P_Visconde de Villa-Moura_Nova Safo.qxp:sistema solar 31/03/17 12:32 Page 18
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Vi s c o n d e d e Vi l a - M o u r a
exageradamente cingido, de jeito a denunciar-lhe as formas regulares, irrepreensíveis. Quando entrei tinha ela sobre o lugar que eu devia ocupar uma caixa de couro negro, a que prendiam duas correias unidas por uma fivela. Era a caixa do binóculo de tartaruga com lavrados de oiro que Peregrina tinha na mão. À minha chegada, a estrangeira levantou a caixa. E, como não visse melhor lugar, lançou-a ao ombro esquerdo, com a correia. Maria Peregrina interveio: — Deixa ver, Violet! E, mexendo na correia: — Apertaste a fivela ao contrário, vou compô-la… A inglesa inclinou-se para ela. Olhou em volta, derramando uma luz suave, e quedou a olhar, agradecida, para a companheira. Depois desviou a atenção para as árvores que faziam a escolta da linha férrea, a seguir para as pessoas da carruagem que viu, indiferente como vira as árvores; disse a Peregrina palavras ingénuas de disfarce, acerca do caminho, das horas da jornada; e acabou por tamborilar, a medo, nos vidros da janela. Eu observava, interessado, aquelas figuras que me pareciam tão diferentes e que, no entretanto, se benqueriam mercê de uma qualquer razão de fatalidade. Maria Peregrina usava uma toilette roxo-indeciso, sem enfeites, muito casada às linhas do corpo, obra de qualquer costureiro de Paris ou Londres que quisera honrar a mulher excepcional que fora chamado a vestir, não lhe sacrificando o corpo magnífico, agora flexuoso de doença e cansaço.