Revista Sindipi Nº 32

Page 1

Fechamento autorizado. Pode ser aberto pela ECT

Revista

Janeiro/Fevereiro de 2009 - Ano VII - Número 32

9912228749/2008-DR/SC

SINDIPI

Camarão

Iguaria de dar água na boca

ENTREVISTA MAURO BALLESTER

MÃO-DE-OBRA NORDESTINA

CONFRATERNIZAÇÃO SINDIPI

e muito mais


2

Revista SINDIPI


Índice Roberto Wahrlich

Editorial....................................................................................................................4 Palavra do Presidente ..........................................................................................6 Entrevista - Mauro Cândido Figueiredo Ballester....................................................8 Especial - Cerco: setor produtivo e Ibama discutem sardinha....... ......................12 Entidade................................................................................................16 Espécie - Camarão: o mais cobiçado na gastronomia brasileira....................20

Especial - A pesca da sardinha

Arrasto - Reuniões das câmaras setoriais.............................................................24 Marcello Sokal

Pesquisa - Desenvolvimento de novos produtos ao consumidor.......................26 Consumo - Inovação tecnológica e o impacto no consumo.............................28 Economia - Setor pesqueiro vive dias de angústia............................................30 Economia - Força nordestina na indústria pesqueira do Sul................................32 Educação - O mar como sala de aula....................................................................34 Turismo - Lages: capital nacional do turismo rural..................................................36

Espécie - Delícia de camarão

Arte - O mar como inspiração...............................................................................38 Livro - Vidas separadas pelo mar.......................................................................40 Gastronomia - Receitas com camarão...............................................................42 Eventos - Confraternização dos associados do Sindipi....................................46 Mensagem - Esperança.........................................................................................50 Pesquisa - Novos produtos

A Revista Sindipi é uma publicação do Sindicato das Indústrias da Pesca de Itajaí e Região Diretoria do Sindipi: Dario Luiz Vitali (Presidente); Giovani Genázio Monteiro (Vice-Presidente); Edson Vaz Pires (Tesoureiro)- Departamento Jurídico: Marcus Vinícius Mendes Mugnaini(OAB/SC 15.939)- Sede: Rua Lauro Muller, 386, Centro, Itajaí, Santa CatarinaCep:88301-400; e-mail: sindipi@sindipi.com.br- Fone: (47)3247-6700 site: www.sindipi.com.br. Coordenação Editorial: Dario Luiz Vitali. Jornalista Responsável: Daniela Maia (SC.01259-JP); Colaboração: Almeri Cezinho, Sheila Calgaro, Michele Anacleto, Roberto Wahrlich. Designer Gráfico: Geraldo Rossi; Direção Comercial: SINDIPI; Fotografia: Marcello Sokal e divulgação; Revisor: João Francisco de Borba; Impressão: Gráfica Impressul - Circulação: setor pesqueiro nacional, profissionais do setor, parlamentares, imprensa.

As matérias jornalísticas e artigos assinados na Revista Sindipi somente poderão ser reproduzidos, parcial ou integralmente, mediante autorização da Diretoria. A Revista Sindipi não se responsabiliza por conceitos emitidos em artigos assinados. Eles não representam, necessariamente, a opinião da revista.

Fale conosco: REDAÇÃO: envie cartas para a editora, sugestão de temas e opiniões: redacao@sindipi.com.br PUBLICIDADE: com Antônio Carlos Corrêa, Fone: 47 33431456 / 47 84080721; e-mail: revista@sindipi.com.br

w w w. s i n d i p i . c o m . b r

novo telefone sindipi 47 3247-6700 Foto capa: Marcello Sokal. Local: Restaurante Recanto da Sereia-Itajaí-SC


Editorial

2009 um ano que promete!

4

Revista SINDIPI

e Cerco, a viagem do oceanógrafo do Sindipi a bordo de um navio-pesquisa e os registros das visitas e reuniões importantes da entidade em busca do crescimento da pesca. O entrevistado é o engenheiro Mauro Ballester, que possui aproximadamente quatro décadas de experiência em indústria pesqueira. Confira também as fotos do evento de confraternização do Sindipi, uma matéria sobre a falta de mão-de-obra do setor e a vinda de nordestinos, a arte inspirada no mar e muito mais. Desejo uma ótima leitura e me despeço com uma mensagem de Fernando Pessoa: “O valor das coisas não está no tempo em que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis”.

Marcello Sokal

E

sta é minha última participação na Revista Sindipi. Os poucos anos que compartilhei com o setor foram especiais e cheios de conhecimento. A Revista continua, com a qualidade que os associados e os leitores merecem. Nesta edição, uma viagem gastronômica pelos encantos do camarão e os detalhes sobre a espécie. Na capa, como nas duas edições anteriores, a sugestão é aguçar o seu apetite e saborear o que a natureza nos oferece de mais precioso, saboroso e nutritivo: os peixes e frutos do mar. Tem uma matéria triste, sobre a enchente, que abalou o estado catarinense e atingiu o setor pesqueiro, mas, também mostramos as conquistas do setor, as apostas em pesquisas, as reuniões das Câmaras Setoriais do Arrasto de Peixe, Camarão

Daniela Maia Jornalista


Revista SINDIPI

5


palavra do presidente

Em momentos difíceis,

a garra e a determinação de nossos associados

U

ma tragédia! Talvez seja esse o termo apropriado para descrever o que se abateu sobre nossa região e que atingiu de forma intensa, praticamente todo o setor pesqueiro. As enchentes alcançaram diversos municípios catarinenses, principalmente Itajaí. Prejuízos vultosos afetaram de forma direta e indireta nossa

economia.

João Souza

Em um momento em que já vivíamos uma crise econômica mundial sem precedentes na história, este episódio, que ficará para sempre na memória da maioria das pessoas, se sobrepôs ao já existente. Temos também que fazer um registro mais do que especial à grande solidariedade encontrada por nós, nestes momentos críticos. De toda parte vieram em forma de ajuda, as manifestações, os donativos,enfim, uma enorme onda solidária, que nos fez ver que o brasileiro é um povo muito especial. Passado o episódio, temos que retomar o ritmo, buscar junto aos governos municipal, estadual e federal, mecanismos para em um período breve, possamos reverter esta situação. Porém, mais importante que isso é saber que a garra e a determinação de nossos associados não esmoreceu e, ao contrário, está mais fortalecida. Na primeira edição de nossa gestão à frente desta entidade de classe, escrevi que “a falta do conhecimento torna-se um campo fértil para proliferação de vícios."

