Agrinho 15 Anos

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índice Conselho Administrativo Presidente Ágide Meneguette

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Membros Titulares Rosanne Curi Zarattini Wilson Thiesen Darci Piana Ademir Mueller

Editorial

Membros Suplentes João Luiz Rodrigues Biscaia Nelson Costa Ari Faria Bittencourt Marcos Junior Brambilla

A história do Agrinho

Conselho Fiscal Sebastião Olímpio Santaroza Luiz de Oliveira Netto Jairo Correa de Almeida

Entrevista com Ronei Volpi

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Membros Suplentes Ciro Tadeu Alcântara Lauro Lopes Mario Plefk Superintendente Ronei Volpi Gerentes Denize L. B. de Souza - Gerência Administrativo/Financeiro Elcio Chagas da Silva - Gerência Técnica Henrique de Salles Gonçalves - Gerência Unidade de Planejamento

Municípios Pioneiros

Expediente

Os personagens

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Textos Christiane Kremer Kátia Santos Micheli Ribas Fotos Fernando dos Santos Leandro Taques Lineu Filho Micheli Ribas Arquivo SENAR-PR/FAEP Edição de Textos Cynthia Calderon Hélio Teixeira

Memória fotográfica

Projeto Gráfico e Diagramação Ctrl S Comunicação | Simon Taylor

Histórias pessoais

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Parceiros Depoimentos

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SENAR-PR DVD

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Agradecimentos A Comunicação Social do Sistema FAEP agradece a contribuição dos supervisores*, auxiliares, técnicos, funcionários do Sistema FAEP que foi decisiva para a edição desta revista comemorativa dos 15 anos do Programa Agrinho. Sem ela, seria impossível detectar, em cada canto do Paraná, as boas histórias que exemplificam o trabalho insuperável na educação do nosso estado. A todos o nosso muito obrigado! Coordenação de Comunicação Social Cynthia Calderon * Aislan Lucas de Oliveira Macedo, Aparecido Ademir Grosse, Arthur Piazza Bergamini, Davi Andre Martins Claro, Eduardo Antonio Marcante, Eduardo Figueiredo Mercado, Eduardo Gomes de Oliveira, Francisco Pelição de Oliveira, Jean Carlo Gonçalves Carraro, Josiel do Nascimento, Luis Guilherme P. B. Lemes, Luiz Angelo Fillus, Neri Munaro, Reverson Ferreira Ribas Camargo, Salvador José Morales Stefano e Sidnei Éverton Andric.

Realização

Comunicação Social do Sistema FAEP


editorial

15 anos do Agrinho

O

nosso programa Agrinho está fazendo 15 anos e o Senar-PR quer mostrar, com esta publicação, alguns exemplos marcantes de resultados positivos. O Agrinho é a face social mais evidente do Senar-PR porque anualmente envolve mais de um milhão e meio de crianças e jovens que cursam o ensino básico e que recebem informações sobre assuntos de grande importância para a sua formação, tais como saúde, higiene, cidadania e meio ambiente. O Senar-PR, através deste programa, também apóia professores com material para ser utilizado de forma transversal em suas aulas. Estes 15 anos são para mim motivo de grande orgulho que compartilho com nossos técnicos e funcionários, com nossos parceiros - instituições públicas e privadas e sindicatos rurais - com prefeitos e secretários de educação, que abriram as portas das escolas ao Senar-PR, diretores de escola que nos acolheram e, principalmente, com os milhares de abnegados professores de todo o nosso Estado que souberam muito bem utilizar o material que lhes foi disponibilizado. Nas páginas desta revista existem histórias de dedicação, desprendimento e de visão social que, na realidade, são multiplicadas por milhares de vezes e que estão construindo um futuro mais promissor, usando os caminhos da educação.

Ágide Meneguette

Presidente do Sistema FAEP

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Linha do tempo ▶

▶ Em destaque,

as principais mudanças e fatos que marcaram esses 15 anos

Agrinho,

15 anos

A

A ideia de criar o personagem Agrinho surgiu em uma viagem de rotina a Toledo onde o então gerente técnico, José Carlos Gabardo, e a coordenadora do SENAR-PR, Patrícia Lupion Torres, faziam avaliações dos cursos oferecidos pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural SENAR-PR. Imaginaram a criação de um personagem que transitasse no mundo infantil e fosse bem aceito nas salas de aula, facilitando o trabalho das professoras. Na época, em 1995, era muito preocupante a questão dos agrotóxicos e tanto o SENAR-PR como a Federação da Agricultura do Estado do Paraná - FAEP buscavam formas de conscientização da população. A proposta de criação de um personagem infantil foi muito bem aceita pelas duas entidades, que iniciaram um processo de busca de parceiros para transformar a ideia em realidade. As primeiras instituições, que aceitaram com grande empenho o desafio, foram às secretarias estaduais de Educação, Meio Ambiente

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e Agricultura, e também os prefeitos dos municípios que apresentavam o maior número de casos de intoxicação. Começou então o processo de produção do material didático, que de acordo com Patrícia foi um trabalho árduo e “muitas vezes incompreendido por profissionais da área da educação e instituições ligadas ao setor agrícola. Recebemos muitas críticas e alguns profissionais chegaram a deturpar a proposta do trabalho. Mas conseguimos o apoio de especialistas que têm uma visão mais ampla e acreditam que a educação é a grande ferramenta de transformação social”, completa. Um grupo de profissionais, formado por técnicos do SENAR-PR, FAEP e especialistas no tema Educação e Meio Ambiente, arregaçou as mangas e começou o estudo, a pesquisa, a formulação das diretrizes e a produção gráfica do material. Foram muitas idas e vindas, mas com a colaboração dos especialistas foi possível chegar à primeira edição do material didático.


▶ Concepção e elaboração dos materiais didáticos para professor e aluno.

1996

1995

O PERSONAGEM

A

▶ Projeto piloto, participação de cinco municípios;

▶ Parceria com a Zêneca

p/ alunos de 5ª a 8ª séries;

▶ Concepção do projeto; ▶ Elaboração do material didático; ▶ Personagem Agrinho + Aninha + Pai + Mãe.

▶ 1º kit | Apostila professor + Revista aluno

▶ TEMA ÚNICO: Agrotóxico.

O DESAFIO Algumas empresas do setor agrícola também foram convidadas a participar do projeto e de imediato compraram a ideia e passaram a compartilhar do momento histórico, que iria mudar a realidade das crianças nas escolas públicas do interior do Paraná. Um destes exemplos foi a empresa Zêneca Brasil Ltda, que no primeiro ano do programa atuou nos cinco municípios-pilotos, orientando as escolas a elaborarem uma pesquisa envolvendo os alunos e agricultores sobre a realidade do manuseio, aplicação, proteção individual e destinação das embalagens. Criaram, assim, uma atividade específica para os alunos de 5ª a 8ª séries. O programa tinha, e ainda tem como principais desafios, a questão da sobrevivência do homem no campo e o desenvolvimento do meio rural.

definição do nome surgiu de uma mistura da palavra agricultura com um diminutivo para aproximar o personagem ao mundo infantil. O personagem é um menino nascido no interior, pré-adolescente, curioso, pratica esporte e é muito bem quisto entre seus colegas de escola. Ele é sensível às questões sociais e ambientais e está sempre envolvido nas soluções dos problemas da comunidade onde vive. Mas o Agrinho não surgiu sozinho, foram criados também a irmã Aninha e os pais José e Dona Ana, que são agricultores associados ao Sindicato Rural. Seu pai é um administrador rural preocupado com as questões ambientais e busca na tecnologia a solução para aumentar sua produtividade sem causar danos aos recursos naturais. A mãe do Agrinho participa da administração da propriedade e está sempre atenta a questões de higiene, saúde, alimentação e educação. Toda a família é beneficiada pelas iniciativas do Sindicato Rural em trabalhar pelos agricultores. A irmã Aninha também tem um perfil de “pesquisadora”, sempre conversa com suas professoras sobre as soluções dos problemas do dia a dia, gos-

ta muito de ler e atua nos projetos da sua escola. Os primeiros traços dos personagens foram criados por Ana Carolina de Bassi, que na época ainda era estudante de designer gráfico. “Foi uma super oportunidade e ao mesmo tempo um desafio. Não imaginava a dimensão que o programa iria alcançar, tenho muito orgulho de ter participado do início do Agrinho”. Assim que se formou Ana foi morar no exterior e o projeto editorial e gráfico foi desenvolvido desde o início por Antônia Schwinden e Luciana Navarro Powell. O Agrinho, porém, não parou no tempo e cresceu junto com seus colegas de escola, começando a lidar com outros problemas como Trabalho e Consumo, Alcoolismo, e a Sexualidade na Adolescência. Em 2007, a “família” ganha mais um integrante, o irmão mais novo Nando. “Tínhamos que trabalhar a identidade do personagem com os adolescentes e ao mesmo tempo manter o vínculo com as crianças menores, por isso criamos o irmão mais novo”, explica Patrícia. Ao longo do tempo o material pedagógico também foi sendo aperfeiçoado. (Veja matéria na página 68)

Os personagens surgem para aproximar o mundo infantil da agricultura

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▶ 1º kit | São incluídos

Jogos e passatempos para crianças no material dos alunos.

1997

▶ Novos temas são acrescentados ao programa: 1 Saúde Bucal; 2 Saúde da Criança.

2º kit | Muda o formato gráfico e são incluídos novos temas e materiais.

1998

▶ Novos subtemas são

inseridos e produzidos novos materiais; ▶ Meio ambiente: solo, água, clima, biodiversidade e agrotóxico; ▶ Saúde: da criança; do jovem e odontologia preventiva; ▶ Jornal Ordem e Progresso.

1999

▶ Além das categorias

DESENHO E REDAÇÃO entra a EXPERIÊNCIA PEDAGÓGICA; ▶ Com a Nuclearização das escolas pela SEED o Agrinho passa a ser utilizado nas escolas da área urbana.

3º kit | Muda o formato gráfico do material pedagógico e os subtemas são condensados em uma só revista.

2000

▶ É criada a categoria MUNICÍPIO AGRINHO;

▶ Lançado o novo Kit

de Material pedagógico e Material do aluno.

QUALIDADE ACIMA DE TUDO

E

m 2005 a direção do SENAR-PR iniciou um processo de avaliação do programa com as secretárias municipais de Educação. No ano seguinte este processo foi continuado com a realização de um grande Planejamento Estratégico. Para finalizar, o SENAR-PR trouxe o jornalista Gilberto Dimenstein para conhecer e avaliar o programa. “No Brasil, não existe uma entidade não-escolar que trabalhe os temas transversais de maneira tão abrangente”, comentou Dimenstein. Na avaliação dele, o programa, além de correto pedagogicamente, é um projeto de tal magnitude que não deve ficar restrito ao estado do Paraná. Outro ponto destacado pelo jornalista é o protagonismo do programa, baseado em pesquisa e ações. “O Agrinho não é um programa educacional. É um material de Capital Social e Humano”. Preocupados sempre em manter um alto padrão de qualidade nos programas oferecidos ao agricultor e a sua família, a direção do SENAR-PR encomendou em 2008 uma pesquisa de qualidade com o público atendido. Responderam aos questionários 1.060 alunos, 617 professores, 92 diretores de escolas públicas, secretários municipais de Educação e chefes de Núcleos. Entre os alunos 94,71% afirmaram que os temas trabalhados no programa são muito interessantes. Sobre a forma de trabalho em sala de aula com o material 82,16%, responderam de forma espontânea, que trabalharam fazendo leitura e atividades como produção de textos, questionários e atividades da revista. Apenas 17,84% responderam que fizeram apenas leitura. Sobre a mudança de hábito depois de trabalhar com as revistas do Agrinho 65,69% dos alunos afirmaram que mudaram de atitude em relação ao meio ambiente, apren-

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gilberto dimenstein

dendo a não poluir e a melhorar a alimentação. Dos professores entrevistados 98,86% responderam que conhecem o programa e 96,39% avaliaram os conteúdos trabalhados nas revistas como muito interessantes. Sobre os objetivos do programa 92,62%, responderam de forma espontânea, que conhecem os objetivos e apontaram os seguintes tópicos: preservar o meio ambiente; conscientizar e transmitir noções de cidadania e conhecimento. Dos entrevistados, 72,13% observaram alguma mudança de hábito no dia a dia dos alunos que participaram do programa. As principais mudanças apontadas são: consciência ambiental, maior interesse e participação, mais higiene e asseio, reciclagem do lixo e alimentação mais saudável. Hoje, o Agrinho já passou pelos 399 municípios paranaenses, oito estados e o Distrito Federal. Por ano são envolvidos cerca de 1,6 milhão de alunos da educação infantil, ensino fundamental e educação especial das redes pública e particular, somente no Paraná. O material didático trabalha com os temas Saúde, Meio Ambiente, Cidadania e Trabalho e Consumo. Além de receber o material


2001

2002

EMPRESA AGRINHO para os parceiros do programa.

recebe reconhecimento Internacional da ASSOCIAÇÃO INTERNACIONAL DE ODONTOPEDIATRIA - cirurgião dentista Antonio Carlos Jachinoski autor das cartilhas.

▶ É criada a premiação

▶ O Programa Agrinho

didático de apoio, as crianças são incentivadas no desenvolvimento de textos, desenhos e projetos, esses últimos, envolvendo pesquisa e a participação e integração entre estudantes, professores, família e comunidade local. A história do Agrinho pode ser contada de

4º Kit | O material do professor passa a ter novo formato de livro e reúne todas as temáticas.

2003

▶ O material do Agrinho

2004

▶ Incluída a Categoria

MELHOR NÚCLEO DE EDUCAÇÃO. ▶ Agrinho abrange 100% dos municípios do Paraná.

ganha mais um tema: TRABALHO E CONSUMO.

várias formas relatando as inúmeras histórias de sucesso e transformação. Para o engenheiro agrônomo e um dos idealizadores do personagem José Carlos Gabardo, o mais importante “é a herança comunitária, é o que conseguimos fazer pelo próximo - esta é a maior lição do Agrinho”.

os NúMEROs

A história e os números do Programa Agrinho nestes 15 anos revelam não apenas uma informação fria como muitos veem os números. Comprovam a disseminação de ideias, iniciativas inovadoras, que resgatam o dom de ser mestre, daqueles que cultivam com seus discípulos o conhecimento, daqueles que promovem a reflexão e principalmente viabilizam o processo de transformação. Nos últimos oito anos a banca de avaliadores, que é composta por técnicos do SENAR-PR, profissionais das áreas envolvidas, técnicos das secretarias estaduais da Educação, Justiça, Meio Ambiente e Agricultura, analisou mais de 40 mil trabalhos enviados, entre desenhos, redações e relatórios de experiência pedagógica de escola e de município.

NA INTERNET

Criar uma linha de contato direto com os professores, alunos e escolas participantes foi o objetivo que levou, em 2007, o programa Agrinho a ganhar sua página na Internet. O site do Programa Agrinho coincidiu com a quinta atualização do material pedagógico do programa Agrinho e também viabilizou em nova mídia o acesso aos materiais pedagógicos. “Com o site o Agrinho foi para o mundo, qualquer pessoa que tenha acesso a Internet pode baixar as revistas dos alunos, os livros dos professores e os jogos”, explica a coordenadora do programa Patrícia Torres. Além de poder baixar os arquivos as pessoas podem colaborar enviando temas e reportagens sobre o trabalho com o Agrinho (www.agrinho.com.br).

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2005

2006

avaliação do programa com as secretárias de Educação.

por uma grande avaliação e faz seu PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO - Avaliação Gilberto Dimenstein.

▶ Início do processo de

▶ O programa passa

5º kit | O material do professor passa a ser composto de 2 livros: um com as metodologias pedagógicas e outro com embasamento teórico. Para os alunos são produzidas revistas diferenciadas por faixa etária.

2007

▶ O material pedagógico passa a ser organizado por série e não mais por tema.

▶ O Agrinho entra na rede particular de ensino. ▶ Melhor Núcleo é substituído pela ESCOLA AGRINHO. ▶ Site Agrinho é colocado no ar. ▶ Nasce o personagem NANDO irmão do AGRINHO. ▶ Material pedagógico é adequado a nova seriação de 9 anos.

