Animal Business Brasil 29

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Ano 06 - Número 29 - 2016 - R$ 16,00 www.animalbusinessbrasil.agr.br

CENTRO PANAMERICANO DE FEBRE AFTOSA (PANAFTOSA) Localizado em Caxias (RJ) há mais de 60 anos, oferece cooperação técnica em saúde pública Veterinária a todos os países membros da OPAS

MURILO BENÍCIO

Pecuarista de elite, dá o exemplo seguindo a orientação do Ministério da Agricultura e vacinando seu gado duas vezes por ano O Brasil está a caminho do controle da febre aftosa sem vacinação Febre Aftosa | edição especial do nosso quinto aniversário


Estamos completando

de prestação de serviço ao agronegócio

Nosso trabalho é uma missão que só podemos cumprir graças à alta qualidade profissional dos nossos colaboradores. O objetivo da Animal Business-Brasil é publicar matérias de consulta de interesse para alunos, profissionais, professores e executivos da pecuária e da indústria de produtos de origem animal.


uma publicação da:

A

Febre Aftosa – foi o tema escolhido para este Número Especial comemorativo do quinto aniversário desta Revista por sua importância na pauta de exportações do Brasil, que é um dos dois (ou três) maiores exportadores das carnes bovina e suína, do mundo. Embora depois de quase 20 anos de luta, os Estados Unidos tenham reconhecido que o nosso país está isento dessa doença, que é a mais contagiosa que existe entre os mamíferos de cascos fendidos, a ameaça dessa situação se alterar existe, o que obriga os produtores e veterinários particulares e oficiais a uma vigilância atenta e permanente. Mas o prejuízo causado pela Febra Aftosa não se limita às nossas exportações mas estende-se também ao consumo interno pela baixa da produção dos animais afetados. A doença não produz morte rápida nos animais adultos mas, como eles, nos estágios mais avançados, deixam de comer e de caminhar em consequência das lesões da boca, da língua e dos pés, acabam definhando e reduzindo, gradativamente, sua capacidade de produzir carne e leite. Em inglês, a Febre Aftosa é denominada foot-and-mouth-disease, o que é um resumo das suas características principais. O objetivo – desta Edição Especial-Febre Aftosa, é dar uma visão panorâmica dessa doença, em linguagem simples, sem pretensões científicas mas ao mesmo tempo com o cuidado de respeitá-las. E isso foi possível – é o que espera este editor – graças à colaboração de uma série de fontes consultadas e cuja boa vontade foi fundamental no sentido de que este trabalho tenha utilidade para produtores, profissionais, professores e alunos de veterinária e de saúde pública.

Ottorino Cosivi – veterinário, Diretor do Centro Pan-Americano de Febre Aftosa, nos recebeu com grande atenção, colocou-se e a sua equipe de especialistas à nossa disposição, o que foi de fundamental importância para o nosso trabalho. Albino Belotto – titular da Academia Brasileira de Medicina Veterinária, especialista em saúde pública de renome internacional e ex-diretor do Centro, prestou importante colaboração com críticas e sugestões. Sebastião Costa Guedes – também da Academia Brasileira de Medicina Veterinária, com destacada e permanente atuação internacional, Presidente do Grupo Interamericano para Erradicação da Febre Aftosa (GIEFA) e Vice-Presidente do Conselho Nacional de Pecuária de Corte, colaborador permanente desta Revista, nos brinda com um importante artigo. Milton Thiago de Mello – Presidente da Academia Brasileira de Medicina Veterinária, o mais antigo profissional veterinário em atuação no Brasil e um dos mais premiados e citados do mundo, também participa em alto estilo deste Número Especial, não apenas com um artigo que fala sobre a relação da Febre Aftosa com a Veterinária mas com sugestões que foram da maior valia. Paula Schiavo – virologista veterinária da Superintendência Estadual do Ministério da Agricultura no Rio de Janeiro assina artigo em que destaca a importância da Febre Aftosa na economia e a altíssima contagiosidade do (s) vírus causador (es). Nossa maior satisfação - será confirmar com nossos leitores que o esforço desses cinco anos valeu a pena e que essa Edição Especial-Febre Aftosa tenha, realmente, utilidade. Agora é seguir em frente tentando melhorar sempre.

Luiz Octavio Pires Leal Editor Animal Business-Brasil_3


Academia Nacional de Agricultura Fundador e Patrono:

Octavio Mello Alvarenga

Diretoria Executiva Antonio Mello Alvarenga Neto Osaná Sócrates de Araújo Almeida Tito Bruno Bandeira Ryff Maurílio Biagi Filho Helio Guedes Sirimarco Francisco José Villela Santos Hélio Meirelles Cardoso José Carlos Azevedo de Menezes Ronaldo de Albuquerque Sergio Gomes Malta

Diretoria Técnica Alberto Werneck de Figueiredo Antonio de Araújo Freitas Júnior Antonio Salazar Pessôa Brandão Fernando Lobo Pimentel Jaime Rotstein José Milton Dallari Soares Kátia Aguiar Marcio Sette Fortes

Cadeira 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52

Presidente Vice-Presidente Vice-Presidente Vice-Presidente Vice-Presidente Diretor Executivo Diretor Executivo Diretor Executivo Diretor Executivo Diretor Executivo

Maria Cecília Ladeira de Almeida Maria Helena Martins Furtado Mauro Rezende Lopes Paulo Manoel Lenz Cesar Protasio Roberto Ferreira da Silva Pinto Rony Rodrigues de Oliveira Ruy Barreto Filho Tulio Arvelo Duran

Comissão Fiscal Claudine Bichara de Oliveira Frederico Price Grechi Plácido Marchon Leão Roberto Paraíso Rocha Rui Otávio Andrade

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Luíz Carlos Corrêa Carvalho Titular Roberto Ferreira da Silva Pinto Jaime Rotstein Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira Francelino Pereira Ronaldo de Albuquerque Tito Bruno Bandeira Ryff Lindolpho de Carvalho Dias Flávio Miragaia Perri Paulo Manoel Lenz Cesar Protásio Marcus Vinícius Pratini de Moraes Roberto Paulo Cezar de Andrade Rubens Ricúpero Pierre Landolt Luíz Carlos Corrêa Carvalho Israel Klabin José Milton Dallari Soares João de Almeida Sampaio Filho Sylvia Wachsner Antônio Delfim Netto Roberto Paraíso Rocha João Carlos Faveret Porto Sérgio Franklin Quintella Kátia Abreu Antônio Cabrera Mano Filho Jório Dauster Elizabeth Maria Mercier Querido Farina Antonio Melo Alvarenga Neto Arnaldo Jardim John Richard Lewis Thompson José Carlos Azevedo de Menezes Afonso Arinos de Mello Franco Roberto Rodrigues João Carlos de Souza Meirelles Fábio de Salles Meirelles Leopoldo Garcia Brandão Alysson Paolinelli Osaná Sócrates de Araújo Almeida Denise Frossard Luís Carlos Guedes Pinto Erling Lorentzen Gustavo Diniz Junqueira Eliseu Alves Walter Yukio Horita Ronald Levinsohn Francisco Turra Cesário Ramalho da Silva Izabella Mônica Vieira Teixeira João Guilherme Ometto Alberto Werneck de Figueiredo Maurício Antonio Lopes Maurílio Biagi Filho

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Sumário

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Febre Aftosa, doença de animais de casco fendido com grande importância econômica que raramente ocorre no homem

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Como os vírus da Febre Aftosa agem no organismo dos animais de casco fendido Como a Febre Aftosa é combatida A Febre Aftosa nas Américas Estados Unidos fecharam acordo para importar carne bovina brasileira in natura O Futuro do Brasil sem Aftosa =Fórum 2020= Centro Pan-Americano de Febre Aftosa Saiba o que é a OIE Febre aftosa, a doença de mamíferos mais contagiosa do mundo A febre aftosa e a profissão veterinária A Febre Aftosa ameaça o bem-estar da população Procedimentos para uma boa vacinação contra a febre aftosa

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Vacinas com marcadores antigênicos Medidas simples para reduzir as reações da vacina contra a Febre Aftosa Santa Catarina é o único estado brasileiro livre de Febre Aftosa sem vacinação Controle da febre aftosa no Espírito Santo O controle da febre aftosa no Maranhão Febre Aftosa, como esta doença foi decisiva para a estruturação da Defesa Sanitária em Rondônia e para a pecuária rondoniense Top News Números Síntese Opinião

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Febre Aftosa, doença de animais de casco fendido com grande importância econômica que raramente ocorre no homem Luiz Octavio Pires Leal, editor; membro-titular da Academia Brasileira de Medicina Veterinária

Vírus de genoma ARN, gênero Aphtovirus, família Picornaviridae. São conhecidos sete tipos diferentes, A, O e C; SAT1;SAT2;SAT3 e Ásia1. O agente tem grande plasticidade antigênica, com tendência a mutações que originam diversos subtipos. O aparecimento de novos subtipos numa determinada região provoca falhas de imunidade das vacinas empregadas e o consequente surgimento da doença.

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ncontram-se livres de Febre Aftosa os países da América do Norte e Central, as ilhas do Caribe, Chile, os países escandinavos, Irlanda, Polônia, Hungria, Romênia, Bulgária, Albânia, Japão, Austrália e Nova Zelândia. Os tipos A, O e C têm distribuição mais ampla no

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mundo e causam epizootias na América do Sul, Europa, Ásia e África. Os tipos SAT ocorrem no continente africano; o SAT1 apareceu no Oriente Médio, Turquia e Grécia em 1962. O Brasil está livre da Febre Aftosa há mais de 10 anos.

Ocorrência no homem A ocorrência da Febre Aftosa no homem é rara por ele ser muito pouco suscetível a essa doença, mesmo no caso da proximidade com animais contaminados no campo e inclusive nos laboratórios. Os cervos também são suscetíveis à Febre Aftosa mas não são transmissores importantes.

Manfred Antranias Zimmer / Pixabay

Por:


Waltteri Paulaharju / Pixabay

Os bovinos adultos apresentam pouca mortalidade, mas a produção baixa drasticamente, quando estão contaminados pelo vírus da Febre Aftosa.

A suscetibilidade do homem aos vírus da Febre Aftosa foi motivo de controvérsias durante muitos anos, mas atualmente não há mais dúvida de que se trata de uma zoonose ainda que de incidência muito baixa. A infecção no homem pode causar uma doença clinicamente aparente ou pode não apresentar nenhum sintoma.

Ocorrência nos animais A ocorrência da Febre Aftosa é comum em diversos países. Pode-se distinguir diferentes situações epidemiológicas: regiões livres, regiões onde a doença aparece esporadicamente e regiões enzoóticas. Em decorrência dos programas de controle foi e ainda é possível reduzir de forma considerável o aparecimento de casos, assim como a gravidade da doença nos animais contaminados. Ocorrem no mundo epizootias extensas e panzootias com alguma periodicidade, que estendem-se por diversos países, produzidas seja pela introdução acidental de um tipo de vírus exótico ou por um subtipo “doméstico” que se originou numa área onde a infecção era relativamente inativa.

A doença no homem A Febre Aftosa no homem é uma doença benigna. O período de incubação dura entre dois e

quatro dias podendo, eventualmente, prolongar-se até oito dias. O curso da doença é semelhante ao dos animais. Na fase inicial, há febre, dor de cabeça, falta de apetite e taquicardia. A ferida (vesícula) primária aparece no local de penetração do vírus (ferida na pele ou na mucosa da boca). Em seguida, aparecem aftas na boca e feridas nas mãos e nos pés. Há casos, entretanto, em que essas lesões estão ausentes. Quando não ocorrem infecções secundárias o paciente se recupera em aproximadamente duas semanas. O tipo de vírus que mais frequentemente contamina o homem é o O, em segundo lugar o C e raramente o A.

A doença nos animais A Febre Aftosa é uma doença dos animais biungulados (cascos fendidos), principalmente dos bovinos, suínos ,ovinos e caprinos, mas também pode ocorrer em diversas espécies de animais silvestres. Os solípedes (cascos não fendidos) e os carnívoros são resistente a essa doença. Existem cepas de vírus de aftosa que apresentam uma marcante afinidade por determinada espécie animal. Já foram isoladas cepas que causaram infecções graves em porcos sem afetar de forma importante bovinos. Esta adaptação a determinada espécie animal, entretanto é relativa e Animal Business-Brasil_7


depois de manter-se durante anos nessa espécie, a virulência do vírus pode aumentar e ele passar a atacar também outras espécies animais. Essa doença tem grande importância econômica, em virtude de sua rápida difusão, sua alta morbidade, perdas de produção e pela impossibilidade de comercialização do gado e dos produtos de origem animal. O período de incubação dura de menos de 48 horas a quatro dias. Bovinos – Depois de penetrar no epitélio, quase sempre do trato respiratório superior e faringe,

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Os humanos muito raramente são contaminados pelo vírus da Aftosa.

o vírus replica-se no local de origem e dá lugar a uma afta primária que clinicamente passa despercebida. A partir do ponto de entrada, o vírus invade a circulação sanguínea e causa uma viremia que coincide com um estado febril que é o primeiro sinal observado. A febre dura apenas um a dois dias e logo a seguir aparecem as vesículas secundárias, na boca, nariz, espaços interdigitais, pés, e com certa frequência nas mamas e em outros locais de pele fina. Há falta de apetite e lentidão na ruminação. A sialorreia (produção excessiva de saliva) também é frequente. O animal se alimenta mal e a produção cai. A não ser quando ocorre uma epizootia de “aftosa maligna” a mortalidade é de apenas 1 a 2% nos animais adultos e de 4 a 5% nos jovens. Suínos – Nos porcos, o primeiro sinal de Febre Aftosa é o andar cambaleante (claudicação). A lesão no casco começa com manchas vermelhas na parte anterior da almofada plantar. Há o aparecimento de vesículas e intensa inflamação da pele da região, principalmente nos suínos muito pesados e que sejam obrigados a locomover-se. Podem aparecer vesículas na boca. O animal fica triste e tem dificuldade para comer. As infecções secundárias são frequentes. Animais silvestres – Foi comprovada uma infecção natural num grande número de espé-

Pixabay

Populações inteiras sofrem desabastecimento de carne e leite quando os rebanhos estão contaminados com o vírus da Febre Aftosa.

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David Mark / Pixabay

Os suínos também podem contrair a doença.

cies animais tanto de vida livre como de zoológicos. Durante a campanha de erradicação da Febre Aftosa na Califórnia em 1924, foram encontradas lesões típicas de aftosa em 10% dos 22.000 cervos sacrificados. Além de nos servos silvestres, a infecção ocorre de modo natural em diversas espécies de bovídeos, suínos e elefantes. Nos zoológicos de Paris, Zurique e Buenos Aires já foram identificados surtos de Febre Aftosa. Esses animais, entretanto, não participam da cadeia de transmissão da Febre Aftosa.

Fontes de infecção e modos de transmissão Os hospedeiros naturais do vírus da Febre Aftosa são os animais biungulados (de cascos fendidos). O animal infectado elimina o vírus por todas as secreções e excreções. O espaço de tempo que intermedeia a fase final do estado prodrômico e o aparecimento das aftas (3 a 5 dias após a infecção) é o de maior eliminação do vírus. Essa eliminação torna-se reduzida logo e fica mínima. Depois de 8 a 10 dias o animal praticamente deixa de ser fonte de infecção.

Diagnóstico O diagnóstico diferencial entre Febre Aftosa, Estomatite Vesicular e o Exantema dos Suínos pode ser feito por inoculação animal. Cavalos inoculados por via intralingual são resistentes ao vírus da aftosa e ligeiramente suscetíveis ao Exantema dos Suínos. Os bovinos são suscetíveis à Febre Aftosa e à Estomatite Vesicular e resistentes ao vírus do Exantema. A prova com animais é dispendiosa e é substituída pela fixação de complemento, que não apenas permite diferenciar o vírus da Febre Aftosa do da Estomatite Vesicular, mas também é eficiente para identificar o tipo e o subtipo do vírus da Febre Aftosa. O controle da Febre Aftosa é feito com a eliminação dos focos e por intermédio de vacinações periódicas, mas o ideal, a meta definitiva, é a erradicação da doença, quando cessa a obrigação das vacinações por estas tornarem-se desnecessárias. Referência: Zoonosis y enfermedades transmissibles Comunes al hombre y a los animales Segunda edición Pedro N.Acha; Boris Szyfres Organizacion Panamericana de La Salud Animal Business-Brasil_9



A pecuária possui um grande parceiro capaz de contribuir para o seu desenvolvimento sustentável em todo o estado.Por meio de cursos, consultorias e um atendimento especializado, o Sebrae/RJ incentiva e participa de toda a cadeia, desde a criação até a comercialização, sem esquecer da responsabilidade ambiental. Venha conversar com quem sabe que, na pecuária, não existe bicho de sete cabeças.

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Como os vírus da Febre Aftosa

agem no organismo dos animais de casco fendido A Febre Aftosa pode ser causada por sete tipos diferentes (sorotipos imunológicos): A,O,C,SAT-1, SAT-2,SAT-3 e Ásia-1, mas o tipo O é o mais comum. Um animal resistente a um desses tipos fica suscetível aos outros.

