ela podemos

ampliando assim a sua relação com a dimensão política de sua

informar, ensinar e alertar. Suas tecnologias de produção

prática e inserção sociais.

e transmissão na contemporaneidade, incrementam de forma considerável o processo de comunicação. Através da imagem e da comunicação podemos explorar um campo de experimentação e pulsão das relações sociais, produtivas e criativas.

Ainda sobre Bauman, “vimos que instabilidade, dinamismo e fluidez destacam-se como os principais atributos de sua modernidade líquida, aos que contrapõe a solidez de uma modernidade passada. Igualmente, tais atributos também estruturam as considerações sobre uma arquitetura líquida...”

Desenvolvido em um sentido oposto, a imagem onde a

Neste contexto, reafirmamos o conceito de liquidez na

sociedade busca sua identidade perdida pelo consumismo é

arquitetura de Solà Morales que “se distancia da abordagem

encarada como movimento líquido defendido pelo filósofo

pela via da imagem, centrando-se nas contingências da

Bauman, ele encara que a imagem influencia a personalidade

arquitetura para abrigar uma vida líquida; mais que a forma

da sociedade, porém ele ressalta que essa ideia está saturada

em si, preocupa-lhe a apropriação humana nos espaços e

e defasada. Agora as pessoas passam a buscar os produtos de

no tempo no contexto da modernidade líquida” (Arquitetura

acordo com o seu estilo e com a sua cultura. Acreditamos no

Líquida, Antônio Carlos Dutra Grillo, 2010, pg.12)

posicionamento de Bauman e de sua tradução arquitetônica por Solá-Morales, porque independente de toda a influência da imagem (espetáculo) apresentado, as pessoas ainda guardam um sentido de autonomia, procurando o que as Imateriais. Imagem © Miguel Braceli

fazem felizes e completas.

18

Podemos dizer que a modernidade líquida é o momento atual que vivemos, é a relação e instituição além da lógica de operações que se impõe e que dão base para a contemporaneidade. É uma época líquida, fluida, incerta, insegura e que está em constante modificação. O conceito de modernidade líquida oferece um campo de experimentação arquitetônica exatamente na dimensão crítica para a qual Bauman chama atenção: se agora as pessoas são chamadas a serem mais ativas, mesmo na prática do 19


Como vimos, a crítica de Bauman sobre as formas de dominação e de controle social ecoou, através da noção de uma “Arquitetura Líquida” defendida por Solá-Morales, em uma forte contestação do “funcionalismo arquitetônico”. A valorização de conceitos como instabilidade e fluidez na construção dos espaços, contrariou a produção arquitetônica até então hegemônica e que se pautava pela sistematização hierárquica de programas, pelo desenho extremamente preciso, “racional” e totalizante do espaço. Nesse âmbito, este estudo procura estruturar-se na mudança dessa realidade, para uma condição mais líquida. Parte desta mudança deve ser inicialmente traçada a partir da própria constituição do funcionalismo em arquitetura, como consequência do caminho tomado no desenvolvimento da Arquitetura Moderna. Se as transformações observadas durante o século XX marcaram o processo de mecanização da produção de materiais e da construção civil, foi especialmente

Sobre esses conceitos já estabelecidos e confirmados é que se assenta o discurso mais amplo no âmbito da arquitetura contemporânea, questionando padrões estabelecidos em direção a novas experimentações que acompanham determinadas vertentes de pensamento da assim chamada pós-modernidade. Neste contexto, destacamos o arquiteto Bernard Tschumi, quem buscou novos conceitos e práticas para a Arquitetura. Para ele, a arquitetura é “a confrontação prazerosa, e às vezes, violenta entre espaços e atividades” (TSCHUMI,1998, p.4). Alinhava seus princípios a ideia de política e cultura, onde pretendia desvincular a arquitetura de paradigmas dominantes impostos na sociedade, como a forma-função. Ele propôs novas relações espaciais e dinâmicas de uso que se relacionam com os espaços, que ele nomeou de “evento”.

a partir dos anos 50, que a arquitetura assumiu um raciocínio

Tschumi buscava a mudança que a época pedia. Para ele,

dito “funcionalista” ao elevar como princípio e regra de projeto

evento é entendido como um acontecimento, uma ocorrência,

este ideário técnico-científico. Segundo Theodor Adorno, “o

um incidente aquilo que não pode ser previsto ou programado,

século XX chamou genericamente de arquitetura funcionalista”

que possui caráter único e que nunca será repetível. Constrói

uma produção arquitetônica que era realizada a partir da ideia

essa ideia em cima de uma movimentação aleatória, que

de objetividade, pensada por si mesma como organizadora

expande mais o espaço para a compreensão de quem o utiliza.

dos processos de estruturação social, ocasionando uma

Assim, o evento tem caráter agregador, no qual integra a

construção ideológica da arquitetura na época. (Theodor W

sociedade ao seu encontro. (Sperling, 2008)

Adorno, 1992, pág.16)

20

existe a permear os dois termos no mundo heterogêneo.