DEPOIMENTOS O Agrinho além de conquistar alunos e professores contaminou também especialistas, que atuaram como autores dos temas desenvolvi-

dos pelo programa. A seguir, opinião de alguns dos especialistas que contribuíram para a criação e o sucesso do programa.

Tive a honra de participar do Programa Agrinho, desde a sua concepção. O trabalho iniciou com a elaboração de documentos técnicos sobre os temas água, solo, biodiversidade e clima ligados a agricultura, que foram utilizados como base para o treinamento das professoras. Em conjunto com uma equipe muito competente de pedagogos e desenhistas estes textos foram transformados em pequenas histórias ilustradas, dirigidas às crianças. Desta forma as professoras ofereciam os livros aos alunos e estavam capacitadas a trabalhar os temas técnicos, aprofundando o conhecimento” Cleverson Vitório Andreolli, Professor de Mestrado em Organizações e Sustentabilidade da FAE Como um dos criadores do Programa Agrinho, muito me orgulha constatar que aquelas primeiras viagens em estradas de chão, para dar palestra para uma dezena de professoras, em um galpão sem energia elétrica, e com bancos improvisados; tem hoje o alcance e os resultados tão grandiosos. É claro que se compararmos o programa com um filho, não existe nada melhor que ver o mesmo crescendo cada vez mais, por conta própria e alcançando limites que nem mesmo poderíamos imaginar em seu nascimento” Antonio Carlos Pinto Jachinoski, graduado em Odontologia pela UFPR, Mestre em Educação pela PUC-PR e professor do Curso de Odontologia da PUC-PR

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O momento marcante foi quando apresentaram na Promotoria da Infância e Juventude o argumento para realização do programa. Foi de minha autoria a justificativa para utilizar o Agrinho como o programa de Educação para o Trânsito. As crianças não dirigem os carros, mas tem um grande potencial para influenciar seus pais. Participei de mais de 800 capacitações de professores e lembro uma, realizada no município de Piên, em um galpão bem precário. Naquela época muitas professoras não tinham a formação completa e exerciam o magistério como ‘professoras leigas’. Era difícil repassar conceitos sobre a formação geológica da terra, e criei uma linha do tempo adequando os bilhões de anos aos dias, horas e minutos. Assim consegui explicar o processo biológico e como a prática humana torna a vida mais vulnerável. Minha preocupação era mantê-las motivadas” Ricardo Ihlenfeld, engenheiro agrônomo e consultor ambiental (Participou da implantação do Agrinho)


2008

2009

2010

de Qualidade e Aceitação do programa.

da premiação. Após 13 anos de Restaurante Madalosso o evento passa a ser feito no Centro de Eventos Unimed.

capacitação dos instrutores é feita à Distância.

Foz do Iguaçu

▶ Realizada a 2ª Pesquisa

▶ Muda o local

▶ Inovação na

A DANÇA DA APRENDIZAGEM O reencontro da professora Marelise Catarina Kerber Betto com seu ex-aluno Luciano Damaren, foi na agência do Banco do Brasil, em Foz do Iguaçu, onde ele é gerente geral. A história desta dupla aconteceu em uma escola da cidade de Céu Azul, a 90 quilômetros de Foz. Marelise conheceu a metodologia do Programa Agrinho, em 1997, descobrindo a sistematização da sua Marelise e prática em sala de aula. “Eu lia o material do professor o ex-aluno e uma vida profissional passava na minha cabeça. Estava ali Luciano a teoria que eu tanto precisava para respaldar a minha prática em sala de aula”. Em parceria com a professora Loreni Gross, ela conta que explorou conteúdos sobre folclore, cultura, história, geografia e matemática. “Sim. até matemática, pois eles desenvolveram comigo um planejamento para levantarmos recursos para a compra de materiais”. Damaren lembra que foi lá que aprendeu a ouvir os outros, a ser colaborativo, a ceder, e assim crescer como ser humano. “Hoje é isso que o mercado cobra dos líderes corporativos. Me orgulho muito de ter passado por esta experiência, foi realmente muito marcante e decisiva para meu sucesso profissional”, conta , Depois de se apoiar na metodologia do Programa Agrinho, Marelise fez dois cursos de pós-graduação, um em Literatura Luso-Brasileira e outro em Administração Escolar, Supervisão e Orientação Educacional e atualmente é mestranda em Ciência da Educação.

A potencialidade e a inovação do Programa Agrinho está na formação das crianças em temas que consolidam a atitude cidadã, como meio ambiente, saúde e ética, constituindo-se, portanto, numa formação sólida, que têm nos temas transversais, o desenvolvimento do processo de ensino e de aprendizagem. Fantástico!” Jucimara Roesler, diretora do campus virtual da Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL)

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SEM FRONTEIRAS

Em 2004, o programa atingiu todos os 399 municípios paranaenses. Mas o Agrinho não se limitou as fronteiras do Paraná e está sendo utilizado em oito estados e no Distrito Federal. Os estados que adotaram o Agrinho há mais

tempo foram Rio Grande do Sul e Ceará. Desde 2003 a parceria envolve a assinatura de um contrato junto com o SENAR-PR, que cede além dos materiais didáticos, os instrutores para capacitação dos professores. No Ceará atualmente 42 municípios

Desde o início, o Programa teve o apoio de vários parceiros, fundamentais para o seu êxito

QUANDO O AGRINHO ‘EXPLODIU’

A

o longo destes 15 anos foram distribuídos mais de 3,6 mil prêmios. Os números de premiados, de acordo com o gerente técnico do SENAR-PR, Élcio Chagas, variam “e, junto com cada prêmio está mais um ser humano consciente, capaz de mudar sua realidade e também a daqueles que estão a sua volta”. Uma etapa que o SENAR-PR faz questão de manter, apesar de toda a tecnologia disponível, é a comunicação pessoal dos vencedores. Atualmente esta função é executada pelos supervisores do SENAR-PR e os presidentes dos Sindicatos Rurais. Boas histórias são a marca do programa que explodiu em 1999. Em uma das visitas rotineiras do então supervisor, Edson Luiz Limper, e da coordenadora Patrícia ao Norte Pioneiro, eles foram surpreendidos com uma recepção diferenciada no município de Ribeirão Claro. Uma cidade pequena, com uma população de pouco mais de 10 mil habitantes.

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Emocionado Limper relata que ao chegar à entrada da cidade, a única via de acesso estava totalmente congestionada. “Chegamos a pensar que tivesse ocorrido um acidente ou algo parecido. Paramos o automóvel na beira da estrada como todos para esperar uma solução. Em poucos minutos foram chegando o presidente do Sindicato Rural, o prefeito, a secretária de Educação e simplesmente toda a cidade estava ali esperando para nos mostrar como eles estavam trabalhando com o programa. A melhor definição é mesmo uma explosão do Agrinho”. Ele conta que a partir desta grande mobilização os municípios da regional começaram uma disputa saudável, independente de qualquer premiação, no sentido de mobilizar a comunidade em torno das ações que estavam sendo promovidas pelo Programa Agrinho. Esta demonstração de mobilização social gerou uma alteração no concurso com a criação da categoria “Município Agrinho”.


participam do Agrinho. A parceria envolve 1.214 escolas atingindo mais de um milhão de alunos e 53 mil professores. Todos já passaram por capacitações para desenvolverem seus projetos. No Rio Grande do Sul, dentro da proposta de democratização do trabalho, a rede

particular de ensino foi incluída no programa em 2007 para atender uma demanda de campo. “Foram as professores que atuavam nas duas redes que nos pediram esta inclusão”, conta a pedagoga Josimeri Aparecida Grein.

Aninha, Agrinho e Nando durante a premiação de 2009

BONECOS AGRINHO

O

boneco Agrinho surgiu para atender solicitações de professores e alunos. Como o personagem está representado por uma ilustração, os alunos e professores solicitaram também um boneco do Agrinho. Nos primeiros anos eram apenas dois bonecos: Agrinho e sua irmã Aninha. Em 2007 a família cresceu com a criação do irmão mais novo NANDO. Os bonecos são utilizados pelas escolas nos eventos onde os projetos do Agrinho são apresentados para a comunidade. Eles são produzidos no Rio Grande do Sul pela empresa Inventiva, que criou os mecanismos dos bonecos da TV Colosso. De acordo com a empresária, Cristina Dorneles, o boneco possui um sistema de ventilação na cabeça sustentado por um capacete de moto. “Isto dá mais conforto a pessoa que veste o boneco e faz muita diferença, principalmente nas cidades onde o clima é mais quente”. A empresa faz pequenas adaptações no vestiário dos personagens para os estados como Mato Grosso, Bahia e Ceará. “Tentamos reduzir

o volume das roupas e usar tecidos bem leves, mas mantemos o padrão de confecção para que nenhuma parte da pele da pessoa apareça”. No Paraná, o SENAR mantém dois kits com os três personagens. Este ano será confeccionado mais um para a festa de fim de ano. Eles viajam durante todo o ano pelas escolas e as solicitações começam em abril, mas a agenda dos bonecos fica “congestionada” a partir do segundo semestre. Este agendamento é feito pelos supervisores regionais. Ao final de cada viagem as roupas são lavadas e os bonecos higienizados. O ex-funcionário do SENAR-PR, Jean Waltrick, que se transforma no Agrinho na festa de premiação nos últimos cinco anos, revela: “na primeira vez que fui convidado não imaginava como seria bom. É uma alegria participar da festa com as crianças. Em 2009 tive a oportunidade de proporcionar um momento especial para uma menina cega, que adorou poder tocar no rosto do boneco. Eu amo ser o Agrinho”.

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entrevista

15 anos de transformações Ronei Volpi, superintendente do SENARPR, faz uma retrospectiva sobre as inovações do Agrinho na educação

O que o Agrinho transformou no Paraná, em uma década e meia? Antes que a questão da responsabilidade social se tornasse algo comum às pessoas, o SENAR-PR, através do Agrinho, adotou essa postura. Tanto que no início alguns não tiveram a percepção do alcance do Programa e levantaram dúvidas sobre nossa proposta. Foi necessário o aval do Ministério Público estadual, que até hoje é nosso parceiro, para que tais interrogações deixassem de existir. Eu acredito que a atuação do Agrinho junto aos professores das escolas paranaenses foi uma grande contribuição para melhorar o padrão pedagógico formar com as crianças conceitos de cidadania que não eram usuais. O Agrinho é na verdade uma ajuda na construção dos cidadãos. Para nós, isso é profundamente gratificante.

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Superintendente do SENARPR, RONEI VOLPI, durante premiação do Programa Agrinho

Que mudanças são perceptíveis na educação do Paraná com o Agrinho? Acredito que os depoimentos de professores e alunos que participaram das atividades geradas pelo Agrinho são a melhor resposta. Quero ressaltar o papel de todos os nossos colaboradores do Programa, desde seu início, que souberam conduzir algo inovador de forma solidária com as autoridades municipais e estaduais de ensino. Essa soma proporcionou e proporciona que a educação não se reduza aos bancos escolares, mas se abra para a comunidade e suas necessidades. Temos milhares de exemplos, principalmente em pequenos municípios, onde a atividade do Agrinho junto


Esse País só mudará e avançará com investimentos nas pessoas que fazem a educação

às crianças desencadeou processsos de inovação, de maior respeito ao meio ambiente, de melhoria de qualidade de vida de seus habitantes. Julgo isso um resultado incalculável.

O Agrinho é na verdade uma ajuda na construção dos cidadãos. Para nós, isso é profundamente gratificante

O Programa é dinâmico, como ele vai se adequando às novas realidades do Estado? A premiação dos vencedores de nossos concursos, como ocorre anualmente em novembro, é o marco de um reinício intenso das atividades dos nossos pedagogos, técnicos e colaboradores. É quando se faz uma avaliação de tudo o que ocorreu para aprimorarmos ainda mais ou evitarmos erros constatados. E aqui surge a criatividade de nossos profissionais da educação. São eles que estabelecem conceitos que vão ser praticados no próximo ano letivo pelo Programa. O Agrinho teria os resultados alcançados sem as parcerias que foram estabelecidas? Não, seria impossível. E quando digo isso, não se resume às parcerias que nos ajudam financeiramente, mas a cada educador da escola pública ou privada, cada secretário de educação, prefeito e muita gente anônima que tem consciência que esse País só mudará e avançará com investimentos nas pessoas que fazem a educação. Esse cenário é um perigo para aqueles interessados em manter cidadãos desconectados da verdadeira cidadania, facilmente manipuláveis e despidos de senso crítico. É contra isso também que o Programa atua.

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município pioneiro

araucária

Inspiração familiar O desenho e o certificado vitoriosos de 1996 emolduram boas lembranças

C

om a instalação da Refinaria Getúlio Vargas em 1972, Araucária se tornou o segundo município mais rico do estado, perdendo apenas para a capital. Assim como o destino da cidade mudou, a história da vida de Danieli Strugala, descendente de imigrantes poloneses e filha de pequenos agricultores também ganhou novos rumos com o Programa Agrinho, em 1996. Uma das finalistas na categoria desenho, ela guarda o certificado, emoldurado num lugar especial na casa e no coração, “pra mim o Agrinho representa um marco, foi a partir dele que conquistei muitas vitórias pessoais, mas ele é especial porque foi o primeiro”. Graduada em História e pós-graduada em História do Brasil ela relembra, emocionada, as dificuldades que enfrentou para participar do concurso. “Nunca fui muito boa em desenho, e meus colegas se mobilizaram muito para ganhar. Uma amiga chegou a contratar um desenhista para finalizar seu trabalho. Como morava na zona rural, não tínhamos recursos, livros em casa, nada. Mas eu me inspirei na rotina da minha família e ficava atrás da minha mãe, perguntando sobre o que poderia fazer para melhorar meu trabalho”. “Minha mãe, na sua simplicidade, me dizia - filha você vai conseguir: acredite em você. Além do desenho, escrevi uma frase que a minha professora adorou”. A mãe, Leocádia, deu uma “forcinha extra de carinho” que inspirou Danieli a elaborar o seguinte texto: “Caro amigo agricultor, tenha consciência de que você não vive sozinho neste mundo. Use agrotóxicos, mas não abuse das nossas vidas”. Hoje com 28 anos, casada há três, Danieli é professora e tem planos de ser mãe. A lição do Agrinho a marcou muito, hoje além de trabalhar em duas escolas particulares ela leciona também na E. E. Ana Maria Wernick Kava, localizada na área rural. “Eu me dedico muito a estes alunos, porque eles são como eu naquela época: não têm recursos materiais, não têm acesso à Internet, por isso precisam de mais atenção, mais dedicação”. Todas as vezes que visita a casa da mãe, que ainda vive na zona rural de Araucária, ela sente uma emoção quando vê seu desenho. “Minha mãe fez

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Danieli não nega as origens e faz questão de investir nos alunos da escola rural. Ao lado, a professora Vera continua utilizando o material pedagógico do Agrinho

questão de emoldurá-lo e guardá-lo com ela. Quando vejo aquelas linhas tortas me lembro da minha caminhada e isso me dá mais força, mais energia para seguir em frente”.