Quem produz

Pois bem. Decorridos alguns meses e diante da grande demanda que vive o setor, em toda sua totalidade, constatamos que os primeiros frutos de nosso trabalho técnico já começaram a aparecer. Começamos a mostrar capacidade de organização para, conjuntamente com aqueles que regem nossas questões, discutir em pé de igualdade a política que será determinante para o futuro de nossa atividade.

qualidade nunca

Quero aqui desejar a todos um ano de muita saúde e, mais uma vez, agradecer em nome de toda entidade, o que foi feito, nestes momentos difíceis pelos quais passamos. Dario Luiz Vitali Presidente do Sindipi

6

Revista SINDIPI

sai de moda


Revista SINDIPI

7


ENTREVISTA

Mauro Cândido Figueiredo Ballester Com aproximadamente quatro décadas de experiência em indústrias pesqueiras, o engenheiro mecânico, Mauro Ballester, analisa a condição desse setor no Brasil Fotos:Sheila Cardoso

E

le consegue ficar horas a fio em frente ao computador, vivendo o seu maior hobby: projetar máquinas e equipamentos. Quando lhe sobra tempo, prefere fabricar móveis para a casa, com as lições da marcenaria que aprendeu com o avô paterno. Gosta de sentir o vento e as ondas no veleiro Sardinha, onde percebe “o quanto somos pequenos” no oceano

RevistaSINDIPI SINDIPI 88 Revista

de mil caminhos. Ou passar o tempo com seus quatros netos, que enchem sua casa com risos e brincadeiras. Mauro Cândido Figueiredo Ballester, engenheiro mecânico com 37 anos de experiência na indústria pesqueira, decidiu aposentar-se para poder viver mais com a família, velejar e, curiosamente, dedicar-se à sua paixão maior: o trabalho. Mas, agora, esse trabalho será aliado a projetos pessoais que lhe

permitirão provar a sensação de dever cumprido: ele, que já teve filhos e plantou uma árvore, sonha em poder escrever um livro com todo o seu conhecimento na área da engenharia. Conhecimento aliado aos 27 anos de trabalho na empresa Coqueiro, da Pepsico, criando diferentes equipamentos e programas para a melhoria da qualidade do alimento. Aos 58 anos, com uma bagagem de cursos no Brasil


e no exterior, além de clientes em diferentes países, Mauro adquiriu conhecimentos necessários para analisar o setor pesqueiro nacional e preocupar-se com o rumo da indústria pesqueira no País. “Falta pesquisa, pesquisa e pesquisa”, enfatiza. É quando se aborda esse assunto que uma entrevista pode resumir-se a poucas perguntas e refletir extensas respostas baseadas em muito conhecimento de quem, desde pequeno, acompanha o desenvolvimento da indústria pesqueira, ainda na fábrica do avô. Com tom de desabafo, Ballester não teme dizer o que pensa e analisar, com severidade, o futuro da pesca e as deficiências do setor no Brasil.

Sindipi – O senhor começou a trabalhar na indústria de alimentos que seu avô fundou, em 1935. Mas, nesta época, praticamente não existia um consumo grande de peixes e a pesca não era tão explorada, como foi a partir dos anos de 1960. Como era o trabalho nesta fábrica? Ballester – Em 1935, meu avô começou com um abatedouro de carnes, que conseguia abastecer cerca de dez açougues. O negócio foi crescendo até 1940. Mas, com a Segunda Guerra Mundial, cerca de 50% da carne do exército aliado vinha do Brasil e, exatamente, de Rio Grande, onde eu morava. O rebanho foi praticamente dizimado. Eram abatidos aproximadamente seis mil bois por dia – hoje, nem os grandes frigoríficos abatem essa quantidade. Começou a faltar gado para os açougues. Foi aí que meu avô percebeu que a saída era explorar a quantidade de peixe na região, que era grande e, como ele já tinha os equipamentos para enlatar carne, começou a enlatar peixe. O mercado principal era São Paulo, Rio de Janeiro e Recife. Mas, em 1952, a indústria da frigorificação começou a se instalar no Brasil. Consequentemente, o congelamento - processo mais barato acabou com o peixe cozido e enlatado. A partir de então, começou a investir na salga e na refrigeração, ampliando a linha de produtos, como camarões, filés e enlatamento de frutas e legumes.

Sindipi – Quando, em 1960, a exploração do pescado começou a crescer e ainda não havia pesquisas sobre a conservação de cardumes, o senhor imaginou que, em pouco tempo, a produção poderia cair? Ballester – Isso sempre foi uma preocupação de empresários que vivem do extrativismo. Nós pensávamos que poderia acabar pelo esforço de pesca. Como eu participei, durante 27 anos, de uma indústria organizada como é a Coqueiro, esta preocupação veio desde o início da década de 1980. Nós temos uma empresa que fatura alguns milhões de dólares ao ano e esta é uma atividade incrivelmente dependente da matéria-prima. Aliada a esse fator, a quantidade de gente envolvida, desde empregados e profissionais de outras áreas administrativas, torna-se uma responsabilidade grande. Se começa a

caro porque a ineficiência da frota era muito alta. Os pescadores saíam na dependência do “faro”. Já tínhamos conhecimento da tecnologia de barcos japoneses que trabalhavam aqui, que apresentavam uma eficiência muito grande: chegavam com 200 ou mais toneladas de peixe, em apenas um mês. E os nossos barcos, a cada 30 dias, voltavam com uma média de 30 toneladas. Sindipi – Esta deficiência nas embarcações se devia à falta de estudos e investimento para equipá-las? Ballester – Um dos fatores era que, naquela época, as embarcações dependiam de isca-viva. Em alguns lugares do Brasil, havia pescadores para pescar a isca. E começou a se tornar caro porque o barco tinha de ir a um determinado lugar e depen-

com este estudo, nós percebemos que o pescado era caro porque a ineficiência da frota era muito alta. Os pescadores saíam na dependência do “faro”. Já tínhamos conhecimento da tecnologia de barcos japoneses que trabalhavam aqui, que apresentavam uma eficiência muito grande: chegavam com 200 ou mais toneladas de peixe, em apenas um mês. E os nossos barcos, a cada 30 dias, voltavam com uma média de 30 toneladas. diminuir peixe, começa a diminuir faturamento e as pessoas podem perder o emprego. No início dos anos 2000, investimos em um estudo grande com o Cepsul (Centro de Pesquisa e Extensão Pesqueira do Sul) porque, na época, a nossa maior preocupação era com o atum, já que as quantidades capturadas haviam diminuído bastante. O preço do atum começou a subir, aqui no Brasil, e chegou a custar o dobro do mercado lá fora - era mais fácil e mais barato importar do que comprar no mercado interno. E, com este estudo, nós percebemos que o pescado era

der dos iscadores. Nós verificamos que os barcos japoneses iscavam a sua própria sardinha. Além disso, eles ainda recebiam informações das condições dos mares e das isotermas, pelos aparelhos de fax. A primeira coisa para mudar esta situação foi começar a pescar a própria isca. Depois, elaboramos um projeto para equipar os barcos da frota brasileira. Todos os barcos deveriam levar um fax a bordo, apresentar um GPS, comunicação por satélite e precisavam entregar aos pesquisadores a localização onde encontravam Revista Revista SINDIPI SINDIPI 9 9


para desenvolver a tilápia em substituição à isca de sardinha para a frota de atuneiros, que deveria melhorar a eficácia pois, no mesmo porto que houvesse a descarga, os barcos poderiam se abastecer de isca – já que é cultivada em terra –, contribuindo, assim, com a diminuição do tempo de captura. O que ocorreu? O próprio organismo que regulamenta esta atividade, políticamente, vetou o projeto. Porém isto é praticado em todos paises asiáticos... As respostas poderiam vir de pesquisas intensivas em cima deste ponto importante da atividade industrial, que emprega milhares de pessoas e movimenta milhões de reais. Técnicos, para isso, nós temos.