(...) O espaço não é simplesmente a projeção

O ponto central da discussão do funcionalismo como doutrina

tridimensional de uma representação mental,

estética é, portanto, a relação entre forma e função, como

mas é algo que se ouve e no qual se age. E é o olho

preconizado pelo maior de seus expoentes, o arquiteto alemão

que enquadra – a janela, a porta, o ritual efêmero

Mies van der Rohe: “A forma não somente como resultado

da passagem (...) Espaços de movimento- é aí

final de uma compreensão e interpretação da realidade, mas

que começa a articulação entre o espaço dos

como único veículo para compreender a estrutura da vida

sentidos e o espaço da sociedade, as danças,

e da experiência para poder acolhê-la, não em qualidade

e os gestos que combinam a representação do

de passado ou futuro, mas como fluxo de presente, dentro

espaço e o espaço da representação. Os corpos

do projeto de arquitetura” (Van der Rohe, 2011, pág.15)

não somente se movem para seu interior, mas

Entretanto, quando a relação forma/função alterna-se com a

produzem espaços por meio e através de seus

relação forma/conteúdo, se percebe que a forma não é apenas

movimentos. Movimentos – de dança, esporte,

o suporte da função, como quer o funcionalismo, mas que

guerra – são a intromissão dos eventos nos 21


espaços arquitetônicos. No limite, esses eventos

Mobilizando suas referências e os conceitos teóricos que vinha

de conflito e fragmentação, onde um sistema interfere com o

conseqüência, não há verdade absoluta para

se transformam em cenários ou programas,

produzindo, Tschumi desenvolveu em 1987, o projeto para

outro de maneira marcante, daí se dá a disjunção espacial de

o projeto arquitetural, por qualquer sentido

esvaziados de implicações morais ou funcionais,

o parque Parc de La Villette, cujo objetivo era o de revitalizar

seu parque: espaços de permutação de sistemas e programas

que ele possa ter ser função de interpretação:

independentes, porém inseparáveis dos espaços

uma área abandonada e pouco desenvolvida em Paris. Propôs

faz com que a pessoa que esteja caminhando pelo jardim,

ele não é residente no objeto ou nos materiais

que

a criação de um lugar de cultura e lazer, onde o natural e o

por exemplo, possa se deparar com um nó, que á permita

dos

artificial se mesclam em um estado de constante modificação

mudar de caminho, podendo ir então para uma área onde

e descoberta. Segue, com a intenção de um parque, com

algum outro evento esteja acontecendo. Ou seja, o parque

inúmeras atividades e interação, com sensação de liberdade,

possui estratégias que admitem os conflitos, a confusão

organizadas de maneira sobrepostas que de certa forma, criam

e os movimentos imprevisíveis através da superposição,

pontos de referência para os visitantes.

justaposição e permutação. Com isso, Tschumi “pretende

os

encerram.

(TSCHUMI,2006,p.181).

Tschumi vinculava a arquitetura aos termos, “espaço”, “evento” e “disjunção”, rejeitando o espaço que já possua um programa legível, com a combinação de formas tradicionais, pois por esse ponto, o espaço passaria a ser operado e pensado por intermédio da forma e da função que solidificou a base

como “operações compostas de repetição, distorção, superposição, e assim sucessivamente” (TSCHUMI, 1996,

que o sentido do espaço do parque não seja único e dado

abordadas por Tschumi para o tratamento tanto do programa

que acompanha a instabilidade da arquitetura como espaço

quanto do espaço. Continuidade, descontinuidade, limites,

vivencial e suas transformações pelos movimentos e pelos

fronteiras, barreiras, cheios e vazios, são os elementos

usos das pessoas.

primários, explorados por Tschumi para conceber sua ideia

Os “folies”, elementos arquitetônicos chaves para o parque

“espaço-evento” de um parque. “A arquitetura do prazer

(além de serem bastante consagrados como referência

está onde o conceito e a experiência do espaço coincidem

projetual entre os arquitetos) têm como intuito a criação de

abruptamente, onde os fragmentos da arquitetura colidem

imagens memoráveis, marcos referenciais, lugares livres,

e se fundem em deleite, onde a cultura da arquitetura é

que contenham programas que ofereçam a oportunidade de

eternamente descontruída e as regras são transgredidas.”

“inventar” usos e apropriações. Seu projeto mira a criação de

(TSCHUMI,1996,p.93)

pontos cuja função é unicamente potencializar a geração de

convertendo-o em um processo de junção entre posição e movimento. A confrontação que Tschumi desenvolve entre espaço/uso/atividade/evento é disjuntiva, pois se caracteriza

p.181).

previamente, mas produzido socialmente pelos eventos que abriga, diversos, e em constante mutação”. (Tschumi,

É clara a ruptura com o programa funcionalista, que vê a

1994b:201,203).

arquitetura como como resultante de necessidades e de funções definidas a priori. O projeto é vislumbrado na ideia espaço-evento, onde se é perceptível, na dinâmica dos folies e na desmontagem das estruturas dos eventos, que dão evidência às relações entre “uso” e “programa”, que movem o “espaço-evento” do parque. A desprogramação

O projeto apresenta três princípios de organização

os programas estão sempre em mudança combinando e

configurados em três camadas superpostas, mas diferentes

recombinando-se.

entre si. São os pontos, as linhas e as superfícies. As linhas

parque. Se constituem no evento do programa ou no programa do evento. La Villette, então, aponta para uma arquitetura

toda a sua extensão, além de fornecer as coordenadas para

que

a disposição dos “folies”, estes atuando como os pontos,

significante antes que do significado – o qual

incorporam também outra linha de movimento: um caminho de

(one that) é traço puro ou jogo de linguagem.

jardins temáticos, os “Promenade Cinematique”, encarregados

De uma maneira nietzscheana, La Villette se

de conduzir e conectar os diversos sistemas do parque e

move em direção à infinidade interpretativa,

suas superfícies. As superfícies, possuem equipamentos com

pelo fato de o efeito de recusa de fixidez são

implica de maneira nenhuma voltar às ideias

programa definido, porém, outros oferecem espaços livres

ser insignificância mas pluralidade semântica.