REFERÊNCIA A trajetória da professora de Danieli, Vera Boldori, também foi marcada pelo Agrinho. Ao longo dos 24 anos de magistério ela continuou utilizando em sala de aula o material pedagógico do programa. “Passados 15 anos o tema inicial do Agrinho continua atual, tanto que resolvi fazer a minha tese sobre o tema agrotóxico. Dentro do meu trabalho fiz uma pesquisa com 60 alunos e descobri que muitas famílias aprenderam a fazer a tríplice lavagem, mas o armazenamento e recolhimento das embalagens ainda são precários”. Vera leciona na mesma escola que Danieli estudou, E. M. João Sperandio.


município pioneiro

Santa Terezinha de Itaipu

Nelsi: O Agrinho é um programa opcional aos professores, mas todos querem trabalhar com ele

Sidinei: o importante é o agricultor estar consciente que deve preservar o meio ambiente

Na terra do ideb acima da média O perfil diferenciado na educação e no meio ambiente

A

dministrado pela prefeita Ana Maria Carlessi e localizado nas margens do Lago de Itaipu, o município de Santa Terezinha de Itaipu possui outras características como a promoção do Campeonato Municipal de Bocha e o prato típico “Porco ao Grão”. Mas o que enche de orgulho os 21 mil habitantes é ter o Índice de Desenvolvimento da Educação – IDEB, 25% acima da meta projetada pelo Ministério da Educação. Este perfil diferenciado na educação também ficou registrado na história do Programa Agrinho, pois o município foi um dos pioneiros no programa piloto em 1996. Na época, a professora Nelsi Frieberg, hoje secretária municipal de Educação, desenvolveu um projeto sobre o destino das embalagens de agrotóxicos. “Tive que estudar muito e me aprofundar no tema. Acabei me especializando. Depois organizei uma série de visitas para os alunos conseguirem ter uma dimensão do problema”. A primeira visita orientada foi no Sítio do seu Toninho Vergamassa. “Um agricultor bem consciente e organizado, que recebeu as crianças”. Para agradecer a acolhida, a turma levou de presente para o agricultor uma muda de Ficus, que

foi plantada próxima à casa. Hoje, o sítio pertence à Sidinei Agostin e a árvore continua lá. Sidinei também se preocupa com o meio ambiente. “Antigamente não tinha o que fazer, alguns até queimavam as embalagens. Hoje tem uma lei que regula o encaminhamento. O mais importante é o agricultor estar consciente que deve preservar o meio ambiente”. Até 2001 o recolhimento era feito pelo município e as embalagens eram levadas à ACCO. A partir deste ano o trabalho foi terceirizado e a associação recolhe e encaminha para a indústria. A partir deste projeto a Prefeitura criou uma política de sustentabilidade e instituiu o “Dia do Campo Limpo”. Até hoje todas as escolas da rede municipal trabalham com o tema agrotóxicos e os alunos fazem uma visita à empresa para conhecer o destino das embalagens. Em 1996, o município de Santa Terezinha de Itaipu foi finalista com outro projeto “Relatório de pesquisa”. O trabalho foi coordenado pela professora Lairce Morgestern com alunos de 5ª série. “Foi uma experiência muito enriquecedora e até hoje trabalho com material pedagógico do Agrinho que é de excelente qualidade”.

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município pioneiro

contenda

Uma alavanca de superação

S Eloi e a professora Longines: 3º lugar em redação

uperação e força. Eis o resumo da história de Everton Jonie Vascask, 26 anos, calouro no curso de Gestão de Recursos Humanos. A relação dele com o Programa Agrinho começou quando tinha 12 anos e era aluno da 4ª série na Escola Municipal Profª. Paulina Urbanik Stabach, em Contenda. Ele escreveu a redação que conta a trajetória de uma embalagem de agrotóxico que se sente mal por ter prejudicado a natureza e foi o vencedor na categoria redação de 1996. Por questões de saúde ele entrou mais tarde na escola e mesmo com graves problemas visuais usa esta vitória como estímulo e alavanca para superar os problemas que surgiram ao longo da sua vida. Se dependesse da estimativa dos médicos que acom-

MUDANÇA DE HÁBITOS Morador da Comunidade de Lavrinha, 30 quilômetros do centro de Contenda, Eloi Precybilovicz também foi um dos finalistas no projeto piloto do programa Agrinho em 1996. Elói, assim como Everton, também tinha que andar três quilômetros para chegar à escola. “Mesmo sendo muito novo, tinha oito anos, consegui mudar alguns hábitos do meu pai. Antes ele só queimava as embalagens de veneno, com o Agrinho ele aprendeu a fazer a tríplice lavagem e a armazená-las”, explica. A professora Longines Trayanovski, tia de Eloi conta que antes do Agrinho tinha produtor que deixava as embalagens com restos do produto na beira dos rios. “Eu até levei os alunos no córrego perto da escola para eles estudarem os girinos. Quem queimava as embalagens estava errado, mas quem largava assim fazia pior, pois a contaminação era profunda”. Longines, aposentada há quatro anos, e o marido também são pequenos produtores rurais e cultivam em uma propriedade de três alqueires, milho, cebola, batata e feijão.

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A “viagem” de uma embalagem que mudou a vida de Vascask panharam Everton desde o seu nascimento, seu destino estava traçado e não era nada animador. “Me lembro como se fosse hoje a alegria de entrar no local da premiação e ver minha redação em todas as pastinhas que estavam sobre as mesas - era eu o primeiro colocado”, conta Everton. No último dia para produção das redações, a professora de Everton, Luciane Gonzaga, conta que ele estava com as lentes dos óculos quebradas, mas mesmo assim não se intimidou. O trabalho de Everton ganhou a primeira batalha ainda na escola: sua redação disputou com outra que tinha sido redigida com letra perfeita, ao contrário da dele. Mas os professores responsáveis optaram pelo conteúdo e a história da “Embalagem” foi a enviada para representar a escola. DETERMINAÇÃO Desde que soube que seu trabalho fora selecionado, Everton acreditou na vitória “não dei sossego pra minha mãe. Nas duas semanas que antecederam a divulgação do resultado não parava de falar que ganharia o concurso. Receosa com a possibilidade da decepção, a mãe Solange tentava explicar que eram muitos os concorrentes. “Mas eu não ouvia e sonhava com o que estava por vir”. Quando saiu o resultado Everton estava na escola e percebeu um movimento diferente. “Ninguém me contou nada, mas os professores já sabiam que um dos trabalhos finalistas era de uma escola de Contenda. A professora já estava no ponto de ônibus quando a Kombi da Prefeitura veio dar a boa notícia.“Ela esqueceu do ônibus e voltou na escola pra me contar. Foi uma felicidade”, revive Everton.

Everton e a mãe, Solange: 1º lugar em redação


município pioneiro

palotina

Influenciando gerações O exemplo de mãe e filha na terra da soja

Q

uando foi escolhida como uma das finalistas, em 1996, no projeto piloto do Programa Agrinho, Cristina Ganzo, hoje com 24 anos, não tinha ideia de como esta vitória influenciaria sua vida. Muito tímida, ela se empenhou no desenho que mostrava a importância da tríplice lavagem das embalagens de agrotóxicos. Quando saiu a classificação a família comemorou em dobro: pela mãe que também era a professora de Ciências, Maria Mitie Eguchi Ganzo e a filha, que ficou em primeiro lugar na categoria Desenho, com nove anos. Atualmente Cristina mora no Japão e cursa o primeiro ano da Faculdade de Letras. De lá, por email, comentou: “O Agrinho, com certeza, influenciou e muito a minha vida. Sempre fui muito tímida e a vitória me ajudou a me relacionar mais, a me soltar mais. Foi muito gratificante, pois além dos prêmios que ganhei tive o reconhecimento dos meus pais que sempre me apoiaram muito”. Em Palotina, cidade que até hoje tem como principal atividade econômica a agricultura e o agronegócio, a utilização de agrotóxico sempre foi muito intensa. “Naquele tempo os agricultores aplicavam agrotóxicos até de avião e com o Agrinho tivemos a oportunidade de trabalhar com os filhos dos agricultores. Este trabalho foi muito importante, pois conseguimos conscientizar as crianças sobre os riscos e os cuidados que devemos ter ao manipular estas substâncias”, conta Mitie. Aposentada, após 35 anos de dedicação ao magistério, Mitie sempre foi um exemplo de empenho. “Quando eu entrava em um concurso os colegas me diziam ‘quando a Eguchi está concorrendo nem adianta a gente competir, pois ela sempre ganha’. Realmente, depois do Agrinho participei de outros concursos e sempre ficava em primeiro lugar. Acho que quando a gente se propõe a fazer alguma coisa temos que fazer o melhor, dar tudo de si”. Na época Mitie pediu apoio da Prefeitura, que cedeu um ônibus para a visita dos alunos a uma propriedade rural. O Sindicato Rural, que tinha como presidente Arnaldo Pradela, estimulou a participação dos alunos no projeto. “O Agrinho virou notícia e a nossa visita a propriedade foi acompanhada por uma equipe da TV

José antonio e Maria Mitie ganzo, os pais orgulhosos da filha Cristina (em destaque), que hoje cursa Letras no Japão

local. Esse trabalho foi um incentivo para que eu e os outros alunos refletíssemos sobre a preservação da natureza. Até a realização deste projeto nunca tínhamos discutido e estudado a questão dos agrotóxicos. Precisamos respeitar a natureza e preservar os recursos naturais que são muito importantes para nossa saúde e bem-estar”, finaliza Cristina.

pioneiros Alunos finalistas do projeto piloto 1996: Cristina Ganzo, Solange de Oliveira, Daniele Strugala, Everton Vascask, Willian de Souza Palma, Elói Precybilovscz

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município pioneiro

Mandaguaçu

“uma andorinha faz verão” Aos 6 anos, a primeira redação e a descoberta dos sabores da leitura

R

osemeire Ricio dava aulas na turma da pré-escola na Creche Menino Jesus em Mandaguaçu, no norte do Estado, quando foi apresentada ao material do Agrinho, do SENAR-PR, pela supervisora da escola em 1996. Apesar dos alunos serem pequenos e o tema agrotóxicos ser complicado, a professora resolveu tentar trabalhar o conteúdo em sala de aula. Ela tinha um único aluno alfabetizado na época, Willian de Souza Palma. Ela propôs um dia que fizessem uma redação e o aluno escreveu a sua sobre a “tríplice lavagem”. “Ele fez do jeitinho dele, faltando letras nas palavras. Ficou curtinha. Eu corrigia e ele passava a limpo, mas eu não corrigia tudo, porque tinha de ser dele”, lembra Rosemeire. Willian tinha apenas seis anos quando escreveu sua redação. Apesar de ter escrito sobre a importância de lavar as embalagens três vezes devido aos resíduos de agrotóxicos, ele nunca teve relação com o campo. A professora inscreveu a redação no concurso Agrinho, mas sem grandes pretensões. “Lembro o dia que o supervisor do SENAR-PR, Salvador José Morales Stefano, veio perguntar quem era o Willian. Nunca mais vou esquecer, vou contar para os meus filhos, os meus netos”, diz o ex-aluno, que ficou admirado e feliz. “Foi uma festa. A turma toda fez festa. Por ser cidade pequena, todos falavam sobre isso com meus pais”, lembra Willian. Mas o prêmio dividiu os pais dos alunos. “Algumas mães acharam que eu tinha feito a redação ou pri-

Professora Rosemeire Ricio hoje dá aula para Ensino Médio na Rede Estadual de Mandaguaçu

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Willian de Souza vilegiado ele”, conta Palma: ex aluno de Rosemeire. Mandaguaçu, hoje A formatura do cursa teologia Pré foi na véspera da viagem para a festa de encerramento do Agrinho em Curitiba. O prefeito da época, Antonio Saes, presente na formatura, fez questão de mencionar o prêmio que Willian receberia. A viagem para receber a premiação foi a única vez que o estudante visitou a capital paranaense, e foi acompanhado de sua mãe e da professora. Palma está hoje com 20 anos e cursa o primeiro ano de Teologia no Seminário Presbiteriano Renovado, em Cianorte. Faz estágio na Igreja Batista Independente nos fins de semana, onde trabalha com o ministério de louvor e de jovens. Seus pais seguem morando em Mandaguaçu. O fato de ter recebido o prêmio do Agrinho marcou a vida do estudante, principalmente devido a sua idade. “Descobri em mim um gosto grande pela leitura. Isso ajuda em um seminário evangélico que tem muita leitura, temos de escrever bastante”, afirma Palma. Ele lembra com carinho da bicicleta Montain Bike verde escuro, quatro marchas, que ganhou no concurso. “Demorei a usar, porque eu era pequeno. Meu pai a guardou e eu olhava sempre para ela como um troféu”, lembra. “Depois acabei com a bicicleta de tanto andar com ela”, diz. Rosemeire e Willian nunca mais se viram, mas ela ainda encontra os pais dele nas ruas da cidade. Por muito tempo a professora guardou o texto premiado em 2º lugar. Há 17 anos ela dá aula. Já foi servidora da prefeitura dando aulas para educação infantil e séries iniciais e há cinco anos é concursada do estado do Paraná, lecionando inglês para o Ensino Médio. Formada em Letras, na época que participou do concurso Agrinho, ela ainda não tinha o curso superior. Atualmente leciona no Colégio Estadual Rui Barbosa, no Distrito de Iguatemi.


Os Personagens Nas próximas páginas, o relato daqueles que acreditam na educação como a melhor fórmula de transformação humana

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A

NASCENTE DA

COMUNIDADE “Que pena, professora! não temos um rio poluído”. A aventura de salvar olhos d’água

pinhão

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Helia: o olho d’água abastece o ano inteiro nove casas com trinta moradores

E

m 1998, chegou à Escola Rural Municipal de Faxinal do Céu (Comunidade de Santa Emília) a revista do Agrinho, onde se contava a história de uma professora, que junto com seus alunos ajudaram a recuperar uma nascente. Os alunos de 3ª e 4ª séries leram o material com a professora Helia Macedo e na empolgação soltaram uma frase típica de criança: “que pena professora, não temos um rio poluído para fazer um trabalho tão legal como eles fizeram”. Meio atordoada com o que tinha acabado de ouvir, Helia não queria cortar a criatividade da garotada e logo sugeriu: não temos um rio, mas temos uma nascente. Assim surgiu a ideia de recuperar uma das três nascentes localizadas nas proximidades da escola no distrito de Santa Emília, a 26 quilômetros da sede do município de Pinhão, no centro sul paranaense. Depois de pesquisar e discutir com os alunos o que poderia ser feito para preservar as minas d’água, a turma saiu a campo. O próximo passo para a preservação foi o plantio de árvores no entorno das nascentes e uma cerca para evitar o acesso de animais. Até hoje as minas abastecem nove famílias, mais de 30 pessoas da região. A água foi analisada pela Secretaria da Saúde e comprovada sua excelente qualidade. Todas as benfeitorias, como cerca e caixas de captação foram custeadas pelos próprios moradores. “Com o Agrinho aprendi duas lições importantes: a primeira foi perceber que as pessoas reconheceram o que o grupo fez. Quando isso acontece você percebe que pode ser útil e fica estimulada a fazer mais. E a segunda é que passei a ter mais responsabilidade com o meio ambiente”, diz ela. E essa lição marcou mesmo a vida de Helia. Depois de se aposentar como professora da rede municipal de Pinhão, continua trabalhando. Hoje é diretora do Centro Municipal de Educação Infan-

til Santa Maria, que atende 56 crianças de quatro meses a cinco anos. Este ano a Rede Municipal de Pinhão está desenvolvendo um projeto de Decoração de Natal com garrafas pet. “Estamos mobilizando as professoras para participar do projeto, vamos envolver as crianças e fazer bonito”.

espaço comunitário Helia coordena ainda mais um espaço público de interesse comunitário - o Centro de Apoio à Família. Há três anos o espaço recebe famílias de produtores rurais, dando abrigo temporário para quem precisa de tratamento de saúde. Além de abrigar, ela também usa o espaço para oferecer cursos do SENAR-PR. Já foram oferecidos cursos de panificação, derivados da mandioca e derivados do leite. “Os cursos do SENAR-PR são muito bem aceitos. Quero organizar uma turma para oferecer o curso de Corte e Costura que a mulherada pede muito, mas como são da área rural é difícil reunir 10 pessoas em um mesmo período, mas tenho certeza que este ano vamos conseguir”.