os cardumes – assim, poderíamos incrementar um banco de dados. Na época, somente algumas empresas se interessaram. E nós, da Coqueiro, éramos os maiores interessados porque queríamos que a eficiência destes barcos aumentasse, fazendo com que o preço da matéria-prima baixasse. Ainda hoje, poucos barcos saem com estes equipamentos. Sindipi – Existe um consenso sobre as pesquisas em relação ao defeso de determinadas espécies? Ballester – Qual é o máximo de esforço de pesca que podemos fazer para não perder a biomassa? Não sabemos. O Ibama, que seria o órgão encarregado disso, tem uma pesquisa aí, outra ali, mas não há alguém que reúna isso. O Conselho Nacional de Pesca e Aquicultura deveria reunir estes estudos que não estão conectados, mas não recebe o merecido apoio por parte das empresas. Por exemplo, o defeso da sardi10 10

Revista SINDIPI SINDIPI Revista

nha começou em 1982 para proteger as espécies e aumentar a produção. Houve, em determinados anos, um aumento de captura e, em outros, um caos total, sem haver produção. Por quê? Excesso de esforço de pesca? Mudanças climáticas? Aumento da pesca da isca-viva para o atum? Depredação por outras espécies? Mas, até 1991, não deu peixe. E não se sabia direito o que iria acontecer. Em 1998, a produção novamente diminuiu e levou quatro anos para retornar aos volumes dos anos 80. Ainda não temos um estudo sobre esse caso cíclico. Até hoje, não se chegou ao consenso, entre os próprios técnicos, se devemos proteger o indivíduo-jovem, que ainda não se reproduziu, ou o indivíduo na fase de reprodução. Em outros países, existem pesquisadores que saem com barcos do governo para determinar quando deve ser o defeso e o reinício da pesca. Mas, aqui, os pesquisadores precisam depender de empresários. Outro exemplo foi o investimento, por parte da Coqueiro, em pesquisa

Sindipi – Então, o que falta para o desenvolvimento da pesca no Brasil seria investimento por parte do Governo Federal? Ballester – Com certeza. Falta pesquisa neste País, inclusive na pesca. O setor precisa passar por uma avaliação séria, por parte do Governo, e por uma política de desenvolvimento de mãode-obra, retorno às pesquisas e de um órgão específico que se responsabilize pela pesca. Foi criada uma secretaria, mas acredito que esta responsabilidade nunca deveria ser retirada do Ministério da Agricultura, onde existem técnicos excelentes, com trânsito em outros países, que apresentam uma bagagem de conhecimento incrível, com uma quantidade de informações ricas em tecnologia e inspeção. Essas pessoas estão lá, sem o devido reconhecimento. Sindipi – E como os sindicatos, como o Sindipi, poderiam colaborar para a melhoria desta situação? Ballester – O Sindipi já está investindo nisso. Está começando a unir as pesquisas, está trazendo a Universidade para dentro da área da pesca. Isso porque a Academia não deve apenas jogar conhecimento para a cabeça dos alunos. Será que este conhecimento é o que as empresas querem, o que o Brasil precisa? Esses estudantes podem até se tornar excelentes profissionais no exterior. Mas, na área da pesca, aqui ao lado da porta de casa, as pesquisas continuam atrasadas - só agora esta-


mos adotando uma tecnologia que, em outros países, já existe há cerca de 50 anos, como o congelamento a bordo. O que ainda falta são os pesquisadores trazerem suas informações para apenas um lugar, e este local desenvolver as atividades. Mas, com gente séria, competente e com números confiáveis. Sindipi – E como o Brasil está posicionado na área da qualidade do pescado industrializado? Ballester – Nós já estamos nivelados com o mundo inteiro, sendo que somos referência na carne vermelha e no frango. No entanto, em relação ao pescado, infelizmente, estamos longe. Hoje, eu descubro, em qualquer parte do mundo, uma máquina para fazer um determinado serviço. Mas, antigamente, não havia essa possibilidade. A tecnologia na indústria evoluiu muito. Então, a exigência pela qualidade fez com que a tecnologia se incrementasse. Hoje, eu diria que qualidade está associada também ao Governo. Porque devem existir determinadas normas e leis básicas de saneamento que alguém tem de cumprir. O Serviço de Inspeção Federal foi preponderante para o desenvolvimento da qualidade dos nossos produtos aqui no Brasil, a partir dos anos 1970. Nenhuma empresa de pescado pode mandar para o mercado algo que não passe por fiscalização. Isso sempre existiu, mas ninguém se importava – faziam da forma mais horripilante possível. Por exemplo: em determinadas empresas, do mesmo lugar que saía o esgoto de um barco descarregando, havia uma bomba captando água para lavar o próprio peixe. E eu briguei muito por causa disso, porque enquanto investíamos em tecnologia e qualidade, o vizinho ao lado não gastava nem em água nem em cloro para lavar o pescado descarregado, além de contaminar o produto que enviava para o mercado. Outro ponto era com o meio ambiente. A Coqueiro implantou sua Estação de Tratamento de Efluentes já em 1986 - a primeira do Brasil. Um investimento que tínhamos consciência que precisava ser feito. Mas a concorrência levou mais de uma década para cumprir com as exigências e, até hoje, não tem consciência desta responsabilidade.

Sindipi – A facilidade em encontrar equipamentos foi ampliada nos últimos anos, por estarmos vivendo em um mundo globalizado. Mas, há 27 anos, quando o senhor começou na Coqueiro, como era possível descobrir máquinas de alta tecnologia para trazer para a empresa? Ballester – Nós íamos frequentemente a feiras mundiais. E, em 1988, fiquei cerca de 60 dias na Europa, junto de outros técnicos, seguindo um trabalho de uma empresa americana que pesquisou, em diferentes países, as tecnologias mais recentes, naquela época, para a indústria de peixe. Fizemos um tour pelo mundo inteiro, em busca destas tecnologias. Para se ter uma ideia, desenvolvemos, dentro da nossa empresa, um processo que barateou a conserva de sardinha. Nós tiramos a parte do cozimento – a primeira etapa do processo, que consiste também no enlatamento e esterilização. Apenas colocávamos o peixe na lata, fechávamos e esterilizávamos. O cozimento seria feito dentro da própria lata – porque, para que a embalagem ficasse estéril, sem desenvolvimento de micro-organismo,

tando, o consumo também, exigindo maior quantidade de proteína barata e de extração de pescados do mar, mas de forma consciente e técnica. Essa consciência deveria passar por algum estudo rigoroso, com se faz no Japão, Itália, França e Estados Unidos. Por exemplo: poderíamos investir em criação, ao invés de apenas explorar. Investir em fazendas de atum para criá-lo em cativeiro, como existem as de salmão. A sardinha também poderia ser cultivada – até porque o brasileiro é um dos maiores consumidores dessa espécie, no mundo, ficando abaixo apenas da China, Japão e Coréia. Para se ter uma ideia de como está a situação do pescado, antigamente, um barco de parelha trazia 250 toneladas de peixe, em sete dias. Hoje, é necessário o dobro do tempo para trazer um terço do volume, aumentando o preço do pescado. O empresário da pesca não tem dinheiro para investir em pesquisa. E esta tendência é maior do que prevíamos nos anos de 1970, porque o esforço da pesca cresceu demais. Não se está fazendo absolutamente

Para se ter uma ideia de como está a situação do pescado, antigamente, um barco de parelha trazia 250 toneladas de peixe, em sete dias. Hoje, é necessário o dobro do tempo para trazer um terço do volume, aumentando o preço do pescado.

deveríamos submetê-la a uma temperatura de 120ºC, durante um determinado período. Esse processo barateou o produto, aumentou a capacidade de produção e, com isso, reinvestimos em novos equipamentos. Sindipi – Como o senhor vê o futuro da pesca no Brasil? Ballester – Eu diria que as quantidades envolvidas hoje, tanto na indústria do atum quanto na indústria da sardinha, passam pelo sério problema do extrativismo. A população está aumen-

nada e isso preocupa a falta inexorável de matéria-prima, que tende a se extinguir. E, com ela, a atividade, a exemplo do que ocorreu nas costas da Califórnia (EUA), nos anos 70, e em Niterói (RJ), na década seguinte.

