
10 minute read
Tendências de Mercado
Os analistas técnicos do Sistema Famasul, Eliamar José de Oliveira e Jean Carlos da Silva Américo, retratam o panorama atual de produtos do agro e as tendências baseadas nos principais indicadores e previsões de mercado. Confira:
BOVINOCULTURA DE CORTE
Advertisement
FRANGO DE CORTE
SUINOCULTURA
BOVINOCULTURA DE LEITE
SOJA
MILHO
O segundo semestre teve início sem demonstrar direção clara para o preço da arroba. Constata-se o desequilíbrio entre oferta e demanda. A exportação segue em alta. A expectativa é que a retomada dos empregos e o recurso injetado na economia por meio dos auxílios financeiros do governo resultem em aumento de consumo e, combinado ao bom desempenho das exportações, possam reverter o movimento de queda dos preços da arroba.
O mercado de carne de frango tem se mostrado resiliente e registra desempenho positivo no início do 2º semestre. O preço do frango abatido no atacado de Campo Grande valorizou pelo quinto mês consecutivo e em agosto apresentou alta de 29,6% em relação ao mês de janeiro. A produção do setor ocorre de modo a se adequar ao consumo. Outro fator que contribui para reduzir o excedente no mercado interno é a exportação, o que ajudou a garantir menor volume de carne internamente.
A produção de suínos enfrentou muitas adversidades no primeiro semestre de 2022, em especial os produtores independentes. A remuneração foi prejudicada com o preço do suíno em baixa, o custo de produção em alta pressionando a rentabilidade do setor e reduzindo o poder de compra do produtor. Para o segundo semestre o cenário tende a ser melhor, porque o valor do suíno vivo se recupera, por conta das exportações e a melhora do consumo interno, enquanto os preços dos insumos cederam.
A produção de leite registrou queda de 4,83% nos sete meses de 2022 em relação a 2021. Os menores volumes foram nos meses em que as chuvas estão mais escassas e interferem na qualidade da pastagem. A perda na qualidade do pasto impacta no volume produzido, assim como o aumento do custo de produção. Os altos valores de insumos utilizados na alimentação animal, a valorização de combustível e a energia desestimularam incrementos na produção. A menor oferta elevou o preço.
Com área cultivada de 3,842 milhões de hectares (2,5% a mais que no ciclo passado) e produtividade de 53,4 sacas por hectare, a previsão é de uma safra recorde de 12,318 milhões de toneladas – segunda maior da história. Sexto maior exportador brasileiro, MS destina quase 80% dos embarques para a China. O aumento do custo dos insumos e a expectativa de crescimento na demanda favorecem o aumento dos preços da oleaginosa no mercado interno.
Na segunda safra, a área cultivada deve totalizar 1,992 milhão de hectares. Com a expectativa de que a produtividade alcance 96 sacas por hectare, a produção deve atingir os 11,477 milhões de toneladas. Mato Grosso do Sul é o terceiro maior exportador do cereal. Os maiores compradores são Irã (41,18%), Japão (14,82%) e Egito (10,68%). A demanda internacional está aquecida, o que, junto com a alta dos custos dos insumos, favorece o aumento de preços no mercado local.
MARCELO BERTONI
Produtor rural há mais de três décadas, Marcelo Bertoni sempre teve uma grande atuação em entidades representativas do agro. Foi um dos fundadores do Movimento Nacional dos Produtores (MNP Jovem), diretor-secretário da Associação dos Criadores do Vale do Aquidaban e Nabileque (Acrivan), secretário, delegado e presidente do Sindicato Rural de Bonito, de 2011 a 2016. Entre 2018 e 2021 foi diretor-tesoureiro do Sistema Famasul. Se destacou na discussão de pautas e desenvolvimento de ações voltadas à sustentabilidade, em especial, às iniciativas que conciliavam produção e preservação ambiental. Em 2021 foi eleito presidente do Sistema Famasul. Assumiu a gestão do triênio com o compromisso de estimular o empreendedorismo dos produtores e a implementação de ferramentas tecnológicas para assegurar aumento de produtividade, melhoria de renda e de qualidade de vida no campo, alicerçados nos pilares do ESG. Nesta entrevista à Revista Famasul, Marcelo Bertoni faz um balanço do primeiro ano de mandato, da responsabilidade de presidir também a Comissão Nacional de Assuntos Fundiários da CNA, de diversificação da economia do estado, do Agro 4.0, de eleições e das celebrações dos 45 anos do Sistema Famasul.

