Grandes Construções - Ed. 50 - Julho 2014

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mesa redonda

Qualificação profissional

Narandiba, na Bahia. Depois veio a crise, quando a taxa de crescimento do PIB foi dramaticamente reduzida. A construção civil, no entanto, reagiu com um crescimento superior ao do PIB, sendo obrigada, mais uma vez, a recrutar trabalhadores vindos do Nordeste ou da lavoura, no interior de São Paulo. Só que esse fluxo de gente vindo do campo para as cidades terminou. E começa se repetir no Brasil uma coisa que ocorreu em alguns países da Europa. Na França, por exemplo, depois da guerra, havia uma série de atividades que o francês mais educado não queria fazer. São trabalhos penosos, como coleta de lixo e a construção civil. A Franca resolveu esse problema importando trabalhadores da Espanha e de Portugal. A Alemanha importava os turcos. Só que os filhos desses imigrantes começaram a ter acesso ao sistema educacional de qualidade e já não queriam seguir as carreiras dos pais. Não dava para continuar importando mão de

obra indefinidamente. Então, nos anos 70, 80, o governo francês fez um enorme esforço para melhorar a produtividade, investindo maciçamente na construção civil, de forma que o trabalhador pudesse ser mais bem remunerado, e que as condições de trabalho fossem melhores, para que a construção civil pudesse disputar esses trabalhadores com outras atividades econômicas. É mais ou menos essa a situação que nós temos hoje no Brasil. Não dá mais para buscarmos mão de obra no interior, porque o que se vê atualmente é o fazendeiro vindo à cidade recrutar trabalhador para levar para o campo, pagando um salário melhor. O sujeito que não encontrava emprego na construção acabou virando frentista de posto de gasolina, catador de papel, etc., e descobriu que, com essas atividades ele ganhava mais que na construção civil, em atividades muito mais leves. Então, o desafio que nós temos hoje

é criar condições de trabalho na construção civil para que possamos disputar os trabalhadores com outras atividades produtivas, com o setor de serviços, etc. Isso cabe tanto às pessoas, quanto às empresas, aos governos e a instituições como o Senai. E não se trata de treinar o trabalhador na atividade da construção artesanal, num processo arcaico. Nós temos que incorporar de uma vez as novas tecnologias e treinar os trabalhadores nessas tecnologias que, muitas vezes, exigem uma habilidade até menor do que a construção artesanal. Nós temos hoje uma queixa, seja no setor da construção imobiliária, seja na infraestrutura, que as obras demoram muito mais tempo do que foram previstas, os custos ficam de 25% a 30% mais caros do que foram orçados, e quem é responsabilizado é o trabalhador. Na verdade ele é o menos responsável. A responsável mesmo é a Engenharia brasileira que pa-

TT Para o presidente da Método, a mão de obra na construção no Brasil é mal remunerada, mas custa caro para quem a contrata

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