Entrevista: Sheila Calgaro

Revista SINDIPI 11 Revista SINDIPI 11


ESPECIAL

cerco Setor produtivo e Ibama discutem sardinha

Discussões, estatísticas, pesquisas com acompanhamento do setor produtivo resultaram em deliberações sobre a pesca da sardinha em 2009 e perspectivas futuras

Viagem a bordo no navio Atlântico Sul

O cruzeiro Ecosar V, realizado em novembro de 2008, foi dividido em três etapas. A primeira, seguindo de Santos até a altura da Ilha de Santana, no litoral norte do Rio de Janeiro, onde foi iniciada a varredura ao largo do Estado em direção ao litoral de São Paulo. A segunda pernada foi realizada de Santos a Itajaí, e a terceira de Itajaí ao Cabo de Santa Marta, no litoral sul de Santa Catarina. O tempo previsto para a cobertura de toda a área era de aproximadamente 20 dias. 12

Revista SINDIPI

Fotos:Roberto Wahrlich

A

companhe o relato do coordenador técnico do Sindipi em um cruzeiro que avaliou a biomassa de sardinha-verdadeira nas regiões Sudeste e Sul, utilizando o método de varredura hidroacústica ou ecointegração

Cruzeiro Ecosar V no navio Atlântico Sul

Embarquei na segunda escala do navio, em Santos, no dia 14 de novembro, para acompanhar a varredura entre Santos e Itajaí, a convite do coordenador científico do cruzeiro, Lauro Madureira. Meu objetivo era conhecer com mais detalhes a metodologia da pesquisa e supervisionar as amostragens a serem realizadas a bordo de traineiras que acompanhariam a navegação do Atlântico Sul até Itajaí. A metodologia da pesquisa consis-

tia em percorrer rotas perpendiculares à linha da costa, traçadas entre as profundidades de 20 e 100 metros e distantes entre si por aproximadamente 18 milhas náuticas. Durante toda a navegação sobre estas rotas, era utilizada uma ecossonda científica, que registrava todos os “alvos” existentes na coluna d’água abaixo do navio, como concentrações de plânctons, cardumes de peixes e peixes de maior porte. Esses registros eram gravados em computa-


dores a bordo para serem mais tarde detalhadamente dissecados no laboratório da universidade. Em cada área com concentração de registros indicativos de cardumes de peixes, era realizado um arrasto com rede de meia-água, com duração de 20 a 40 minutos, para se obter uma amostra da composição, do tamanho dos indivíduos e da quantidade relativa das espécies presentes nos registros da ecossonda. Esta informação é essencial para a análise posterior, feita em laboratório, permitindo estimar as quantidades em peso (biomassa) existentes na rota de navegação das espécies capturadas no arrasto. Essas quantidades são então extrapoladas para toda a área da pesquisa, resultando na quantidade total de peixes presentes na área estudada. Em alguns pontos de cada rota, o navio realizava estações para coleta de plâncton utilizando uma rede especial, ao mesmo tempo em que fazia medições de temperatura e salinidade, desde a superfície até o fundo, com um equipamento chamado de CTD. As amostras de plâncton eram estocadas a bordo para serem encaminhadas para a Universidade de São Paulo, para verificação das quantidades de ovos e larvas de sardinha-verdadeira, enquanto que os dados do CTD permitiriam identificar as massas de água e entender a sua relação com a presença e abundância de plânctons e peixes. Durante a minha estada a bordo, foram realizados oito arrastos sobre registros de cardumes de peixes. Durante eles, era possível observar a entrada dos peixes na rede,e algumas reações de fuga, por meio de uma ecossonda instalada na boca da rede. Metade destes arrastos capturou indivíduos adultos de sardinha verdadeira, em meio de outras espécies de peixes como xixarro, cavalinha, galo, espada, manjubas, etc. Somente com a análise posterior dos registros acústicos se saberá o significado destas capturas para a estimativa de biomassa da sardinha. Uma das limitações do método de amostragem dos registros com rede de arrasto de meia-água é a impossibilidade de capturar cardumes situados a menos de 10 metros da superfície, pois o ruído da embarcação acaba afastan-

Separação da captura no navio pesquisa

Recolhimento da rede de meia água

do os peixes da boca da rede. Além disso, não é possível operar em locais com profundidades inferiores a 20 metros, pois a rede tem 12 metros de abertura vertical e não pode arrastar em contato com o fundo. Para contornar estas limitações foi previsto que todo o percurso de varredura seria acompanhado por barcos de pesca com rede de cerco, chamados de traineiras, que capturam com eficiência cardumes concentrados tanto junto à superfície como junto ao fundo, em águas rasas. Duas traineiras

de Santa Catarina, Alexandre Magno IV e Dom Rodrigo, se juntaram ao Atlântico Sul na altura da ilha de Bom Abrigo, na divisa entre os estados de São Paulo e Paraná. Entretanto, durante os dois dias de varredura conjunta não foram localizados cardumes que poderiam ser de sardinha-verdadeira, e as traineiras não chegaram a lançar as suas redes. Os resultados deste tipo de pesquisa para avaliação da biomassa de sardinha verdadeira têm gerado polêmica entre o setor pesqueiro. A última estiRevista SINDIPI

13


ESPECIAL

No momento da captura

mativa divulgada, referente à varredura realizada em fevereiro de 2008, indicou uma biomassa tão reduzida que levou ao Ibama cogitar a possibilidade de suspender a pesca de sardinha por dois anos. Felizmente, a produção de sardinha em 2008 superou todas as expectativas, conferindo algum descrédito à pesquisa. Porém, a utilização de varredura acústica é reconhecida mundialmente como o método mais adequado para a estimativa rápida da abundância de pequenos peixes pelágicos, como a sardinha. Também é importante ressaltar a reconhecida competência da equipe de pesquisa e da tripulação. Os equipamentos do navio, único no Brasil para este tipo de trabalho, parecem ter qualidade suficiente para não comprometer os resultados da pesquisa. Onde estaria a falha?

