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Inhame No cardápio dos ameríndios não constava o inhame. O alimento principal era a mandioca que, por ser desconhecida pelos portugueses, foi confundida com o inhame por Pero Vaz de Caminha, o primeiro cronista a escrever sobre o Brasil. Todavia,
Não havia o inhame atingido o Brasil quando os portugueses desembarcaram em Porto Seguro. Veio deliberadamente trazido de Cabo Verde, da ilha de São Tomé desde então, entrepostos de muita utilidade no século XVI para a terra brasileira... 17 Apesar da confusão entre inhame e mandioca, recorrente nos escritos de estrangeiros em viagens à colônia portuguesa, alerta Câmara Cascudo: “Inhame nunca foi o pão para o indígena, como não é para a contemporaneidade popular brasileira”.18 O que nossos índios consumiam de forma secundária era o cará, da mesma família de dioscoreáceas:
A palavra “inhame” vem de nyame, da lingua worlof falada na costa do Senegal, significando o verbo comer. O vocábulo cará é de origem tupi: os indígenas da costa brasileira chamavam de cará os tubérculos Dioscorea trifida, que hoje em dia encontramos nas feiras-livres e mercados por todo o Brasil, muitas vezes com o nome de inhame.19 Os portugueses conheciam o inhame já há muito tempo, graças aos intercâmbios com a África. De origem africana, a espécie Dioscorea cayenensis ainda pode ser encontrada em seu estado selvagem naquele continente. Cultivado pelo homem desde a Antiguidade, sua presença e importância na alimentação local sempre foram valorizadas. Como outras espécies estrangeiras, o inhame acabou incorporado à dieta colonial, especialmente pela preferência africana. Contudo, a questão semântica não se resolve na distinção entre mandioca, cará e inhame. Na verdade, o que na atualidade o Norte e o Nordeste do Brasil chamam de inhame é o cará, ou o inhame-da-costa20, ao passo que nas demais regiões, o que se conhece como inhame é o vegetal nomeado internacionalmente como taro, a Colocasia esculenta, planta da família das aráceas, originária da Índia e da Malásia: