Grandes Construções - Ed. 52 - Setembro 2014

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entrevista GC - Por que as construtoras brasileiras não conseguem ampliar os processos industrializados nos canteiros, como já é feito em outros países? J.R. Ferraz Neto - Basicamente há três motivos. O primeiro é de ordem tributária. É preciso estimular tributariamente a indústria de pré-moldados, porque hoje ela está sujeita a dois elevados tributos, o IPI e o ICMS, o que inibe sua demanda e, consequentemente, a escala que poderia ser alcançada na sua produção. Segundo fator: na parte de movimentação de materiais e equipamentos para a construção, ainda lidamos com elevados custos em gruas, guinchos etc., que poderiam ser reduzidos se fosse facilitada a sua importação, especialmente do que não é produzido no país. Terceiro motivo: o segmento de pré-moldados ainda se encontra em um estágio no qual sua utilização resulta rentável em aplicações na construção comercial, porém não na construção residencial de uma forma geral. Está aí um desafio para esse setor da indústria de materiais. GC - O senhor diria que a construção brasileira ainda está aquém da de outros países? E por quê? J.R. Ferraz Neto - Do ponto de vista da tecnologia, a construção brasileira está praticamente no mesmo patamar daquela existente nos países desenvolvidos. Isso foi constatado pelas diversas Missões Técnicas que o Sinduscon-SP realizou ao exterior nos últimos anos, e das quais participei. Onde precisamos fazer avançar é na produtividade na construção, tanto do ponto de vista da gestão como da execução. No Sinduscon-SP, um grupo de construtoras de ponta tem se debruçado sobre o assunto, e espero que em breve possamos iniciar a produção e a divulgação de conteúdo sobre o tema para benefício das construtoras, a exemplo do que já fazemos há muito anos em relação a técnicas construtivas, responsabilidade ambiental, BIM etc.

XX Demanda na área de infraestrutura continuará crescendo

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GC - Os construtores brasileiros experimentam um ciclo de 20 anos de grandes mudanças para o mercado. Em sua opinião, qual foi a principal lição desse período? J.R. Ferraz Neto - Houve muitas lições. Uma delas é que precisamos estar sempre atualizados e preparados, com um olho no desempenho dinâmico da economia e outro na gestão da nossa atividade. Outra lição é que o sucesso na superação dos diversos obstáculos à expansão do setor está numa estreita articulação com governos da União, Estados e Municípios e agentes financeiros, e entre estes governos e agentes. Também precisamos aperfeiçoar continuamente a qualificação não somente das profissões básicas como pedreiros, eletricistas etc., mas também dos engenheiros. Mudanças curriculares, maior integração entre universidades e construtoras e aproximação dos centros de pesquisa às necessidades de que produz obras são imprescindíveis. GC - Qual será a atuação do Sinduscon-SP no debate dessas questões?` J.R. Ferraz Neto - O Sinduscon-SP já está atuando em relação a essas questões, e na atual gestão de sua Diretoria deverá intensificar esta atuação ainda mais. Na qualificação dos empresários do setor, temos o MBA da Construção, fruto de parceria entre o sindicato e a FGV. A demanda tem aumentado e as novas turmas, que se iniciavam a cada ano, agora estão começando a cada semestre. No tocante à articulação de governos e agentes, o

Sinduscon-SP tem uma atuação bastante ativa junto ao governo estadual, Prefeitura, Caixa e Banco do Brasil, buscando constantemente uma maior integração dos mesmos entre si e com a iniciativa privada. Quanto à formação profissional, além de estimular o aumento dos cursos de qualificação do Sesi (Serviço Social da Indústria), o sindicato tem se envolvido com os Departamentos de Engenharia das principais faculdades paulistas, com vistas à modernização dos currículos. GC - O que se pode esperar para a construção civil para os próximos cinco anos, diante do cenário atual. J.R. Ferraz Neto - A demanda por obras de infraestrutura e habitação deverá continuar crescendo. Ainda há muito por construir e reformar no país. A questão é se os próximos governos conseguirão equacionar satisfatoriamente a questão fiscal, racionalizar seus gastos, investir mais e estimular positivamente a economia, desonerando a produção e criando um ambiente verdadeiramente favorável aos negócios. Com a redução do volume de investimentos, as expectativas são de que as dificuldades ainda deverão persistir ao longo de 2015. Dificilmente o novo governo federal, seja ele qual for, terá maior disponibilidade de recursos para investimentos. E hoje não há condições para garantir uma vigorosa retomada dos investimentos pela iniciativa privada no ano que vem. Mesmo que ela ocorra, esses investimentos somente se traduzirão em obras somente a partir de 2016.


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