14

Revista SINDIPI

Além das limitações relativas à eficiência de captura da sardinha com rede de meia-água, que não podem ser contornadas e por isto se buscou a operação combinada com traineiras, a extensão da área de pesquisa pode ser outro fator que poderia comprometer os resultados. Para realizar a varredura, o navio percorreu cerca de três mil milhas em quase um mês de navegação, enquanto que os cardumes de sardinha estavam concentrados em áreas relativamente pequenas em relação à área total da pesquisa, além da grande mobilidade que estes cardumes podem apresentar. Esta situação pode ser comparada a procurar “agulha em palheiro”, considerando ainda que a largura do feixe acústico sob o barco variava de 4 a 8 metros e as rotas do navio estavam separadas por aproximadamente 33 mil metros. A alternativa para reduzir a margem de erro da pesquisa, segundo sugestão do próprio professor Madureira ao Ibama, seria restringir a varredura em áreas onde a frota pesqueira estivesse operando na captura de sardinha e reduzir de forma significativa a distância entre rotas de varredura dentro destas áreas selecionadas. Essa proposta foi encaminhada para análise do Subcomitê Científico do Comitê de Gestão da Sardinha (CGSS). O próximo cruzeiro de ecointegração está previsto para o primeiro trimestre de 2009, mas não se sabe ainda se haverá modificação na definição das áreas de varredura. Participação Especial: Coordenador técnico do Sindipi, oceanógrafo Roberto Wahrlich

Resultados da 5ª CGSS

D

e acordo com o Comitê de Gestão para o uso Sustentável da Sardinha verdadeira foram apresentadas seis deliberações, entre elas, os períodos de defeso e a fiscalização para eliminar a operação de barcos ilegais Realizada em Brasília nos dias 15 e 16 de dezembro, a 5ª Reunião do CGSS tinha uma pauta amarga para o setor produtivo, ainda sob efeito da alarmante possibilidade de crise na pescaria, noticiada pelo Ibama no final de setembro. Porém, após o encerramento da safra de 2008, os números mostravam um aumento da produção em relação ao ano anterior. Dependendo da fonte dos dados, as estimativas apresentadas sobre a produção anual oscilaram entre 60 e 80 mil toneladas. Este novo cenário foi reconhecido pelo Ibama, tornando a reunião bastante profícua para a definição de alguns pontos relacionados ao plano de gestão da sardinha para aplicação a partir de 2009. O Sindipi esteve representado pelo coordenador da câmara setorial do cerco, Agnaldo Hilton dos Santos, acompanhado pelo armador Jorge Seif e pelo coordenador técnico Roberto Wahrlich.

Abertura da sacada


As principais deliberações obtidas por consenso foram as seguintes: 1 – Elaboração de um Plano de Pesquisa de médio e longo prazo Detalhamento de projetos, pelo Subcomitê Científico, para execução do item 5.8 do Plano de Gestão, contando com o conhecimento, participação e acompanhamento dos membros do CGSS. Deverá ser também incluída a necessidade de se avaliar os impactos da captura de sardinhaverdadeira como isca-viva.

Encontro da Câmara Setorial do Cerco Daniela Maia

2 – Períodos de defesos anuais Dois defesos anuais e período total, em torno de 150 dias, sendo: - Defeso de desova: 1º de novembro a 15 de fevereiro. - Defeso de recrutamento: 15 de junho a 31 de julho. 3 – Limitação do tamanho e controle da frota permissionada Constituir um Grupo Técnico de Trabalho – GTT composto por MMA, Ibama, Seap/PR e representação do setor, para definir a adequação da frota, considerando a situação do estoque e a economicidade da pescaria. 4 – Proibir a captura de juvenis de sardinha-verdadeira para uso como isca-viva no defeso de recrutamento Estabelecer uma tolerância de 8% de sardinha-verdadeira como fauna acompanhante das capturas realizadas para outras espécies a serem utilizadas como isca-viva. - Regulamentar o tamanho mínimo de sardinha-verdadeira para uso como isca-viva em 5 cm. 5 – Proibir o uso de isca-viva juvenil de sardinha-verdadeira por outras frotas que não seja a frota atuneira que opera com vara e isca-viva. Sugestão do setor: retirar as tinas de embarcações que não componham a frota permissionada para a pesca com vara e isca-viva. 6 – Eliminar o uso ilegal, não declarado e não regulamentado de sardinha-verdadeira – Fiscalização para eliminar a operação de barcos ilegais (não permissionados), a pesca de sardinha abaixo do tamanho mínimo e capturas durante os defesos.

Na terça-feira, 27 de janeiro, armadores e indústrias pesqueiras participaram da reunião da Câmara Setorial do Cerco do Sindipi. A abertura da safra da sardinha foi o principal tema discutido. No encontro ficou acordado que os barcos pesqueiros iniciarão a descarga da sardinha dias após o início da safra. A data escolhida foi 23 de fevereiro, segunda-feira. O acordo partiu de uma decisão de consenso entre os armadores e indústrias, deixando claro que as indústrias não se comprometeram em absorver toda a captura. A mudança da data deve-se a dois aspectos: a época do início da safra coincide com o carnaval e a falta de mão-de-obra nas indústrias, decorrente da enchente. A reunião foi coordenada pelo armador Agnaldo Hilton dos Santos e contou com a participação da coordenadoria técnica do Sindipi. O oceanógrafo Roberto Wahrlich, da coordenadoria da entidade, apresentou informações sobre a produção da sardinha–verdadeira em 2008 e divulgou os resultados da 5ª Reunião do CGSS. A tainha foi outro tema apresentado, esclarecendo que para 2009 não haverá mudança no posicionamento da Seap e que continuam válidas as permissões vigentes. Revista SINDIPI

15


ENTIDADE

Delegado da Capitania dos Portos de Itajaí entrega placa personalizada Daniela Maia

No dia 16 de dezembro, representantes do Sindipi se reuniram com o delegado da Capitania dos Portos de Itajaí, capitão de fragata Edilson Vieira Salles. Na ocasião, foram discutidos alguns pontos como o curso de formação de pescadores e as exigências do Ripeam (Regulamento Internacional para evitar Abalroamentos no Mar) quanto de sinais sonoros (sino), luzes e marcas. Durante a reunião, o delegado entregou ao presidente do Sindipi, Dario Luiz Vitali uma placa personalizada em homenagem ao Sindicato.

Novidades no site Sindipi A partir de uma avaliação das normas da área pesqueira, a coordenadoria técnica do Sindipi disponibilizou no site (www.sindipi.com.br) informações importantes da legislação. A proposta é facilitar aos associados o acesso rápido e de forma prática às informações mais importantes. Na página, no item Legislação, pode ser conferido o sumário da legislação incidente sobre a atividade de captura de pescado nas regiões Sudeste e Sul do Brasil. Este sumário está organizado em tabelas temáticas, abrangendo: *Áreas fechadas para pesca comercial ao largo do litoral de Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo; *Defesos de recursos pesqueiros estuarinos e marinhos nas regiões Sudeste e Sul do Brasil; *Tamanhos mínimos permitidos para recursos pesqueiros do Sudeste e Sul do Brasil; *Espécies protegidas; *Especificações técnicas de petrechos de pesca.

Reunião sobre custeio Marília Massochin

No dia 12 de novembro, a diretoria do Sindipi recebeu os associados e representantes do Banco do Brasil para tratar do custeio rural e financiamentos. A reunião ocorreu na sala da presidência. No encontro, foram esclarecidas as principais dúvidas dos associados e sugeridas formas menos burocráticas para os financiamentos, atendendo às expectativas do setor.