Em agosto, o senhor completou um ano à frente do Sistema Famasul. Quais as principais realizações do seu mandato até agora?
Marcelo Bertoni - Foram muitas novas realizações, além de dar sequência às ações que a Famasul e o Senar/MS já realizavam.
Com foco na qualificação da mão de obra e na melhoria da qualidade de vida das pessoas que vivem e trabalham no campo, realizamos 4.463 cursos de Formação Profissional Rural e Promoção Social, totalizando 34 mil pessoas capacitadas. Lançamos o Programa Despertando, que leva alfabetização a jovens e adultos e já apresenta resultados extremamente positivos, com homens e mulheres que há pouco tempo não sabiam ler nem escrever, e hoje vivem com mais autonomia.
Na Educação Formal inovamos oferecendo os Cursos Técnicos em Zootecnia, Florestas Plantadas e Fruticultura, e a Especialização em Sistemas de Produção de Animais Ruminantes.
Na Promoção Social retomamos o Programa Agrinho, destacando a importância das práticas agropecuárias nas escolas e ampliando o atendimento à rede de ensino particular. No Programa Saúde do Homem e da Mulher Rural, que é uma ação pela qual tenho muito carinho, ampliamos o número de atendimentos médicos gratuitos com as especialidades de urologia, ginecologia, dermatologia e oftalmologia, promovendo mais acesso à saúde para a população rural com prevenção e diagnósticos precoces.
Falando ainda das ações de promoção social, entregamos mais de 118 toneladas de alimentos para cerca de 8 mil famílias em 67 municípios do estado, por meio do programa Agro Fraterno. As entregas foram feitas ainda durante a pandemia, quando muitos não tinham o que comer. É muito gratificante saber que contribuímos, pelo menos um pouco, em um momento tão difícil.
Para esclarecer e orientar a comunidade do meio rural sobre a prevenção e o combate à violência doméstica e familiar em Mato Grosso do Sul, capacitamos 40 técnicos no Projeto Acolhe no Campo, uma parceria entre a Famasul, o Senar/ MS e o Ministério Público Estadual.
Quando se olha para a representatividade, que é um grande pilar da Famasul, tivemos avanços importantes, como o anúncio de que o estado será área livre de febre aftosa sem vacinação, conquistado após muitos anos de dedicação de produtores rurais e do trabalho conjunto entre instituições públicas e privadas, que reforça nosso compromisso com a segurança alimentar da população.
Temos também o Representantes do Agro, iniciativa que orienta e acompanha os Sindicatos Rurais, incentivando-os a se envolverem nos colegiados municipais, pautando assuntos relevantes para o desenvolvimento de suas regiões.
Em 12 meses, foram mais de 200 eventos com a participação institucional, exercendo a representatividade e debatendo importantes pautas. Foram diálogos que trouxeram avanços para nosso setor, a exemplo da implementação da Deleagro (Delegacia de Combate a Crimes Rurais e Abigeatos), da Polícia Civil, e da Patrulha Rural, da Polícia Militar.
No âmbito técnico, estruturamos sete boletins, publicações periódicas
com conteúdo sobre diversas cadeias produtivas, que auxiliam o produtor rural nas tomadas de decisão.
E ainda vem muita novidade pela frente! Cada uma delas é minuciosamente planejada por nossa equipe, pensando sempre em auxiliar nosso produtor rural para trazer os melhores resultados ao agro sul-mato-grossense.
O senhor assumiu a gestão tendo a ampliação da representatividade institucional como uma de suas metas. Assumir a presidência da Comissão de Assuntos Fundiários da CNA é mais um passo nesse sentido?
Marcelo Bertoni - Com certeza! Presidir a Comissão Nacional de Assuntos Fundiários da CNA é uma grande responsabilidade, pois ela trata do assunto no âmbito nacional e cada região tem sua particularidade e sua necessidade. Ampliar a segurança jurídica no campo, garantindo o direito de propriedade, regularização de imóveis rurais e articulação junto aos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, é uma necessidade comum a todos.
Mato Grosso do Sul cresce alicerçado no agro. Diversifica sua produção, mas mantém sua vocação. Assim ocorre com as florestas plantadas que alimentam a indústria da celulose. A cana que abastece o setor sucroenergético e piscicultura que atende os frigoríficos de pescado. Como a entidade tem trabalhado para estimular esse processo, mas sem perder o foco em atividades tradicionais, como a agricultura e a pecuária?