de função versus forma, originar e produzir

que podem ser designados para qualquer atividade. A estas

(...) ... Folies dão caminho a uma multiplicidade

relações entre programa e tipo ou introduzir uma

camadas superpostas, soma-se um quarto sistema do parque,

de impressões. Cada observador projetará

nova versão positivista utópica. Ao contrário,

que está sobreposto com os demais, onde constitui um

sua própria impressão, resultando em um

abre um campo de investigação onde os espaços

conjunto de edificações pré-existentes.

julgamento que será interpretado novamente

gerador de conceito de espaço, com a intenção de garantir a flexibilidade para seus usuários, que podem utilizá-lo de maneira libertadora, sem a imposição de um uso normativo (ou mesmo, normatizador). “Discutir hoje em dia a ideia de programa não

se confrontam em última instância ao que acontece com eles.” (TSCHUMI, 1994,p.483)

Tschumi ignora a síntese e a unidade, optando por espaços 22

reflete na desprogramação, onde a reinstalação de uso só é espaço-evento, que podem ser concebidos como espaços de experiência. Sendo assim, a noção de experiência se dá através da vivência no parque.

são os “corredores” que recebem estrutura de cobertura em

Para ele, o programa é entendido como interpretador e

prevista por Tschumi, gera intervalos no uso do parque, o que possível através de programações momentâneas, ou seja do

eventos, de livre apropriação do próprio sujeito/visitante do

pela instabilidade da arquitetura numa sociedade em que

p.203)

conceitos em espacialidade arquitetônica, que são explicados

então, a substituição desse binômio por “espaço-evento”,

porque o evento rompe com a ideia convencional de espaço,

1996,

os mecanismos utilizadas por Tschumi transformam seus

Desconstrução e superposição são então, as primeiras ações

disjuntiva entre espaço e evento”(TSCHUMI, 1994b:5),

(TSCHUMI,

O projeto do parque então, é palpável e objetivo, porém

teórica e operacional da arquitetura no século XX. Propõe,

Afirma, em última instância, que a “arquitetura é a relação

objetos.

significa

nada,

uma

arquitetura

do

(de acordo como metodologias psicanalíticas, sociológicas ou outras) e daí por diante. Em 23


PARC DE LA VILLET

Bernard Tschumi Architects ©Bernard Tschumi

Pode abrigar diferentes atividades e conformar diferentes ambientes Possui três princípios de organização configuradas em três camadas sobrepostas

© BERNARD TSCHUMI ARCHITECTS

O projeto se relaciona com edificações pré-existentes Espaços de permutação de sistemas e programas Possui estratégia que admitem os conflitos, os movimentos imprevisíveis, a confusão Folies que permitem o evento: criam imagens memoráveis, marcos referencias, lugares livres

24

Programas que oferecem a oportunidade de invenção de usos e apropriações 25


Analisando os ideais que norteiam a teoria de Tschumi, demarcamos a relevância de sua reflexão teórica na abertura da arquitetura ao conceito de evento. Sua oposição às regras que historicamente dominaram o pensar, o projetar e o fluir na arquitetura. Alavancando a atuação da arquitetura itinerante, reforçando o conceito de evento e o seu laço com o espaço e com a sociedade. Em linhas gerais, observamos que, considerar o programa como ponto de partida do projeto pode ser solução para entender a produção e a argumentação teórica da arquitetura contemporânea. Sobre os conceitos de Tschumi, essa nova interpretação é fundamental para refletir sobre as noções de evento, onde é preciso rever as diretrizes e condicionantes do projeto. Função e programa deixam de ser tratados de maneira similar. Contudo, essas alterações permitem a formação de um meio urbano mais complexo e mutante, a noção de lugar deixa de ser entendida como realidade absoluta, definida, estática e passa a ser algo dinâmico, moldável, onde espaços urbanos acabam por ser resultado de fragmentos heterogêneos, se desvencilhando de uma segregação funcional. Assim, a cidade depende da liberdade dos acontecimentos aleatórios, imprevisíveis, mais do que da prisão do objeto definido em si mesmo. A oportunidade de inventar e explorar novas formalizações e conceitos, ou mesmo exceder o objeto e dar vida ao espaço urbano, revelam inevitavelmente, e quase intrinsecamente, um pensamento reflexivo, baseado em aprendizagens e experiências que são aprofundadas à realidade do presente e do futuro.

26

27


De acordo, com todas as teorias apresentadas por Tschumi

filosofante”. Essa militância não deve ser entendida como

sobre evento, a abertura de investigações críticas sobre o

um caminho paralelo ao seu desenvolvimento teórico, mas

projeto e as práticas de espacialização, entende-se que a

como uma prática que ordena de maneira complexa o seu

arquitetura não é o conhecimento da forma, mas uma forma

pensamento da política. Ou seja, a militância e a política agem

de conhecimento (TSCHUMI, 2001, em entrevista pra

conectadas na sociedade.

bolEtimIDEA por Bruno Roberto Padovano).

e arquitetura.

Ao se comprometer com um evento político, o “espaço Pensar no espaço eventural requer contrapor a reificação tanto do objeto arquitetônico (por extensão, do autor e das tecnologias de

representação

e

de

suas

traduções

Se militância é ter em pensamento a consciência das ações

imagéticas) quanto as noções de programa e

Essa preocupação leva a reconsiderar a relação da forma com

executadas, o arquiteto para fazer parte da política de

programação (por extensão, da arquitetura

a política, uma maneira de repensar, no qual considera espaço

igualdade e deverá se tornar militante, tendo como objetivo

e da economia). É importante demarcar: um

e evento com o sentido de enfrentar as situações políticas,

desenvolver ação política, relacionando a cidade com a

espaço eventural não se configura nunca como

sociais e culturais que envolvem a arquitetura. Então, o sentido

arquitetura, vinculada a uma posição política.