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s vírus da Febre Aftosa pertencem à família Picornaviridae, gênero Aphtovirus. Esse vírus é resistente ao congelamento e só fica inativo em temperaturas superiores a 50°C. Ele sobrevive nos gânglios linfáticos dos animais e na medula óssea onde ocorre pH neutro, mas morre nos músculos onde o pH é inferior a 6. Pode sobreviver em

forragens contaminadas e no meio ambiente por até um mês se houver condições favoráveis de temperatura e pH.

Prejuízo A Febre Aftosa é uma das doenças animais mais contagiosas e causa importantes perdas econômicas. Nos animais adultos, a mortalidade é baixa, mas nos jovens provoca miocardites que levam à morte. A doença atinge bovinos, ovinos, caprinos, suínos e todos os ruminantes selvagens. Os camelos, os dromedários, as lhamas e as vicunhas são pouco suscetíveis e os cavalos não são afetados (não têm cascos fendidos).

Transmissão A transmissão ocorre por contato direto com animais infectados, contato com secreções, e com vetores móveis, como pessoas e animais domésticos que tenham estado em contato com

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Mark Valencia / Pixabay

Pixabay

O vírus da Aftosa produz feridas nos pés que comprometem a locomoção.


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animais contaminados, e veículos e equipamentos nas mesmas condições. Em casos raros, o vírus pode ser transportado pelo ar. Os animais contaminados podem transmitir a doença durante o período de incubação e no de manifestação da doença.

Permanência do vírus A carne e os produtos derivados com pH acima de 6 também conservam o vírus. Os bovinos vacinados expostos à Febre Aftosa ou infectados e não abatidos podem conservar o vírus durante 30 meses ou até mais, como no caso dos búfalos. Nos ovinos, o período de conservação é de 9 meses. O período de incubação em animais vivos e não vacinados é de 2 a 14 dias após, os quais começam a aparecer sintomas como vesículas e aftas nas mucosas da boca e na língua, feridas no úbere e nos cascos.

Sintomas Durante os primeiros dias antes da manifestação das feridas, os animais apresentam falta de apetite, calafrios, febre e redução da produção de leite. Após a manifestação das aftas, o animal não consegue se alimentar nem caminhar, permanecendo prostrado e fraco.

Recuperação A recuperação começa a aparecer entre 8 e 15 dias após a manifestação dos sintomas. Em casos mais graves, os animais sofrem com a superinfecção das lesões, deformação dos cascos, mastite e redução permanente da produção de leite, perda de peso, doenças do músculo cardíaco, aborto e morte de animais jovens. Nos ovinos e caprinos, as lesões são menos pronunciadas e podem até passar despercebidas. Os porcos podem desenvolver graves lesões nos pés.

Diagnóstico O diagnóstico é feito clinicamente após a observação das feridas. A confirmação dá-se após análise de laboratório de tecidos coletados na mucosa da boca.

As lesões da língua e da boca prejudicam seriamente a alimentação.

Prevenção • Proteção de zonas livres mediante controle e vigilância dos deslocamentos de animais nas fronteiras. • Sacrifício dos animais infectados, recuperados e de animais suscetíveis que entraram em contato com indivíduos doentes. • Desinfecção dos locais e de todo material infectado (artefatos, veículos, roupas). • Destruição dos cadáveres e produtos animais suscetíveis na zona infectada. • Medidas de quarentena. • Vacinação.

Risco para o homem A Febre Aftosa não apresenta risco para a saúde do homem. A doença não se transmite pelo consumo de carne, leite e derivados de animais infectados. Alguns casos raros de feridas nas mãos e outros sintomas leves foram relatados em seres humanos que lidavam de forma muito próxima com animais infectados. Ref.: OIE

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Como a Febre Aftosa

é combatida

O principal efeito da Febre Aftosa é comercial. A doença prejudica muito tanto o comércio interno como as exportações de animais e de produtos de origem animal. Os países importadores criam barreiras contra a entrada de animais de produção de cascos fendidos e também dos produtos de regiões onde a ocorrência da Febre Aftosa é constatada.

A

vacinação dos bovinos e búfalos, seguindo o calendário oficial de cada estado ou região, tem papel fundamental na prevenção e na erradicação da doença. No Brasil, a vacinação contra Febre Aftosa é realizada em todos os estados e no Distrito Federal, com exceção de Santa Catarina, que desde 2007 é considerada pela OIE – Organização Internacional de Epizootias (mesma sigla em francês) com sede em Paris e da qual o Brasil participa.

Combate Para combater a Febre Aftosa, o Ministério da Agricultura tem o Programa Nacional de Erradicação e Prevenção contra a Febre Aftosa (PNEFA) e trabalha em conjunto com os serviços veterinários estaduais e também com a iniciativa privada.

Thais D’Avila/ Secom SC

Vacinar duas vezes por ano é fundamental para controlar a Aftosa.

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Quando a doença aparece Após o aparecimento da Febre Aftosa, a política de controle básica prioritária envolve o sacrifício sanitário dos animais doentes e a eliminação das fontes de infecção para que o seu provável avanço seja contido.

Campanha de vacinação A Campanha de Vacinação segue o calendário oficial do Ministério da Agricultura e é realizada, na maior parte dos estados, nos meses de maio e novembro. A vacinação sistemática é obrigatória, exceto em Santa Catarina, autorizada apenas para bovinos e búfalos. Cabe ao Serviço Veterinário Oficial fiscalizar a produção para garantir a qualidade das vacinas produzidas, bem como inspecionar, controlar e orientar as atividades de comercialização e utilização do produto. A execução e o controle das campanhas de vacinação são de responsabilidade dos serviços veterinários estaduais, de acordo com as normas e procedimentos gerais estabelecidos em consonância com a orientação do Ministério da Agricultura.

Nosso rebanho O rebanho brasileiro é formado por mais de 200 milhões de cabeças de bovinos e de 1,2 milhão de búfalos e o índice de cobertura vacinal oscila em torno de 97%, o que corresponde à impressionante quantidade de 324,2 milhões de doses de vacina. A vacinação contra a Febre Aftosa existe como uma das principais estratégias dos programas nacionais de erradicação. Os dados disponíveis na América do Sul permitem concluir que a manutenção de um adequado nível de imunidade populacional nas espécies bovina e bubalina vem contribuindo para a erradicação dessa doença.

Renato Araùjo/ Agência Brasília

Entre as estratégias do programa estão a manutenção e o fortalecimento dos serviços veterinários oficiais e da infraestrutura para o diagnóstico, normatização das ações, cadastramento do setor agropecuário, vigilância ostensiva, vacinação de animais, manutenção de programas de educação sanitária, comunicação social, organização e consolidação da participação da comunidade.

Livre de Febre Aftosa, o rebanho se desenvolve normalmente.

Como proceder em caso de suspeita Toda suspeita de doença vesicular (com a presença de feridas em forma de vesícula), como é o caso da Febre Aftosa, é de notificação imediata obrigatória. Qualquer pessoa que verifique a presença de sinais clínicos, como sialorreia (babeira), manqueira, feridas na boca, pata e úbere de bovinos, búfalos, caprinos, ovinos, suínos, além de outras espécies de casco fendido, deve comunicar imediatamente ao Serviço de Defesa Sanitária Animal do seu estado. Em seguida, um médico veterinário oficial fará a inspeção dos animais e caso confirme a ocorrência da doença vesicular tomará as providências necessárias, como coleta de amostras para diagnóstico de laboratório e estabelecimento das medidas emergenciais de proteção para evitar que a doença se espalhe.

Quando o problema começou A Febre Aftosa foi diagnosticada pela primeira vez no mundo, em 1514, na Itália. No Brasil, o primeiro registro ocorreu em 1895 no Triângulo Mineiro. Para prevenir ocorrências, o Ministério da Agricultura começou a atuar desde 1934, ano em que foi publicado o Regulamento do Serviço de Defesa Sanitária Animal. As instruções específicas para o controle, incluindo a vacinação, foram estabelecidas somente em 1950 e as campanhas organizadas só começaram em 1965. Os últimos focos foram identificados no Paraná e em Mato Grosso do Sul, em 2006. Animal Business-Brasil_15


A Febre Aftosa

nas Américas A Febre Aftosa é uma doença transmissível e economicamente devastadora para os rebanhos de animais de casco fendido, embora haja vacinas disponíveis que têm sido eficientes na eliminação da doença na maior parte da população animal.

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importância da doença para o desenvolvimento econômico e social do continente americano levou ao estabelecimento, em 1951, do Centro Pan-Americano de Febre Aftosa (Panaftosa), que tem oferecido ajuda financeira a países para a erradicação da doença.

Os primeiros programas nacionais para a erradicação da Febre Aftosa foram estabelecidos na América do Sul entre os anos 60 e 70. Nos anos 80, para o avanço dos esforços regionais de erradicação, os países concordaram com um Plano de Ação para o período 1988-2009 dentro do Programa Hemisférico de Erradicação da Febre Aftosa. O Plano de Ação para 1988-2009 não atingiu o objetivo de erradicar a doença do continente, e um novo Plano de Ação 2011-2020 foi desenvolvido em 2010 com base na experiência adquirida pelos países e pelo Panaftosa nos últimos 60 anos.

Causa da doença A Febre Aftosa é uma doença viral altamente transmissível entre animais de casco fendido.

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Benjamin Earwicker / FreeImages

Primeiros programas

Ela é causada por uma série de tipos e subtipos antigênicos do vírus que não estão distribuídos de forma homogênea pelas diferentes regiões do Globo, nas quais ela está presente.


A Febre Aftosa é uma das doenças mais importantes do gado devido às restrições que ela gera no comércio de animais e de produtos derivados. A infecção com um dos sete sorotipos não confere imunidade contra qualquer dos outros sorotipos. Dos sete sorotipos, seis foram relatados na África (A,C,O,SAT-1,2 e 3); quatro na Ásia (A,C,O e Ásia-1) e apenas três na América do Sul (A,O e C). Os sorotipos SAT-1 e SAT-2 foram relatados no Oriente Médio de forma esporádica.

Doença importante A Febre Aftosa é uma das doenças mais importantes, devido às restrições que ela gera no comércio de animais e de produtos de origem animal e às suas consequências socioeconômicas, mas, entretanto, essas restrições não foram suficientes para se evitar a disseminação da doença de áreas enzoóticas para áreas livres.

Ferramentas importantes As vacinas inativadas contra a Febre Aftosa são ferramentas muito importantes para o controle e eliminação da doença e se mostraram eficientes para esse objetivo na América do Sul, embora o risco de reincidência seja uma realidade em algumas regiões.

Histórico Os primeiros surtos da Febre Aftosa nas Américas foram relatados quase que ao mesmo tempo, em 1870, nos Estados Unidos, Argentina e Uruguai e, alguns anos mais tarde, no Paraguai. Os surtos foram associados à importação de bovinos da Europa. No Brasil, o primeiro caso da doença foi relatado em Uberaba, Minas Gerais, em 1895. No Peru e na Bolívia, os surtos foram relatados em 1910, no Chile, nos anos 20, e na Venezuela, Colômbia e Equador, nos anos 50. No Caribe, ela

foi detectada, na Jamaica, em 1922, em Aruba e na Martinica, em 1953, e em Curaçao, em 1957. A Febre Aftosa nunca foi detectada na América Central ou no Panamá. Após sua introdução nas Américas, a disseminação da doença seguiu caminhos drasticamente diferentes conforme as condições locais e as respostas dos serviços veterinários para a sua contenção ou eventual eliminação. Na América do Norte, a doença foi introduzida esporadicamente, principalmente pela importação de animais da Europa, mas também pelo uso de materiais biológicos contaminados e de produtos de origem animal. A doença foi caracterizada como de disseminação limitada, dada à dinâmica dos rebanhos com baixa intensidade de movimentação (a maior parte dos animais infectados era gado de leite). Além disso, graças às iniciativas políticas e técnicas dos governos e dos criadores, nos Estados Unidos e no Canadá, os surtos foram controlados por meio de esforços locais e a doença foi eliminada em 1929 e 1952, respectivamente. No caso do México, um grande surto iniciado em 1947 levou à criação da Comissão do México - Estados Unidos para a Prevenção da Febre Aftosa, com alocação de recursos para a eliminação da doença. As tentativas iniciais de se controlar a doença por meio de abate sanitário sistemático (stamping- out) apresentaram resultados ruins, e os produtores se opuseram fortemente a este método. Isso levou ao uso da vacinação, iniciando-se em 1950, o que tornou possível para o México eliminar a doença em 1952. Esta matéria foi produzida com base em parte do artigo de autoria de Naranjo J; Cosivi O, 2013, Elimination of foot-and-mouth disease in South America: lessons and challenges

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Jakub Kapusnak / FoodiesFeed (Foto original)

Estados Unidos fecharam acordo para importar carne bovina brasileira in natura 18_Animal Business-Brasil


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Pixabay

Trata-se de uma grande conquista dos produtores, dos veterinários e do governo, que conseguiram provar ao mais exigente mercado importador do mundo, que o nosso produto (isento da Febre Aftosa e de outras doenças) atingiu um alto grau de confiabilidade.

Os Estados Unidos são extremamente exigentes em matéria de importação de alimentos.

acordo, concluído recentemente em Washington, foi a conclusão de uma luta de quase 20 anos e torna oficial o reconhecimento pelos Estados Unidas das boas condições sanitárias do nosso rebanho.

Na opinião do ministro José Serra, das Relações Exteriores, a medida (dos Estados Unidos) é o reconhecimento da qualidade do rebanho brasileiro, responsável por 20% do consumo mundial de carne.

Atestado de qualidade Esse reconhecimento da qualidade e ausência de riscos da carne in natura brasileira pelas autoridades sanitárias norte-americanas, que são extremamente exigentes, funciona como um verdadeiro atestado para o nosso produto com excelentes implicações na expansão do mercado exportador que já é um dos dois ou três maiores do mundo, mas que tem potencial para crescer ainda muito mais.

Grande avanço Segundo o vice-presidente da CNA –Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil – José Mário Schreiner, “é um avanço muito grande para buscar mercados exigentes porque vai valorizar o nosso produto e mostrar que temos produto de primeira linha”. Num primeiro momento, o Brasil deverá disputar com outros concorrentes uma fatia de aproximadamente 65 mil toneladas, por conta das cotas estabelecidas pelos norte-americanos para diversos países. Caso o Brasil consiga vencer seus concorrentes e exporte todo esse volume, poderá alcançar uma receita, em 2017, de US$ 300 milhões, mas a expectativa é que os primeiros embarques ocorram ainda neste ano de 2016.

Meta Segundo a CNA, o ministro da Agricultura Blairo Maggi também estipulou como meta para o Brasil a ampliação da sua participação no comércio mundial do agronegócio de 7% para 10% nos próximos cinco anos. Na opinião do ministro José Serra, das Relações Exteriores, “a medida é o reconhecimento da qualidade do rebanho bovino brasileiro, responsável por 20% do comércio mundial de carne” – e acrescenta – “não temos dúvida da qualidade dos produtos do campo brasileiro. De cada cinco bifes consumidos no mundo, um é brasileiro”. Antes desse acordo, o Brasil já vendia carne industrializada para os norte-americanos, mas basicamente para a produção de hambúrguer.

Animal Business-Brasil_19


O Futuro do Brasil sem Aftosa

=Fórum 2020= Por:

Sebastião Costa Guedes, presidente do GIEFA e presidente-eleito da Academia Brasileira de Medicina Veterinária.

O Conselho Nacional da Pecuária de Corte – CNPC, realizou em cooperação com a Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo – FAESP, Sindicato dos Pecuaristas de Corte do Estado de São Paulo – SINDICORTESP, e o Fundo de Desenvolvimento de Pecuária do Estado de São Paulo – FUNDEPEC, este Fórum que foi um grande sucesso, com sugestões determinantes para orientar a fase final do programa nacional de erradicação da doença no país. O evento foi aberto com as presenças do Governador do Estado de São Paulo, Dr. Geraldo Alckmin, e do Presidente da FAESP, Dr. Fábio de Salles Meirelles. Presidiu o evento Dr. Tirso de Salles Meirelles. 20_Animal Business-Brasil

S

etenta e seis pessoas entre pecuaristas, médicos veterinários, empresários e imprensa participaram do evento. Após este evento, o CNPC elaborou um questionário com prazo de resposta de 90 dias para todas as entidades representadas no Fórum, cujas respostas principais constam neste artigo. As entidades que responderam ao questionário, mostraram o pensamento da cadeia sobre o Programa Nacional de Erradicação e Prevenção da Febre Aftosa – PNEFA e sua evolução.