Marcelo Bertoni - A diversificação da produção agropecuária do estado acompanha o seu desenvolvimento. E isso só foi possível devido à ciência e à tecnologia. A Famasul caminha muito próxima às instituições de ensino e pesquisa apoiando o avanço de técnicas de produção e inovações tecnológicas para transferi-las aos produtores rurais, estimulando o uso das melhores práticas agropecuárias. A integração de produções é muito atual e estratégica. Exemplo disso é a posição de Mato Grosso do Sul com maior área de sistemas integrados de produção na agropecuária. São mais de 3,1 milhões de hectares com Integração-Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) em diferentes configurações, mesclando dois ou três componentes de cultura no sistema produtivo.
Porém, para inovar é preciso conhecer. Por isso temos trabalhado fortemente na capacitação de produtores e na formação e qualificação de técnicos, além do acompanhamento contínuo por meio da Assistência Técnica e Gerencial que, em 2022, alcançará 8 mil produtores rurais.
O agro sul de MS é reconhecido mundialmente pela inovação e tecnologia de sua produção. Quais ações foram desenvolvidas para capacitar a mão de obra e, também, os próprios produtores para essa versão 4.0 do setor?
Marcelo Bertoni - Vivemos o “Agro 4.0”, que utiliza tecnologias cada vez mais modernas para auxiliar na precisão do campo e no trabalho diário. A capacitação, novamente, é essencial para que se possa utilizar essas inovações, que exigem um novo perfil do trabalhador rural. Nesse sentido, o Senar/MS oferece cerca de 270 cursos para levar conhecimento aos interessados, seja presencial ou a distância (ead.senarms.org.br/).
Para quem tem dificuldade de acesso à internet, o Senar/MS estruturou, em parceria com os Sindicatos Rurais, 60 polos digitais em 40 municípios, por meio do Projeto Senar On. Nestes locais, a população tem acesso a equipamentos e internet de qualidade para se informar e se capacitar.

Nunca o mundo precisou tanto das proteínas e grãos produzidos pelo estado. Mas, ao mesmo tempo, cresce também a exigência por uma produção cada vez mais sustentável. Como a entidade tem trabalhado para estimular esse crescimento, mas com respeito ao meio ambiente?
Marcelo Bertoni - Nossa pecuária, que já é sustentável, pode e deve ser ainda mais! O produtor rural sempre preservou o meio ambiente em suas propriedades rurais, porque esse é o seu maior bem. Exemplo disso é o Pantanal, ocupado há mais de 300 anos pelo homem pantaneiro e que tem 87% de sua extensão preservada. Além disso, o nosso estado possui cerca de 30% de sua extensão preservada, sendo a maior parte desta área presente em propriedades privadas, e se incluirmos as pastagens nativas, esse percentual sobe para 40%, enquanto a legislação exige a preservação de 20% das áreas. O trabalho da Famasul tem sido de fortalecer este conceito de preservação junto aos produtores rurais e demais elos do setor.
Quais potencialidades ainda podem ser desenvolvidas no agro sul-mato-grossense nos próximos anos?
Marcelo Bertoni - Mato Grosso do Sul figura como um estado de grande potencial para expandir a produção total de alimentos frente ao crescimento populacional global, sendo nossos produtores rurais os empreendedores comprometidos com um modelo produtivo cada vez mais sustentável e eficiente.
Em 2022, temos eleições gerais para a Presidência da República e para o Governo do Estado. De que modo o Sistema Famasul tem participado deste processo de modo a assegurar uma presença robusta do agro nas plataformas dos candidatos?
Marcelo Bertoni - As eleições para Presidência da República e Governo do Estado são momentos importantes que vão definir as diretrizes socioeconômicas dos próximos quatro anos. E quando se fala em desenvolvimento econômico no Mato Grosso do Sul, logo se pensa em agronegócio. Durante o período, recebemos os candidatos ao governo para conhecer seus respectivos planos de governo, suas experiências no setor, bem como as propostas para as principais demandas do agro.
Neste ano, a Famasul completa 45 anos de criação. Quais iniciativas vão marcar essa data tão representativa?
Marcelo Bertoni - Evidenciar a presença da Famasul no desenvolvimento do estado. Uma trajetória de muito trabalho, responsabilidade e importantes decisões. Para celebrar estes 45 anos, desenvolvemos ao longo de 2022 ações norteadas pelo tema da campanha institucional “Famasul 45 anos: Das raízes ao futuro do campo”, evidenciando este crescimento conjunto da Federação e do Mato Grosso do Sul.
Para marcar a data, dentre várias ações, teremos uma Websérie, com personalidades que fizeram e fazem parte de nossa história e um novo capítulo do livro “Celeiro de Fartura”. Aguardem!