um objeto que encerra particularidades (e

político na arquitetura caracteriza-se em ter consciência de que uma ação tem um impacto no meio urbano e social, essa percepção tem a potência de transformar a realidade, ou de se relacionar com ela de maneira crítica. A política está presente no nosso cotidiano e pode ser encarada de várias formas. Ela é a ciência de governança de um estado ou nação, é uma arte de negociação para compartilhar interesses. O termo política é derivado do grego antigo Politheia, que significava todos os procedimentos relativos à cidade-estado (Carvalho, 2007). De uma maneira geral, poderia significar tanto estado quanto sociedade, comunidade, coletividade e outras definições referentes à vida urbana. Também, pode ser encarado como um conjunto de regras ou normas de uma determinada instituição. A política pode seguir com a função de organizar, direcionar e administrar uma nação, estado, ou comunidade. No entanto, um filósofo que repensa a ação política no mundo contemporâneo é Alain Badiou. Segundo ele, política, assim como a filosofia, constituem dois modos de pensamento, onde cada uma segue sua própria forma. E o momento em que a filosofia cruza com as políticas reais é que acontece uma

Dessa forma, o sentido político vinculado à arquitetura pode ser resumida na consciência de que a ação política tem um impacto na sociedade e no meio urbano. Essa conscientização tem o aspecto de transformar a realidade, ou se relacionar com ela de maneira crítica. Em um contexto da arquitetura e espaço relacionados

que se define como uma) ou que da suporte

próprias formas de controle e dominação social, tornando-as impulsionadoras de eventos, que se apropriam da diversidade do entorno trazendo benefícios para um espaço que estava até

as condições de igualdade, verdade e universalidade passam a ser o grande princípio da situação, visando uma posição ética da uniformidade sob o qual colocam as diversidades do ser.

do consenso, da ideia única e decidida. Ele permite o encontro

as espacialidades planejadas por uma ação coletiva militante. Essa ideia, se compromete em adquirir a heterogeneidade política na situação dos espaços inativos.

política de dissidência (e ela é rara), conformamse os espaços eventurais. Respeitando as condições colocadas até aqui( ou seja todo o conjunto de vinculações com o evento, a experiência, o sujeito, o corpo, o espaço e o tempo político) um espaço eventural pode se apresentar nas mais diversas formas que uma política de dissidência tem encontrado

sua própria teoria da política. (BADIOU, 1999a, p. 42)

espacialidades sob um sentido de política. Outro paradigma de

construções temporárias, ocupações, formas

espacialização é desenvolvido pelo professor David Sperling,

não constituem, por si mesmas, espaços

onde destaca a posição do termo evento, que é considerado

eventurais. (Sperling D M , 2008 ,p. 172)

conteúdo de verdade. Porém, essas práticas militantes não têm necessariamente que surgir da experiência do “sujeito

eventural”, que se constitui em uma relação entre ação política 28

arquiteto e do projeto.

habitantesdassituações.(SperlingDM,2008,p.169)

para tomar lugar: encontros, deslocamentos,

para ele mobilizador da política e gerador da palavra “espaço

ele exige que se coloque no contexto, a arquitetura do

“dissenso político”. O dissenso seria o momento de ruptura

Por isso é necessário considerar as práticas e as

políticas militantes, na tarefa filosófica de extrair delas o seu

eventural” não é a reprodução e a transposição das técnicas,

necessidades que orientam a existência dos

condição de existência da própria filosofia, a isso ele aplica a

Sua teoria política é construída por uma relação com práticas

ocorrência de possíveis eventos futuros. Por isso, o “espaço

Esta ação, então, é entendida e apresentada no termo do

e onde nele há o comprometimento com uma

alienação. Dessa forma, o evento traz um novo conceito, onde

relação da fidelidade com traços de eventos políticos e com a

programa e programação são da ordem das

se inseria.

princípios que operam contra a desigualdade, à imposição e à

são tomadas de acordo com a situação. Essa situação é a

e com isso cada caso deve-se tomar medidas distintas.

Onde há o vazio (e ele existe por toda parte)

buscando a diferença e a maneira de intensificar alguns

é provável definir as características mais específicas que

o vazio do estado da situação. Objeto, autor,

então inativo devido ao sistema econômico e cultural ao qual

Então, o evento está relacionado à ocorrência da ação política,

indefinido, mas é possível saber das suas condições, só não

O espaço, então, ativa o sensível, onde cada um é diferente,

onde segue a mesma ideia das práticas de espacialização e

oportunidade de ocupar os intervalos deixados pelas

imprevisivelmente por outro evento político. Isso o torna

programático as multiplicidades que conformam

Badiou denominava este paradigma como sítio eventural,

à compreensão da ação política, torna-se possível a

eventural” procura a sua reinvenção, podendo ser agregado

das diferenças, a criação do novo, do inusitado, desenvolve eventos não programados e acontecimentos inesperados. Então é através desta ação que a relação da sociedade com as linhas de um evento, compõem um sujeito coletivo dissensual, como colocado por Sperling, que vivencia um desejo de relacionar a ação política e a arquitetura no mundo contemporâneo. Como Sperling alerta, a revisão teórica que fez sobre a ideia de evento – inicialmente colocada por B. Tschumi – não objetivava a produção de um receituário arquitetônico. Isso iria de encontro com a própria natureza das reflexões construídas a partir do pensamento de Badiou, que perseguia a radicalização de uma postura positiva capaz de construir relações sociais e espaciais horizontalmente e coletivamente, de acordo com as contingências de seu contexto (social, político e cultural) e nunca verticalmente, passando por cima dos interesses e necessidades dos sujeitos e de seus espaços. Por isso, as questões reunidas aqui demarcam referenciais a partir dos quais o projeto/ação arquitetônica deve ser pensada e analisada.

Portanto, acontece o entrelaçamento do evento com o ato político como produção de um tempo e de um espaço. 29


Neste sentido, se comprometido ao evento, o espaço (político)

processados, acessíveis e econômicos, criando um espaço

sempre busca a reinvenção e os espaços inesperados. Como

generoso e de baixo custo para os espectadores.

contextualização destes conceitos, destacamos o Fun Palace, desenvolvido pelo arquiteto inglês Cedric Price em 1960. O projeto possui um conceito social, apresentado através da flexibilidade, da ação e da fluidez. A edificação é vista de maneira indeterminada e guiada pela tecnologia existente, buscando a possibilidade de refazer a sociedade sob a visão da oportunidade.

Ainda sobre o grupo Assemble, destacamos o projeto “The Playing Field” (sem data identificada). O projeto também segue o caráter de uma escala mais humana, que permite alterações e subversão de usos. Localizado em uma praça pública no centro de Southampto, utiliza a veneração que a população local tem pelo futebol e traz para o teatro, buscando se tornar um ponto atrativo e integrador das

Ele pode ser um workshop público ou uma universidade

comunidades. Sendo assim, o teatro possui uma estrutura

de rua. A arquitetura não se importa em definir um uso

híbrida de madeira e aço que remete a estrutura e a estética

específico. O objetivo é adquirir configurações físicas e

dos campos de futebol. A ideia de mimetizar este referencial

funções necessárias para cada momento específico, dando

arquitetônico cria uma experiência teatral para as produções

oportunidade para o público escolher e experimentar as

dos espetáculos e para outros usos da praça.

transformações e as dinâmicas do espaço, não somente como espectador passivo, mas como um participante ativo.

A praça em si forma o palco para as apresentações, os assentos estão nas duas laterais acomodando os

O edifício então se torna um espaço de improviso, onde a

espectadores. As estruturas são resolvidas de forma simples

dinamicidade potencializa a participação real de todos os

e eficiente. Quando existe a necessidade de mudanças é

envolvidos em um determinado evento. Por isso, o Fun Palace

utilizado apenas um guindaste que facilmente executa o

caracteriza-se nessa prática não convencional de concepção e

serviço. Projetado de modo que as portas do estádio estejam

desenvolvimento do projeto arquitetônico, no qual não define

abertas o tempo todo, o campo de jogo criou uma experiência

a forma, somente expressa a intenção de como o espectador

teatral tanto para aqueles que assistem a produção, como

irá experimentar o evento.

para os diversos usos da praça, assim o projeto promove o

Neste contexto, ainda destacamos o Teatro “On the Fly”,

encontro e a integração da sociedade com o espaço público.

desenvolvido em 2012 pelo estúdio britânico Assemble. O projeto é basicamente uma sede temporária experimental para uma temporada de festivais de teatros localizado em um parque aberto no Reino Unido. O teatro é capaz de proporcionar um espaço para desenvolver e abrigar as atuações e produções dramáticas. As cenas se estendem por todo o parque, permitindo que o espaço urbano seja explorado para além dos limites convencionais de um teatro. O projeto teve como inspiração a maquinaria da Flytower, um dispositivo teatral que permite compor o cenário durante a atuação, expondo os mecanismos que são escondidos no teatro convencional atrás da coxia durante os espetáculos. Para a composição do teatro, são utilizados materiais 30

31


FUN PALACE

Cedric Price Fonds, Canadian Centre for Architecture, Montreal

Uso de estrutura metálica Possibilidade de intenção e interação entre o público e a estrutura Canadian Centre for Architecture, Montréal.

© Cedric Price fonds, Collection Centre Canadien d’Architecture /

Indefinição de uso

Tática de ativação/apropriação do público com a estrutura. Capacidade de variar os padrões de movimento do Publico

32

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ON THE FLY © assemblestudio.com (photo by: Jim Stephenson) © assemblestudio.com (photo by: Jim Stephenson)

Materiais de baixo custo, reutilizáveis e recicláveis As performances ocorrem tanto no espaço interno como no espaço externo, criando assim uma interação do público com o espaço público, e proporcionando a mudança dos limites convencionais dos teatros. Além de teatro o espaço acolhe projeções, workshops, palestras, etc. O teatro cria mecanismos que podem ser escondidos da vista, gerando assim um espaço camaleônico O suporte técnico de iluminação e som torna possível diversas atividades em uma mesma base de estrutura. Abertura generosas para o exterior 34

35


THE PLAYING FIELD

© assemblestudio.com (photo by: Jim Stephenson)

Encontro e interação do público com o espaço público através de aberturas e elementos vazados.

© assemblestudio.com (photo by: Jim Stephenson)

Estrutura com forma simples e eficiente Feixe de madeira que se repete ao redor do teatro todo. Não ocorre mudança de piso, isso fortalece o espaço (praça) no qual a estrutura e insere. O suporte técnico de iluminação, imagem e som torna possível diversas atividades em uma mesma base de estrutura. A presença da estrutura como ativadora do espaço

36

37


Considerando todas as questões apresentadas, sobre política,

captura de sua verdade – é aquela a partir do ator, e

espaço, evento e arquitetura. Encaramos a ideia de política,

não do espectador.” (Badiou, Metapolitics, p. 23.)

como uma conscientização de que qualquer ação tem grande impacto para o meio urbano e a sociedade. Entendemos que é primordial essa compreensão que a política traz para o meio urbano, já que através dela passamos a refletir melhor sobre nossas atitudes.