O começo O combate à Febre Aftosa – F.A., no país começou a se organizar, inclusive com integração continental desde 1951 quando o presidente Getúlio Vargas assinou com a organização Pan-Americana da Saúde – OPAS, a criação do Centro Pan-Americano, hoje o conhecido PANAFTOSA. Vargas que era pecuarista em ­ São Borja, na fronteira gaúcha, sabia da importância econômica da F.A. para o comércio internacional de carnes. Desde aquela época, centenas de veterinários brasileiros, sul-americanos e de outras nacionalidades trabalharam e foram treinados pelo PANAFTOSA. Trocaram conhecimentos, adquiriram e trouxeram experiências que colaboraram para o controle e futuramente para a erradicação da F.A. na América do Sul e Caribe. Na América do Norte, os EUA erradicaram a doença com rifle sanitário em 1929. No após guerra apoiaram a erradicação no México e Canadá, tornando ambos os países livres da enfermidade no início da década 1950.


Pixabay

Um rebanho sadio é fundamental para a economia do país e o bem-estar da população.

A América Central nunca teve F.A., o que é intrigante! O Caribe erradicou a F.A. nos anos 80.

objetivos alcançáveis. Em breve, Chile e Peru desfrutarão dos atraentes mercados da PARCERIA TRANSPACÍFICO – TPP (sigla em inglês) em formação. Países altamente remuneradores para as carnes como: Japão, Coreia do Sul, e os do NAFTA até agora exigem que não haja sequer vacinação contra a F.A. para que sejam habilitados como seus fornecedores. Na América do Sul, a situação problemática é hoje a da República Bolivariana da Venezuela, onde nos últimos 5 anos ocorreram segundo fontes oficiais 4 focos. PANAFTOSA assinou um acordo de cooperação com aquele país e 2 missões já visitaram a Venezuela para desenvolverem um programa.

Panorama na América do Sul

Neste continente, o Chile, as Guianas Francesas e Inglesa erradicaram a doença há mais de 30 anos. O Peru já tem 99% de seu território livre sem vacinação. Estes fatos demonstram que erradicação e a retirada da vacinação são

O Suriname também foi visitado pelo PANAFTOSA. Tem apenas 80 mil bovinos sem ocorrência da doença e sequer vacinam. O país está se habilitando para apresentar a documentação visando obter a certificação de livre sem vacinação junto à Organização Mundial de Saúde Animal – OIE (sigla em francês). Animal Business-Brasil_21


A América do Sul é hoje o único continente que pode erradicar a Febre Aftosa sem grande dificuldade pois só a Venezuela apresentou focos nos últimos cinco anos.

A Colômbia tem uma área livre sem vacinação na região de Chocó e o restante do país é considerado livre com vacinação. O progresso colombiano deveu-se ao programa da FEDEGAN denominado “Compromisso Ganadero”, resultado da integração dos setores público e privado. A Colômbia poderia ter avançado mais com seu programa, mas a fronteira com a Venezuela exige investimentos cada vez maiores para evitar a ocorrência de surtos.

O Equador com apoio dos setores privados do Brasil e Paraguai realizou um excelente progresso e hoje já é certificado pela OIE como livre com vacinação. A presença do PANAFTOSA e o apoio do GIEFA foram decisivos para esta evolução. A Agrocalidad, agência equatoriana de defesa sanitária, tem desempenhado notável trabalho. O arquipélago de Galápagos já é livre sem vacinação. Nos últimos focos ocorridos em 2010, houve uma tentativa de criar uma nova cepa do vírus no país, o que traria enormes complicações para epidemiologia e sorologia continentais. O trabalho de identificação da “cepa” e de sua sensibilidade à vacina já existente, desenvolvido pelo PANAFTOSA com apoio do GIEFA e contribuições do Brasil e Paraguai, foi decisivo para demonstrar que não era uma nova cepa. Este resultado foi posteriormente confirmado pelo laboratório de doenças exóticas de Plum Island dos EUA. Em síntese, o que havia no Equador era falta de vacinação. 22_Animal Business-Brasil

O Peru fez também formidável trabalho atingindo 99% de seu território como livre sem vacinação. Atualmente, só aplica vacina na fronteira com Equador. Este notável trabalho propiciou ao país erradicar a doença e retirar a vacinação em apenas 21 anos, o que foi um grande desafio pela complexidade de um país com forte presença de pequenas propriedades e de comunidades indígenas.

A Bolívia já tem seu território nas áreas dos altiplanos e cordilheira como livre sem vacinação. O trabalho agora se concentra nas províncias de: Pando, Beni, Santa Cruz de La Sierra e Tarija onde existem grandes cooperações dos setores privados, inclusive com apoio dos vizinhos Brasil, Paraguai e Argentina. A Bolívia desde 2007 não apresenta focos da doença e as províncias citadas anteriormente já são livres com vacinação. Um grande estimulo à erradicação na Bolívia seria a remoção de barreiras que reduzem as exportações de produtos pecuários para os países vizinhos. Este trabalho deve também ser apoiado pelo GIEFA, que planeja efetuar uma reunião em Santa Cruz de La Sierra antes do evento da Comissão das Américas da OIE previsto para meados de novembro naquela cidade. A Bolívia é um dos raros países que tem rebanho bovino numericamente superior à população humana. A possibilidade de exportação é portanto vital para a evolução de seu status sanitário. Devemos ainda ressaltar que a Bolívia possui um


excelente plantel de raças zebuínas, o que torna mais atraente seu potencial para exportação.

O Paraguai é outro exemplo de país com formidável evolução de seu programa de erradicação apoiado por ampla integração entre governo e as instituições privadas como: Associacion Rural Paraguaia (ARP) e ACONASA, cujo presidente Antonio Vasconsellos Portas, é também membro do GIEFA. Há mais de 5 anos, não existem focos no país que hoje exporta carne para mais de 58 nações. Também exporta animais vivos, o que atesta a qualidade de seu programa sanitário. O Paraguai é livre com vacinação e pretende discutir a retirada ou redução desta para futuro próximo. Também analisa se passará a adotar a vacina bivalente (com os vírus A e O) em breve.

Veterinário Sebastião Costa Guedes.

de 11 milhões de cabeças. O país não pode ser um grande player no mercado mundial da carne, como são Argentina e Brasil, países que preocupam os EUA e Austrália.

Argentina realizou recentemente uma pequena ampliação de sua área livre sem vacinação, incorporando a chamada Patagônia Norte à tradicional Patagônia. O restante do país é livre com vacinação, conforme certificação pela OIE. Há 9 anos não tem focos e agora com novo governo, espera retornar com presença mais efetiva no mercado internacional de carnes. Possui uma indústria de vacinas que agora investe num enorme laboratório para a fabricação do imunógeno na China. A indústria argentina já fornece vacinas e/ou concentrados para outros países. A Argentina, a exemplo do Brasil, também luta para exportar carnes in natura para os EUA. A pecuária argentina enfrenta agora outro desafio. Está sendo deslocada das excelentes terras do Pampa para áreas onde as raças europeias deverão se cruzar com raças zebuínas e isto pode ser um nicho de mercado para o zebu do Brasil, Bolívia e Paraguai.

O Uruguai é totalmente livre com vacinação e tem bom desempenho nas exportações de carne. Já exporta carne in natura aos EUA. Este fato se deve à imagem do seu serviço sanitário e também ao porte de seu rebanho, da ordem

Em resumo, a América do Sul é hoje o único continente que pode erradicar a F.A. sem grande dificuldade, pois só a Venezuela apresentou focos nos últimos 5 anos. Além disso, o PANAFTOSA tem revelado ausência de circulação em todos outros países do continente. Animal Business-Brasil_23


Resumo das últimas ocorrências + Tempos decorridos até junho de 2016

Nosso plantel, com 80% de raças zebuínas e com pecuária extensiva e sustentável não tem paralelo no mundo.

O Brasil pode evoluir Nosso país é o segundo maior produtor de carne bovina, só perdendo para os EUA graças à pecuária intensiva baseada em seus feedlots. Estamos sempre revezando posições entre as 3 primeiras colocações como exportadores de carne bovina. Temos excelente produção e uma moderna infraestrutura frigorífica. Nosso plantel com 80% de raças zebuínas e com pecuária extensiva e sustentável não tem paralelo no mundo. A presença de raças europeias concentrada no sul do país nos permitirá expandir o cruzamento industrial ou o novilho precoce propiciando assim melhor chance no mercado mundial de carne gourmet. Alguns países colocam barreiras em nossa carne, alegando que nossa área livre de F.A. sem vacinação, representada atualmente, só por Santa Catarina, é muito pequena para um país com 212 milhões de bovinos. Os nossos grandes competidores insistem que o Brasil continua vacinando porque não confia em sua própria defesa sanitária. O Brasil precisa evoluir com o PNEFA e retirar gradualmente a vacinação contra F.A. O quadro ao lado resume a linha do tempo dos diferentes Estados com ausência de focos e com os respectivos percentuais no rebanho nacional. 24_Animal Business-Brasil

UF Distrito Federal Santa Catarina

Tempo decorrido Maio 1993 – 23 anos

Dezembro 1993 – 22 anos e 5 meses Junho 1995 – 20 anos e 11 Acre meses Agosto 1995 – 20 anos e 9 Goiás meses Setembro 1995 – 20 anos e 8 Sergipe meses Janeiro 1996 – 20 anos e 4 Mato Grosso meses Março 1996 – 20 anos e 3 São Paulo meses Espírito Abril 1996 – 20 anos e 2 meses Santo Minas Gerais Maio 1996 – 20 anos e 1 mês Fevereiro 1997 – 19 anos e 4 Piauí meses Rio de Março 1997 – 19 anos e 3 Janeiro meses Ceará Abril 1997 – 19 anos e 2 meses Bahia Maio 1997 – 19 anos e 1 mês Tocantins Maio 1997 – 19 anos e 1 mês Fevereiro 1998 – 18 anos e 4 Pernambuco meses Fevereiro 1999 – 17 anos e 4 Rondônia meses Setembro 1999 – 16 anos e 9 Alagoas meses Outubro 1999 – 16 anos e 8 Amapá meses Fevereiro 2000 – 16 anos e 4 Paraíba meses Rio Grande Agosto 2000 – 15 anos e 10 do Norte meses Rio Grande Maio 2001 – 15 anos e 1 mês do Sul Roraima Junho 2001 – 15 anos Agosto 2001 – 14 anos e 10 Maranhão meses Pará Junho 2004 – 12 anos Setembro 2004 – 11 anos e 9 Amazonas meses Fevereiro 2006 – 10 anos e 4 Paraná meses Mato Grosso Abril 2006 – 10 anos e 2 meses do Sul Fonte: PANAFTOSA


QUADROS I e II BRASIL REBANHO DE BOVINOS E BÚFALOS EM 2014 POR ESTADO Estados

Rebanho total bovinos

Rebanho total búfalos

Rebanho total geral

% do rebanho nacional

Amazonas

1.211.550

72.373

1.283.923

0,61%

Maranhão

7.525.272

77.241

7.602.513

3,58%

20.485.739

402.687

20.888.426

9,85%

9.116.474

26.520

9.142.994

4,31%

20.167.901

13.310

20.181.211

9,51%

Acre

2.799.733

2.932

2.802.665

1,32%

Ceará

2.610.702

1.549

2.612.251

1,23%

Bahia

10.742.215

325.361

11.067.576

5,22%

100.267

750

101.017

0,05%

2.291.028

4.671

2.295.699

1,08%

Goiás

21.318.971

27.074

21.346.045

10,06%

Mato Grosso

28.472.038

15.939

28.487.977

13,43%

Minas Gerais

23.464.131

51.239

23.515.370

11,09%

Piauí

1.670.242

562

1.670.804

0,79%

Rio de Janeiro

2.382.704

10.242

2.392.946

1,13%

São Paulo

9.962.505

83.292

10.045.797

4,74%

Sergipe

1.201.458

387

1.201.845

0,57%

Tocantins

8.108.752

6.967

8.115.719

3,83%

68.043

254.927

322.970

0,15%

Alagoas

1.182.822

952

1.183.774

0,56%

Paraíba

1.280.898

1.214

1.282.112

0,60%

Pernambuco

1.968.607

11.101

1.979.708

0,93%

996.865

0

996.865

0,47%

Rondônia

12.744.340

6.279

12.750.619

6,01%

Rio Grande do Sul

13.774.309

61.201

13.835.510

6,52%

735.962

223

736.185

0,35%

4.271.092

11.411

4.282.503

2,02%

210.654.620

1.470.404

212.125.024

100,00%

Pará Paraná Mato Grosso do Sul

Distrito Federal Espírito Santo

Amapá

Rio Grande do Norte

Roraima Santa Catarina Total

LINHA DO TEMPO DE FOCOS Grupo 1

Grupo 2

Grupo 3

Grupo 4

Entre 10 e 15 anos sem focos

Mais de 18 anos sem focos

Entre 15 e 18 anos sem focos

Área livre sem vacinação

27.86%

54.52%

15.60%

2.02% Animal Business-Brasil_25


Categorias/Grupos etários para propostas de evolução do PNEFA: • Bezerros vacinar aos 60, 90 dias e depois 6 em 6 meses até 630 dias (=5 doses)? • Ou aos 60, 240, 420 e 600 dias (=4 doses)? • Não vacinar animais para abate com mais de 2 anos? • Vacas leiteiras, de cria e de exposição, touros e animais de custeio, vacinar uma vez por ano após 2 anos? • Em gado extensivo aos 6 meses de idade e depois de 6 em 6 meses. (Sugestão do plenário).

Em resumo, temos 13 estados com pelo menos 18 anos sem focos totalizando 54,5% do nosso rebanho, isto é 114,5 milhões de cabeças. Temos ainda 8 estados entre 15 e 18 anos sem focos representando 15,6% do rebanho, ou seja, 33 milhões de animais. Cinco outros estados estão entre 10 e 15 anos sem focos, representando 27,8% do rebanho, equivalente a 59 milhões de cabeças. O Estado de Santa Catarina desde 1999 sem vacinação representa 2% do rebanho, ou seja, 4,2 milhões de cabeças. Temos pois o direito de planejar e executar a retirada da vacinação, que é um enorme anseio para a esmagadora maioria de nossos criadores. Temos duas opções para reduzir e retirar a vacinação, isto é, por “Faixas Etárias ou por Circuitos Geográficos". A redução ou retirada da vacinação poderia ser por circuitos pecuários previamente definidos ou por Estados, tais como: Primeira fase 2017: • Bahia • Sergipe • Goiás • Distrito Federal • Espírito Santo • Minas Gerais 26_Animal Business-Brasil

• Rio de Janeiro • Tocantins Numa segunda fase, começar por 2018: • Alagoas • Pernambuco • Paraíba • Rio Grande do Norte • Ceará • Piauí • Maranhão E na terceira fase, concluir por 2019: • Amazonas • Roraima • Amapá • Pará • Acre • Rondônia • Mato Grosso • Mato Grosso do Sul • São Paulo • Paraná • Rio Grande do Sul O MAPA através de sua DSA/SDA informou ao CNPC que possui um grupo estudando o tema. Depois convocará o setor privado para participar e opinar nas reuniões. As Conclusões do Fórum “2020 - O Futuro do Brasil sem F.A.” mostram que podemos alcançar o invejável status de livre sem vacinação na grande maioria dos Estados. Um cronograma para esta fase é essencial e algumas medidas complementares devem ser rapidamente desenvolvidas, como: • Fundo Fiduciário, pago pelo criador através do preço da vacina, para apoio às instituições internacionais para eventual aplicação em países vizinhos e para suportar necessidades adicionais do mercado interno. • Banco de antígenos, se apenas continental ou com cepas fora do continente? Como efetuar sua operação? • Banco de reservas de vacinas e sua dimensão em vacinas prontas e concentradas. Estes bancos devem ser controlados e inspecionados pelo PANAFTOSA.


Venezuela

A questão venezuelana deve ser vista como um pequeno problema e exigirá do Brasil apenas um controle mais efetivo da nossa fronteira em Roraima. A sorologia em desenvolvimento no Amazonas, Amapá e Roraima está em fase de conclusão, não devendo mostrar indícios de circulação viral, pois estes estados estão há décadas sem focos. A preocupação de que erradicar a aftosa iria prejudicar a infraestrutura sanitária do Brasil não procede. Temos muitos outros desafios a vencer e o mercado internacional vai exigir sempre evolução sanitária, redução na incidência de doenças, controle de bem-estar animal e aprimoramento da qualidade na inspeção de alimentos. Portanto, devemos evoluir com PNEFA e dar aos criadores de bovinos e suínos

as condições para maior acesso aos melhores mercados globais consumidores de carne.

Redução das despesas Além disso, a retirada da vacinação permitirá aos criadores substanciais reduções nas despesas com aquisição das vacinas, no menor uso de mão de obra, na diminuição da perda de peso causada pela movimentação dos rebanhos, na eliminação de acidentes com lesões e até mesmo fraturas nos bretes e troncos para manejo dos animais, na redução de perdas nas carcaças por lesões e abscessos oriundos da aplicação da vacina e ainda pela menor taxa de abortos na moderna inseminação artificial a tempo fixo (IATF). Estes benefícios aos criadores justificam a retirada da vacinação de forma gradativa e segura, podendo iniciar-se já em 2017 e finalizar até 2020, que é a meta final do Plano Hemisférico de Erradicação da Febre Aftosa-PHEFA.

Samara Braghini

Desde 1999, Santa Catarina está livre de Febre Aftosa sem vacinação e é grande exportador de carne suína.