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a d r o b g a a O s ndiz

Campina Grande do sul

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e r ap

A trajetória de mudanças provocadas pelo Agrinho em Campina Grande do Sul

Eliane e denise: com o Programa Agrinho, conquistamos crescimento profissional para todos os professores

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A

educação pública de Campina Grande do Sul, a 20 quilômetros de Curitiba, colhe bons frutos. Prova disso são os resultados do IDEB - Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, do Ministério da Educação. Por dois anos o município superou as metas projetadas pelo MEC e, nos últimos cinco anos, esteve entre os três primeiros lugares do Programa Agrinho. Para os professores, o ‘segredo’ está no envolvimento e na transformação do aluno com o conhecimento. “Partimos do zero e construímos com as crianças desde o diagnóstico da realidade até a forma como elas poderão atuar para melhorar o mundo’, explica Eliane Maria de Oliveira Andrade, diretora da E. M. Ulisses Guimarães. A professora Denise Martins de Araújo, parceira no projeto, afirma que o aluno que participa do programa ganha capacidade de reflexão. “A criança aprende a analisar sua realidade e a descobrir, através da reflexão, uma possibilidade de melhorar, de transformar. A metodologia do programa ajuda a criança a se preparar para a vida. Tanto o professor como o aluno que passa por um projeto do Agrinho nunca serão os mesmos”.


m e g Painel com desenhos é exemplo de uma das atividades pedagógicas do Agrinho que estimula a criatividade dos alunos

Ferramentas pedagógicas Eliane está na rede municipal há 19 anos e além da sala de aula, atuou como supervisora, orientadora, diretora e coordenadora pedagógica. “Com o Agrinho aprendemos a incorporar à nossa rotina escolar novas ferramentas de aprendizagem, utilizando projetos educacionais”. Um dos exemplos é o Dia de Campo, que foi instituído em 2005 com o projeto “Conhecer e Aprender”,onde todas as professoras podem planejar uma visita em campo com os alunos. O município cede ônibus, auxiliares e horas extras. “Dessa forma, as crianças aprendem brincando”, diz ela. Foi o que aconteceu com a professora Luci Guidolin, em 2005, na E. M. Antônio José de Carvalho. Durante uma pesquisa sobre o meio ambiente, ela descobriu que os pais de uma aluna trabalhavam como catadores e isso causava muito constrangimento a menina. “A partir daí ampliamos a pesquisa e os alunos descobriram como é importante o trabalho dos recicladores na preservação ambiental. Envolvemos toda a escola, que mantém até hoje o programa de separação do lixo. Os alunos visitaram a represa Capivari - Cachoeira, uma empresa de reciclagem e ainda trabalhamos a questão do consumo”. Outra ferramenta que o Agrinho ajudou o município a ganhar, foram as visitas ao Parque de Ciências Newton Freire Maia, instalado em Pinhais. “Até 2005 apenas os alunos de 5ª a 8ª e Ensino Médio podiam visitar o parque, eu escrevi um projeto e encaminhei a direção. Assim conquistamos o direito de levar, todos os anos, os alunos da 4ª série”, explica Eliane. A Feira de Literatura também é outra conquista e acontece em todas as escolas municipais, desde 2005. A Secretaria de Educação busca parceiros que dão descontos especiais ao município na compra dos livros. Ao longo do ano os professores trabalham com projetos de incentivo à leitura e quando acontece a feira todos os alunos conseguem adquirir um livro.

EDUCAÇÃO ESPECIAL Outro caso que marcou a rede municipal é o da professora Izolete Miranda de Oliveira, que hoje exerce a função de coordenadora pedagógica. Em 2006 ela recebeu um aluno surdo com várias questões disciplinares. “Lidei com a situação com um desafio, pesquisei, estudei e principalmente envolvi toda a turma no processo, e na sequência a escola. Os alunos aprenderam a Língua dos Sinais e a escola ganhou um Centro de Atendimento de Surdos”, diz Izolete. Com este projeto ela foi uma finalista do Agrinho. Os frutos que o Agrinho tem oferecido à Educação do município são tão positivos, que o prefeito Luiz Carlos Assunção instituiu uma progressão funcional na carreira dos professores que participam do programa. O projeto está sendo finalizado pela Secretaria de Educação reconhecendo o processo de capacitação dos professores dentro do programa.

o Ideb de campina grande do sul

Fonte site IDEB

Ideb Observado

Metas Projetadas

2005

2007

2009

2007

2009

2011

2013

2015

2017

2019

2021

4.3

4.7

5.0

4.4

4.7

5.1

5.4

5.7

5.9

6.2

6.4

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Faixa de homenagem aos 15 anos do Programa Agrinho

‘TÁ NA HORA DE ’

DOAR

O

peabiru

*

s alunos, de apenas quatro anos, do Centro Municipal de Educação Infantil Arco Íris, do município de Peabiru, 14 mil habitantes, no noroeste do Estado, tiveram a oportunidade de exercer a cidadania com o projeto pedagógico das professoras Sandra Sanches Pereira e Cleudi Mingroni Banancin. Desenvolvendo o tema cidadania, elas envolveram, mobilizaram e concretizaram um projeto de doação de sangue com os pais dos alunos e a comunidade, em 2003. “Até hoje o Hemonúcleo de Campo Mourão colhe bons resultados na cidade vizinha graças à iniciativa”, assegura a assistente social da instituição Neide Góis. Sandra começou o trabalho com uma atividade de sensibilização das crianças, onde cada pequeno ouvia o coração do amiguinho. “Fizemos várias atividades, massinha, desenho, teatro, hábitos saudáveis, culinária e visitas, tanto na comunidade como no Hemonúcleo de Campo Mourão. Também levei para a sala de aula dois corações - um de boi e outro de galinha, para eles terem a noção de tamanho”. “Apesar da pouca idade, as crianças se envolveram de tal forma que até hoje minha filha cobra do pai o fato dele ser fumante. Na época ela falou tanto, que meu marido deixou de fumar por sete meses”, conta Salete Cristina de Almeida Klein, mãe da Milena. A mãe, até hoje doadora, foi a primeira a ser convencida pela pequena cidadã. Outra aluna que fez diferença foi Tainá, hoje na 4ª série, que ainda faz campanha com a irmã Thais, para se tornar uma doadora. Segundo a

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Uma cidade mobilizada pela ação de seus pequenos habitantes


SOS ORQUÍDEAS A paixão pelo trabalho é o grande motivador de Sandra, que continua desenvolvendo projetos com o material do Agrinho em parceria com Cleudi. Este ano, declarado pelas Nações Unidas como o Ano Internacional da Biodiversidade, ela trabalha um projeto de recuperação das espécies nativas de orquídeas da região. Já construiu um orquidário nos fundos de casa e pretende mobilizar os pais dos alunos em um programa de produção de mudas e geração de renda. Em agosto deste ano, durante a Festa do Carneiro ao Vinho, Sandra montou uma barraca para divulgar a ideia. “O resultado ficou muito acima do esperado. A barraca foi procurada por pessoas que gostam de orquídeas e não sabem como cultivá-las, por outras que cultivam e querem mais informações e até por um vereador que fez uma moção para que eu apresentasse a proposta na Câmara Municipal de Campo Mourão. Ele quer trabalhar para que esta proposta seja implantada na rede municipal do município vizinho”, contou ela. Antes da comercialização de orquídeas, Sandra quer produzir mudas e devolvê-las à natureza. “Quero também enfeitar a praça da cidade com as espécies nativas. Adoro minha cidade e o que puder fazer para deixá-la mais bonita vou fazer”, decreta.

Com apenas 4 anos, pequenos cidadãos fazem a diferença

mãe, a filha mais velha tem medo de agulha. “Ela fala para irmã que quando tiver 18 anos vai ser uma doadora. Esse trabalho foi tão bom que as professoras viraram amigas das crianças. Eu chegava a ficar com vergonha de tanto que a Tainá me fazia levá-la na casa da Sandra para conversar”, conta Eliane Angela Durso Carvalha. Esta relação foi temperada com a própria história de Tainá. Pouco antes do seu nascimento a mãe precisou receber sangue e a família teve que se mobilizar para conseguir. “Mesmo não podendo doar por causa da minha saúde, ajudei na divulgação do projeto junto à comunidade, pois sei como é importante esse gesto”.

Além de trabalhar na divulgação do projeto na comunidade, Eliane, que é empresária da área de publicidade, viabilizou a gravação de um CD dos alunos com uma paródia sobre a importância da doação de sangue ‘Tá na hora de doar’. “Esta paródia foi apresentada pelos alunos no mesmo ano em um desfile cívico na cidade. Assim, conseguimos passar nosso recado para grande parte da população, pois nunca sabemos quando vamos precisar de uma doação”, conta Sandra.

Salete, Sandra, Cleudi e Eliane

Crianças em visita à comunidade orientando moradores sobre hábitos saudáveis

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Desde que participa do Agrinho, Ivonete edita livros com os trabalhos vencedores

ENCANTANDO S UNO

AL s o

Dificuldades são desafios a serem vencidos para a professora Ivonete Barp

são joão

*

U

ma relação que começa com o encantamento do aluno pelo professor. É assim que Ivonete Barp, uma professora apaixonada pelo trabalho resume o processo de aprender a aprender. Com 19 anos de magistério, há 15 anos a professora Ivonete trabalha com o Agrinho em escolas da pequena São João, no Sudoeste paranaense. Independente de ser finalista nos concursos do programa, ela vibra com os resultados que consegue a cada ano com seus projetos e confessa que tem uma preferência - trabalhar com alunos da 4ª série “prefiro pegar aquelas turmas mais difíceis, seja em comportamento ou em qualidade de aprendizagem, é um desafio prazeroso. Ao final de cada ano ganho novos amigos, cidadãos mais conscientes e confiantes”, diz. Um dos exemplos é o da aluna Fernanda Valéria Soares Postes, 11 anos. A mãe Sandra Ra-

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quel Soares conta que a filha tinha dificuldades em acompanhar as colegas da classe. “Ano passado ela estudou com a professora Ivonete e se encontrou. Foi com ela que minha filha descobriu o que estava fazendo na escola. Hoje ela é outra menina, participativa, crítica, autoconfiante”, contou. A partir das consequências de um acidente de trânsito com um aluno na porta da escola, Ivonete escolheu o tema para trabalhar com a turma de Fernanda. Estudaram, pesquisaram, produziram e distribuíram um folheto, maquetes, camisetas e o mais importante - repassaram estas informações para os pais. “Este projeto fez com que a Fernanda assimilasse a importância do respeito no trânsito. Ela não decorou a lei, descobriu que o trânsito é de todos e ela terá isso para sua vida”, revela Sandra. Desde que participa do Agrinho, Ivonete edita livros com os trabalhos vencedores. Há quatro anos ela conseguiu apoio financeiro de


Valéria com a filha fernanda: aprendendo lições sobre educação no trânsito

ENCANTANDO

Ivonete (esq.) e Shirley com o livro de publicações de trabalhos dos alunos

comerciantes como Marcelo Waldemar Hack para publicar todos os trabalhos dos alunos que participam do Agrinho. Além de colaborar com recursos financeiros para a publicação dos livros o comercianIncansável Outro te, Hack também “veste projeto de Ivonete foi o de “Educação a camisa” dos projetos Fiscal”. Ela conseguiu apoio do prefeito, educacionais. Com o que após conhecer o projeto criou uma objetivo de divulgar os lei que institui o Programa Municipal projetos, ele adotou, de Educação Fiscal. Em parceria com a nos últimos dois anos, Escola de Administração Fazendáriacomo uniforme dos funESAF, do Ministério da Fazenda, foram cionários do supermercedidas 30 vagas para um curso de cado a camiseta dos procapacitação para outros professores da jetos. “Isso deu um novo rede municipal. O comerciante gás para as crianças”, diz Marcelo e seu ela. O lançamento do livro funcionário: literalmente deste ano foi em setembro. vestindo a camisa do Agrinho

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A ÁRVORE da VIDA A experiência vitoriosa do pedagogo Claudemir

tijucas do sul

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Bianca, Rita, Andrieli e Vinícius: cidadania e meio ambiente são as inspirações para a experiência pedagógica


T

ijucas do Sul, a 60 quilômetros de Curitiba, é conhecida por seus haras e pousadas, atrações que se somam à serenidade de belas paisagens naturais. Foi este cenário tranquilo que inspirou o professor e coordenador pedagógico, Claudemir Pereira da Rocha, um dos finalistas do Programa Agrinho em 2007, a desenvolver um grande projeto de Experiência Pedagógica. Há quatro anos ele trabalha quatro projetos com os 95 alunos da E. M. Rural do Campestre: Árvore da Vida, voltado para a preservação e recuperação ambiental; Adote um Leitor, que estimula leitura e trabalha a cidadania; Saúde Bucal e Bônus da Escola, que reduziu significativamente a indisciplina envolvendo a comunidade escolar. Sustentabilidade O ‘Árvore da Vida’ começou com a preocupação com o meio ambiente e a recuperação das áreas degradadas nas margens do rio Negro. “Fizemos uma pesquisa sobre as espécies nativas da região e iniciamos a produção de mudas de árvores nativas. Hoje temos uma parceria com a empresa Comflorestas, que compra a maior parte das mudas produzidas, mas também fazemos doações para a população. Com o dinheiro arrecadado adquirimos materiais para a escola (livros, TV, DVD, máquina de fotocópias, data show, retroprojetor, cortinas para as salas de aula)”. Todos os anos, os alunos produzem cerca de seis mil mudas de Pau-Brasil, Aroeira, Araucária, Araçá, Ariticun, Bracatinga, Ameixa, Cambará e Cereja nativa. As sementes que geram as mudas são trazidas pelos alunos de casa. Para Andrieli dos Anjos Rocha Loures, oito anos, 3ª série “o mais gostoso é plantar as sementes. A gente têm que ter muito cuidado para fazer muda”. A venda das mudas subsidia outro projeto ‘Adote um Leitor’, onde todos os alunos, professores e funcionários se reúnem as segundas-feiras no pátio da escola para lerem juntos. “Além de trabalhar a leitura estimulamos a interação entre as turmas, o respeito e a cidadania. A participação dos funcionários da escola também ajuda a desenvolver laços com os alunos”, explica Rocha. Outro projeto que mobiliza toda a escola e os pais é o ‘Bônus da Escola’. Com ele os índices de indisciplina caíram significativamente. Os alunos ganham um bônus de ouro, prata ou bronze, por cada atividade que participam. Este bônus é trocado nas duas feiras que a escola promove ao longo do ano. Em média, cada aluno consegue juntar o equivalente a R$ 60,00 e os prêmios são cestas de frutas, guloseimas, livros infantis, brinquedos, artigos de papelaria, que o professor consegue com doações do comércio local. “São objetos de pequeno valor, mas o mais importante é o estímulo à reflexão sobre o próprio comportamento”, comenta o professor. A presença dos pais também garante cinco pontos para o aluno. “Quando minha filha veio com a novidade eu pensei - credo, que bobeira mas depois que vim à primeira vez, percebi o quanto ela ficou empolgada, agora não perco uma feirinha”, conta Raquel Terezinha da Cruz Santos, mãe de Rita de Cássia, 10 anos. Para Valdiane Ferreira dos Santos, irmã de Vinícius, nove anos, da 4ª série o programa “Bônus na Escola” tem várias vantagens: as crianças aprendem a lidar com o dinheiro, a fazer compras, a descobrir realmente o que querem e o mais importante ensina os pequenos a valorizar suas escolhas. O programa Saúde Bucal, que acontece desde 2000, em parceria com a Prefeitura, foi agregado à proposta. A frequência dos alunos na escovação diária e no bochecho com flúor também garante bônus assim como a presença dos pais nas palestras.

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“C

om o programa Agrinho as pessoas aprendem a trabalhar em equipe, sozinho ninguém consegue viver ou vencer na vida. Como num jogo de futebol. Não adianta ter a melhor equipe do mundo, se cada jogador resolver jogar sozinho... Porque cada um tem sua função e precisa do apoio do outro para fazer o gol. E na nossa vida em comunidade cada um deverá fazer sua parte para o bem de todos”. Trecho de uma redação do aluno Giovani da Rosa, que teve ajuda da professora Marcia no diagnóstico do problema neurológico

Marcia: tirei muitas lições de vida com a visita na casa dos alunos

pitanga

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Um balde de água fria na

INDIFERENÇA Três livros e a atitude para tranformar

P

erseverança, determinação e simplicidade são as marcas do trabalho da professora Marcia Regiane Rosa Costa, que algumas crianças do município de Pitanga tiveram a sorte de encontrar. Em 2008 ela percebeu que 12 dos 28 alunos de 4ª série não conseguiam ler e escrever. “Eu tinha que fazer alguma coisa por eles”, lembra. Para motivá-los, produziu uma sacola contendo três livros e um caderno para que os pais fizessem relatos da experiência coletiva. Com a sacola ela criou uma atividade nova, a Leitura em Família. Marcia aproveitava os finais de semana para visitar a casa dos alunos auxiliando-os nos conteúdos do currículo: matemática, história, geografia e português. “A minha visita provocava um

efeito colateral maravilhoso - a melhoria da autoestima e a vontade de cada um aprender mais”. Como o caso de Giovani da Rosa, que hoje frequenta a 6ª série. O menino esperava a consulta com um neurologista há dois anos. A professora pediu ajuda e conseguiu marcá-la. O menino foi diagnosticado e medicado. O trabalho de reforço escolar respingou também na família dos alunos como foi o caso de Irene Garcia, mãe do Lucas. Ela acompanhava com empenho as visitas da professora e também recebia a bolsa para fazer a leitura em família, mas não conseguia fazer o relato no caderno, já que não sabia ler. Hoje Irene está cursando o EJA - Educação de Jovens e Adultos.