Badiou apresenta como “sitio eventural” o que é identificado por “espaço eventural”, este termo apresenta claramente a ligação que ele possui com a ação política e a arquitetura. O “espaço eventural” não é uma reprodução, é necessário que coloque o projeto na situação local, onde cada espaço

Merece destaque a forma como passa a ser encarado o papel

é diferente, sendo as medidas tomadas também distintas.

do arquiteto, que para fazer parte da política de igualdade se

Ele não é programado nem previsto, é um espaço de

torna um militante. No qual deve encarar as suas ações de

possibilidades ou experiências. Por menor que seja, o “espaço

maneira mais comprometida, com mais fidelidade à situação.

eventural” é sempre um espaço de invenção, de dissidência.

Para isso é preciso pensar em todas as consequências que uma

Apresenta-se negando a arquitetura de situação, com o

edificação pode trazer para o espaço e dessa forma traçar suas

objetivo de permitir o novo, promover os encontros das

diretrizes antes de começar a executar o projeto. Acreditamos

diferenças que existem no mundo.

que o planejamento consciente é fundamental para o desenvolvimento de espaços bem resolvidos, autônomos e dinâmicos com caráter integrador.

As questões principais levantadas nestes capítulos nos levam a repensar: a maneira de projetar; a atuação do arquiteto; e a relação entre o usuário/sujeito e a arquitetura, estes pontos

A forma como o evento é analisado por Badiou permite a

levantados nos instigam a querer agir na cidade. O desafio que

abertura para o conjunto universal, ele encara o evento como

se coloca é encontrar situações urbanas mais propícias a estas

matéria coletiva, não considera grupos separados, englobando

questões, além de uma abordagem projetual mais adequada.

a sociedade como um todo. Se coloca como mobilizador da política, como ocorrência de uma fidelidade, como ato de liberdade e igualdade. Acreditamos nesses pensamentos e concluímos que o evento é um criador de causalidade, é uma ação do pensamento crítico contemporâneo, a situação que precede o evento é sempre inconsistente ou instável, pois se expande em um vazio inicial desenvolvendo acontecimentos únicos. “Um evento nunca é compartilhado porque, ainda que a verdade obtida a partir dele seja universal,

seu

reconhecimento

enquanto

evento ocorre, simplesmente, em unidade com a decisão política. A política é uma perigosa, militante, e parcialmente indivisa fidelidade a uma singularidade eventual auto-prescrita… A perspectiva a partir da qual a política pode ser pensada – que permite, mesmo após o evento, a 38

39


Vazio, do latim vagus, significa o que não contém nada,

apresentam oportunidades de reutilização e revitalização, e

O projeto proposto pode ser apropriado e incorporado por

desocupado, abandonado, ocioso, despovoado, desabitado,

concordamos que estes ainda podem apresentar uma relação

diversas iniciativas, grupos e atividades no espaço público,

vago, devoluto, vacante, baldio ou subutilizado.

de lembrança e afetividade com a comunidade onde se

com isso, o uso não se limitará a apenas um tipo especifico de

inserem.Entendemos que sua intervenção deve ser realizada

atividade (como pode ser visto nas leituras das situações), mas

de maneira cautelosa, através da política e da militância, na

será pensado de acordo com os locais que serão realizados

tentativa de não ocasionar nenhum “efeito perverso”. O vazio

os ensaios, para que seja possível a transformação do espaço

será ativado através da arquitetura itinerante e do evento

público.

Se vinculado ao caráter urbano nomeia-se Vazio Urbano, uma realidade das cidades contemporâneas que vem assumindo ao longo do tempo papel relevante na produção da cidade e da sociedade devido às mudanças econômicas, sociais, políticas e tecnológicas ( Teixeira, 2010 ). Os vazios urbanos, considerados elementos morfológicos estruturais das cidades, se desenvolvem através de diversas dinâmicas urbanas. Para Borde, áreas vazias da cidade espacializam as contradições sociais e econômicas próprias de nosso momento histórico: “desvitalizações, desterritorializações e deseconomias urbanas”. Isso posto,

como forma de abrir novas possibilidades de percepção e de apropriação do espaço.

cívica só será possível com a participação dos indivíduos, que

Solá Morales, que o compreende através do termo francês

quanto mais se incorporarem aos ensaios maior tornarão a

Vague, entendido como um local livre, disponível, inocupado e

eficaz da ativação do espaço. Assim, a ativação do projeto é

também, como um espaço indeterminado, impreciso, incerto,

inesperada e imprevisível já que conta com a incorporação do

inconstante. (Morales, 1995)

público.

Neste sentido, o vazio será compreendido como potência

função, sem conteúdo social. (BORDE, 2003)

evocativa na cidade, visto como promessa, encontro,

vazios talvez só se explica pela especulação, uma vez que

evento ou pela estrutura itinerante, a realização desta ação

Trabalharemos com o vazio nos dois sentidos dado a ele por

os vazios urbanos seriam, a princípio, áreas da cidade sem

De maneira semelhante, Ebner diz que a existência dos

expectativa, espaço do possível mas também como espaço de liberdade, com expectativa de mobilidade e ausência de limites.

esta pode ser o motivo para se manter áreas passíveis

Como forma de representação a essa ação coletiva e cívica

de serem ocupadas em ritmo de espera, visando ao seu

que será realizada nos vazios, utilizaremos como metodologia

futuro parcelamento ou ocupação. Essa ação aumentaria

projetual aquela que caracteriza a escrita de ensaios, definindo

a possibilidade de seu proprietário elevar o valor da terra.

a apresentação e representação das áreas escolhidas e dos

(EBNER, 1997)

estudos preliminares da mesma maneira como descrevemos a

O vazio é palco para discussões tanto pela sua origem

A ativação do espaço público não será provocada apenas pelo

arquitetura itinerante: livre, experimental.