Viagem a Brasilia O Presidente do Sindipi esteve em Brasília para avaliar como estão os encaminhamentos sobre ordenamento. Entre as prioridades, o adiamento do início do período de defeso da anchova, em 30 dias para a frota de traineiras, a obtenção de permissão de pesca para a frota traineira capturar o recurso-alvo tainha, na temporada de pesca de 2009 e a revisão da IN nº 26 de dezembro de 2008, que trata dos novos procedimentos da pesca do polvo e sugestão à Seap de revisão da profundidade mínima permitida para operação. Entre as justificativas, que a pesca de polvo com potes vem ocorrendo a partir de 25 metros de profundidade há vários anos, sem resultar em prejuízos à sustentabilidade e que a manutenção do limite batimétrico em 70 metros para a frota permissionada irá incentivar a operação de barcos clandestinos em áreas de menor profundidade e com maiores rendimentos econômicos, entre outros fatores. Divulgação

16

Revista SINDIPI


Cursos para POP e MOP

Marcello Sokal

Fernanda Feuser

Daniela Maia

A Delegacia da Capitania dos Portos em Itajaí, em parceria com o Sindipi, iniciou em fevereiro os cursos de formação de aquaviários – módulo especial, específico para a formação de Pescador Profissional (POP) e Motorista de Pesca (MOP). Na prova aquática de 25 metros de natação e mais 10 minutos de flutuação, realizada na piscina do Corpo de Bombeiros de Itajaí, todos os inscritos foram aprovados. Os cursos são ministrados na sede do Sindipi para cerca de 30 alunos, com carga horária total de 28 horas aulas. A proposta da entidade é dar continuidade a esta parceria, investindo no incremento da mão-de-obra na pesca embarcada e na qualificação do setor pesqueiro.

Cônsul honorário da França e empresária francesa visitam o Sindipi No dia 11 de novembro, o Sindipi recebeu as visitas do Cônsul Honorário da França, Francisco Borghoff e da diretora geral da Compagnie des Pêches Unifipêche, Guylaine Bourguignon. O evento iniciou pela manhã com um passeio pelo rio Itajaí-Açu, a bordo do veleiro Lendário. Após o almoço, os membros da diretoria, coordenadores das câmaras setoriais e os convidados seguiram para a sede da entidade, para uma apresentação dos dados da pesca em Itajaí e região. O cônsul destacou a importância do estreitamento de laços entre o Brasil e a França, com destaque para a pesca. “A intenção é aproximarmos a região de Samalu, na França, com o grande polo pesqueiro de Itajaí”, relatou. De acordo com Borghoff, esta região possui características semelhantes com Itajaí, como a economia voltada para o setor pesqueiro. O presidente do Sindipi, Dario Luiz Vitali, ressaltou a importância da transferência de tecnologia pesqueira entre os dois países. A expectativa de acordos é para o próximo ano.

Revista SINDIPI

17


ENTIDADE

Óleo diesel

Heverton Rodrigues

Marcello Sokal

Diante da enchente que abalou o setor pesqueiro catarinense, a Seap/PR autorizou a liberação de recursos de cerca de R$ 1 milhão no final de 2008, referente ao pagamento da subvenção do óleo diesel marítimo para os armadores que são conveniados. No início de 2009, outra novidade para o setor, o Governo do Estado publicou o decreto nº 2053, prorrogando por mais um ano a isenção do ICMS sobre o combustível marítimo. A isenção, concedida desde janeiro de 2004, continua válida até 31 de dezembro de 2009. O compromisso reafirmado pelo governo reflete diretamente na economia pesqueira. Lembrando que entre os insumos necessários para a manutenção da atividade, o óleo diesel é o de maior custo, representando cerca de 70%. A estimativa é que em Santa Catarina sejam consumidos cerca de 40 milhões de litros de óleo diesel com subvenção, o que representam R$ 20 milhões de benefício estadual e federal. No Sindipi, existem em torno de 400 embarcações cadastradas.

Sindipi renova parceria com Projeto Isca–Viva No dia 14 de janeiro, a coordenadoria técnica, composta pelos oceanógrafos Michele Anacleto e Roberto Warhlich, e representantes do Sindipi se reuniram com a coordenadora do Projeto Isca–Viva, Daniela Occhialini. Inédito em nível internacional, o projeto envolve, além da produção de sardinhas em laboratório, o desenvolvimento a bordo dos atuneiros. O fortalecimento da parceria do Sindipi com o projeto Isca-Viva permanecerá em 2009. No encontro, os participantes discutiram sobre o projeto e perspectivas futuras. Ainda foram abordados, além do cultivo da sardinha, o monitoramento das tinas a bordo das embarcações atuneiras e no porto de desembarque. Outro tema abordado foi o manejo e a manutenção da espécie em tanques redes. De acordo com a coordenadoria técnica, o Sindicato, além de participar como um dos financiadores do projeto, participará ativamente de todas as etapas. Divulgação

Procissão de Nossa Senhora dos Navegantes Diversos barcos pesqueiros participaram da procissão de Nossa Senhora dos Navegantes, às margens do rio Itajaí-Açu, em Santa Catarina. A procissão marítima, com imagem de Nossa Senhora de Navegantes, que também acontece em diversas localidades do Brasil, é um dos eventos religiosos mais significativos da região litorânea. 18

Revista SINDIPI


Parceria Sebrae e Sindipi

Delegacia inaugura seu novo prédio Adriene Carlotto

A Delegacia da Capitania dos Portos em Itajaí inaugurou em janeiro a primeira fase de obras da nova sede, nas proximidades do Mercado Público, em Itajaí. Além do prédio principal, serão incorporados à estrutura, uma área do Ensino Profissional Marítimo, garagens, oficinas, heliponto e o píer deeEmbarcações, que poderá receber até dois navios de guerra de grande porte. As obras são resultado do Convênio n° 013/200, que previa a realocação da Delegacia para permitir a expansão do Porto de Itajaí, e são custeadas pela Superintendência do Porto de Itajaí e pelo Teconvi. Na foto, o Capitão-de-Fragata Edilson Vieira Salles, Delegado de Itajaí, o prefeito municipal Jandir Bellini, o Comandante de Operações Navais da Marinha do Brasil, Alvaro Luiz Pinto, e o ex-prefeito, Volnei Morastoni.

O Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Santa Catarina (Sebrae) e o Sindipi firmaram uma parceria inovadora no setor pesqueiro. A previsão de assinatura do convênio é em março. O objetivo é dar apoio ao desenvolvimento da indústria da pesca de Itajaí e Região e difundir programas e projetos que visem o fortalecimento de toda a cadeia produtiva. O projeto será desenvolvido até 2010, em diferentes etapas. Entre as ações, a participação do setor em feiras e exposições, investimentos tecnológicos para melhoria de processo e produto, programas de políticas públicas e estudos de mercado. De acordo com a coordenadoria técnica do Sindipi, as ações serão desenvolvidas de forma estratégica, com um grupo técnico de apoio. Entre elas, destacam-se a promoção de atividades durante a semana municipal da pesca, a participação dos associados em eventos nacionais e internacionais para buscar conhecimento e tecnologia, o apoio ao Projeto Isca-viva, a realização de um censo pesqueiro de toda a cadeia, ações para aumentar o consumo do peixe e o fortalecimento da campanha “Eu sou da Pesca”. Nas reuniões prévias na entidade, os representantes do Sebrae-SC, Fábio Zanuzi e Edson Vaz Ares, participaram da apresentação e discussão do projeto.