Alfabetização de Irene (com o bebê no colo) é uma das conquistas do trabalho da professora

PROJETO SIMPLES Marcia sempre participou do Agrinho enviando redações de seus alunos. Em 2008 chegou a ouvir dos superiores na escola que seu projeto era “muito simples e que não deveria ser encaminhado”. Não deu ouvidos e confessa: “aprendi que a gente só entende e consegue mudar a realidade, quando conhece de perto a realidade de quem queremos ajudar”. Atualmente Marcia é a coordenadora do programa Agrinho na Secretaria Municipal de Educação de Pitanga, trabalha em duas escolas municipais e uma vez por semana desenvolve o projeto ‘Viva Escola’, com uma turma multiseriada, no Colégio Estadual Padre Victor Coelho de Andrade, que fica na área rural de Pitanga. A escola fica a 25 quilômetros distante do centro do município, assim como outros professores, Marcia usa duas conduções e caminha dois quilômetros a pé para chegar na escola. “Hoje tenho a certeza de que aprendo muito mais com meus alunos do que eles comigo, são lições de vida e superação”. www.agrinho.com.br | Agrinho 15 anos | 31


A “contaminação” das

caixas d’água

Toda escola mobilizada no projeto para economizar água

Mamborê

*

A escola começou e a cidade adotou o uso racional da água

M

amborê, município no oeste do Estado, é privilegiado pelo clima subtropical e índice pluviométrico mensal de 140 milímetros. Foram estas chuvas que inspiraram o professor Jurandir Messias dos Santos a elaborar um projeto de aproveitamento da água da chuva na Escola Municipal Professora Elizabete das Neves Teixeira Fernandes, em parceria com a professora titular da 4ª série, Aparecida Zocatelli Ribeiro. O projeto virou experiência pedagógica no programa Agrinho. O primeiro passo foi informar a turma sobre o uso racional da água e sua escassez. Os alunos visitaram uma estação de tratamento da Sanepar, fizeram uma investigação sobre o desperdício da água, e com entrevistas criaram uma história em quadrinhos com o personagem “Clorinho”. “Com esse projeto nós conseguimos interagir mais com os

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professores e todos os colegas da escola. Descobrimos que podíamos fazer alguma coisa concreta para ajudar a escola a diminuir seus gastos e contribuir com a natureza”, relata Caio Felipe Ramão Castelli, aluno da turma realizadora. A escola conseguiu apoio do prefeito Henrique Sanches Salla, que investiu cerca de R$ 20 mil na instalação de cinco caixas d’água, três com capacidade para 7 mil litros cada e duas com capacidade para 2 mil litros, e no encanamento para a captação da água da chuva e distribuição em toda a escola. Desde a implantação do projeto, em 2008, a escola teve uma redução mensal na conta de água de mais de 50% - de R$ 400,00 o valor caiu para R$180,00. “A vantagem não é só a economia da água, mas a limpeza da escola e até a segurança das crianças”, conta a diretora Selma Magalhães Teófilo. “Como a chuva era sempre frequente e forte o pá-


tio da escola estava sempre molhado causando escorregões. Agora, com a captação da água da chuva, além de colaborarmos com o meio ambiente, a escola fica mais limpa e segura. A ideia foi tão boa que eu mesma já implantei na minha casa”. A água da chuva captada pela escola é utilizada para limpeza das salas de aula e do pátio, lavagem de roupas e descarga dos banheiros. “A escola, por cuidado, não permite que os alunos usem a água para evitar qualquer problema de contaminação e para isso fizemos um trabalho de conscientização, inclusive com os alunos da educação especial, e criamos as “Torneiras proibidas”. “Só os professores e funcionárias é que tem livre acesso”, explica o professor. Segundo ele é difícil controlar a criançada e este artifício foi criado para garantir que as crianças não bebam a água da chuva. “Alguns estudiosos afirmam que a água da chuva é limpa, mas por excesso de zelo temos que nos precaver para garantir a saúde dos alunos”. O projeto de instalação de caixas d’água para captação da água da chuva contagiou literalmente toda a cidade. Várias casas vizinhas à escola já instalaram o sistema e os agricultores, que ficaram sabendo do projeto por meio dos alunos que moram na área rural, também instalaram o sistema em suas propriedades e usam a água principalmente para lavagem das máquinas agrícolas. Para a secre-

Professor Jurandir, responsável pelo projeto que gerou uma economia de 50% na conta de água da escola

tária municipal de Educação, Maristela Cristina Santos Lima, o projeto causou um grande impacto ambiental e contribuiu muito para a conscientização da população em relação ao uso racional da água. Ela pretende que toda a rede municipal tenha este sistema “o investimento é alto, mas o retorno que temos em capital social para a cidade é muito importante. Estamos disseminando a conscientização ambiental da população atual e das gerações futuras”.

A vantagem não é só a economia da água, mas a limpeza da escola e até a segurança das crianças Selma Magalhães Teófilo

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Batizada de “Sala Agrinho”, os equipamentos beneficiam os professores, que fazem cursos de Educação à Distância, os alunos, que têm aulas de oficina de informática e também a comunidade, que tem acesso gratuito à internet com hora marcada

O modelo de Bom Jesus do Sul: sem analfabetismo e escola integral

Bom Jesus do Sul

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Sala Agrinho e analfabetismo zero

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ste ano, Bom Jesus do Sul, quatro mil habitantes, comemora duas grandes vitórias na área da educação - Analfabetismo Zero e Ensino Integral. O pequeno município do Sudoeste do Paraná, quase na fronteira com a Argentina, também foi o palco da instalação da primeira Casa Familiar Rural, no Brasil, em 1989, quando ainda era um distrito de Barracão. Com toda esta tradição em investir na educação, com o Programa Agrinho não poderia ser diferente. Em 2004, foi premiado na categoria Município Agrinho, com cinco computadores utilizados para a criação de uma sala de capacitação, tanto para professores como alunos. Batizada de “Sala Agrinho”, os equipamentos beneficiam os professores, que fazem cursos de Educação à Distância, os alunos, que têm aulas de oficina de informática e também a comunidade, que tem acesso gratuito à internet com hora marcada. Os computadores não são os mesmos, hoje são 12 máquinas, com uma nova configuração. A ideia, explica o atual secretário de Educação, Celso Dias, que naquele ano era prefeito, “surgiu

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na volta com o grupo que foi à Curitiba participar da premiação do Agrinho. Queríamos usar os equipamentos para motivar ainda mais os professores. Naquela época nossa dificuldade era a internet discada, mas agora já temos o acesso rápido”. A novidade de um laboratório de informática para os alunos marcou a vida escolar de Alesson Jean Schmidt, 14 anos. Na época, cursava a 2ª série e lembra com empolgação que levou dois meses para dominar a máquina. “Agora já tenho computador em casa, mas naquela época era muito legal e diferente. Ninguém tinha. Além dos jogos, que eram super diferentes, o que eu mais gostava era de pintar.” Os computadores do Agrinho ‘encantaram’, e muito, os professores. Como conta Andrea Bortoncelo, hoje coordenadora da E. M. Roberto Mazzocatto. “Eu estava no início da minha carreira e atuava em uma sala de alfabetização. Com as aulas de informática pude diversificar meu trabalho, pesquisar mais e melhorar meu planejamento. Os alunos adoraram e lembro que fiquei eufórica quando aprendi a fazer tabelas e mudar a cor.”


Da esq. para a dir.: Professora Janete, coordenadora Andrea, secretário de Educação Celso, coordenador de ensino Clauderi e professora Elaine com os alunos que adoram frequentar a Sala Agrinho

ANALFABETISMO ZERO Com a implantação do ensino em tempo integral no município, os computadores da Sala Agrinho fazem parte desta receita. Além do ensino regular a Oficina de Informática é uma das 11 que estão disponíveis para compor o contra-turno dos alunos. A Sala Agrinho colaborou com o processo para zerar o analfabetismo na cidade. Os alfabetizadores além de receberem capacitação neste espaço, também utilizavam os computadores para pesquisa e planejamento das ações. Em 2000, de acordo com o IBGE, o índice de analfabetismo em Bom Jesus do Sul era de 17,82%. Com um grande programa de ação, iniciado com a organização de turmas específicas, avançou para o atendimento individual nas casas. Hoje o índice é de 0,43%. De acordo com a UNESCO com este percentual o município é considerado área livre de analfabetismo. O coordenador do Ensino Integral, Clauderi Farias, explica que a grande dificuldade é atender a maior faixa populacional - 90% - que mora na área rural. “Mas vamos continuar monitorando os novos habitantes que chegam ao município e oferecendo nosso trabalho de combate ao analfabetismo”.

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Saúde, Serra dos Dourados! Os caminhos da leitura a serviço da saúde

D umuarama

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esenhos de personagens infantis pintados nas paredes, um céu no teto com planetas formando o sistema solar, num referencial de ciências. Um cantinho de leitura com sofá e almofadas, casinha para se contar histórias com fantoches, pirâmide que também alimentam aulas de ciências, cortinas coloridas, e livros organizados nas estantes. O personagem de desenho animado, o ursinho Pooh, foi escolhido porque as crianças eram muito empolgadas com o desenho. Numa das paredes, a frase: “a biblioteca pode satisfazer as necessidades de informação, cultura e entretenimento”. Esse é o cenário da Biblioteca da Escola Rural Municipal Serra dos Dourados, em Umuarama, a 580 quilômetros de Curitiba. O espaço é fruto de um projeto chamado “Saúde de Corpo e de Mente”, inscrito em 2005, no Programa Agrinho, do SENAR-PR, assinado pela professora Patrícia de Araújo Abucarma, vencedor do 1º lugar na categoria Experiência Pedagógica daquele ano.

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Parede pintada com personagens de Monteiro Lobato

Patrícia desenvolveu o projeto, em parceria com a professora Regina Márcia G. Oliveira (com quem dividiu o prêmio), ensinando às crianças da 3a e 4 a séries como cuidar da própria saúde. “Mas como cuidariam do corpo sem se informar a respeito?”, questionava ela. O projeto contou com a ajuda dos pais que doaram livros e ajudaram na pintura das paredes, na confecção das cortinas e almofadas. Foram catalogados três mil títulos e Monteiro Lobato escolhido como referencial. Profissionais da saúde foram envolvidos no projeto com palestras da área e a horta municipal usada para se compreender a merenda escolar. “A gente ficava acompanhando, espiava as obras, ficava com vontade de ver logo as coisas prontas”, lembra Leide Messias de Andrade, de 14 anos, ex-aluna de Regina, que hoje cursa a 8ª série em outra escola.


Professora Patricia, idelizadora da Biblioteca da Escola Rural Serra dos Dourados

Ex-aluna Leide relembra bons momentos na biblioteca escolar

O projeto num livro Com a biblioteca concluída, os alunos produziram um livro contando a história do projeto. A prefeitura bancou a impressão em 18 páginas e tiragem de cerca de dois mil exemplares. A biblioteca foi inaugurada com direito a fita cortada, imprensa local, presença do ex-prefeito Luiz Renato, equipe pedagógica, diretora da secretaria de Educação, pais, autógrafos dos alunos e distribuição dos livrinhos. “Foi muito interessante participar do projeto e ajudar uma escola de um distrito. Nós professoras também aprendemos muito”, avalia a professora Regina Márcia. “Se o gestor não incentivar os projetos do Agrinho, ele não acontece. A gestão impulsiona o professor a comprar o projeto”, afirma Patrícia. O primeiro projeto dela foi em 2004. “No segundo ano eu já sabia o que tinha acertado e o que tinha de melhorar. Precisava de algo para inovar. Quando escolhemos fazer a biblioteca, tivemos de estudar para provar que tinha a ver com saúde”, diz a professora. Dalva Terezinha G. do Nascimento é diretora da escola há nove anos, já esteve na premiação muitas vezes e incentiva a equipe a participar todos os anos. “O Agrinho complementa o currículo, é enriquecedor. Gosto mais quando os professores se propõem a desenvolver projetos, porque envolve toda a escola, tem palestra, visitas, todos adquirem conhecimentos. A criança aprende muito mais, porque ela constrói”.

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sacolas

Com o projeto, os alunos desenvolveram três tipos de sacolas produzidas com retalhos e logotipos de lojas de pequenos comerciantes locais. Mais de

1.500

sacolas foram confeccionadas e vendidas.

Aluna Natalia, com a mãe e a tia, na facção onde tudo começou

terra boa

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ação social Em 2009, a professora Sueli procurou analisar o que estava atrapalhando o aprendizado de seus alunos da 4ª série em sala de aula. Percebeu que boa parte da turma sofria com o alcoolismo dos pais. Presenciavam brigas e diversas situações relacionadas ao álcool. Fez um projeto para solucionar o problema e o sucesso levou-a a ganhar um automóvel 0 km, pelo terceiro lugar na categoria Experiência Pedagógica do Concurso Agrinho 2009, na mesma categoria. “Nossos temas são a realidade do mundo atual, a natureza, a população, e o mundo gritando por mudanças”, analisa Maria Darcy Bená, secretária da Educação, Cultura e Esporte de Terra Boa. “Trabalhamos com o objetivo de ganhar, mas o melhor trabalho é aquele realizado com a criança, a família e a comunidade, isso é o mais importante”, diz Maria Darcy. Ah, sim, Sueli este ano trabalha em sala de aula sobre Pedofilia, tema escolhido ao perceber crianças em situação de risco dentro da escola.

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Acima: dona do Mercado mostra a sacola retornável do projeto com sua logo. Abaixo: comerciante Marta que apoiou o projeto Sacolas Retornáveis


Projeto Sacolas Retornáveis

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atéria publicada na Revista Veja de 5 de março de 2008, com o título “Oceano de Plástico”, tratando sobre a poluição do planeta, motivou as duas turmas da 4ª série da professora Sueli Lubaski de Marco, da Escola Municipal Monteiro Lobato, de Terra Boa, a repensar a questão do uso das sacolas plásticas no dia a dia. Os 56 alunos fizeram, com a professora Sueli, pesquisa de campo. Gravaram imagens e as levaram para sala de aula. “Dois alunos levaram máquina digital e filmaram tudo. A filmagem das crianças ficou magnífica”, conta a professora. A “repórter” da turma, a aluna Pámela Vianna Galhardo, comentou em sala de aula que sua mãe viu uma sacola retornável à venda. Como a base do município são as confecções, tiveram a ideia de confeccionar outras com retalhos. Iniciava ali o projeto “Sacolas Retornáveis”, 3º lugar na categoria Experiência Pedagógica de 2008 do Programa Agrinho, do SENAR-PR, que premiou a professora com um automóvel zero km. A mãe da aluna Natália Santiago Mota estava iniciando uma “facção”, como são chamados pequenos centros de treinamento profissional de

O jeito fácil de proteger o meio ambiente confecções. Ali desenvolveram três tipos de sacolas, fruto de retalhos, com logotipos de lojas de pequenos comerciantes locais, que aceitaram distribuí-las. Mais de 1500 sacolas foram confeccionadas e vendidas. Marta Regina do Lago Preto, dona de um açougue e mercearia, comprou 150 sacolas retornáveis. “A professora Sueli veio, mostrou a ideia e gostamos porque se fala muito em meio ambiente. Valeria muito a pena se todos usassem, porque não estraga e para nós as sacolinhas de plástico são muito caras”, diz Marta. Paralelamente, dentro de sala de aula os alunos produziam textos e paródias. “Eles se reuniam e os pais ajudavam com a presença nas atividades extraclasse”, relata Sueli. A comunidade escolar ficou marcada com a iniciativa. “Para a escola foi um projeto fundamental. Uma mãe que tinha uma fábrica e de repente costurava para um projeto da escola da filha com entusiasmo. Isso Professora Sueli, da Escola Monteiro Lobato, é fora da realidade que eles com alunos e profissionais vivem”, comenta Luzinete de educação do município Demito, diretora da escola.

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Fazendo a

diferença Neli relembra a experiência pedagógica que levou água cristalina à Três Corações

RIBEIRÃO CLARO

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Escola-comunidade: o segredo de Ribeirão Claro

S

e há no Paraná um município que pode comprovar a eficiência do Agrinho no ensino e no desenvolvimento da comunidade, é Ribeirão Claro, no Norte Pioneiro, a 400 quilômetros de Curitiba. Desde 1999, a cidade tem presença garantida no concurso “Município Agrinho”, onde já ocupou duas vezes o primeiro lugar nessa categoria. Na contabilidade de seus habitantes há outras 20 premiações obtidas nas categorias de Desenho, Redação e Experiência Pedagógica.

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Levado muito a sério, o Programa, todos os anos, provoca reuniões com os professores assim que chega o material do SENAR-PR e uma parte do orçamento também fica reservada para a realização da etapa municipal do concurso. “O Agrinho já faz parte da cultura educacional do município”, afirma a secretária de educação, Maria Cristina Roberto. “O segredo está em incentivar os professores no desenvolvimento dos projetos, principalmente daqueles que envolvam a comunidade, como na área de meio ambiente, saúde e prevenção”.


Foi o caso da experiência pedagógica desenvolvida na Escola Rural Municipal João Teodoro da Silva, em Três Corações, patrimônio de Ribeirão Claro. A Maria Cristina: Agrinho falta de água na localidade sempre incofaz parte da cultura educacional do município modou a professora Neli Rosa de Oliveira, moradora de Três Corações. “Desde pequena eu via falta de água aqui”, lembra. Neli na caixa d’água instalada O basta foi quando teve que dispensar os pela canalização alunos da escola, porque não havia água. da força da “A partir daí pensei em trabalhar com eles os comunidade motivos disso, o que estava acontecendo”. Ela levou as crianças para visitarem rios, observarem a mata ciliar, explicando a importância da preservação e trabalhando o tema de forma transversal nas aulas. O interesse entre os alunos foi tanto que, chegou aos pais, irradiou por toda a comunidade e foi levado à prefeitura, que iniciou o projeto de instalação de uma caixa d’água em Três Corações. A prefeitura canalizou a água vinda de uma mina, a 12 quilômetros do patrimônio. A força pelo objetivo comum, fez com que os próprios moradores pegassem a marreta e abrissem buracos nos locais onde a máquina não tinha acesso. Neli lembra da primeira gota de água que chegou pelos novos canos. “Era 26 de maio de 2006, bem na data em que se comemora o Dia do Desafio”, lembra.

Valmiro Dias dos Santos

E que desafio! Hoje, após quatro anos de água potável e sem escassez, Valmiro Dias dos Santos, morador de Três Corações há 17 anos, comemora a conquista. “Antes da caixa faltava água até pra fazer um café”, recorda. A vida mudou para pelo menos 80 famílias, que passaram a receber água encanada todos os dias. “Tudo isso é fruto do Agrinho, porque aqui ele é bem aproveitado. Atingimos nossos objetivos e conseguimos resolver nossas dificuldades. É um empurrão para a gente se esforçar”, acredita a professora. Tanto que o programa entrou no planejamento anual da Secretaria Municipal de Educação.

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Bons projetos, bons prêmios

Mas a comunidade continua esperando a ação pública...

A

professora Maria Izabel S. Agostinho descobriu, em 2000, que oito alunos da escola rural do Distrito Rural Bela Vista do Tapicuruí, a 21 km de Tapejara, noroeste paranaense, não tinham banheiro em casa. Foi assim que Maria Izabel deu início ao Projeto Saúde, do Programa Agrinho, no distrito que tem 84 moradores e cerca de 15 famílias. Ela procurou a Vigilância Sanitária do município, fizeram uma reunião com o prefeito e prepararam uma proposta para a Câmara dos Vereadores, que aprovou a construção dos banheiros. Apesar de todo o empenho da professora, apenas

tapejara

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um banheiro foi construído até hoje pela própria comunidade que se cotizou. O projeto dos banheiros rendeu a Maria Izabel o primeiro lugar no concurso Agrinho em 2000 e um automóvel como prêmio. No período de 1997 a 2000 ela teve trabalhos classificados todos os anos. Em 2002 ganhou o primeiro lugar no Concurso Rio Limpo, também do SENAR-PR, e mais um automóvel. Em 2004 obteve o terceiro lugar em experiência pedagógica. “É muita emoção. Eu trabalhei com uma vontade tão grande que tinha certeza que teria chance de ganhar. Eu gosto tanto do Agrinho que guardo até os regulamentos antigos e algumas

Adriana com a mãe em frente a casa que ajudou a comprar com a venda da TV do Agrinho


Professora Maria Izabel mostra lembranças dos projetos e premiações

redações de alunos”, afirma. Os dois automóveis que Maria Izabel ganhou foram vendidos e investidos em uma chácara de três alqueires. Formada em magistério, a docente hoje cursa Pedagogia à distância na Faculdade Pinhais. Casada há 22 anos com Aurélio Agostinho, tem dois filhos, Douglas e Bruno e uma neta de quatro meses. Douglas foi classificado duas vezes no concurso de redação do Agrinho, em terceiro lugar. Uma de suas ex-alunas Adriana Aparecida Padilha, hoje com 22 anos, por duas vezes foi premiada pelo Programa Agrinho. Num ano foi na categoria redação, com o tema Saúde. A menina que não podia se matricular por não ter registro de nascimento, na época pago, teve o apoio da professora que se sensibilizou e conseguiu registrá-la. O prêmio de Adriana foi uma TV 14”. Outro ano ganhou uma bicicleta, com o segundo lugar no concurso com o tema “Água”. Ela morava com os pais em um “ranchinho”, como ela chama, de apenas uma peça. Com a venda da TV na época custando R$ 400,00 e do ranchinho, Adriana ajudou os pais a comprar a casa que moram até hoje. “O Agrinho mudou a minha vida completamente. Eu não tinha onde morar e com o prêmio comprei uma casa. Devo tudo ao Agrinho. Meu sonho era poder participar de novo”, diz Adriana. A professora e a ex-aluna moram próximas. “Eu gosto mesmo de dar aulas, principalmente depois que comecei a trabalhar o Agrinho. Com ele tudo o que trabalho é com projetos”, diz Maria Isabel que há 23 anos leciona em escola rural. Atualmente Maria Izabel está trabalhando

Os cenários do Distrito de Bela Vista do Tapicuruí

com o tema Inclusão dentro do Programa Agrinho em função das dificuldades enfrentadas por dois de seus alunos: um com dislexia e outro com poucos dentes. Através do filme “Procurando Nemo”, ela mostrou que, embora a Dori tenha memória de curto prazo, foi ela quem ajudou o Merlim a encontrar o filho. Maria Izabel também conseguiu o auxílio de uma psicóloga e um dentista para as crianças. Assim ela segue animada para mais um concurso Agrinho.

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Projeto Lixo Reciclável S. Jorge do Patrocínio

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Como o lixo que não é lixo saiu da escola e conquistou a comunidade Rita de Cassia (a esq.) e professoras que ajudaram no projeto

U

ma escola rural, um município sem coleta seletiva de lixo, a consciência da necessidade de pensar na sustentabilidade dos ecossistemas e a vontade de que a educação mude as perspectivas dos alunos, formando cidadãos conscientes. Esta realidade levou a professora Rita de Cássia Mantovanelli a decidir trabalhar com seus alunos da 3ª série o tema “Resíduo Reciclável” no ano de 2002, após a capacitação do Programa Agrinho e a reunião interna da escola. O trabalho foi feito em conjunto com outras professoras, como Francieli Cristina L. Mello, que trabalhou o mesmo tema com os alunos da pré-escola e Angélica Haver A. Lopes, com a 1ª série. A Experiência Pedagógica de Rita rendeu-lhe um automóvel zero km no Concurso Agrinho, do SENAR-PR, daquele ano. Na época, as professoras lecionavam na Escola Rural Municipal São Henrique, de São Jorge do Patrocínio. Durante a pesquisa, os alunos realizaram trabalho de campo. “Eles viram aquelas valas com o lixo todo misturado, viram que algo precisava ser feito”, conta Rita. Foram desenvolvidos trabalhos em classe, fizeram visitas, confeccionaram brin-

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quedos, tiveram palestras com técnicos da prefeitura e do IAP, a APM e a comunidade em geral esteve envolvida. “Essa união é que tornou tão válido o projeto visando o bem-estar de cada um com o pensamento no coletivo”, afirma Rita de Cássia. “Tem de se pensar no futuro, ou vai chegar um ponto que viveremos em ilhas com aterros em volta”, completa. Com os alunos ela iniciou um programa para separação do lixo. “Quando começamos foi bem sofrido, mas hoje a gente percebe que valeu a pena”, avalia Rita. A comunidade onde a escola localizava-se era rural e tinha poucos recursos e divertimentos. Todo o material que era obtido através da coleta seletiva ia para um depósito da prefeitura. Ao


Tem de se pensar no futuro, ou vai chegar um ponto que viveremos em ilhas com aterros em volta

cleonice aparecida alves palozi, Secretária da Educação de São Jorge do Patrocínio

final do projeto foram vendidos os materiais reciclados e com o dinheiro, somado a um complemento doado pela Associação de Pais e Mestres, foram comprados brinquedos para todos os alunos da escola. São Jorge do Patrocínio tem 6.030 habitantes. Mesmo após o encerramento do projeto na escola, a prefeitura continuou estendendo a coleta do lixo aos quarteirões, até alcançar o município todo, o que ocorreu só em 2006. Antes do projeto de Rita, a cidade tinha apenas um depósito de lixo. “Era um buraco aberto e tudo era colocado lá”, explica Gisele Petinele da Silva, Secretária de Meio Ambiente e Turismo do município. Com a proposta das professoras e a ideia de melhorar a questão do lixo, o município comprou um terreno, preparou-o e em 2008 inaugurou um aterro dentro dos padrões exigidos. Rita de Cássia é bióloga e leciona na rede municipal desde 1997. Está há cinco anos trabalhando na Escola Municipal João Batista de Mello. A docente, que trabalha com o Agrinho há mais de 10 anos, se sentiu ainda mais motivada a participar do concurso depois que um aluno foi selecionado com sua redação. “O Agrinho muda a maneira do professor ver a importância de trabalhar esses temas que são do cotidiano do aluno. Os manuais são excelentes, os textos são curtos. Embora o tamanho do livro do professor assuste um pouco, ele auxilia o embasamento do professor”. “Desde que começamos a trabalhar com o Agrinho, houve uma grande evolução em termos educacionais. Os alunos adoram a revistinha e o livro do professor é um grande diferencial que permite ir além, com trabalho de campo e pesquisa”, avalia a secretária de Educação de São Jorge do Patrocínio, Cleonice Aparecida Alves Palozi.

Caixa para lixo reciclável e lata para pilhas na secretaria de Meio Ambiente

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Programa

lixo bom vira lei Cap. Leônidas Marques

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Projeto virou notícia na imprensa local

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Professora Maria Madalosso e alunos Sacha, Clarisse e João Vitor, além do secretário de Educação Aires, no Parque das Águas criado após o Projeto Agrinho

A boa ideia e o projeto da escola alcançam o Diário Oficial


O

município de Capitão Leônidas Marques tem uma lei municipal que obriga a população a separar o lixo reciclável. Vista assim parece mais uma imposição. Mas antes da lei o município passou por um processo de conscientização da população, que começou com um projeto do Programa Agrinho desenvolvido pela professora Maria Aparecida Belançon Madalosso, em 2006, com os alunos da 2ª série da E. M. Terezinha Machado. Uma das atividades propostas ao longo do ano foi uma visita ao então prefeito, Claudio Miro Quadri, que adotou uma das sugestões apresentadas pelos alunos - a adequação do carrinho de coleta de lixo reciclável ao caminhão da coleta comum. “Tenho orgulho em saber que foi na escola que este trabalho começou, jogamos uma semente que cresceu e envolveu toda a comunidade”, revela Maria Aparecida. Entre os alunos que participaram do projeto estavam Sacha Kafer Moraes; Clarisse Rigo Sadoschi e João Vitor Casola. Na época eles tinham oito anos e enfrentaram o mesmo desafio, depois de conhecer as consequências negativas do lixo ao meio ambiente, convencerem as mães a separarem o lixo em casa. “A gente aprendeu um monte de coisas na escola. Era triste quando a gente chegava em casa e via que o lixo estava todo misturado. Mas eu não desistia, ia lá e separava tudo”, conta Sacha. Depois de explorar com sua turma o processo de separação do lixo, Maria Aparecida envolveu a escola e todo o lixo passou a ser separado. “Conseguimos vender o lixo reciclável para algumas pessoas que faziam este comércio. O dinheiro foi destinado à realização de uma festa no Dia da Criança com lanche diferenciado”. Além dos textos informativos a professora apresentou para os alunos alguns materiais produzidos após a reciclagem, como a telha feita com caixas de leite e os brinquedos e ornamentos feitos com garrafas pet. Os alunos produziram cartazes e colaram pela cidade, com o objetivo de esclarecer e conscientizar a população sobre a importância da separação do lixo reciclável. O projeto ‘Meio Ambiente e a Reciclagem de Lixo’ também promoveu uma visita dos alunos a uma nascente d’água. “Eu achava que não era mais possível tomar água de uma nascente. Depois de visitar a mina plantamos algumas árvores, foi a parte do projeto que mais me marcou”, conta João Vitor. A visita à nascente também rendeu frutos para

Alunos levam sugestões para o prefeito da época

Um dos resultados do projeto foi a criação do carro-coletor de lixo orgânico e reciclável

a comunidade. A prefeitura tomou conhecimento e resgatou outras nascentes, criando até o Parque das Nascentes. “Neste local foram detectados mais de 10 olhos d’água, mas a população jogava lixo e não cuidava do local. O município se sensibilizou e recuperou a área criando um novo espaço de lazer para a comunidade”, diz o secretário municipal de Educação, Aires Balestrin. Uma apaixonada pelo magistério, Maria Madalosso, desenvolveu vários projetos com a metodologia Agrinho. Em 1998, o projeto desenvolvido foi com o tema Saúde Bucal, que lhe deu a oportunidade de ganhar o primeiro e único automóvel, que teve na vida. “Curti o meu presente durante um ano. Depois tive que fazer uma escolha para conquistar minha casa própria. Como lembrança do prêmio guardei uma das chaves do carro que tenho até hoje, mas o Agrinho me acompanhou na carreira proporcionando momentos especiais”.

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Economia de água A motivação para evitar o desperdício do bem mais precioso do homem

paranavaí

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A

professora Márcia Maria Moreira Rocha desenvolveu, em 2009, um projeto para estimular os alunos da 3ª série da Escola Municipal Cecília Meireles, em Paranavaí, no noroeste do Estado, a mudar hábitos e atitudes. O objetivo foi de ensinar o que deveria ser feito por todos para evitar uma provável escassez do líquido para as gerações futuras. O projeto foi desenvolvido aliando o conteúdo de Ciências da série ao Programa Agrinho. A turma visitou a nascente do rio Suruguá, onde viram a mata ciliar preservada na margem do rio e ouviram a explicação dos técnicos da Emater sobre a degradação das margens das nascentes, poluição e cuidados gerais com a água. As crianças viram lixo jogado a menos de 100 metros do rio. “As crianças ficaram assustadas”, conta Márcia. A professora solicitou que os alunos levassem as contas de água do mês de maio para a sala de aula. Analisaram o consumo referente a cada domicílio, levando em conta quantas pessoas moravam nela. Cada criança encarregou-se de monitorar o consumo de água de forma racional em sua casa. Mais tarde, comparou-se a conta de maio com a de julho e de setembro. Cada pai foi responsável por preencher uma ficha ao final do projeto, avaliando a

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Fotos do projeto de economia de agua Pvai


Turma de alunos de 2009 da professora Márcia

participação da criança na escola e em casa. Depois de todo o trabalho de pesquisa feito com os alunos, o levantamento demonstrou que cerca de 80% das famílias reduziram o consumo de água no período. “Seria bom que cada um fizesse a sua parte e economizasse água, senão, um dia pode acabar”, diz Jéssica de Oliveira Nascimento, 10 anos, ex-aluna de Márcia, que participou do projeto em 2009. “Esse ano fiz o projeto de novo e está melhor ainda. Descobrimos uma senhora de 80 anos que mora na comunidade, e ela contou aos alunos como era quando ela chegou aqui em 1955”, diz a professora. Foram feitas parcerias com a Sanepar, a Emater e a Secretaria de Educação e em 2010 também com a Secretaria de Meio Ambiente de Paranavaí. Foi a primeira experiência de Márcia no Agrinho, que é professora há 18 anos e estava há dez anos trabalhando na Secretaria da Educação. “O programa é maravilhoso e esse ano os bonecos vi-

Professora Márcia analisa conta de água dos alunos e dá continuidade ao projeto em 2010

sitaram a escola. Isso deu uma outra motivação para as crianças”, relata Márcia. “Eles olham com outro olhar, é motivador”, completa. Cerca de 40 alunos estiveram envolvidos com o projeto, que influenciou a todos os 350 alunos da escola. Esse ano são 60 alunos e um total de 500 alunos envolvidos. No passado a escola passou por uma reforma, e as turmas das 3ª e 4ª séries precisaram ter aulas no fundo da Igreja Presbiteriana de Paranavaí. “Foi um ano difícil, mas as professoras não se desmotivaram. Mesmo com a reforma a professora conseguiu realizar esse trabalho com os alunos, a Márcia é muito dedicada”, diz a diretora Rosangela Aparecida Berto Cassorillo. “O Agrinho é um projeto que só traz coisas a mais. A revista é educativa, os alunos gostam, eles leem, contam em casa. Auxilia no desenvolvimento cognitivo da criança. É um parceiro de primeira qualidade”, afirma Rosangela.