quanto pela sua concepção. Neste sentido, Portas afirma

Essa organização contextualiza com a teoria e expande o

que a transformação dos vazios em oportunidades pode

entendimento dos objetos apresentados, já que, segundo

ter impactos positivos, mas também efeitos perversos, se

Pedro Duarte, o ensaio permite a compreensão por um ângulo

não forem orientados como elementos estratégicos para

novo, onde o completo tem que ser fruído, e somente o

reestruturação do território urbano ou metropolitano. Destaca

incompleto nos leva adiante, assim ele não se apresenta como

que, a falta de planejamento gera investimentos econômicos

certeza, nem como ideias eternas, e sim como dúvida, como

sem critério, resultando em áreas que não prosperam por não

desvio. (Pedro Duarte 2016)

terem vocação para determinada atividade, ou ainda área sem conteúdo social. (PORTAS 2009) Tendo em vista o impacto que o vazio tem sobre uma

determinada sociedade e o compreendendo do ponto de vista de Sola-Morales, pactuamos com a ideia de que estes espaços 40

41


MAPA RIBEIRÃO PRETO O projeto será desenvolvido no município de Ribeirão Preto, localizado no estado de São Paulo situado na região Sudeste do Brasil. Ribeirão preto ocupa uma área de 651 km². Segundo o ultimo senso do IBGE a população estimada é de 604.682 habitantes, com uma densidade urbana de 928,46 hab/km². A cidade apresenta um crescimento significativo no setor sul e sudeste, como previsto no plano diretor de 1995, consequentemente os novos assentamentos se localizam nessa região e tem como caráter a habitação horizontal que enfraquece a relação das pessoas com o espaço público. O panorama econômico do município de Ribeirão preto tem como base o setor sucroalcooleiro que acarreta o agravamento de diversos problemas urbanos causando assim o aumento dos níveis de especulação, concentração e valorização da terra urbana e rural. Devido a essa expansão rápida e espraiada que se distancia da área central urbana, Ribeirão Preto desenvolve inúmeros vazios urbanos, que ocorrem predominantemente através da ação da especulação imobiliária por consequência da valorização desigual do espaço urbano. 42

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AVENIDAS PRINCIPAIS E VAZIOS SELECIONADOS Ribeirão Preto possui em média cinquenta avenidas, para este trabalho coube acentuar quinze destas, sendo elas: Av. Presidente Vargas, Av. 9 de julho, Av. independência, av. Maurilio Biagi, av. Jeronimo Gonçalves, av. Braz Olaia Acosta, Av. Costabile Romano, Av. Treze de maio , Av. Castelo Branco, Av. Leão XIII, av. Caramuru, João Fiusa e Av. Francisco

VAZIOS

Junqueira.

PONTUADOS PRÓXIMOS AS AV.

Todas essas avenidas apresentam ligação centro-periferia,

DESTACADAS

característica determinante para a escolha dos ensaios nos

PONTOS DE

vazios. Além disso, outro fator seletivo foi a proximidade

REFERÊNCIA

com pontos de referências notáveis para a cidade de Ribeirão

1- RIBEIRÃO SHOPPING

7- NOVO SHOPPING

2- TERMINAL RODOVIÁRIO

8- UNAERP

3-UNIP

9- ESTÚDIO KAISER

4- PARQUE LUIZ CARLOS RAYA

10- NOVO MERCADÃO

5- UNIVERSIDADE COC

11- MERCADÃO

preto, destacados no mapa. Dentre os diversos tipos de vazios urbanos (lotes vagos de propriedade publica e privada, vazios subutilizados pelo uso de estacionamentos e lotes subutilizados), foram selecionados os que possuem maior proximidade com as avenidas

6- ESTÁDIO SANTA CRUZ 44

destacadas, e que são em sua maioria de caráter público.

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VAZIOS ESCOLHIDOS VAZIOS ESCOLHIDOS

46

47


VAZIOS ESCOLHIDOS

VAZIOS

VAZIO

ESCOLHIDOS

DISJUNÇÃO

VAZIOS DESCARTADOS

1- RIBEIRÃO SHOPPING 2- TERMINAL RODOVIÁRIO 3-UNIP 4- PARQUE LUIZ CARLOS RAYA 5- UNIVERSIDADE COC 6- ESTÁDIO SANTA CRUZ 7- NOVO SHOPPING 8- UNAERP 9- ESTÚDIO KAISER 10- NOVO MERCADÃO

VAZIO

11- MERCADÃO

PANORAMA

A partir da seleção das avenidas, foram selecionadas três destas ( Av. Braz Olaia Acosta, Av. Jerônimo Gonçalvez e Av. Costabile Romano) , escolha realizada através de uma análise

VAZIO

sensorial do espaço, onde foi possível destacar três vazios

MIRANTE

distintos entre si com diferentes potencialidades, demandas e públicos, que serão os ativadores do evento nessas áreas de ensaios. 48

49


PARTIDO O partido é definido através da sobreposição de três sistemas compostos por: PONTOS (fundação) que sustentam a estrutura de aço galvanizado e direcionam o modo como a mesma irá se incorporar ao espaço LINHAS que correspondem a estrutura do projeto SUPERFÍCIE se sobrepõe a toda estrutura permitindo a permeabilidade do público no sistema e a disposição de blocos combináveis, proporcionando espaços de acontecimentos Acontecerá três intervenções em vazios com características divergentes mantendo o partido porém se ajustando às peculiaridades de cada lugar, serão dispostos três cadernos para cada ensaio sendo eles: caderno 1 (vazio mirante), caderno 2 (vazio panorama), caderno 3 (vazio disjunção) 50