Animal Business-Brasil_27


Centro Pan-Americano de Febre Aftosa Texto e fotos por:

Luiz Octavio Pires Leal

O Centro Pan-Americano de Febre Aftosa (Panaftosa) é um centro científico da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) localizado em Duque de Caxias, Rio de Janeiro.

O

Panaftosa oferece cooperação técnica em saúde pública veterinária a todos os países membros da OPAS. Esta cooperação é orientada fundamentalmente para o fortalecimento da estrutura dos serviços veterinários e de saúde pública em aspectos relacionados com a prevenção, com a detecção e alerta precoces, além da implementação de planos de contingência sobre doenças prioritárias animais que afetam a segurança alimentar, as zoonoses e as doenças transmitidas pelos alimentos. Prédio central

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Emergências Além disso, a saúde pública veterinária integra e faz parte dos programas de atenção a emergências e desastres e daqueles que têm relação com o impacto de agentes contaminantes de origem biológica ou química na saúde pública e na saúde animal.

Segurança alimentar Por outro lado e, no âmbito da segurança alimentar, através de um trabalho coordenado por mais de 60 anos com os países e em acordo com o Governo do Brasil, vem apoiando os esforços dos países da Região das Américas, para a erradicação continental da febre aftosa.

O Panaftosa e o Brasil Em 1951, a OPAS estabeleceu um acordo com o governo brasileiro, por meio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento


Técnico Diego Santos preparando géis para eletroforese do processo de produção do EITB.

Equipamento de Fonte de Corrida de Eletroforese.

Técnica Mônica Gonçalves envasando reagente do Kit ELISA 3APC.

Equipamento de Transferência de Proteínas (Técnica W.Blot).

Área de Produção do Laboratório.

Bióloga Anna Paula Alvim, Coordenadora do Laboratório de Produção do Panaftosa

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Recentemente, o Panaftosa estabeleceu termos de cooperação com a Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde. Diretor, Veterinário Ottorino Cosivi

Nas duas áreas o Panaftosa coopera com o Brasil e demais países do continente no desenvolvimento e fortalecimento de programas de controle e erradicação de zoonoses de impacto na saúde humana e relacionados à inocuidade de alimentos, visando à prevenção e controle das enfermidades transmitidas por alimentos. Recentemente, o Panaftosa estabeleceu termos de cooperação com a Secretaria de Vigilância Sanitária (SVS) do Ministério da Saúde para contribuir com o fortalecimento das ações de vigilância em saúde e na capacidade de gestão do SUS para a redução da morbimortalidade por enfermidades zoonóticas, de transmissão vetorial e de origem alimentar e hídrica. Campus

(MAPA), com o objetivo de oferecer cooperação técnica ao Brasil e demais países das Américas, na organização, desenvolvimento e fortalecimento dos programas nacionais e regionais para a erradicação da enfermidade, além de apoiar os países livres de febre aftosa na implantação e manutenção dos programas de prevenção para eliminar o risco de reintrodução da doença.

Zoonoses (doenças transmissíveis ao homem) As ações de cooperação técnica em zoonoses e inocuidade de alimentos foram incluídas ao mandato do Panaftosa em 1997 e 2007, respectivamente, consolidando sua atuação como referência na área de saúde pública veterinária.

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Inocuidade dos alimentos Com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) foi estabelecido termo de cooperação também visando o fortalecimento das ações de vigilância sanitária no âmbito do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS) com fins de garantir a inocuidade dos alimentos.

Mais informações Av. Governador Leonel de Moura Brizola (antiga Av. Pres. Kennedy), São Bento – CEP: 25045-002 – Duque de Caxias, RJ, Brasil (21) 3661-9000 | Fax: (21) 3661-9001 panaftosa@paho.org www.paho.org/panaftosa (disponível em espanhol) www.facebook.com/KmcPanaftosa


Pixabay

A sede da OIE é em Paris

Saiba o que é a OIE

A

Organização Mundial de Saúde Animal (OIE, em inglês) foi criada, em janeiro de 1924, para combater as enfermidades dos animais. A entidade define as diretrizes e reúne especialistas para dirimir eventuais dúvidas sobre a legitimidade de medidas sanitárias adotadas pelos países membros. A OIE também é responsável por resolver as questões envolvendo o comércio de produtos de origem animal, animais vivos e material de multiplicação animal.

Referência mundial

A Organização Mundial do Comércio (OMC) reconhece as normas elaboradas pela OIE, sendo referência mundial para sanidade animal e zoonoses.

Objetivos

• Garantir a transparência sobre o status sanitário dos países membros; • Coletar, analisar e disseminar informação científica veterinária; • Encorajar a solidariedade internacional no controle de enfermidades animais; • Salvaguardar o comércio mundial, publicando os padrões sanitários para o comércio internacional de animais e produtos de origem animal;

• Promover os serviços veterinários dos países membros; • Fornecer garantias para alimentos de origem animal e promover o bem-estar animal, por meio de abordagem científica.

Intergovernamental A Organização Mundial da Saúde Animal, também conhecida pela sigla OIE, é uma organização intergovernamental, com sede em Paris, que sucedeu, em 2003, à antiga Organização Internacional das Epizootias (OIE), que havia sido criada em 1924 por um Acordo Internacional. Tem como principal objetivo coordenar e incentivar, em nível mundial, a informação, a investigação e a elaboração de normas sanitárias para o controle das epizootias. A OIE coopera estreitamente com outras organizações internacionais, nomeadamente do Sistema das Nações Unidas, como por exemplo, o Centro Pan-Americano de Febre Aftosa, localizado no município de Duque de Caxias, no estado do Rio de Janeiro, há mais de 65 anos. A OIE mantém atualizada uma lista com doenças que os países devem obrigatoriamente notificar, se ocorrerem casos em seus territórios. Essas doenças são de grande importância econômica e/ou zoonoses perigosas. Animal Business-Brasil_31


Febre aftosa, a doença de mamíferos mais contagiosa do mundo Por:

Paula Schiavo, virologista

Maior inquietação da produção pecuária no mundo todo e principal barreira não-tarifária ao comércio de animais vivos e seus produtos e subprodutos, a Febre Aftosa foi o primeiro vírus animal descrito – em 1546, por Hieronymus Fracastorius, em Veneza. Trata-se da doença mais

contagiosa de mamíferos, e, neste mundo onde é crescente a necessidade de proteínas para alimentação humana, a importância econômica e sanitária da febre aftosa vem aumentando, a despeito dos avanços nos programas de controle e erradicação em todo mundo.

Jean-Yves Sgro

O vírus da Febre Aftosa.

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N

a verdade, tais avanços, paradoxalmente, aumentam nossa vulnerabilidade, a sensibilidade do sistema de detecção e o capital – monetário, humano, social, sanitário – que se arrisca a cada obstáculo vencido.

Fig 1. Hieronymus Fracastorius

Bioterrorismo O vírus causador tem características únicas que fascinam estudiosos, epidemiologistas e despertam paixão nos veterinários que se envolvem com o combate, pois o vírion é uma partícula pequena mesmo entre estes pequenos seres, mas ainda assim resistente nos organismos e nos materiais. Com uma ampla gama de hospedeiros, sete sorotipos conhecidos e mais de 60 subtipos, o desenvolvimento de uma vacina universal é impossível. Além disso, a alta transmissibilidade pela via aerógena, a alta morbidade, infecção não-aparente frequente, persistência no organismo animal e a resistência fora dele levam muitos países a superestimarem – não injustificadamente – suas avaliações de risco na admissão de commodities de outros países. Grandes quantidades do vírus são encontradas nas excreções e secreções. Linfonodos e medula óssea dos animais infectados podem preservar o vírion ativo por muito tempo. A rapidez com que se dissemina e os prejuízos econômicos e sociais que causam, aliados às características descritas, alertam para o uso deste agente em guerra biológica e bioterrorismo – campo onde, infelizmente, o Brasil não se pode dizer pueril.

Fig. 2. Estrutura espacial do vírus da febre aftosa

Zoonose? A infecção pelo vírus da Febre Aftosa em humanos foi descrita e é classificada no CID-10 (B08.8 – Other specified viral infections characterized by skin and mucous membrane lesions). A primeira descrição da doença em humanos foi feita em 1695, por Valentini, na Alemanha. Como o vírus foi descoberto (por Loeffler & Frosch) apenas em 1897, obviamente todos estes casos anteriores não puderam ser confirmados. Mas a autoinfecção reportada por Hertwig, em 1834, parece descrever a infecção de três veterinários pelo vírus da febre aftosa: cada um bebeu 250 ml de leite de vacas infectadas por quatro dias seguidos, desenvolvendo a doença clínica em seguida. Depois, apenas pouco mais de 40 casos foram descritos de 1921 a 1969, sendo o sorotipo O mais frequentemente isolado dos

Fonte: http://www.virology.wisc.edu/virusworld/viruslist. php?virus=fmd

casos provados de infecção humana, seguido pelo sorotipo C e muito raramente pelo sorotipo A, com períodos de incubação no ser humano que variam de dois a seis dias. Não se deve, portanto, a aflição em torno da possibilidade de infecção ao potencial zoonótico do vírus, mas às perdas econômicas e sociais devastadoras. Animal Business-Brasil_33


Michelle Maria / Pixabay

A Febre Aftosa foi descrita pela primeira vez, em 1546, na bela cidade italiana de Veneza.

É importante frisar que o leigo pode clamar que a Febre Aftosa é uma zoonose pela confusão, em apresentação e pela nomenclatura semelhante, com uma infecção cosmopolita e frequente, principalmente na primeira infância, causada pelo vírus Coxsackie, chamada “doença do pé, mão e boca” e por isso quase sinônima da nomenclatura em inglês (“foot and mouth disease” versus “hand, foot and mouth disease”). Além disso, infecções por herpes simplex e pelo vírus da Estomatite Vesicular – este sim uma zoonose) podem ser clinicamente confundidas.

Questão de segurança nacional Ainda pairando a dúvida sobre a infecção assintomática, mas incontestavelmente sendo o ser humano importante fator de disseminação, intencional ou inadvertidamente, as medidas de controle contemplam o ser humano e levam os países que erradicaram a doença a tratarem o assunto como questão de segurança nacional. 34_Animal Business-Brasil

Prejuízos bilionários Em 2001, a Febre Aftosa ocasionou perdas diretas e indiretas da ordem de 10 bilhões de dólares e a morte de 6 milhões de animais no Reino Unido. Estas perdas seriam no mínimo dez vezes maiores em países como Estados Unidos, onde a indústria agrícola movimenta um trilhão de dólares. Analistas de risco dizem que não é questão de “se”, mas de “quando” a reintrodução ocorrerá em rebanhos suscetíveis dos EUA e Austrália. Em 2007, um mínimo escape de vírus de um laboratório de vacinas em Pirbright, na Inglaterra, contaminou rebanhos num raio de 25 km, levando ao sacrifício de mais de dois mil animais no entorno e um custo direto de US$ 68.974.727. Em 2010, um surto no Japão – dez anos após a última ocorrência – chegou a ameaçar a genética do Wagyu, bife cujo preço por quilograma pode bater as 220 libras esterlinas. A contaminação se estendeu além de 70 km, levou ao sacrifício de mais de 85 mil cabeças e até o suicídio de produtores.


Status atual dos países em relação ao controle da Febre Aftosa.

Fonte: http://www.oie.int/en/animal-health-in-the-world/official-disease-status/fmd/en-fmd-carte/

Os serviços veterinários O sucesso no controle da febre aftosa inevitavelmente influi na credibilidade do serviço veterinário oficial de um país perante as organizações internacionais e mercados importadores. Estratégias de avaliação de risco têm balizado as decisões dos serviços veterinários oficiais concernentes à legislação e às medidas de controle. Aí, não pesam “apenas” o impacto econômico e social que já verificamos em áreas que nunca mais se recuperaram, mas os prejuízos à imagem de um país – que, por sua vez, impactam novamente as esferas econômicas e sociais.

Cooperação internacional Desde 1870 os rumos da Febre Aftosa, nas Américas, se confundem com os progressos dos próprios serviços veterinários, nos ensinando sobre união de diversos setores e levando a uma experiência de colaboração sem abrangência equivalente em outros temas. Por Febre Aftosa, pensamos hemisfericamente em questões de

controle, eficiência dos serviços e saúde pública. O público e o privado, a saúde pública humana e veterinária, os setores de governo e os setores produtivos, rural e cosmopolita, comércio interno e externo, saúde e agropecuária, segurança nacional e colaboração internacional, na luta contra a febre aftosa, uniram e provocaram a evolução de todos os envolvidos em prol do bem-estar das populações americanas. Os serviços veterinários oficiais iniciaram os trabalhos de Defesa Sanitária Animal por causa da febre aftosa. Um Comitê Hemisférico para a Erradicação da Febre Aftosa (COHEFA) foi estabelecido em 1987, e há 43 anos consecutivos a Comissão Sul-Americana de Luta contra a Febre Aftosa (Cosalfa) se reúne anualmente para discutir o tema.

Panaftosa Em 1951, a criação do Centro Pan-Americano de Febre Aftosa (PANAFTOSA) como centro colaborador da Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPS/OMS) Animal Business-Brasil_35


abalizou a coordenação e o desenvolvimento de tecnologias e ações que possibilitaram os avanços muito bem celebrados com a conquista do status hemisférico de “Livres da Febre Aftosa”, já que não registramos um único foco nas Américas em 2015 e podemos dizer que enfim estamos a caminho da erradicação hemisférica, com

61% do território livre com vacinação e 24% livre sem vacinação, reconhecidamente (pela OIE).

Vacinação sistemática A vacinação sistemática, principal ferramenta utilizada no combate à Febre Aftosa, foi iniciada

Fig 5. Resumo das estratégias atuais de vacinação Calendário nacional de vacinação dos bovinos e bubalinos contra a febre aftosa 2016* UF Acre

Jan

Fev

Mar

Abr

Mai

(a)

Alagoas Amapá

Jun

Jul

Ago

Set

Nov

3

1

1

1

Dez

4

(b)

Amazonas

Out

1

(c)

1

1

Bahia

1

3

Ceará

1

1

Distrito Federal

1

3

Espírito Santo

3

1

Goiás

1

3

1

1

3

1

4

3

4

Maranhão Mato Grosso

(d)

Mato Grosso do Sul

1

(e)

Minas Gerais Pará

4

1 1

(f)

3 1

4

1

Paraíba

1

1

Paraná

3

1

Pernambuco

1

1

Piauí

1

1

Rio de Janeiro

1

3

Rio Grande do Norte

1

1

Rio Grande do Sul

1

3

Rondônia (g) Roraima

(h)

3 1

1 1

1

1

São Paulo

3

1

Sergipe

1

3

Tocantins

1

4

3

Legenda: Estratégias de vacinação autorizadas pelo MAPA (IN 44/2007): (1) Vacinação de todo o rebanho bovino e bubalino. (2) Vacinação de animais com menos de 12 meses (não aplicada). (3) Vacinação de animais com idade até 24 meses. (4) Vacinação anual de todo o rebanho bovino e bubalino. Fonte: http://www.agricultura.gov.br/arq_editor/Calendario-VACmar_2016.pdf 36_Animal Business-Brasil


Luiz Octavio Pires Leal

A vacinação compulsória de todo o rebanho bovino e bubalino foi a estratégia usada pelo Brasil. Ferramenta eficiente – a produção da vacina – exige alto investimento. no Estado do Rio Grande do Sul, em 1964. Na década de 70 se construíram as primeiras plantas industriais fabricantes de vacina, mas as regras de contenção não eram tão incisivas devido à situação epidemiológica da época, de ocorrências frequentes e inexistência de zonas livres. A partir da década de 1990, o Brasil evoluiu no controle da doença, estabelecendo zonas livres de Febre Aftosa, que hoje engloba 77,2% do território nacional e 99% dos rebanhos susceptíveis. A formulação da vacina oleosa foi um marco importantíssimo para a eficiência da imunização.

Biossegurança Atuando como órgão regulamentador, orientador e fiscalizador, em 1994, o Ministério da Agricultura introduziu novos critérios de biossegurança, por meio da Portaria MAPA nº 177/94. A partir daquela data tornou-se obrigatório, entre outros requisitos, que os laboratórios manipuladores instalassem sistema de tratamento de ar com gradientes de pressão, composto por um conjunto de insuflamento automático; e a instalação de um sistema de tratamento de efluentes líquidos, e ainda a automação e controle do banho na saída de pessoal. Com o progresso do programa de erradicação da doença, em 2012, o Ministério da Agricultura publicou a Instrução Normativa SDA nº 5/2012, atualizando os critérios de biossegurança para manipulação de vírus da Febre Aftosa, que é modelo para inspeções de segurança biológica em laboratório.

Veterinária Paula Schiavo, virologista do MAPA.