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mem贸ria fotogr谩fica

Imagens que marcaram os 15 anos de hist贸ria do programa Agrinho

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mem贸ria fotogr谩fica

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mem贸ria fotogr谩fica

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Hist贸rias pessoais Nas pr贸ximas p谩ginas, o relato de personagens que atuaram em projetos do Agrinho e mudaram o rumo de suas vidas

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AGRINHO EM FAMÍLIA

Uma das tias de Carla, Rosa de Fátima da Silva (a esq. na foto), é professora da Educação Especial em Porto Amazonas e também já foi premiada em 2006 no Programa Agrinho. “Ganhei um micro-ondas e adorei meu presente. O mais importante no projeto não são os prêmios e sim a motivação que temos para desenvolver nosso trabalho, principalmente na Educação Especial onde as dificuldades são maiores”.

Com a premiação do Agrinho, Carla se tornou uma aluna muito mais dedicada

Porto Amazonas

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A

CARREATA

do Agrinho Da pequena Porto Amazonas à universidade pública

C

om uma frota de 335 automóveis, Porto Amazonas recebeu com uma carreata, em 2000, a campeã estadual em redação do Programa Agrinho Carla Franciane da Silva. A menina, então com oito anos, cursava a 2ª série e lembra que naquele dia acordou de madrugada, foi ao salão arrumar o cabelo e estava pronta às 5h da manhã esperando o ônibus que ia buscá-la junto com os pais para a festa da premiação. “Esperamos um tempão, mas o ônibus não passou. Acabamos indo de carona com o prefeito”. Apesar do ‘esquecimento’ o dia foi de glória para ela, que além de ser premiada com um computador, um curso básico de informática e um aparelho de TV 14 polegadas, participou de um passeio aos pontos turísticos da capital. Mas as emoções daquele dia não tinham acabado “quando voltamos à cidade, em cada esquina, tinha um povo soltando foguete e uma faixa em frente a minha escola. Nunca tinha visto o Porto daquele jeito, foi demais”. Carla já tinha pedido ao seu pai, naquele ano, de presente de Natal um computador, “mas naquela época computador era coisa de gente rica, meu pai já tinha me dito que não ia ser possível. Depois do Agrinho fiquei me achando. Minha casa virou ponto turístico, cada dia vinha um amigo para ver o computador. Até alguns parentes que moravam em Curitiba vieram me visitar para ver o meu presente”. A mãe, Bernadete Rodrigues da Silva, conta um segredinho. A filha ficou tão feliz com o prêmio que um dia ela flagrou a menina deslumbrada na frente do computador desligado. A televisão, ainda está na família, na época ela deu de presente para a avó Maria de Lourdes da Silva, 73 anos. O computador tinha até o ano passado, mas acabou trocando por um com uma configuração melhor. Mas frutos do Agrinho não ficaram limitados aos prêmios. A partir desta conquista ela se tornou uma aluna mais dedicada e motivada a estu-

dar, a descobrir novas coisas. “A professora Ivone Hoffmann era bem enérgica, ela cobrava mesmo, mas foi bom porque assim eu me dediquei mais, principalmente em matemática e português”. A vitória de Carla ficou registrada na imprensa local e ela guarda além das lembranças, as reportagens da época. “Não posso deixar de lembrar e agradecer ao prefeito Ademir Schulli, que organizou uma recepção calorosa para mim e minha família. Foi uma coisa que marcou a gente de uma maneira muito positiva.” Depois do Agrinho Carla ganhou outros concursos. Em 2006, na Feira Consciência, evento organizado em todo o Paraná com o objetivo de desenvolver o lado cultural e artístico dos alunos da rede pública estadual, sua turma ficou em 1º lugar com o projeto sobre o bicho-da-seda. Em 2007, ela desenvolveu outro projeto com texto e maquete sobre folclore, apresentado na Universidade Estadual de Ponta Grossa. Este ano Carla passou no vestibular da Pontifícia Universidade Católica - PUC, em Curitiba, no curso de Odontologia, mas infelizmente não tem condições financeiras para bancar as mensalidades. Recém-casada vai se mudar para Curitiba e pretende fazer um cursinho pré-vestibular para ingressar em uma universidade pública. “Minha tia chegou a se oferecer para pagar um curso de pedagogia no município da Lapa, mas eu não aceitei. Quero mesmo é odontologia, ela ia jogar dinheiro fora e eu não ia fazer com vontade.” Carla com a avó, Maria de Lourdes: a família mantém o prêmio até hoje

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o n e u q e p o O sonho d

g n a g n i ka

C창ndido de Abreu

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A internet e a habilidade pelo desenho na reserva

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Silas com a m찾e, Lucia, e os irm찾os Gelson e Ros창ngelo: quero ser professor na aldeia


Programa Agrinho contribui para educação na Reserva Indígena de Faxinal

N

a Reserva Indígena de Faxinal, a 12 quilômetros do município de Cândido de Abreu, vivem 680 índios Kaingangs numa comunidade de 120 casas de alvenaria - que foram construídas há seis anos. Antes eram ranchinhos de sapé - espalhadas pela reserva de 860 alqueires. A aldeia tem uma escola com turmas de educação infantil até o 2º grau, cadeia, posto de saúde e um centro cultural. Na tribo o que prevalece é a igualdade e união entre os índios, entre eles o adolescente Silas Kogmu Glicério, 12 anos, um dos finalistas no Programa Agrinho em 2006. Silas conquistou o 1º lugar de redação com o tema Meio Ambiente, desenvolvido a partir de pesquisas sobre a questão do lixo, o que lhe trouxe preocupação com o problema. Como finalista ganhou um computador e uma televisão. A TV foi para sua casa, mas o computador “por medo de estragar” ele guarda até hoje na escola. Atualmente Silas estuda à noite, mas passa a maior parte do dia navegando na internet ou jogando futebol. “Quando dá seis e meia da tarde, ele fica triste porque é hora de sair do computador”, comenta a professora Teresa Schactae. A mãe de Silas, Lucia Foryg Prag Lucas, se orgulha dos três filhos - Gelson Rakay Glicério, Rosângelo Glicério e Silas - principalmente dos planos do mais velho para o futuro. “Quero continuar estudando e ser professor aqui na aldeia”, conta o adolescente. Ele segue a vocação de outros índios. A escola rural tem quatro professores indígenas, que atuam nas sé-

ries iniciais e em uma sala de reforço. Trabalham ensinando, principalmente a língua Kaingang, pois a língua é falada mas pouco escrita. Teresa, professora da Fundação Nacional do Índio – Funai, trabalha nesta aldeia há 28 anos e revela algumas características e curiosidades indígenas. Os índios são exímios desenhistas, talento registrado no livro “Kaingang de Faxinal - nossos conhecimentos e nossas histórias antigas” publicado, este ano, pela Editora da Universidade Estadual de Maringá. Além do registro escrito de lendas, hábitos, receitas e costumes todas as ilustrações foram feitas pelos próprios índios. Com traços simples, mas com grande riqueza de detalhes.

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Descobrindo

talentos O talento para escrever despertado pelo Agrinho

Siqueira Campos

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S

helley Christina Gois de Oliveira pode não lembrar exatamente cada estrofe do poema que lhe rendeu o primeiro lugar no prêmio Agrinho de 1999, afinal era uma criança de 10 anos. Mas de uma coisa ela não esquece: o talento que descobriu em si própria após o concurso. “Sabia que tinha potencial, mas era muito tímida. Vencer o Agrinho me ajudou a acreditar mais em mim”, afirma a garota. Representando a Escola Municipal José Afonso, em Siqueira Campos, na região Norte do Estado, Shelley conquistou a primeira colocação na categoria de redação com uma poesia que falava sobre a saúde de forma geral. “Eram quatro estrofes escritas em uma folhinha de caderno”, lembra. Ela e a professora Cleusa Maria Ribeiro Ferreira ganharam um computador cada uma e o mais importante: o reconhecimento de toda a escola. “Quando cheguei a Siqueira Campos, após a viagem de Curitiba, vi a homenagem que meus colegas haviam feito para mim”, recorda Shelley.

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As crianças da mesma turma haviam pendurado nas paredes da sala de aula, cartazes coloridos, com desenhos e frases, feitos por eles próprios. “Era uma homenagem para ela. Estavam todos orgulhosos”, lembra a professora. O Agrinho, segundo Shelley, levantou sua autoestima. “Sempre gostei de escrever, mas passei a ter mais confiança e acreditar que era capaz de verdade”, considera. A premiação foi fundamental para que ela confirmasse o talento com o texto. A partir do concurso, a garota não parou mais de escrever e começou a se empenhar em concursos culturais pela internet. Ela ativou a criatividade e já faturou mais de 30 prêmios criando frases para propagandas de produtos e promoções. Os prêmios já estão se acumulando. “Ganhei uma TV de LCD, um notebook, vale-compras em lojas de roupas, edredom”, conta, fazendo um esforço para lembrar tudo que vem conquistando.

Professora Cleusa (na outra página) e Shelley: primeiro lugar no Agrinho levantou a autoestima

resultado até hoje O interesse pela poesia veio com leitura de textos do poeta Carlos Drummond de Andrade e pelo incentivo da mãe, que dava dicas à filha sobre como rimar as palavras. Atualmente a criatividade de Shelley na poesia e nas frases promocionais também está sendo aplicada nos estudos. Ela está no quarto ano de Psicologia da Faculdade Integrada de Ourinhos, em São Paulo, a 100 quilômetros de Siqueira Campos. O feito da garota é lembrado até hoje entre os novos alunos da Escola Municipal José Afonso. A professora Cleusa, que ainda leciona na instituição, conta que a conquista de Shelley é lembrada como um exemplo para as outras crianças. “Nunca vou esquecer a emoção que sentimos no dia da premiação. Quando você vai uma vez faz o possível para voltar sempre”, diz Cleusa. “É por isso que a escola tem participado do Agrinho todos os anos”.

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Compostag nas escolas Londrina dá o exemplo adotando o método em toda a rede municipal

Q

londrina

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uando começaram a realizar o projeto “Compostagem, uma alternativa para o lixo orgânico” com os alunos da Escola Municipal Carlos Kraemer, de Londrina, as professoras Suelan Petrini e Regina Aparecida de Oliveira, nem imaginavam a dimensão que o trabalho teria na cidade. Ainda mais depois do 5º lugar no Agrinho, em 2009, quando esperavam a primeira colocação. “Estávamos chateadas, pois sonhávamos com o primeiro lugar. Mas a participação no Agrinho ganhou tamanha repercussão na cidade, quase não acreditamos”, lembra Suelan, que atualmente dirige a escola. A surpresa veio assim que voltaram de Curitiba. O feito da escola foi noticiado em diversas mídias locais. Todos queriam conhecer o projeto, inclusive o prefeito Barbosa Neto e sua equipe de governo.

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“O prefeito trouxe secretários de Meio Ambiente, Educação e Agricultura para verificarem a viabilidade de implantação do projeto em outras escolas”, relata. O interesse foi tão grande que o prefeito determinou que todas as escolas da rede municipal aderissem ao projeto, tendo composteiras instaladas para reutilizar os próprios resíduos

As professoras Regina e Suelan não imaginavam a dimensão que o projeto teria


gem orgânicos. As duas professoras ficaram com a missão de repassar a experiência para os docentes das outras escolas. “Até hoje não acredito na dimensão que o projeto teve”, diz Regina. Até agosto de 2010, a prefeitura já havia inaugurado composteiras em quatro escolas. De acordo com o professor Célio Camilo, supervisor do projeto pela Secretaria Municipal de Educação, a expectativa é que até o final do ano outras 66 sejam instaladas. “Além das escolas, a comunidade também está procurando a prefeitura em busca de informações sobre a compostagem. Todos estão se envolvendo”, comenta o professor. A ideia de utilizar o lixo orgânico partiu da ex-diretora Neri Cazarim Barrozo Cavalcanti. Ela conhecia um projeto de compostagem na escola desenvolvido pelo professor Efraim Rodrigues, da Universidade Estadual de Londrina (UEL), e resolveu aplicar com os alunos. “Ela foi uma líder, encarou a situação, comprou a ideia e uniu a equipe para que fizessem”, destaca Suelan. Para envolver os alunos, as professoras fizeram pesquisa de campo. “Eles ficaram assustados com a quantidade de lixo”, lembra Regina. Depois conferiram o que era produzido na escola. Só com os resíduos da merenda, eram cerca de 10 quilos de lixo orgânico por dia. Logo que montaram a composteira, as crianças começaram a separar os restos da merenda e levar para a compostagem. O tema foi trabalhado de forma transversal nas disciplinas. Numa aula de matemática, por exemplo, as frações vieram em forma de pizza de rúcula com tomate seco. A rúcula já era ‘fruto’ da hortinha cultivada pelos alunos com o adubo proveniente da compostagem. “As disciplinas não são gavetinhas fechadas. Você pode trabalhar de forma transversal diversos temas e o Agrinho ajuda muito nisso. Tiramos as disciplinas da vida dos alunos”, destaca. Na escola, tudo foi documentado. Fotos ilustram cartazes que mostram as etapas do projeto, desde a visita ao aterro até a visita do prefeito, que culminou com a irradiação do projeto para toda a cidade. Hoje os 500 alunos participam do projeto. Cada dia uma turma leva os resíduos para a composteira, instalada nos fundos da escola. O adubo é utilizado na horta, também mantido por eles. Lá são encontradas ervas como melissa, capim limão, arruda e hortelã.

Cada dia uma turma de alunos leva o lixo para a composteira. Participação das crianças é grande e muitos aplicam a ideia em casa

A adesão das crianças foi tão grande, que muitos já expandiram a ideia. “Nós fizemos uma minicomposteira em casa. Lá tudo é separado e eu ajudo minha mãe”, conta a aluna Millena Leite Saraiva, da 3ª série. “O projeto contagiou a comunidade. Sentimos uma mudança imensa no relacionamento com a escola. A conscientização das crianças é fundamental para que repassem aos pais”, considera Suelan.