Revista SINDIPI

19


ESPÉCIES

Camarão O mais cobiçado na gastronomia brasileira

Os camarões ocorrem em todo o litoral brasileiro, em várias espécies. Porém, poucos apreciadores têm conhecimento sobre a iguaria que está sendo usada para o preparo de seu prato

D

entre os frutos do mar, o camarão é geralmente lembrado como um produto bastante valorizado, utilizado pela culinária para elaboração de pratos sofisticados. Para a grande maioria, não faz diferença saber a espécie do camarão, se foi pescado em uma lagoa ou em alto-mar ou se foi produzido em tanques de cultivo. Do ponto de vista do sabor, as diferenças podem não ser percebidas em função da forma do preparo, porém, para os especialistas existem diversas características que distinguem as espécies de camarão que chegam à nossa mesa. A diversidade das espécies de camarão pode ser vista em mercados especializados em frutos do mar. O mais comum é que o produto seja classificado mais em função do seu tamanho, que confere diferença nos preços, do que em função da espécie. Os nomes usados pelos comerciantes variam de acordo com a região e as preferências dos consumidores. Nos mercados dos estados do Sul e Sudeste do Brasil podem ser encontrados camarões marinhos de seis espécies: Farfantepenaeus

20

Revista SINDIPI

brasileirensis e Farfantepenaeus paulensis, ambos chamados de camarão rosa; Litopenaeus schmitti, conhecido por camarão branco, legítimo ou pistola; Xiphopenaeus kroyeri, chamado de camarão sete barbas; Artemesia longinaris, denominado camarão ferrinho ou barba-ruça; e Pleoticus muelleri, chamado de camarão santana ou vermelho. Todas essas espécies têm origem na pesca comercial. Se o camarão for produzido em um sistema de cultivo, será da espécie Litopenaeus vannamei, conhecido como camarão branco do Pacífico. Existem outras espécies de camarões capturados na costa brasileira, porém, ocorrem em águas profundas e não são vistas nos nossos mercados e, por este motivo, deixarão de ser consideradas aqui. Todos as espécies de camarão têm algumas características comuns, como cinco pares de patas na cabeça (chamada de cefalotórax), um chifre na parte superior da cabeça (chamado de rostro), e uma cauda (chamada de abdômen). A cauda é a parte que contém a “carne” do camarão, que é o tecido muscular que permite a ele saltar e nadar. As vísceras do camarão

estão localizadas na cabeça, sendo que o filamento escuro que existe na parte de cima da cauda não tem qualquer relação com intestino ou fezes. Tratase do “tubo neural”, responsável pela transmissão de estímulos nervosos que acionam os músculos da cauda. A casca do camarão é o seu esqueleto e sua armadura de proteção. Periodicamente esta casca é substituída por outra mais nova e maior, produzida pelo próprio camarão, permitindo o seu crescimento enquanto a nova casca estiver mole. Esse processo é chamado de “muda” ou “ecdise”. Os camarões nascem a partir de ovos, se transformam em larvas que ficam na coluna d’água, sendo carregadas pelas correntes (fase larval planctônica), para depois assumir a forma adulta e passar a viver junto ao fundo (fase bentônica). A alimentação das larvas depende da disponibilidade de microorganismos planctônicos, enquanto que a forma adulta se alimenta de detritos orgânicos encontrados no fundo. Camarões têm alta fecundidade, crescimento rápido e podem viver de dois a três anos. Por outro lado, a identificação das espécies de camarão nem sempre pode


Revista SINDIPI Revista SINDIPI2121


ESPÉCIES Fotos: Marcello Sokal

ser feita a partir da coloração ou do aspecto geral do corpo, requerendo conhecimento especializado para diferenciar sutilezas contidas em algumas partes do corpo do animal. Em alguns casos, há também semelhança nos aspectos ecológicos, como ciclo de vida e ambientes em que vivem. Mas existem diferenças. O ciclo de vida das espécies de camarão rosa e do camarão branco é semelhante. As larvas são trazidas pelo mar para o interior de estuários, manguezais e lagoas costeiras, onde se transformam na forma adulta jovem, crescendo rapidamente com a abundância de alimentos produzido nestes ambientes. Após alguns meses, os juvenis destas espécies de camarão iniciam a migração para o mar aberto, se juntando à população adulta. Apesar do nome, o camarão rosa apresenta uma coloração acinzentada enquanto jovem, mudando de cor com o início da vida no mar. Com um ano de vida, estão prontos para se reproduzir. Os machos fecundam as fêmeas, que podem produzir cerca de 500 mil ovos 22

Revista SINDIPI

em cada período reprodutivo, no caso do camarão rosa. Enquanto que os adultos do camarão branco vivem em águas próximas à costa, os de camarão rosa preferem águas mais afastadas, em profundidades de até 100 metros. A distribuição geográfica do camarão rosa depende da espécie, sendo que F. paulensis ocorre desde Cabo Frio até Mar del Plata, na Argentina, ao passo que F. brasiliensis distribui-se desde a Carolina do Norte, nos EUA, até o Rio Grande do Sul. O camarão branco se distribui do mar do Caribe até a costa de Santa Catarina. Os camarões das espécies sete barbas, ferrinho e Santana, passam toda sua vida no mar, mas com diferenças na sua distribuição geográfica. O camarão sete barbas ocorre desde a região de Florianópolis até a Carolina do Norte, nos EUA. Concentra-se em águas costeiras de até 30 metros, sobre fundos de muita lama. Atinge a fase adulta com menos de seis meses de vida e se reproduz durante a maior parte do ano. Distingue-se dos demais pelo rostro muito longo e curvado para

cima, além das “barbas” longas e abundantes. Mesmo adulto, raramente atinge mais do que 15 centímetros de comprimento. Os camarões ferrinho e santana se distribuem desde o litoral do Rio de Janeiro até a costa da Argentina, onde são muito mais abundantes e atingem maior tamanho. O ferrinho apresenta cor acinzentada, se confundindo com o camarão sete barbas em função do pequeno tamanho, enquanto que o camarão santana tem uma coloração avermelhada. São camarões costeiros, mas não ocorrem no interior de baías e preferem fundos menos lamosos que o camarão sete barbas. As modalidades de pesca de camarão variam de acordo com o ambiente. Em mar aberto, a captura é realizada com redes de arrasto de forma cônica, tracionadas por embarcação motorizada. Em geral o sistema de arrasto de uma embarcação camaroeira é constituído por duas redes idênticas, cada uma dotada de um par de portas para manter a sua boca aberta. Os barcos de pequeno porte, de até 12 metros,


são usados principalmente na captura do camarão sete barbas, mas em determinadas épocas do ano também podem capturar todas as demais espécies quando estas ocorrem em áreas próximas da costa. Os barcos de grande porte, empregados na pesca industrial, têm como principal recurso-alvo as espécies de camarão rosa em águas mais afastadas da costa, mas em determinadas situações também capturam as demais espécies nas proximidades da costa. Nos ambientes estuarinos, baías e nas lagoas costeiras são empregados diversos métodos de pesca, tais como armadilhas fixas com atração luminosa, chamadas de aviãozinho e usadas na região de Laguna (SC) e no estuário da Lagoa dos Patos (RS), e a rede gerival usada na Baía da Babitonga (SC) e na região de Cananéia (SP). São também utilizadas tarrafas, redes de emalhar, redes de arrasto com tração manual, puçás, etc. O emprego de arrasto motorizado nestes ambientes geralmente não é permitido. A cadeia produtiva da pesca de ca-

marão apresenta grande importância socioeconômica. Na pesca artesanal, além do pescador que faz a captura, existe um enorme contingente de pessoas, geralmente mulheres, envolvido no descascamento de camarão. Estima-se que a frota de barcos arrasteiros de pequeno porte seja composta por 5 mil unidades, entre o Rio de Janeiro e Santa Catarina. Na pesca industrial, são cerca de 500 embarcações operando ao largo das regiões Sudeste e Sul. Com toda essa riqueza proporcionada pelo camarão, cabe à sociedade zelar pela sua conservação. Neste sentido, o governo estabelece normas que restringem o acesso à pesca comercial, determina épocas de defeso e define áreas e petrechos de pesca mais adequados. Seria muito importante se todos os consumidores de camarão pudessem ajudar, recusando produtos de pesca ilegal. Infelizmente, ainda não é possível saber a origem dos frutos do mar que são colocados em nossa mesa. Isto deveria mudar. Colaboração: Roberto Wahrlich