Vacinação compulsória A busca por uma vacina eficiente e testes diagnósticos capazes de detectar imediatamente a infecção – sem a interferência da primeira – determinaram avanços na produção e no controle de vacinas e testes diagnósticos, como também no gerenciamento dos riscos biológicos. Vacinação compulsória de todo o rebanho bovino e bubalino foi a estratégia utilizada pelo Brasil, e, com nosso rebanho de mais de duzentos milhões de bovinos sendo inteiramente vacinado ao menos uma vez por ano – uma segunda etapa contempla ao menos uma parte dos animais – a produção de vacinas contra a Febre Aftosa é um paradoxo: ferramenta eficiente, seu negócio exige alto investimento em biocontenção, ao tempo em que a produção dos volumes deste imunobiológico representa um risco em si, tanto quando se pensa na eficiência da inativação viral quanto na circulação viral entre animais imunizados. Assim, a indústria de vacinas se tornou um negócio à parte. Também, o manejo para vacinação obriga ao reconhecimento individual de cada animal do rebanho, o que nos faz temer sobre a atualização dos dados sobre as criações numa futura suspensão da vacinação. Animal Business-Brasil_37


A febre aftosa e a profissão veterinária Por: Professor

Thiago de Mello, Presidente da Academia Brasileira de Medicina Veterinária

No dia 1º de agosto de 2016, o Presidente da República e os Ministros de Agricultura e Relações Exteriores anunciaram que os EUA assinaram convênio permitindo que o Brasil exportasse para esse país carne in natura. Essa data deverá ficar gravada na história da exportação de carnes do Brasil por marcar o reconhecimento, uma espécie de atestado positivo, para o esforço que os pecuaristas brasileiros têm feito por mais de um século para a produção, exportação e consumo de “carne fresca” em boas condições sanitárias e sem o risco de febre aftosa.

A

Profissão Veterinária – Um privilégio da Profissão Veterinária é o de possuir dezenas de atividades além daquela que lhe deu origem: a de tratar as doenças dos animais. Até hoje esta importante missão médica é a que mais identifica os Veterinários, apesar das dezenas de outras responsabilidades surgidas nos dois séculos e meio desde Bourgelat em Lyon. 38_Animal Business-Brasil

O atual conceito de saúde única resume a importante missão da Veterinária: Saúde humana, animal e ambiental. A febre aftosa sempre foi uma preocupação da Veterinária brasileira, mesmo antes desta ser formalmente estabelecida no país com a criação das primeiras Escolas de Veterinária em 1910. Dentro de cinco meses, será comemorado o primeiro centenário de formatura da primeira turma de Veterinários brasileiros (Escola de Veterinária do Exército, 15 de fevereiro de 1917). Em 1906 a Diretoria de Indústria Animal do Ministério da Agricultura deveria: “...incumbir-se da Inspeção Veterinária cujo fim deve consistir, essencialmente, em velar pelo estado sanitário do gado tomando e propondo todas as medidas capazes de evitar e combater as epizootias, concorrendo, também, pela fiscalização dos matadouros e dos estábulos e para o melhoramento da higiene alimentar”.

A doença foi um dos alvos da Regulamentação do Ministério da Agricultura em 1915. Nessa ocasião, como não havia Veterinários brasileiros e sim alguns estrangeiros contratados, todas as atividades de Veterinária eram exercidas por Médicos. Em destaque, no meio civil os Médicos Franklin de Almeida e Armando Alves da Rocha. No meio militar, o Major Médico João Moniz Barreto de Aragão. Este, aliás, em algumas ocasiões também participou das atividades do Ministério da Agricultura da época. Era o início do conceito de saúde única: animal e humana.

Sociedade Brasileira de Medicina Veterinária Três anos depois da formatura dos primeiros Veterinários no Brasil, fundou-se, em 1920, a Sociedade Brasileira de Medicina Veterinária graças à operosidade dos dois Médicos mencionados acima, que também foram professores da


Embora o País esteja livre da Febre Aftosa com vacinação, sempre existe a desculpa dos grandes importadores de que é necessário estar livre da doença, sem vacinação.

Escola que deu origem à presente Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

Congresso Brasileiro de Medicina Veterinária Mais dois anos e o diminuto número de Veterinários existentes organizou o 1º Congresso Brasileiro de Medicina Veterinária, como parte dos festejos do 1º Centenário da Independência do Brasil, em 1922, ainda com ajuda desses dois médicos. Um dos mais importantes temas do Congresso foi a febre aftosa.

Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) É oportuno mencionar que o intercâmbio da Veterinária brasileira com a Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) não é de agora. Por exemplo, há quase um século, em 1921, a Comissão Organizadora desse 1º Congresso Brasileiro de Medicina Veterinária usou a antiga sede da SNA, na Rua 1º de Março, no Rio de Janeiro, para nela

serem recebidos os trabalhos (“theses”) para o Congresso, que foi realizado de 26 de setembro a 4 de outubro de 1922.

Indústria da carne A indústria de carnes no Brasil, ao fim de mais um século, continua a ser um dos pilares da economia brasileira. Para isso venceu e continua vencendo muitos obstáculos e barreiras, dos internos aos internacionais. Entre os internos, os grandes estrangulamentos de infraestrutura física (transportes), econômica (crédito, seguro) e intelectual (pessoal capacitado). No plano internacional, as barreiras sucessivas foram contornadas ou vencidas (comercial, sanitária, rastreabilidade, bem-estar). É provável que apareçam outras.

Principal barreira A febre aftosa tem sido a barreira principal que impede maior exportação de carnes bovina e suína, apesar do Brasil ser um dos maiores exAnimal Business-Brasil_39


portadores de ambas. Embora o país esteja livre de febre aftosa com vacinação, sempre existe a desculpa dos grandes importadores/consumidores de que o país necessita estar livre da doença sem vacinação. Fora dessa qualificação para o país está somente o Estado de Santa Catarina, livre de febre aftosa sem vacinação. Não por simples acaso o Estado é o maior produtor/ exportador de carne suína do Brasil.

Teses do Congresso Dentre as teses principais do 1º Congresso destacavam-se o ensino veterinário, a Saúde Pública, o combate às doenças animais inclusive a febre aftosa e, com grande destaque e detalhes, a indústria de carnes, como se fosse hoje. Mas faz 94 anos! Pela sua importância atual, vale a pena transcrever o capítulo VIII do programa: “Capítulo VIII: Indústria de Carnes: 1. Installação e hygiene dos frigoríficos, matadouros, xarqueadas, entrepostos e estabelecimentos que manipulam a carne. 2. Processos de manipulação da carne e seus derivados. 3. Inspecção e classificação sanitaria das carnes e seus derivados. 4. Alterações mais frequentes dos preparados de carnes, salsichas, pastas, pós e extractos. 5. Importancia do frio na conservação e esterilização de carnes. 6. Natureza e frequencia das adenites encontradas nas diversas especies domesticas nos matadouros. 7. Parasitoses nocivas ou não ao homem. 8. Tuberculose e paratuberculose, julgamento das carcassas por ellas atingidas... ”

A carne bovina era uma das bases da economia brasileira, junto com o café e o açúcar. A Profissão Veterinária, portanto, está envolvida com a sanidade de carne bovina desde seus primeiros passos formais no Brasil. Acrescente-se que o SIF (Serviço de Inspeção Federal), que agora completa um século de existência, também foi implementado antes da formatura dos primeiros Veterinários brasileiros. Outra vez, graças principalmente aos esforços de dois Médicos, Franklin de Almeida e Armando Alves da Rocha. Foram eles, principalmente Franklin de Almeida, que no Ministério da Agricultura da época estabeleceram as bases do que era chamado de “Inspeção de Carnes”, expressão que até hoje, apesar dos muitos nomes que recebeu, abrange todas as atividades relacionadas com inocuidade dos alimentos, com o nome genérico de “Inspeção”. 40_Animal Business-Brasil

Franklin de Almeida era de personalidade cativante e agregadora. Dele cheguei a receber algumas aulas e assisti várias de suas palestras. Dedicou toda sua vida profissional ao tema Inspeção. Desde sua tese de doutoramento na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, em 1913: “Da fiscalização e regulamentação das carnes verdes ou frescas”. Nesse panorama inicial da Veterinária praticamente inexistiam atividades relacionadas com suínos, aves e animais de companhia. Somente cavalos e bovinos, principalmente no Exército que fundou a primeira Escola de Veterinária no Brasil, graças a outro Médico, Muniz de Aragão.

Saúde pública A Profissão Veterinária tem o privilégio de atuar num setor fundamental para humanidade: a Saúde Pública, dentro do conceito agora chamado de saúde única: humana, animal e ambiental. Em destaque o combate às doença de animais domésticos ou silvestres que se transmitem ao homem, as zoonoses. Também na inocuidade dos alimentos que chegam ao consumidor humano. O cenário acima resumido sempre teve e terá a participação dos Veterinários, sintetizada na frase repetida “do pasto ao prato”. São eles que identificam e solucionam os problemas surgidos em pontos críticos desse trajeto. Isso permitirá o aumento da produção e da produtividade, em quantidade e qualidade. A febre aftosa não é uma zoonose. Entretanto, sua importância é enorme na Saúde Pública porque afeta a produção de alimentos nobres de origem animal: carnes bovina e suína.

Ações governamentais Muitos órgãos em níveis federal, estadual e municipal também têm atuado com finalidade de garantir a produção de alimentos de origem animal em quantidade e qualidade principalmente carnes bovina e suína, bem como frangos de corte. Numerosos dispositivos legais foram estabelecidos ao longo do tempo (e continuam a ser criados) em mais de um século. Neles o combate à febre aftosa sempre esteve incluído explícita ou implicitamente. Em destaque um longo período com o uso de vários tipos de vacinas. SIF – Há um século, antes mesmo da formatura das primeiras turmas de Veterinários no


país, foi criado o Serviço de Inspeção Federal, o célebre SIF que tem sido o símbolo da inocuidade de alimentos no Brasil. Assim tem sido desde os tempos das charqueadas e frigoríficos ingleses até a possante pecuária nacional com 212 milhões bovinos e com produção de mais de 10 milhões de toneladas anualmente.

Iniciativa privada Foram os pecuaristas, aí incluídos os criadores de bovinos e suínos, os primeiros a reclamarem a presença de veterinários nos rebanhos, nas charqueadas e nos frigoríficos. Não só para manter a produção para consumo no país, mas também para exportação. A frase alimento para um mundo faminto relacionada com a febre aftosa não pode ser defendida exclusivamente pelas instituições brasileiras governamentais ou privadas. Tem tido

apoio da OIE (Organização Mundial de Saúde Animal) e da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimento e Agricultura). Por isso há mais de 60 anos a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), ramo continental da Organização Mundial da Saúde (OMS), instalou num subúrbio do Rio de Janeiro o Centro Pan-Americano de Febre Aftosa (PANAFTOSA) que desde sua inauguração em 1950 tem prestado imensa colaboração no combate à febre aftosa, pesquisando sobre diagnóstico, vacinas e métodos de controle da doença no Brasil e nos outros países do continente. Também a atividade do IICA (Instituto Interamericano de Ciências Agrícolas).

Economia Sob o ponto de vista econômico, um quadro de trabalho apresentado pela Academia Brasileira de Medicina Veterinária e a Sociedade Nacional de Agricultura no Congresso Mundial de Veteri-

C

Produção brasileira de seis alimentos principais (2014)

Mil toneladas (Carnes)

BOVINA

População: 213.138.000

9.160

SUÍNA

População: 36.438.000

3.460

AVES 12.875

Milhões de toneladas (Grãos)

SOJA 95.919

MILHO 79.051

CAFÉ 45.342

Animal Business-Brasil_41


Para alcançar os (bons) resultados esperados haverá necessidade de pessoal qualificado, a começar pelos veterinários.

nária em Istambul, Turquia (Setembro, 2015) contém números impressionantes sobre a produção dos principais alimentos de origem animal no Brasil e alguns de origem vegetal, mas também importantes por serem base de ração para animais produtores de alimentos, como milho e soja. Nesse histórico cenário, a febre aftosa sempre esteve presente e foi combatida pelos Veterinários em benefício da saúde pública e da economia.

Capacitação de pessoal É claro que para a implantação dessas medidas e alcançar os resultados esperados haverá necessidade de pessoal qualificado em várias especialidades ou profissões, a começar pelos Veterinários que são a base para a certificação de rebanho livre de aftosa sem vacinação. Assim tem sido desde o tempo das charqueadas e frigoríficos, antes mesmo de existirem Veterinários formados no Brasil, há mais de um século e meio. Muitas medidas de natureza técnica devem ser tomadas e outras são fundamentais, a respeito dos estrangulamentos do agronegócio brasileiro. Além dos tradicionais, desde as notórias insuficiências em infraestrutura como o transporte terrestre, aéreo, fluvial ou marítimo até os de natureza econômica (crédito, seguro). No rol dos estrangulamentos, situa-se o intelectual: a enorme insuficiência numérica de profissionais responsáveis pelo grande salto na produção e na produtividade: os Veterinários. Embora sejam cerca de 200.000, a maioria não está preparada para esse desafio. Não adianta instalar mais comissões e fazer mais planejamento. É urgente o fazejamento como disse, em 1977, o Prof. Benedito Pedro Dorileo em magnífico livro (Universidade, O Fazejamento) sobre a instalação da Universidade de Mato Grosso, 42_Animal Business-Brasil

após décadas de comissões e planejamentos. A mesma opinião foi emitida recentemente pelo Dr. Roberto Rodrigues ao tomar posse na Presidência da Academia Nacional de Agricultura. A frase do atual Presidente do CNPC (Conselho Nacional da Pecuária de Corte), Dr. Tirso Salles Meirelles, numa entrevista para a revista “A Hora Veterinária” (julho de 2014) resume bem a necessidade de haver pessoal capacitado: “...Também a vigilância ativa com aumento de competentes quadros de pessoal para a proteção dos nossos rebanhos e, principalmente, dentro dos nossos 16.000 quilômetros de fronteiras...”

No mesmo sentido, na Revista “Animal Business-Brasil” (nº 27-2016), da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), editada pelo Acadêmico Luiz Octavio Pires Leal, o Vice-Presidente do CNPC e Presidente-eleito da Academia, Sebastião Costa Guedes, deu ênfase à necessidade em ter quadros para eliminar a febre aftosa no Brasil e na América Latina, sem vacinação; “Precisamos, todavia, prosseguir com investimentos em tecnologia, capacitação e treinamento profissional”.

Menos burocracia Para formar esse pessoal indispensável para o grande salto, é preciso contornar a burocracia nas repartições públicas e nas universidades. É onde entra a iniciativa privada como o CNPC, a ABIEC (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne), a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), a FAESP (Federação de Agricultura do Estado de São Paulo), a FARSUL (Federação das Associações Rurais do Rio Grande do Sul) e muitas outras entidades relacionadas com a Veterinária, entre elas a Academia Brasileira de Medicina Veterinária e a indústria de carnes. É um investimento com retorno a curto prazo.


A Febre Aftosa representa uma importante ameaça para o bemestar da população devido ao seu impacto sobre a economia nacional de diversos países, onde o comércio com o exterior e a estabilidade dependem diretamente da confiabilidade dos alimentos de origem animal, que devem ser oriundos de animais isentos desta enfermidade, demonstrando a estreita relação que existe entre saúde pública, o ambiente e o bem-estar socioeconômico.

A

importância da Febre Aftosa em saúde pública seria ínfima se não considerássemos o ponto de vista social e econômico. Ela afeta os produtores, empresários e famílias rurais por seus efeitos desfavoráveis sobre a produção, produtividade e rentabilidade pecuária. Incide negativamente nas atividades comerciais do setor agropecuário, prejudicando o consumidor e a sociedade em geral pela interferência que a enfermidade exerce na disponibilidade e distribuição dos alimentos de origem animal, assim como pelas barreiras sanitárias impostas pelo mercado internacional de animais, produtos e subprodutos. E mais, onera os custos públicos e privados, pelos investimentos necessários para sua prevenção, controle e erradicação.

Pixabay

A Febre Aftosa ameaça o bem-estar da população

A Febre Aftosa tem impacto negativo importante sobre a economia e o bem-estar das populações.

Doença muito antiga Apesar da enfermidade de ter sido descrita pela primeira vez em 1546, e dos esforços para o controle e erradicação, continua sendo alvo de permanente pesquisa e preocupação. Nos anos 2000 e 2001, a Febre Aftosa voltou às manchetes dos jornais de todos os continentes, e as imagens dos milhares de animais sendo sacrificados ficarão para sempre registrados na memória da população mundial. A reintrodução do vírus em países e regiões reconhecidas como livres ocasionou elevados prejuízos econômicos e sociais, como no Japão e Taiwan, livres da doença há quase 100 anos, em vários países da Comunidade Europeia, livres há 10 anos, na Argentina, Uruguai, e no Circuito Pecuário Sul do Brasil já reconhecidos como livres, fez com que a comunidade científica e todas as classes sociais se preocupassem com o assunto. Matéria extraída de artigo de autoria de Edviges Maristela Pitoco, do Instituto Biológico de São Paulo Animal Business-Brasil_43


SEAPEC

A vacina é aplicada - duas vezes por ano - na tábua do pescoço.

Procedimentos para uma

boa vacinação contra a febre aftosa

R

ecomendações da Defesa e Inspeção Agropecuária de Alagoas válidas para todo o território nacional:

• Manter as vacinas em geladeiras domésticas ou em caixas térmicas com gelo. • É muito importante a temperatura de conservação, pois tanto o congelamento quanto o calor inutilizam as vacinas. Elas devem ser conservadas na temperatura entre 2 e 8 graus centígrados. • O transporte das vacinas do revendedor até a propriedade deve ser sempre feito em caixas térmicas com gelo. • A dose a ser aplicada em cada animal deve ser aquela indicada no rótulo da vacina. Uma dosagem menor do que a indicada pelo fabricante não vai oferecer aos animais a proteção desejada. • Não devem ser utilizadas agulhas muito grossas, pois a vacina pode escorrer pelo orifício deixado no couro do animal pela agulha e, em consequência, diminuir a quantidade de vacina aplicada. • A vacina deve ser aplicada embaixo da pele.

44_Animal Business-Brasil

• Os animais sadios deverão ser sempre vacinados, pois os doentes ou mal alimentados, não respondem bem à vacinação e, nesses casos, é conveniente procurar orientação com o médico veterinário. • Os efeitos da vacina somente aparecem depois de 14 a 21 dias de sua aplicação. Se os animais apresentarem a doença antes desse prazo, é sinal de que já estavam com a doença quando foram vacinados, mas ainda não tinham manifestado seus sintomas.

Vacinar contra a Febre Aftosa é barato e muito importante Duas aplicações da vacina, por ano, custam menos do que R$ 3,50, no total. É muito barato para garantir a saúde dos seus animais, a produção de carne e leite e as exportações brasileiras.


Vacinas com

marcadores antigênicos Para algumas viroses animais, existem vacinas eficazes que no entanto não podem ser utilizadas devido à interferência nos programas de vigilância sanitária baseados em testes sorológicos, como é o caso

A

s vacinas com marcadores antigênicos são também conhecidas como vacinas diferenciais ou DIVA (Differentiating Infected from Vaccinated Animals) e são muito úteis em programas de controle e erradicação de infecções virais que produzem infecções resistentes ou latentes. Nesses programas, a vacinação é utilizada paralelamente a outros procedimentos, como a identificação e eliminação dos animais portadores. Nesses casos é importante que se diferenciem os animais vacinados daqueles que são portadores do vírus.

Caráter diferencial O caráter vacinal de um vírus vacinal, geralmente, é obtido pela deleção do gene que codifica alguma proteína do envelope do vírion. A diferenciação é realizada pelo uso de um teste sorológico – geralmente um teste de ELISA –

do vírus da Febre Aftosa. Para alguns desses casos, existem as vacinas com marcadores antigênicos que induzem uma resposta sorológica, que pode ser distinguida da resposta à infecção natural.

que detecta anticorpos contra a proteína ausente no vírus vacinal, mas que está presente no vírus de campo, ou seja, a detecção de anticorpos específicos contra esta proteína indica que os animais foram infectados com o vírus de campo. Animais apenas vacinados não reagem positivamente no teste.

Vacinas com marcadores As vacinas com marcadores antigênicos são comercializadas acompanhadas do teste diagnóstico específico que permite diferenciar a resposta vacinal da resposta induzida pelo vírus de campo. Esta estratégia possibilita a implantação de programas de vacinação em áreas de risco sem prejudicar a perda da condição de rebanho livre ou prejuízo ao trânsito de animais. Matéria extraída do trabalho Vacinas Víricas de autoria de Cláudio Wageck Canal e Clarissa Silveira Luiz Vaz

Animal Business-Brasil_45


Medidas simples para reduzir as reações da vacina contra a Febre Aftosa A formação de caroço na região onde foi aplicada a vacina contra a febre aftosa é comum e está ligada à resposta imunológica do animal. A afirmação é da pesquisadora da Embrapa Gado de Corte, Vanessa Felipe de Souza. Ela que é médicaveterinária, com doutorado em virologia, desenvolve trabalho de prevenção e controle da febre aftosa em parceria com o Centro Pan-Americano de Febre Aftosa – Panaftosa.

A

especialista afirma que a única forma de proteger o animal contra a doença é por meio de vacina e que reações indesejáveis da vacina no animal podem ser evitadas. A febre aftosa é uma doença contagiosa caracterizada por febre e lesões vesiculares que ao se romperem formam úlceras na boca, focinho, tetas e nos cascos. Ela ataca espécies animais de casco bipartido como bovinos, bubalinos, caprinos e ovinos, entre outros. “A única forma de proteger o animal contra a doença é a vacinação”, diz a pesquisadora da Embrapa Gado de Corte. Por ser uma doença contagiosa e de rápida disseminação vindo a causar perdas econômicas significativas, o melhor que se tem a 46_Animal Business-Brasil

fazer é evitar que esses prejuízos ocorram. Para isso, basta o criador seguir o calendário de vacinação adotado na sua região e ficar atento a algumas recomendações, como por exemplo a de adquirir vacinas somente de estabelecimentos credenciados pelo órgão de defesa sanitária e obedecer a alguns cuidados como de conservação, transporte e armazenamento. A pesquisadora Vanessa Felipe explica que esses cuidados com a vacina são tão importantes quanto o ato da aplicação.

Conservação da vacina Com relação à conservação, as vacinas devem ser mantidas entre 2°C e 8°C. É necessário que elas estejam armazenadas em caixas de isopor contendo três terços de gelo para uma parte de frascos de vacina e nunca congeladas. “O melhor horário para aplicar a vacina é pela manhã e o local de aplicação mais indicado é a tábua do pescoço e nunca no cupim do animal”, ensina a pesquisadora.

Cuidados ao vacinar O animal deve ser bem contido para facilitar o serviço da vacinação e evitar lesões ao aplicador e ao animal. A vacina contra a Febre Aftosa pode ser aplicada via intramuscular ou subcutânea e o melhor local de aplicação é a tábua do pescoço. O local deve estar limpo para evitar contaminações e complicações futuras. Deve-se usar uma agulha para puxar o líquido do frasco e outra para aplicação no animal, evitando assim a contaminação da vacina que está dentro do frasco. Lembrando que é importante tirar as bolhas da seringa antes de aplicar no animal para evitar que a dose aplicada seja menor do que a indicada, que é de 5 ml, tanto para animais adultos quanto novos.


As agulhas de aplicação da vacina no animal não podem ser muito finas nem muito grossas, entre 15 x 18 ou 15 x 20. “A utilização de agulhas muito grossas pode causar refluxo do líquido de dentro do animal. Já as agulhas muito finas podem entupir e o líquido sair com pressão e lesionar o local, além do risco de entortarem ou quebrarem”, afirma a médica-veterinária que também recomenda trocar a agulha a cada 10 aplicações. Ela lembra da importância de esterilizar esses materiais antes de usá-los. Para a esterilização basta ferver as seringas e agulhas em água limpa por cinco minutos. “As agulhas devem ser cortantes e não tortas, enferrujadas ou rombudas, dessa forma diminui-se o risco de reações indesejáveis”, comenta.

Como evitar a formação de caroço Com relação às reações indesejáveis da vacina a mais comum e visível é a formação

de um calombo ou caroço no local da aplicação.” Esta reação é comum, e, principalmente em animais muito jovens, pode prejudicar a mamada pelo desconforto provocado”, relata Vanessa que explica: a formação do caroço é uma reação inflamatória e tende a reduzir com o tempo. Ela diz que esta reação pode se complicar nos casos de aplicações realizadas em condições de higiene inadequadas quando há risco de ocorrerem infecções bacterianas secundárias, sujeitas ao agravamento pela formação de miíases. Para evitar que isso aconteça, basta seguir as recomendações de limpeza do local da aplicação, agulha certa, desinfetada e trocada com frequência.

Reação da vacina A intensidade da reação vacinal está ligada a fatores de hipersensibilidade e isso depende de cada indivíduo. A vacinação é feita com seringas especiais que facilitam o trabalho.

Animal Business-Brasil_47


Santa Catarina é o único estado brasileiro livre de Febre Aftosa sem vacinação Contra a virose extremamente contagiosa dos animais de produção de casco fendido que impede o comércio internacional da carne, há dois níveis de controle: com e sem vacinação. Há anos, o Brasil está livre dessa doença que causa grande prejuízo econômico, mas de todos os estados apenas Santa Catarina não precisa mais vacinar seus animais de produção.

C

ontrolar a incidência da Febre Aftosa sem vacinação é uma grande vantagem sob os pontos de vista econômico e de mão de obra, tanto para a vacinação propriamente dita como para o seu controle nas propriedades. Pela grande capacidade de disseminação do vírus, um único animal doente pode disseminar a aftosa, em pouco tempo, para uma grande região e o Estado passará a ter suas exportações de carne e dos produtos de origem animal, em geral, suspensos pelos países importadores. Quando isso acontece o prejuízo é grande.

OIE A OIE – Organização Internacional de Epizootias (da sigla em francês), com sede em Paris, tam48_Animal Business-Brasil

bém conhecida como Organização Internacional de Saúde Animal é quem certifica a condição de livre de Febre Aftosa (com ou sem vacinação) de determinada região, com reconhecimento mundial. E é graças ao grau máximo de segurança conquistado, já há anos, pelo estado de Santa Catarina – Área Livre de Febre Aftosa Sem Vacinação – aliado à quantidade e à qualidade da sua produção que essa unidade da federação brasileira vem alcançando grande sucesso na exportação de porcos para diversos países do mundo.


Oscar Nilson / FreeImages

Santa Catarina é um grande exportador de carne suína porque está livre de Febre Aftosa sem vacinação.

Exportação Santa Catarina é o estado responsável por 35% das exportações de carne suína do Brasil, com um total anual que varia em torno das 58.000 toneladas. Vigésimo estado com maior extensão territorial do Brasil, com 95.733 km², maior que Portugal, e o 9º mais populoso do Brasil, Santa Catarina ocupa o centro da Região Sul, com clima subtropical úmido, tem ótimos índices sociais e é responsável por 4% do PIB brasileiro. O status sanitário de Santa Catarina, em relação à Febre Aftosa reconhecido pela OIE em 2007, foi de importância decisiva para a conquista inicial de destacados mercados internacionais importadores de carne suína, como China, Japão e Chile.

Uma única saúde A OIE defende o conceito de “Saúde Única”, significando que saúde humana e saúde animal estão intimamente relacionadas, conceito também defendido em todas as reuniões no Brasil e no exterior a que comparece e nos inúmeros artigos e livros que publica, o mais antigo veterinário brasileiro em atividade, Milton Thiago de

Mello, presidente da Academia Brasileira de Medicina Veterinária, membro de diversas outras academias, como a Academia de Ciências de Nova Iorque e a Academia de Ciências de Lisboa, ex-professor da Universidade da Califórnia e detentor do maior prêmio da veterinária mundial, o Prêmio John Gamgee, recebido em Praga, em 2003. Um dos principais objetivos da OIE – Organização Internacional de Epizootias – é garantir a transparência da situação sanitária do mundo, assim como a garantia da situação sanitária no comércio mundial de animais e de seus produtos, particularmente dos alimentos. As regras internacionais elaboradas pela OIE protegem os países contra enfermidades e são cumpridas pela Organização Mundial do Comércio (OMC). E o rol dessas enfermidades é muito grande e seu risco de transmissão animal-homem só faz aumentar com o desmatamento e as outras formas de degradação da natureza. Para dar uma ideia da vastidão do problema, basta saber que o Tratado “Zoonosis – y enfermedades transmisibles comunes al hombre y a los animales” de Pedro N.Acha e Boris Szyfres, editado pela Organização Pan-Americana de Saúde tem 989 páginas. Animal Business-Brasil_49


Controle da febre aftosa no Espírito Santo Por:

José Maria de Abreu Junior, Diretor-presidente do Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (Idaf)

Em 2016, o Espírito Santo completa 20 anos desde a última ocorrência de febre aftosa no Estado. A conquista é resultado de um trabalho comprometido que vem sendo feito pelo Governo,

50_Animal Business-Brasil

por meio do Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (Idaf/ES). Cabe ao órgão a execução local do Programa Nacional de Erradicação e Prevenção da Febre Aftosa (PNEFA).


A

s ações remontam à criação do Grupo Executivo de Combate à Febre Aftosa (Gecofa), em 1971, e, posteriormente, da Empresa Espírito Santense de Pecuária (Emespe), instituída em 1974. Essas instituições foram precursoras do trabalho de cadastramento das propriedades, por exemplo, que não era feito. Atualmente, são mais de 33 mil imóveis rurais registrados. Foi nessa época também que a vacinação se tornou obrigatória.

Vacina oleosa Na década de 90, foi introduzida a vacina oleosa, em substituição à aquosa. Desde então, a imunização contra a febre aftosa, que era feita três vezes ao ano, passou a ser semestral. O Espírito Santo mantém o status de zona livre de febre aftosa com vacinação, com reconhecimento internacional da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), desde 2001, o que é fundamental para manter a habilitação do Estado em exportar carne bovina para mercados exigentes, como União Europeia, Chile e União Aduaneira. Anualmente, mais de 4,9 mil toneladas de carne bovina são exportadas do Estado para diversos países.

Estratégias Entre as estratégias implementadas no Estado para controle da febre aftosa estão a manutenção e o fortalecimento das estruturas dos serviços veterinários oficiais e da infraestrutura para diagnóstico mais célere, normatização das ações, cadastramento do setor agropecuário, vigilância ostensiva, vacinação de animais e manutenção de programas de educação sanitária.

Vacinação assistida A vacinação assistida é realizada pelos proprietários dos animais, sob o acompanhamento de médicos veterinários e técnicos do Idaf. Segundo normas do MAPA, a vacinação assistida pode ocorrer com o objetivo de fiscalização, orientação, assistência a comunidades carentes ou áreas de risco sanitário. Além disso, esse tipo de prática permite que o órgão confirme a aplicação da vacina na totalidade dos animais existentes em determinada propriedade. Desde 2011, foi acompanhada pelo Idaf a vacinação de mais de 180 mil bovinos e bubalinos,

Na década de 90, foi introduzida a vacina oleosa, em substituição à aquosa. Desde então, a imunização contra a Febre Aftosa, que era feita três vezes por ano, passou a ser semestral. tendo sido contempladas mais de 6.200 propriedades em todo o Estado.

Estudos e inquéritos epidemiológicos A realização periódica de estudos e inquéritos reforça o trabalho de prevenção de ingresso do vírus da febre aftosa. Em 2014, o Espírito Santo obteve índice de 75% de eficiência da vacinação no estudo sorológico realizado pelo Idaf e Mapa, que avalia a imunidade dos animais, identificando qual o percentual do rebanho que está realmente protegido. O número está abaixo do recomendado pelo Ministério, que seria acima de 90%. O estudo envolveu 195 animais em 39 propriedades em todo o Estado. Os produtores foram comunicados sobre os resultados e incentivados a efetivar a vacinação. Embora a comprovação da vacinação tenha alcançado bons resultados ao longo dos anos, o que percebemos é que, em alguns casos, os números não condizem com o grau de proteção apurado no estudo. Temos observado que, por questões culturais, muitos bezerros não são vacinados e isso pode ter impactado nos resultados. É preciso ter consciência de que nessa faixa etária os animais são mais vulneráveis às doenças por conta da baixa imunidade e também devem ser vacinados durante as campanhas. Além disso, muitos produtores deixam de atualizar suas fichas agropecuárias quando nascem novos animais. Se o animal não consta no cadastro do Idaf, não é possível fazer o controle, o produtor acaba não adquirindo vacina para os mesmos e, automaticamente, interfere no índice Animal Business-Brasil_51


Na primeira etapa da campanha de vacinação realizada em maio de 2016, o índice de cobertura vacinal foi de 97,05%, portanto acima do mínimo de 90% recomendado.

de proteção do rebanho de forma negativa. O Instituto tem orientado os funcionários de lojas agropecuárias que revendem as vacinas, os comitês de desenvolvimento rural, as associações e os sindicatos rurais para que também auxiliem na divulgação desse trabalho, afinal, um bom índice de eficiência vacinal é o primeiro passo para que o Estado evolua para o status de zona livre de febre aftosa sem vacinação. O compromisso e a parceria do produtor também são essenciais para obtenção de resultados cada vez melhores, que fortaleçam a pecuária local. É um trabalho conjunto. O inquérito soroepidemiológico para detecção do vírus da febre aftosa no Estado também é realizado periodicamente. Por meio da coleta de sangue dos animais, é analisada a presença ou ausência do vírus no rebanho. Em todos os inquéritos realizados no Estado, houve a comprovação de ausência do referido vírus. A vacinação é realizada pelos próprios produtores e as vacinas podem ser adquiridas em lojas agropecuárias cadastradas, apenas no período das campanhas. No Espírito Santo, são mais de 150 estabelecimentos autorizados para a venda, em 68 municípios.

Rebanho O rebanho capixaba é formado por aproximadamente 2,1 milhões de bovinos e 6 mil bubalinos. Eles estão distribuídos em aproximadamente 33 mil propriedades, de 78 municípios. 52_Animal Business-Brasil

Na primeira etapa da campanha de vacinação, realizada em maio de 2016, o índice de cobertura vacinal foi de 97,05%. De acordo com a preconização do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), esse percentual deve se manter acima de 90% para que não haja o risco de perda da condição sanitária de livre de febre aftosa com vacinação.