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A criatividade da professora e a motivação da aluna Uma combinação de sucesso

moreira sales

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Cada ano o Agrinho vem com um tema diferente, é uma forma de educação mais profunda

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Pollyana exibe redação e homenagem da Prefeitura, ambos enquadrados


Redação premiada da aluna Pollyana de Moreira Sales

P

ollyana Iranzo, moradora de Moreira Sales, em 2004, tinha 12 anos quando ficou em primeiro lugar em nível regional e estadual na categoria redação do Concurso Agrinho, com o tema Cidadania na Escola. Cursava a 6ª série do Ensino Fundamental na Escola Estadual Moreira Sales. Como prêmios, ela ganhou uma TV e um computador e aprendeu uma lição importante: a cidadania e o respeito são direito de todos. “Aprendi que ser cidadã(ão) é respeitar leis, regras e ter um comportamento humano com outras pessoas. Isso eu trouxe para a minha vida”, conta Pollyana. “O princípio da cidadania é o respeito às leis e ao meio ambiente”, completa. A estudante lembra que se interessou em participar do concurso, quando a professora mostrou o material do Agrinho daquele ano em sala. Ela leu o livro do programa e escreveu seu texto. Entendia que a cidadania na escola começava com atitudes simples, como jogar o lixo no lixo e respeitar professores e funcionários. Corrigiu várias vezes até chegar à redação final. A professora dela na época, Edna Filipim, conta que a aluna tinha dificuldade na escrita. “Mas quando pegava algo para fazer, não deixava pela metade, fazia mesmo”, lembra Edna. Quando soube que tinha ficado em primeiro lugar, Pollyana não acreditou. “Foi surpreendente para uma adolescente como eu ganhar o concurso, algo incrível”, afirma. A redação vencedora foi enquadrada em uma moldura azul, assim como a homenagem recebida da prefeitura pela estudante. Estudar com o material do Agrinho era criativo em sala de aula. “Cada ano o Agrinho vem com um tema diferente, é uma forma de educação mais profunda e de o professor incentivar mais os alunos através de didáticas diferentes”, diz ela. A professora Edna explica a importância das revistas do Agrinho ao trabalhar um tema como este: “Se você não mostrar para o aluno através do material, como pedir para a criança escrever sobre cidadania?”.

Hoje Pollyana tem 18 anos, mora com os pais e uma irmã, trabalha o dia todo como vendedora em uma sapataria e à noite cursa Geografia na Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão. Seu sonho é trabalhar em uma ONG na área de Meio Ambiente. A professora Edna é uma entusiasta do programa Agrinho, desde que recebeu o envelope e caixas com materiais do programa pela primeira vez, quando era coordenadora da Escola Leonilda Moreira Sales, em 1999. Ao voltar à sala de aula como professora de Língua Portuguesa, usou as revistas do Agrinho no trabalho de escrita, oralidade e em debates. Os prêmios vieram - foram cinco no total. “É uma emoção única”, ela diz. Em 2005, a professora alcançou o segundo lugar em Experiência Pedagógica com o tema Cidadania Fiscal, e fez questão de levar sua mãe para vê-la receber o prêmio. Desde 2007, Edna mora em Goioerê, onde é coordenadora do Núcleo Estadual de Educação, que envolve nove municípios. Formada em Letras, com Pós em Linguística Aplicada na Língua Estrangeira, é professora há 25 anos. Recentemente fez um curso para contar histórias e escreveu a sua com o Agrinho. Durante a semana pedagógica de agosto de 2010, Edna apresentou sua história às demais professoras da região. Edna foi professora da Pollyana e é uma entusiasta do programa

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parceiros A corrente do bem

A

vitoriosa jornada do Agrinho tem um componente fundamental, os parceiros do SENAR-PR. Por exemplo, o empresário Shunji Nishimura, da empresa Jacto com sede em Pompéia (SP), falecido aos 99 anos no último dia 23 de abril. “Ele sempre apoiou ações do SENAR-PR voltadas para a formação do agricultor, antes mesmo do Agrinho, mas ao participar de um evento de premiação Nishimura captou e compreendeu o grande significado de investir nas gerações futuras”, lembrou Alberto Honda, diretor da Fundação Shunji Nishimura. Hoje a Fundação mantém uma escola de ensino fundamental, uma escola profissionalizante, uma escola do Senai e um curso universitário. Outro grande parceiro do Programa Agrinho é a Associação Nacional de Defesa Vegetal - Andef, que sempre apóia iniciativas que contribuem para a sustentabilidade do meio rural. “A arte de educar em nosso país é muito difícil, ainda mais quando se fala em educação no meio agrícola. A educação é a base para que o país possa se tornar referência: em saúde, ciência e geração de tecnologias. O Agrinho identificou estes pontos há muitos anos, e isto foi fundamental”, diz o gerente de Educação da Andef, José Annes Marinho. A Receita Federal, da mesma forma, também é parceira do Programa. “Apoiamos todas as iniciativas para valorização da cidadania e temos uma admiração especial pelo Agrinho. O trabalho, desenvolvido com professores e alunos em temas tão importantes oferecem uma contribuição efetiva na formação da nossa sociedade, proporcionado maior consciência social para o Brasil”, afirma o chefe substituto da 9ª Superintendência da Receita Federal, Carlos José de Oliveira. Além da parceria com o Agrinho a Receita desenvolve projetos referentes à Educação para a Cidadania com o Programa Nacional de Educação Fiscal - PNEF. O SENAR-PR buscou o apoio de instituições chaves para respaldar a iniciativa inovadora, como foi o caso do Ministério Público do Trabalho. Hoje os resultados

do programa são compartilhados com estas instituições. Para o Procurador-Chefe do MPT/PR, Ricardo Bruel da Silva, o Agrinho é um exemplo a ser seguido. “É uma enorme satisfação ser parceiro em um projeto social tão importante para o Estado. A relevância do Agrinho está na sua contribuição para melhorar as condições de educação, formação profissional e inserção regular de jovens no mercado de trabalho no Paraná. Além disso, o programa distribui materiais atuais e interdisciplinares para alunos de escolas públicas e privadas e capacita educadores, sem nenhum ônus”. O Banco do Brasil, através da Superintendência, tem estreita relação com a iniciativa do SENAR-PR, como explica o gerente de Mercado Agronegócio, Cezar de Cól. “Para o Banco do Brasil é muito importante estar ao lado do Programa Agrinho, que é fruto da visão de um futuro sustentável, onde às crianças e jovens aprendem ser possível viver preservando o meio ambiente, consumindo seus recursos naturais em equilíbrio, sem prejudicar as gerações futuras”. Para o superintendente substituto do Ministério do Trabalho e Emprego, Elias Martins, que acompanha o Agrinho há alguns anos, e se declara um entusiasta do programa. “Não podemos nunca nos afastar do SENAR-PR, por mais que a instituição seja autossuficiente devemos continuar juntos. Como entidade pública temos a obrigação de apoiar e valorizar iniciativas como esta. Com a parceria temos não uma porta, mas sim um porteira aberta para contribuir para o desenvolvimento do produtor rural e sua cidadania preparando-o para a vida seja ela no campo ou na cidade”, completa. A empresa Dow AgroSciences também faz história com o programa Agrinho, está junto com o SENAR-PR desde o projeto-piloto em 1995. “O Agrinho vai ao encontro das metas de sustentabilidade da Dow AgroSciences, que se empenha em elevar a conscientização do impacto da ação humana no ambiente”, completa o diretor de Registro e Relações Governamentais, Mário Von Zuben.

INSTITU TO NACIONAL DO SEGUR O SOCIAL

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DEPOIMENTOS Uma parceria de sucesso

E

m mais um ano de parceria com o SENAR-PR, a Itaipu Binacional renova seu compromisso com o programa Agrinho, com um objetivo da maior relevância nos dias atuais, que é trabalhar a questão da sustentabilidade junto às crianças e jovens em idade escolar. A empresa apóia a iniciativa em sua área de influência, composta por 29 municípios do Oeste Paranaense, ajudando a promovê-la nas escolas da região. É um programa que tem muito a comemorar. A cada ano que passa, atinge mais e mais crianças. Em sua 14ª edição, em 2009, chegou a praticamente todo o Paraná. Foram mobilizados milhares de professores e 1,6 milhão de alunos de todos os municípios paranaenses, envolvidos em 5,5 mil trabalhos. A Itaipu está envolvida com a iniciativa desde 2003. Minha relação com a FAEP vem de longa data. Na verdade, vem desde o meu pai, que chegou a presidir o Conselho Fiscal da FAEP. Pode-se dizer que é uma relação de sangue. Após assumir o cargo de diretor da Itaipu, foi fácil perceber que o Agrinho tinha tudo a ver com os projetos de Educação Ambiental que são promovidos no âmbito do Cultivando Água Boa, nosso programa socioambiental, que abrange 20 projetos e mais de 2 mil parceiros na região.

O Cultivando Água Boa e o Agrinho compartilham os ideais de que a construção de uma sociedade mais justa e em maior equilíbrio com o meio ambiente passa necessariamente pela educação, com ênfase na capacitação de professores e no estímulo aos alunos para trabalharem com a questão socioambiental. Essa tem sido a tônica do programa socioambiental da Itaipu em suas ações nas escolas da região, associadas à proteção de nascentes, a recuperação de matas ciliares, a readequação das práticas agrícolas e a promoção de novos modos de viver, produzir e consumir. O Agrinho tem um alcance fantástico. Afinal, são 100% dos municípios paranaenses envolvidos e graças a esse excelente trabalho do Sistema FAEP. Aliás, eu gostaria de parabenizar o Ronei Volpi e toda a sua equipe. A Itaipu tem muito orgulho de apoiar e fazer parte dessa empreitada. Jorge Miguel Samek, diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional

“Sempre estivemos juntos”

N

asci e cresci no campo, sou extensionista da Emater e fui secretário da Agricultura. Assim, sei muito bem do perigo que representa o uso e a manipulação incorretos de agrotóxicos, que terminam por contaminar e afetar gravemente a saúde de nossos agricultores. Esse sempre foi uma das graves ameaças á saúde dos trabalhadores rurais. Felizmente, esse panorama começou a mudar há 15 anos, com o lançamento do Agrinho, uma bela iniciativa da nossa FAEP e nosso SENAR-PR voltados às nossas crianças do ensino fundamental. O Estado do Paraná sempre esteve ao lado do programa, com nossos professores colaborando na elaboração de material pedagógico, além da participação de

técnicos de várias secretarias avaliando e premiando trabalhos de prevenção produzidos pelos estudantes. Por isso, é com muita alegria que eu aproveito para dar os parabéns ao Sistema FAEP e a todos os envolvidos no Agrinho. Tendo minhas raízes no trabalho com a terra, como já disse, esse programa tem muito de especial para mim, que conheci de perto o drama da contaminação por agrotóxicos. A vocês, meus amigos, muito obrigado pela parceria, e contem conosco. Um abraço, Orlando Pessuti, governador do Paraná

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senar-PR

O material pedagógico Métodos pedagógicos, embasamento teórico, textos elaborados

A

o longo destes 15 anos o material pedagógico do Programa Agrinho foi sendo aperfeiçoado e atualizado. Além de novos formatos gráficos, tanto o material do professor como o dos alunos, passaram por cinco atualizações. Atualmente o professor que participa do programa recebe dois livros: um com as metodologias pedagógicas e outro com embasamento teórico sobre as temáticas abordadas pelo Programa. Os materiais produzidos para os alunos também foram reformulados e novas atividades foram acrescentadas. Hoje os alunos da educação infantil e educação especial têm um material mais visual, os alunos dos 2ª a 5ª anos recebem revistas editadas por série e os adolescentes, de 6ª a 9ª anos, recebem revistas com textos mais elaborados semelhante ao formato de revistas jornalísticas semanais.

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História

No primeiro ano do programa, 1996, o kit de material era composto de uma apostila para o professor e dois materiais para os alunos sobre a temática ambiental, de extrema gravidade no meio rural - o da contaminação da população por agrotóxicos. No ano seguinte foram acrescentados novos temas - Saúde Bucal e Saúde da Criança e novas revistas foram editadas. Também foram produzidos jogos e passatempos como material complementar. “Desde o princípio os materiais foram idealizados para contribuir na formação de alunos e professores pesquisadores”, explica Patrícia Torres, coordenadora do programa. A inclusão de novos temas foi ocorrendo ao longo das revisões. Em 1998 o material dos alunos ganhou um novo formato gráfico. O tema Meio Ambiente recebeu uma nova abordagem refletida nos


Patrícia: “compromisso com a qualidade e busca pela inovação”

materiais dos alunos que passam a ser subdivididos em: Solo, Água, Clima, Agrotóxico e Biodiversidade. O tema Saúde foi composto por: Saúde da Criança, do Jovem e Odontologia Preventiva. Os adolescentes ganharam também o jornal Ordem e Progresso, que abordava o tema Civismo. “O processo de produção de novos materiais é complexo e demanda tempo. A cada inserção de novos temas e atualização dos materiais são necessárias várias etapas: avaliação, pesquisa, definição de diretrizes e produção final”, diz Patrícia. Em 1999, os gestores do programa criaram mais uma categoria de participação para os professores, além da Redação e Desenho que envolve os alunos, entra em cena a Experiência Pedagógica, onde o projeto proposto e desenvolvido envolve a escola como um todo. No ano seguinte é criada mais uma categoria de premiação - Município Agrinho, onde é avaliado o envolvimento da comunidade municipal como um todo. Em 2000 mais uma vez o formato gráfico é readequado e os sub-temas são agrupados em uma só revista. O material do professor também recebe uma nova reformulação. A equipe pedagógica continua trabalhando e em 2003 foi lançada a quarta edição do material pedagógico. A principal mudança acontece no material do professor que ganha formato de livro reunindo todos os temas até então trabalhados, acrescidos do tema transversal Trabalho e Consumo. Após um amplo processo de avaliação do programa, que começou em 2006 e terminou em 2007, é lançado o quinto kit de material.

A pedagoga Josimeri Grein, uma das responsáveis pelo Agrinho

Os professores recebem dois livros: um com as metodologias pedagógicas e outro com embasamento teórico sobre cada um dos temas transversais propostos nos Parâmetros Curriculares Nacionais. Para os alunos são produzidas revistas diferenciadas por faixa etária. Outra grande mudança é que o material passa a ser organizado por série e não mais por tema. A família Agrinho ganha mais um integrante o irmão mais novo Nando. “Ao longo destes 15 anos, de todo esse processo de avaliação e produção de materiais, resta a certeza que o Programa Agrinho, mantém o compromisso com a qualidade, a melhoria constante e a busca pela inovação.” destaca Patrícia.

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CAPACITAÇÃO

Para participar do Agrinho todo início do ano a Secretaria de Educação do município ou o Núcleo Regional assinam um termo de adesão com o SENAR-PR. A partir deste cadastro o SENAR-PR recebe o número de professores e alunos participantes para que sejam produzidos os materiais didáticos e sejam organizadas as capacitações para os professores. O material é entregue nas escolas pelo Sindicato Rural. As capacitações para os professores podem ser de quatro ou oito horas e são feitas pela pedagoga Josimeri Aparecida Grein ou por outros 16 instrutores mantidos pelo SENAR-PR. Na capacitação de quatro horas os professores conhecem a história do programa, seus objetivos, a metodologia de trabalho. Nos cursos de oito horas o que difere são as oficinas onde os professores escolhem uma das técnicas, geralmente é sugerida a metodologia de projetos que tem uma maior abrangência. Os professores ao longo do desenvolvimento do projeto podem tirar suas dúvidas com os supervisores regionais, com a pedagoga Josimeri ou por meio do site.

AVALIAÇÃO DOS TRABALHOS

Cada redação ou desenho produzido pelos alunos para concorrer deve seguir alguns critérios. Devem ser enviados sempre os originais, no caso das redações elas devem ser manuscritas, nenhuma redação digitada é aceita. A data limite é um critério de eliminação os prazos devem ser cumpridos. Até o ano passado, junto com cada trabalho a escola tinha que preencher um formulário e anexar ao trabalho. Este ano, por motivos de economia de trabalho, este formulário é preenchido de maneira digital, ao final é gerado um número de inscrição que deve ser impresso e anexado ao trabalho. Para cada segmento os critérios de seleção são diferentes. O regulamento está no site a dispo-

sição de qualquer participante. Para as redações são avaliados: observância em relação ao tema; objetividade; clareza nas ideias e apresentação, o trabalho não deve ter rasuras. Para as redações dos alunos de 2ª a 5ª ano. “O que vale é a criatividade da criança”, explica Josimeri Aparecida Grein. O processo de seleção é uma grande maratona que leva em torno de 15 dias. A banca é composta de técnicos do SENAR-PR, parceiros, como professores das Secretarias Estaduais da Educação, Meio Ambiente e Agricultura, professores dos setores de Educação das universidades UFPR e PUC. As redações passam pela avaliação de sete profissionais, que de forma anônima avaliam os textos. A cada etapa as notas vão sendo digitalizadas e ao final é feita a média ponderada. Banca de 2010, formada por uma equipe multidisciplinar

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DVD Encartado nesta edição, há um vídeo resgatando os principais momentos desses 15 anos de história do Agrinho. Mas essa história continua...

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