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MATERIALIDADE DEVIDO AO CARÁTER ITINERANTE DO EDIFÍCIO OS MATERIAIS ESCOLHIDOS PODEM SER INCORPORADOS EM ÁREAS DISTINTAS. SÃO AÇO GALVANIZADO (PERFURADO) MADEIRA OSB (PERFURADA) TECIDOS, CARACTERIZADOS POR SUA LEVEZA, FLEXIBILIDADE, PERMEABILIDADE, RESISTÊNCIA E ECONÔMIA 52

53


54 55

MAQUETE CONCEITO


ESTUDO PRELIMINAR 56

ESTUDO VOLUMETRICO 57


58 59

DETALHAMENTO FORMA FINAL


60 61

DETALHAMENTO FORMA FINAL


- PAZ, Daniel J. Mellado. Arquitetura efêmera ou transitória,

- EBNER, I. de A. R. – Vazios Urbanos : uma abordagem do

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da Arquitetura Itinerante. 2013. Disponível em: http://

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- TSCHUMI, Bernard – Architecture and disjunction, 1996

(LIQUID ARCHITECTURE), 2010. (Simpósio Temático: Da arte de construir à inteligência arquitetônica )

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V AZ I O

M I R A NT E :B A RR E I RA , I NT E G RA Ç ÃO

P E RM AN Ê N CI A

O N R E D A C

1



VAZIO MIRANTE Este vazio foi nomeado mirante, pois se apresenta em uma topografia acentuada, o que torna este espaço evidenciado por si só, localizado na avenida Braz Olaia Acosta, via de alto fluxo, tem desfecho na avenida Independência, permitindo assim a ligação do setor central ao setor sul. Ao longo do trecho observamos a predominância de atividades comerciais (Farmácia, posto de gasolina, mercadão) e de prestação de serviços (academia, hotéis, restaurantes). As habitações se localizam ao redor com caráter multifamiliar vertical. A escolha deste vazio não se deu apenas pelo desnível acentuado mas também pela sua proximidade com dois equipamentos específicos: o conjunto habitacional João Rossi e o Novo Mercadão; que garantirá para o ensaio a variedade dos indivíduos. Outro fator marcante é a presença de hotéis que proporcionam um público flutuante, misto, dinâmico.


VAZIO MIRANTE Restaurante / mirante Horta comunitรกria Playground Caixa de areia Feiras livre Cobertura Escultura / Objeto Funcional / Monumento










V AZ I O

PA N O RA M A: E N CO N TR O ,A T R AÇ Ã O, P E RM AN Ê N CI A

O N R E D A C

2



VAZIO PANORAMA O nome dado a este vazio foi escolhido devido a sua ampla visão da cidade, que se estende no horizonte, a área se encontra em um ponto alto da Avenida Costabile Romano, esta que é uma via de alto fluxo com um extenso eixo de vegetação em seu canteiro central. A avenida dá acesso ao estádio santa cruz, equipamento importante para a cidade e fundamental para a escolha do vazio, por possuir um caráter efêmero e criar eventos o que garante a presença de um público liquido, além disso, o ensaio neste local pode fornecer apoio a população que frequenta a área em dias de jogos. Ao longo da via há a presença de atividades de prestação de serviços (SICOP, advocacia, consultórios, pet shop) de caráter privado, assim, a população que ocupará o ensaio nesta área será mista, podendo ser de trabalhadores/funcionários ou empresários. Esta área possui predominância de residências horizontais unifamiliar presentes atrás dos serviços, esta população é composta por um público enraizado no local e que apresenta variação de faixa etária por possuir um caráter mais familiar, esta presença contribuirá ao ensaio proposto, pois integrará públicos distintos.


VAZIO PANORAMA Estar urbano Esporte / lazer Apresentações culturais Dança / show Praia/ solário Alimentação de DNA rápido










V AZ I O

DI S J UN Ç ÃO : SO B RE P OS I ÇÃ O , I NC L US Ã O, T R AV

O N ER D A C

3

E S SI A , P E R M A N Ê N C I A



Como este vazio esta localizado na área central o seu entorno é denso, composto predominantemente por comércios de mercadorias com caráter local designados a uma demanda especifica, característica que definiu a escolha da área. Pela sua localização seu entorno conta com dois edifícios de grande importância histórica para a cidade de ribeirão preto ambos tombados, são eles: o Estúdio Kaiser (Antiga companhia de cerveja paulista) e o hotel brasil. O hotel se encontra inativo, porém o estúdio kaiser conta com atividades sazonais noturnas, que agregará um público deste período ao ensaio. A área também possui presença significativa de hotéis, que trará um público dinâmico para o ensaio, contudo, esta característica se intensifica devido a presença da Rodoviária de Ribeirão Preto que também gera fluxo, movimento, itinerância. A avenida jerônimo gonçalvez, que permite o acesso a praça, faz ligação com diversas avenidas importantes para o município, um exemplo é a Francisco Junqueira. Se destaca pela presença do córrego Ribeirão Preto que margeia a avenida, paralelo ao córrego há um canteiro com calçada para a circulação de pedestres. A praça Francisco Schmidt pode ser entendida como um vazio devido ao seu estado de degradação e abandono. Ela se divide em dois lotes que são cortados pela Rua Martínico Prado, um deles agrega um equipamento institucional a UBDS (Unidade Básica de Saúde), consequente a esta presença o ensaio receberá um público local. Ainda neste lote, há a presença da Maria Fumaça um ícone histórico da cidade, que se encontra em péssimas condições. O outro lado da praça se encontra com a mesma problemática, porém, ele possui uma área livre mais extensa, e maior número de vegetação.


VAZIO PANORAMA Guarda volume público Rede Esporte Bicicletário Lugar de estar Iluminação Feira livre










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