Ações de educação O Instituto tem investido nas ações de educação sanitária, que também são fundamentais no controle da febre aftosa. Em 2015 e 2016, foram realizadas em todo o Estado 58 palestras para produtores e estudantes, de 35 municípios, atingindo um público de mais de 1.400 pessoas. O tema ‘febre aftosa’ também é abordado no projeto ‘Idaf na Escola', que prevê a inclusão de temas relacionados às atividades do Idaf nas atividades escolares de alunos do sétimo ano do Ensino Fundamental de escolas, prioritariamente, públicas e rurais de todo o Estado. O objetivo é oportunizar que os alunos desenvolvam senso crítico e valores relativos à defesa agropecuária, ambiental e da saúde coletiva. Temos procurado pensar o controle da febre aftosa em todos os seus aspectos para garantir a manutenção do status atual enquanto trabalhamos pela evolução e por resultados cada vez melhores. Já avançamos bastante, mas o Estado tem potencial para buscar a excelência no setor, com envolvimento de toda a cadeia produtiva.


O controle da febre aftosa

no Maranhão

Viviane Correa Silva Coimbra, Médica Veterinária Fiscal Estadual Agropecuário-FEA

Reconhecido como área livre de febre aftosa com vacinação, o Maranhão tem assegurado índices de cobertura vacinal acima de 98% contra a doença pela terceira campanha consecutiva, alcançando o maior índice do Nordeste no primeiro semestre de 2016 (Figura 1). Com área de 331.936.955 km², população de 6.574.789 habitantes, de acordo com o Censo do IBGE

em 2010, 217 municípios e divisa com Pará, Tocantins e Piauí, o estado possui uma população de bovinos e bubalinos de 7.630.976 cabeças, distribuídas em 90.900 propriedades rurais, conforme dados atualizados do Sistema de Integração Agropecuário (Siapec), controlado pela Agência Estadual de Defesa Agropecuária do Maranhão (Aged).

Em abril, foi realizado primeiro embarque de carga viva totalmente maranhense com destino ao Líbano

Divulgaçao

Por:

Animal Business-Brasil_53


M

esmo com esses dados, que já revelam a desafiante tarefa da defesa agropecuária no local, os resultados positivos obtidos na imunização são frutos de um trabalho contínuo executado, desde 2002, pela Aged, por meio do trabalho de campo de seus técnicos e da formação de muitas parcerias com associações de representação de produtores rurais, secretarias municipais de agricultura, universidades e outras entidades, como o Fundo de Desenvolvimento Pecuário do Maranhão (Fundepec); a Superintendência Federal de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Maranhão (SFA/MA); a Federação da Agricultura do Estado do Maranhão (Faema); e o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar).

Breve histórico Em 2001, após minucioso estudo do delineamento agropecuário do Maranhão, foi montada a estrutura do serviço de defesa agropecuária de campo, cuja estrutura organizacional contemplava: Unidade Central, Unidades Regionais, Unidades Locais de Sanidade Animal e Vegetal, Escritórios de Atendimento à Comunidade e Postos Fixos de Fiscalização Agropecuária. A meta básica do serviço foi a realização do cadastramento dos proprietários, das propriedades rurais, dos efetivos dos rebanhos e do sistema agroprodutivo (frigoríficos, laticínios, matadouros, curtumes, salgadeiras, queijarias, eventos agropecuários,

Figura 1. Índice de cobertura vacinal contra Febra Aftosa no Nordeste, 1º semestre de 2016. 100

98,46

96,83

95

95,05 94,57 93,84

92,52 92,35 92,07

90 85,15

85

1

2

3

4

5

6

7

8

9

Alagoas

Pernambuco

Rio Grande do Norte

Bahia

Piauí

Sergipe

Ceará

Paraíba

75

Maranhão

80

Fonte: MAPA/2016 54_Animal Business-Brasil

A campanha de vacinação contra a Febre Aftosa acontece semestralmente nos meses de maio e novembro, com duração de 30 dias. etc.) dos municípios. Concomitantemente, foram ministradas capacitações e treinamentos técnicos para seu quadro funcional, a fim de viabilizar as primeiras auditorias orientativas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Com o crescente reconhecimento da importância e revitalização do setor agropecuário, que contribuiu decisivamente para o desenvolvimento do PIB do estado, foi criada Aged, em 19 de abril de 2002, por meio da Lei nº 7.734, como uma autarquia vinculada à Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária e Pesca (Sagrima). Isto permitiu um avanço nas conquistas do status sanitário para febre aftosa, saindo da classificação de “Risco não conhecido” para “Alto risco”, em 19 de setembro de 2002; de “Alto risco” para “Risco médio”, em 28 de dezembro de 2004; e, finalmente, após inquérito soro epidemiológico, alcançando o “Risco Baixo”, em 02 de setembro de 2013, para tornar-se livre de febre aftosa com vacinação. Atualmente, é esse o status sanitário do Maranhão, com reconhecimento internacional concedido pela OIE, desde maio de 2014. Como consequência, elevou-se, para 210 milhões, o número de cabeças de bovídeos nas zonas livres de febre aftosa, cerca de 99% do rebanho nacional, correspondente a 78% do território brasileiro, agregando competitividade ao agronegócio e, sobretudo, novas perspectivas para a exportação da produção agropecuária e possibilitando também, a outros estados brasileiros, o escoamento pelo corredor da ferrovia e Rodovia Norte-Sul em direção ao porto do Itaqui.

Estratégias de vacinação A campanha de vacinação contra a febre aftosa acontece semestralmente nos meses de maio e novembro, com duração de 30 dias para a vacinação de todos os bovinos e bubalinos,


Izabel Almeida

Foto do Lançamento I Etapa da Campanha de Vacinação 2016, em que o Secretário de Agricultura, Márcio Honaiser, realiza vacinação do gado

independente da idade, e de mais 15 dias para a comprovação nos escritórios da Aged. Em cada campanha, o setor responsável pelo Programa Estadual de Erradicação da Febre Aftosa (PEEFA/MA) analisa os resultados parciais por município a cada dez dias, visando acompanhar o índice de vacinação de rebanho, a quantidade de vacinações realizadas (fiscalizadas, assistidas e oficiais), o controle de chegada, vendas e estoque de vacinas. Estrategicamente, tem-se feito uso da educação sanitária continuada através de campanhas de divulgação em massa utilizando diversas mídias, como blogs, redes sociais, TVs, rádios, jornais, outdoors, etc. As mensagens são desenvolvidas com foco em conscientizar os criadores e a comunidade em geral sobre a importância de realizar a vacinação. Outras ações de educação sanitária também têm sido importantes nesse processo, tais como: Dia de campo; treinamento de vacinadores em municípios com menor cobertura; palestras aos produtores rurais; reuniões com associações e formação de Comitês Municipais de Sanidade Agropecuária (Comusa).

Após cada campanha são adotadas algumas estratégias adicionais com objetivo de reabilitar os inadimplentes para o programa e elevar a taxa de imunidade do rebanho do estado, cujo propósito visa a diminuir a níveis toleráveis ou mesmo zerar a inadimplência a cada etapa de vacinação. São elas: 1) o envio da carta aviso aos produtores inadimplentes (parceria com Promotorias de Justiça), estipulando prazo para comparecimento à unidade da Agência; 2) aplicação de penalidades previstas (multas ou advertência) e emissão de autorização para compra da vacina; 3) execução da vacinação de forma assistida ou oficial.

Ações que fazem a diferença Como parte dos esforços para manter o reconhecimento internacional, a Aged promove vacinações oficiais e ações de educação sanitária em áreas indígenas, comunidades quilombolas e Projetos de Assentamentos (PA) de todo o estado. Para tanto, conta com parceiros que fazem a doação de vacinas e disponibilizam instrutores para viabilizar a ação. Além disso, nas últimas Animal Business-Brasil_55


Desde abril de 2015, foi implementado um sistema de gerenciamento digital (online) para aperfeiçoamento dos serviços de defesa agropecuária.

três campanhas a Agência tem realizado treinamento de vacinadores nos 30 municípios maranhenses de menor IDH.

agropecuárias, monitoramento espacial, e permite, ainda, o controle e a análise de risco. A classificação e análise de risco, por sua vez, têm sido uma ferramenta importante para o monitoramento epidemiológico da doença, visando acompanhar os possíveis pontos de introdução e/ou disseminação de enfermidades vesiculares, bem como das propriedades pecuárias sob maior risco epidemiológico. Para tanto, utiliza-se uma metodologia desenvolvida pela Agência e apreciada pelo Mapa, baseada na avaliação da receptividade e vulnerabilidade envolvidas, descritas em um Procedimento Operacional Padrão (POP) de 2008 e atualizado em 2014, que orienta a classificação anual dos pontos de risco e o monitoramento mensal dos mesmos, através de fiscalizações in loco para correções de inconformidades.

Acompanhamento e análise de risco

De olho no futuro

Desde abril de 2015, foi implementado um sistema de gerenciamento digital (online) para aperfeiçoamento e modernização dos serviços de defesa agropecuário. Trata-se de um programa informatizado de gestão agropecuária interligado à Plataforma de Gerenciamento Agropecuário (PGA) do Mapa, que por sua vez, integra os trabalhos de todas as agências de defesa agropecuária do país, proporcionando maior agilidade, segurança e credibilidade na troca de informações sanitárias. Isso permite o controle em tempo real de propriedades e proprietários cadastrados, campanhas de vacinação, emissão online de documentação sanitária e Guias de Trânsito Animal (GTA), registro de atividades de campo, controle de eventos e aglomerações

É notório que o Maranhão tem avançado no controle da febre aftosa e seu status sanitário atual lhe confere credibilidade, pois a atuação firme e decisiva em prol da defesa sanitária agropecuária, tornou possível em novembro de 2015, a primeira operação de embarque de uma carga com 5 mil bois vivos pelo Porto do Itaqui, com destino à Venezuela, por meio da Empresa Maranhense de Administração Portuária (Emap). Desde então, já foram exportados mais de 28.000 mil animais, gerando renda e empregos em vários segmentos, beneficiando significativamente os pecuaristas, trabalhadores rurais, profissionais do setor agropecuário em geral, e colocando o Maranhão definitivamente na rota do agronegócio internacional.

56_Animal Business-Brasil


Febre Aftosa, como esta doença foi decisiva para a

estruturação da Defesa Sanitária em Rondônia e para a pecuária rondoniense Por:

Márcio Alex Petró - Fiscal Estadual Agropecuário

Fotos:

Ésio Mendes

A exploração pecuária brasileira, até o início dos anos 90, era basicamente para abastecimento do mercado interno. Aliado a essa característica, as intervenções governamentais à época, na tentativa de controle dos preços, resultaram em uma grave crise no setor, levando a um desestímulo de investimentos e consequentemente um significativo desabastecimento com importações de produtos de origem animal. Animal Business-Brasil_57


O

Brasil corria na contramão do cenário internacional, onde o que se via era o crescimento das populações urbanas e como consequência um aumento da demanda e do consumo de produtos proteicos, em especial a carne e seus derivados. O Brasil, portanto, tinha um imenso desafio: alcançar estes mercados consumidores, disponibilizando produtos competitivos e de qualidade. Para isso, era imprescindível que ocorresse investimentos na área de saúde animal e saúde pública. Nesse tempo, há de se destacar que uma doença foi imperativa na decisão política de investimento na estruturação do serviço veterinário brasileiro, a febre aftosa.

A doença mais importante Anos se passaram e a febre aftosa continua sendo a doença mais importante e, portanto, responsável pela estruturação do serviço veterinário não só do Brasil, mas de todos os países da América Latina. Mencionado por Lira e Silva, em seu trabalho intitulado "A febre aftosa no Brasil, 1960-2002", a ocorrência de Febre Aftosa contribuiu inclusive para a criação do Ministério da Agricultura, em 1909.

Em Rondônia Em Rondônia não foi diferente, onde a criação da Agência Idaron (Agência de Defesa Sanitária Agrosilvopastoril do Estado de Rondônia), 58_Animal Business-Brasil


Rondônia, mesmo com a sua aptidão nata para a produção de proteína animal, não poderia alcançar os mercados (interno e externo) se não conseguisse provar que seu rebanho está livre de Febre Aftosa.

em 1999, se confunde com a evolução do Programa Estadual de Febre Aftosa. Aliás, é bom que se diga que o principal apelo à época para a criação de uma Agência de Defesa Sanitária era justamente o de combater e erradicar essa doença do rebanho rondoniense, uma vez que os principais mercados internos consumidores dos produtos de Rondônia impuseram barreiras sanitárias em virtude de que alguns estados já tinham evoluído para áreas livres de febre aftosa e outros já tinham sido classificados como áreas de médio risco para a doença, enquanto Rondônia permanecia com risco desconhecido. Essas imposições foram oficializadas pelo Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) através da Instrução Normativa nº 43, de 28/12/1999, que proíbe o ingresso de animais, produtos e subprodutos de origem animal na zona livre de febre aftosa, constituída pelos estados do Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Distrito federal. Muitas ações foram feitas, muitas instituições foram parceiras, muitas pessoas foram envolvidas, porém o maior destaque há de ser dado merecidamente ao produtor rural rondoniense, que soube como nunca absorver os impactos negativos do fechamento de mercado de seus animais vivos e dos seus produtos. Sendo eles os principais prejudicados, souberam unir-se sob a orientação de técnicos do Mapa e do Estado de Rondônia para a criação do FEFA/RO (Fundo de Erradicação da Febre Aftosa), entidade privada e parceira do Governo Estadual e que mais tarde se tornou decisiva na implantação e na sustentabilidade do Programa de Febre Aftosa em nível estadual.

Avanços alcançados Muitos se perguntam por que tanto trabalho para eliminar uma doença que historicamente possui pouquíssimos casos relatados cientificamente de acometimento a seres humanos e que, apesar de diminuir os índices produtivos de uma propriedade, não causa altas taxas de mortalidades em animais. A doença “febre aftosa” também conhecida como “foot-and-mouth-disease” ou simplesmente doença de pé e boca tem uma particularidade como poucas, costuma-se dizer tratar-se de uma doença econômica, onde se tem muito mais medo do impacto econômico que ela causa do que o impacto da doença nos animais. Durante vários anos e com altos custos para a eliminação das fontes de infecção, países da Europa, do Hemisfério Norte Americano, bem como de alguns países da Ásia erradicaram esta enfermidade há um bom tempo. Assim, sob a alegação de risco de reintrodução, tais países puderam impor severas barreiras sanitárias na importação de produtos de origem animal àqueles países ou regiões que possuem a doença ou mesmo que não tenham seu território reconhecidamente livre da enfermidade. Rondônia, mesmo com sua aptidão nata para produção de proteína animal, não poderia alcançar esses mercados se não conseguisse provar e dar garantias de que seus rebanhos estavam livres da doença. Para isso, buscou na parceria com o Governo Federal e com a iniciativa privada (produtores rurais) a chave para enfrentar todos os problemas advindos da estruturação do órgão, ou seja, uma coisa todos sabiam: somente Animal Business-Brasil_59


Ano EACs

2016

2015

2014

2013

2012

2011

2010

2009

2008

2007

2006

2005

2004

2003

2002

2001

2000

90 82 82 84 84 84 84 84 76 78 80 71 75 68 64 70 59 62 54 56 60 50 45 40 30 14 13 13 10 20 9 11 12 9 9 9 9 9 9 10 2 2 2 2 6 0 1999

Unidades (EAC ou P.F.)

Gráfico 1. Evolução da quantidade de EACs e Postos Fixos desde a criação a Agência IDARON até atualmente.

P.F.

1,00 0,80 0,60 0,40 0,20 0,00

Após a erradicação da Febre Aftosa

Antes da Área Livre de Febre Aftosa

1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

R$

Gráfico 2. Série Histórica do preço médio (R$) do litro do leite pago pelos laticínios aos produtores.

Preço médio do Leite (L)

iriam avançar na conquista da área livre de febre aftosa com reconhecimento internacional caso houvesse sérios investimentos na estruturação da Agência Idaron. A mensagem era clara: precisaria contar com estrutura suficiente para a rápida detecção e a pronta reação, além de funcionários em quantidade e devidamente capacitados para o processo de vigilância continuada. No gráfico 1 abaixo se demonstra a evolução do número de Escritórios de Atendimento à Comunidade (EAC) e de Postos Fixos (P.F.) desde a criação da Agência até os dias atuais. O tão almejado reconhecimento internacional de área livre de febre aftosa com vacinação veio em maio de 2003, aprovado na 20ª Seção Ordinária da OIE (Organização Mundial de Saúde Animal). Outro avanço condicionado à erradicação da febre aftosa do rebanho rondoniense é refletido nos preços médios praticados no mercado de dois produtos: o leite e a carne bovina. Nos gráficos 2 e 3 abaixo, se tenta demonstrar estes preços numa série histórica de 1997 a 2015. Quando comparamos preços médios de mercados em dois cenários, (i) antes da erradicação e (ii) após a erradicação da doença, nota-se uma franca diferença dos aumentos anuais.

Fonte: Emater/RO.

140,00 120,00 100,00 80,00 Antes da Área Livre de Febre Aftosa 60,00 40,00 20,00 0,00

Após a erradicação da Febre Aftosa

1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

R$

Gráfico 3. Série Histórica do preço médio (R$) da arroba do boi gordo à vista pago pelos frigoríficos aos produtores.

Arroba Boi à vista

Fonte: Emater/RO.

60_Animal Business-Brasil

Característica da pecuária rondoniense O rebanho pecuário bovino de Rondônia tem aumentado nos últimos anos e a grande mola propulsora deste crescimento pode ser atribuída à conquista da zona livre de febre aftosa em 2003. Em 1999, Rondônia possuía pouco mais de seis milhões de cabeças e apenas dois anos após a declaração de área livre de febre aftosa pela OIE o rebanho aumentou mais de cinco milhões de cabeças, perfazendo um total de 11.349.452 cabeças em 2005. Segundo o último levantamento, realizado em virtude da 40ª etapa de vacinação contra febre aftosa, ocorrida de 15 de abril a 15 de maio de 2016, Rondônia possui um rebanho bovino na ordem de 13.196.269 cabeças, sendo 72,68% com aptidão de corte, 27,27% com aptidão de leite e 0,05% de bu-


balinos. Esses animais são criados em 92.936 propriedades rurais e pertencem a pouco mais de 91 mil produtores rurais. Outra característica importante do sistema ecoprodutivo rondoniense é que 79,64% de todas as propriedades que possuem bovinos são imóveis rurais com até 100 hectares, portanto pequenas propriedades. Importante ressaltar também que dos 237,5 mil km² de seu território apenas 35,08% está desmatado, caracterizando um Estado que está sabendo consorciar produção pecuária e florestas.

Situação atual e perspectivas Desde a conquista da área livre de febre aftosa por Rondônia, a produção pecuária bovina tem sido o carro-chefe do agronegócio, com uma produção média em torno de 575 mil toneladas de carne bovina por ano, onde no ano de 2015 as exportações representaram aproximadamente 23,50% da produção estadual. Rondônia, em 2015, ocupou o quarto lugar nas exportações de carne bovina brasileira, ultrapassando estados tradicionais, como Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul e Paraná, e suas exportações representaram 11,07% de toda a exportação brasileira deste produto. O gráfico 4 abaixo ilustra esta estatística representando os dez maiores exportadores de carne bovina do Brasil. Gráfico 4. Exportações de Carne Bovina Brasileira (kg): 1.206.734.626 3,54%

1,85%

1,51%

5,09%

21,25%

7,85%

9,92%

20,76% 11,07%

16,26% 1° SP

2° MT

3° GO

4° RO

5° MS

6° MG

7° PA

8° TO

9° PR

10° RS

Fonte: site AliceWeb/2015

Quase 80% das propriedades que possuem bovinos são imóveis rurais com até 100 hectares, portanto pequenas propriedades. Toda e qualquer projeção de futuro para a pecuária rondoniense certamente passará pelas garantias sanitárias que a Agência Idaron deverá continuar fornecendo ao Mapa, como instância superior do Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária (SUASA), bem como aos seus parceiros comerciais. Contudo, é notório que a Agência Idaron, em parceria com seu maior aliado, o produtor rural, tem muitas tarefas ainda a serem executadas. Uma destas tarefas que merece destaque são as constantes análises de risco em relação à Bolívia, país vizinho que apesar de ter todo seu território reconhecido como livre de febre aftosa, ainda oferece ameaças ao sistema de defesa sanitário brasileiro. As fronteiras que o Estado de Rondônia possui com esse país (1.444 Km) precisam estar atentamente vigiadas e alertas sob pena de reintrodução do agente da febre aftosa, fato que impactaria negativamente na economia do Estado. Costuma-se dizer no meio veterinário que “o preço da zona livre de febre aftosa é eterna vigilância de todos nós”, e isso é a mais pura verdade. Animal Business-Brasil_61


Por: André Casagrande, jornalista

Dia 1º de agosto deste ano, durante cerimônia no Palácio do Planalto, em Brasília, o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi, e a embaixadora dos Estados Unidos no Brasil, Liliana Ayalde, assinaram as cartas de reconhecimento de equivalência dos controles de carne bovina, que libera a entrada da carne bovina brasileira “in natura” no mercado americano, após uma negociação de 17 anos. O acordo histórico bilateral entre os dois países foi confirmado no dia 29 de julho, em Washington, durante visita do ministro Blairo Maggi aos Estados Unidos. Com o acordo, os Estados Unidos, que só aceitavam carne da região de Santa Catarina, Estado onde a aftosa fora erradicada há tempos, vão permitir a entrada do produto brasileiro oriundo de regiões onde o rebanho é totalmente vacinado contra a febre aftosa. Através desse acordo, mesmo com as ocorrências de vaca louca em território norte-americano detectados recentemente, o Brasil também passa a aceitar a carne dos Estados Unidos. A abertura do mercado americano para a carne brasileira “in natura”, além de representar um passo significativo para o setor, é também muito importante para a entrada do produto brasileiro em outros países. “Muito mais do que a possibilidade de mandar milhares de toneladas para os Estados Unidos, esta é a chance de vendermos também para outros países como Japão, Canadá e Coreia do Sul”, disse Maggi. 62_Animal Business-Brasil

Luis Pitombo

EUA abre mercado para a carne bovina brasileira “in natura”


Mastite bovina será tratada com nanotecnologia A mastite bovina, uma inflamação da glândula mamária das vacas que tem como consequência a redução da produção, a perda da qualidade do leite e o descarte prematuro ou até a morte do animal, pode estar com os dias contados. Um produto baseado na nanotecnologia, desenvolvido em parceria pela Embrapa Gado de Leite de Minas Gerais e a Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), é a nova aposta dos pesquisadores do setor voltada ao tratamento dessa enfermidade que afeta rebanhos do mundo inteiro. Acredita-se que uma em cada quatro vacas desenvolva a mastite pelo menos uma vez ao longo de sua vida produtiva. Segundo o pesquisador Guilherme Nunes de Souza, as Embrapa Gado de Leite, somente nos Estados Unidos, onde as estatísticas sobre a questão estão mais avançadas, a mastite provoca perdas anuais equivalentes a US$ 2 bilhões, devido à redução na produção, ao descarte do leite e de animais e aos custos com medicamentos e honorários veterinários.

“É importante o pecuarista fazer o controle da produção, dos gastos com insumos e vacinas para planejar investimentos futuros, cortar custos e melhorar sua atividade”. Essa observação foi feita pelo pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), Sergio De Zen, durante o Dia de Campo da Pecuária de Corte realizado no dia 29 de junho, em Rio Branco, no Acre, promovido pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), em parceria com a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Acre (FAEAC). Segundo De Zen, que abordou o tema “Como Produzir Mais com Menos”, produzir bem é produzir com qualidade, visando o benefício tanto do produtor, quanto do consumidor. “O crescimento da pecuária de corte no Acre tem se destacado e apresentado bons índices de produção e, com tecnologia e informação, terá capacidade de se posicionar no mercado nacional e internacional”, disse.

Divulgação /Cepea

Humberto Nicoline/Embrapa

Pesquisador do Cepea destaca a eficiência técnica do pecuarista brasileiro

Animal Business-Brasil_63


Por: Béth

Pela primeira vez em 10 anos, o Brasil atinge mais de 90% da Cota Hilton com o embarque de 9,8 mil toneladas de carne bovina (cortes especiais do quarto traseiro de novilhos precoces) entre junho de 2015 e junho de 2016. A cota anual fixa, de 65.250 toneladas, é acessada pelos países credenciados: Argentina (28.000 t), Brasil (10.000 t), Austrália (7.150 t), Uruguai (6.300 t), EUA e Canadá, juntos (11.500 t), Nova Zelândia (1.300 t) e Paraguai (1.000 t). ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS EXPORTADORAS DE CARNE (ABIEC)

A Sadia, marca da BRF, investiu R$ 50 milhões em adaptações e no desenvolvimento dos produtos para atender às exigências do chef inglês Jamie Oliver que dará seu nome a uma linha de frango congelado que lançará. Ao todo, 183 granjas de integrados da BRF, localizadas em Goiás, foram adaptadas para atender às práticas de bem-estar. BRF

Em julho, o valor médio bruto pago pelo leite ao produtor (incluindo frete e impostos) foi de R$ 1,4994/litro, alta de 12,9% em relação a junho/2016 e de 30,7% frente a julho/2015. Essa é a maior média real da série, iniciada em 2000 (valores atualizados pelo IPCA), calculada com base no volume captado nos Estados de GO, MG, PR, RS, SC, SP e BA. CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA (CEPEA)

Dos cinco principais produtos da produção animal brasileira, apenas carne de frango e ovos terão aumento real no valor bruto da produção (VBP). O VBP do frango poderá crescer 3,5%, em razão do aumento da produção de 4%, previsto para 2016. Já para o ovo, o desempenho indica evolução de 5% no preço do produto, o que aumentará o seu VBP em mais de 4,5%. O VBP da carne bovina terá pequena redução, enquanto o da carne suína deve cair 4%. CONFEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA DO BRASIL (CNA)

A exportação de carne de frango para a União Europeia (UE) deverá ter acréscimo de 4.766 toneladas, e a de peru in natura (fresca e congelada), de 610 toneladas, ambas com tarifa zero, 64_Animal Business-Brasil

Mélo

dentro do limite da cota. O acordo, fechado entre o Brasil e a UE, é uma compensação pela entrada da Croácia no bloco europeu, já que as condições de acesso ao mercado croata eram mais favoráveis. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO (MAPA)

As exportações brasileiras de carnes, previstas em 7 milhões de toneladas, em 2016, podem aumentar mais de 40% em uma década, alcançando, em 2026, cerca de 10 milhões de toneladas. Os embarques de carnes suína e de frango tendem a crescer 43,1% e 42,7%, respectivamente, e, da carne bovina, cerca de 36,2%. SECRETARIA DE POLÍTICA AGRÍCOLA (SPA) DO MAPA

De janeiro a junho deste ano, o Brasil exportou 99,785 milhões de metros quadrados de couros, 9,7% acima do mesmo período de 2015. Rio Grande do Sul (22,8% do total) liderou os embarques, seguido de São Paulo (21%), Goiás (15,2%), Paraná (7,8%) e Ceará (7,7%). Com a recente missão comercial à Tailândia, organizada pelo projeto Brazilian Leather, a previsão é de gerar US$ 6 milhões nos próximos 12 meses para as 8 empresas participantes. CENTRO DAS INDÚSTRIAS DE CURTUMES DO BRASIL (CICB)

O Brasil está entre os 15 maiores produtores de peixes do mundo, movimentando cerca de R$ 4 bilhões/ano, gerando 1 milhão de empregos diretos e indiretos e crescendo a taxas superiores a 10% ao ano. Nos últimos 10 anos, o cultivo de peixes vem crescendo e atingiu 585 mil toneladas (dados de 2014). A atividade consome, anualmente, cerca de 900 mil toneladas de rações, o equivalente a R$ 1,2 bilhão. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA PISCICULTURA (PEIXE BR)

A subsidiária Sadia Halal, criada em junho deste ano pela BRF, para atender o mercado mulçumano, já nasceu com receita anual de R$ 6,5 bilhões (US$ 2 bilhões, na época). A companhia responde por cerca de 20% das vendas da empresa brasileira, considerando a receita líquida de R$ 32,2 bilhões da BRF em 2015. BRF


No dia 1º de agosto deste ano (2016), o Presidente da República e os Ministros da Agricultura e das Relações Exteriores anunciaram que os Estados Unidos assinaram convênio permitindo que o Brasil exporte para esse país carne in natura. Milton Thiago de Mello Presidente da Academia Brasileira de Medicina Veterinária •••

O combate à Febre Aftosa no País começou a se organizar, inclusive com integração continental, desde 1951, quando o Presidente Getúlio Vargas assinou com a Organização Pan-Americana de Saúde – OPAS – a criação do Centro Pan-Americano de Febre Aftosa, hoje conhecido como Panaftosa. Sebastião Costa Guedes Presidente do GIEFA e Presidente eleito da Academia Brasileira de Medicina Veterinária. •••

Reconhecido como livre de Febre Aftosa com vacinação, o Maranhão tem assegurado índices de cobertura vacinal acima de 98%. Viviane Correa Silva Coimbra Fiscal Estadual Agropecuário •••

Rondônia, mesmo com sua aptidão nata para a produção de proteína animal, não poderia alcançar os mercados (nacionais e internacionais) se não conseguisse provar e

dar garantias que seus rebanhos estavam livres da doença (Febre Aftosa). Márcio Alex Petró Fiscal Estadual Agropecuário •••

Em 2016 o Espírito Santo completa 20 anos desde a última ocorrência de Febre Aftosa no Estado. José Maria de Abreu Júnior Diretor-presidente do Idaf •••

Trata-se da doença mais contagiosa de mamíferos, e neste mundo onde é crescente a necessidade de proteínas para alimentação humana, a importância econômica e sanitária da Febre Aftosa vem aumentando, a despeito dos avanços nos programas de controle e erradicação em todo o mundo. Paula Schiavo Virologista do MAPA •••

A OIE – Organização Mundial de Saúde Animal, com sede em Paris, foi criada em janeiro de 1924 para combater as enfermidades dos animais. A Entidade define as diretrizes e reúne especialistas para dirimir eventuais dúvidas sobre a legitimidade de medidas sanitárias adotadas pelos países membros. A OIE também é responsável por resolver as questões envolvendo o comércio de produtos de origem animal, animais vivos e material de multiplicação animal. Redação

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Raul Moreira

Modernizar para conquistar novos mercados Antonio Alvarenga (*)

B

lairo Maggi, ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, vem dando continuidade aos mais importantes avanços promovidos durante a gestão de sua antecessora, Katia Abreu, com o propósito de elevar as exportações do agronegócio brasileiro. Sua meta à frente do Ministério da Agricultura é ampliar a participação do Brasil no mercado internacional do agronegócio, de 6,9% para 10%, em um prazo de cinco anos. O Plano Agro +, lançado em agosto, contém 69 medidas voltadas para a redução da burocracia e a busca de maior eficiência na gestão pública. O objetivo é tornar o Brasil mais competitivo para aumentar nossas exportações. Com o slogan “Queremos um Brasil mais simples para quem produz e mais forte para competir", o plano foi elaborado a partir de demandas enviadas ao MAPA e de consultas a entidades do setor produtivo. Segundo o MAPA, o programa de desburocratização permitirá que o setor privado e o governo tenham, a cada ano, um ganho de eficiência calculado em R$ 1 bilhão. Por outro lado, o aumento da participação do Brasil no mercado internacional do agronegócio poderá representar ganhos superiores a US$ 30 bilhões anuais. Dentre as ações de melhoria do processo regulatório e facilitação do comércio exterior ganham destaque: o lançamento do um novo sistema de rótulos para os produtos de origem animal; a isenção de registro para estabelecimentos comerciais de produtos veterinários; o fim da reinspeção nos portos e carregamentos vindos de unidades com SIF; a revisão de regras de certificação fitossanitárias, o aceite de laudos digitais também em espanhol e inglês; a simplificação de procedimentos da vigilância internacional, em portos e aeroportos, e a atualização do Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal. O ministro anunciou também a conclusão das negociações entre Brasil e Estados Unidos

66_Animal Business-Brasil

para a liberação do comércio de carne bovina in natura entre os dois países, com o reconhecimento bilateral da equivalência dos controles oficiais. Este acordo representa um verdadeiro certificado de qualidade de nossos serviços de segurança sanitária e abrirá novos horizontes ao produto brasileiro no mercado internacional. O reconhecimento que o status sanitário dos EUA e Brasil são iguais permitirá uma significativa ampliação das exportações de carne bovina in natura. Conforme ressaltou o ministro Maggi, a maior vantagem da equivalência do status brasileiro ao dos EUA, não é apenas pelo potencial de compra daquele mercado, mas também porque os EUA são uma referência para outros importadores do produto. Em breve o governo brasileiro enviará uma lista aos Estados Unidos com os nomes das empresas que cumprem as regras sanitárias dos dois países e estão aptas a vender carne bovina in natura. A expectativa é de que os embarques de carne para os Estados Unidos comecem em 90 dias, após a finalização dos trâmites administrativos. O ministro Blairo Maggi também fez duas viagens à China, o maior e mais promissor mercado para os produtos do agronegócio brasileiro. Um dos principais objetivos é liberar algumas imposições fitosanitárias daquele país em relação a alguns de nossos produtos e, consequentemente, aumentar nossas vendas. A produção do agronegócio nacional é bastante diversificada. Temos condições de atender a toda população do País e as demandas mundiais com produtos de boa qualidade a preços competitivos. Exportar é a solução. (*) Antonio Alvarenga é presidente da Sociedade Nacional de Agricultura


Fotos: Cristina Baran

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