Barco na modalidade arrasto duplo No arrasto duplo, a embarcação é dotada de tangones, que permitem o arrasto simultâneo de duas redes cônicas idênticas. Cada rede apresenta um par de portas retangulares, que são posicionadas junto às suas extremidades anteriores ("asas" ou "mangas") da rede. As redes empregadas no Sudeste e Sul do Brasil apresentam tralha superior em torno de 20 metros, resultando em uma abertura horizontal da boca da rede em torno de 15 metros e abertura vertical de até 1,5 metro. As portas pesam de 140 a 180 kg. Em Santa Catarina, a frota de arrasto duplo é a mais numerosa. Em média, estas embarcações possuem 20,5 m de comprimento total, 68,4 toneladas de arqueação bruta, motor principal com 282 Hp e são tripuladas por cerca de seis pessoas. Cerca de 70% da frota possui casco de

madeira, e 30% de aço. Quase todas as embarcações (95%) conservam o pescado a bordo em gelo, embora 5% dos barcos utilizem câmaras frigoríficas no porão. A média de idade da frota atuante no estado é de 20 anos, embora sejam registrados barcos entre um e 40 anos de idade. As principais espécies capturadas pelos arrasteiros duplos variam muito em função da área de pesca (zona costeira, zona profunda) e tipo de rede (rede para camarão ou rede para peixe). De qualquer forma, essa frota também concentra suas capturas em espécies demersais como a abrótea, cabrinha, castanha, emplastro, linguado, linguado-areia, merluza, peixe-sapo, lula, polvo e camarões como o barba-ruça (ferrinho), santana (vermelho), sete-barbas e rosa. Fonte: GEP/Univali

Revista SINDIPI

23


ARRASTO

Reuniões

das Câmaras Setoriais Uma das modalidades com maior número de embarcações operando é responsável por grande parte da mão-de-obra do setor pesqueiro. A frota de arrasto no Estado está apostando em pesquisa a bordo e ordenamento

N

os últimos meses, foram realizados diversos encontros das Câmaras Setoriais do Arrasto de Camarão e de Peixe, na sede do Sindipi. São assuntos do dia a dia, temas polêmicos que são discutidos de forma democrática. No final de 2008, dia 3 de dezembro, o coordenador da Câmara do Arrasto de Peixe, Luciano Ferreira, a coordenadoria técnica e demais integrantes analisaram a IN nº 22, de 1º de dezembro de 2008. No dia 4 de fevereiro, se reuniram na sala da presidência do Sindipi, os coordenadores das Câmaras de Arrasto de Peixe e Camarão, Luciano Ferreira e Joaquim Anacleto, o presidente e vice-presidente da entidade e associados. O assunto principal foi o debate sobre a concordância ou não da permissão provisória, além de defeso unificado para o todo segmento de arrasto. Sobre a parada geral, foi lembrado que há mais de três anos a proposta da parada geral foi oficializada pelo Sindipi, porém não houve resposta dos órgãos competentes. Com relação a permissão provisória, entre os associados da categoria arrasto ainda não se chegou a um consenso. Sobre este assunto, a entidade está aguardando um parecer técnico da Seap/PR. Na reunião da Câmara Setorial do Camarão do dia 6 de fevereiro, coordenada pelo armador Joaquim Anacleto, também teve como pauta a permissão provisória para captura de outras espécies no período de defeso, que ocorrerá no período de 1º de março a 31

24

Revista SINDIPI

de maio de 2009, conforme IN n° 189/ set/2008. Dos participantes que se manifestaram na reunião, 11 associados se posicionaram a favor e seis contra, mas outros não opinaram. O vice-presidente do Sindipi, Giovani Genázio Monteiro, salientou que estes debates são importantes, já que o sindicato existe para discussão e que as medidas devem ser avaliadas coletivamente. Independentemente disso, a decisão final sobre a liberação ou não das permissões é de responsabilidade da Seap/PR. Em viagem à Brasília, o setor cobrou uma resposta da Secretaria da Pesca, entre outros assuntos da pesca industrial.

Encontro com superintendente do Ibama e Sindipi

A principal pauta em análise é a operação da pesca de arrasto dentro das três milhas náuticas no Rio Grande do Sul Em decorrência das autuações de barcos arrasteiros na costa gaúcha, foi realizada, no dia 15 de janeiro, uma reunião com o Ibama no Rio Grande do Sul para pleitear a reconsideração das multas aplicadas pela fiscalização. Participaram do encontro, o superintendente e o procurador do Ibama do RS, o chefe da fiscalização e um analista ambiental que participou das ações. Representando a diretoria do Sindipi, o tesoureiro, Edson Vaz Pires, acompanhado da assessoria jurídica e do coordenador técnico do Sindicato.

O Sindipi argumentou sobre a necessidade de revisão dos valores extremamente elevados das multas, nos casos em que efetivamente ficar comprovado que a embarcação encontravase operando em área proibida, valores estes que podem levar à inviabilidade financeira das embarcações autuadas. A entidade ainda protocolou uma solicitação para que o Ibama disponibilize a lista de todas as embarcações registradas em Santa Catarina e que foram autuadas na costa gaúcha em 2008.

Legislação: auto de infração e multas aplicadas

Ao perceber qualquer infração ambiental, o fiscal deve imediatamente promover o competente Auto de Infração, notificando o infrator no ato da constatação da irregularidade. No entanto, em algumas situações, não é possível notificar o infrator naquele momento, quando então o fiscal promove o envio do auto de infração por correspondência. Ao ser notificado do Auto de Infração, seja pessoalmente, seja por correspondência enviada para a sua residência ou para local de trabalho, a pessoa autuada deve, num prazo de 20 dias, segundo a Lei 9.605/1998, promover sua defesa perante o Ibama, podendo protocolá-la em qualquer unidade da federação onde exista uma sede do Instituto. Caso contrário, constata-se o que chamamos de Revelia, ou seja, a pessoa perde a chance de se defender


das alegações inseridas no auto de infração, dando a entender que estas alegações são corretas e que realmente o autuado é culpado daquilo que lhe foi imputado. É importante ressaltar que o prazo de 20 dias começa a contar do momento em que o autuado tomou ciência do cometimento da infração. No caso de ter recebido por correspondência, o prazo começa a contar quando o carteiro colhe a assinatura do recebedor, seja ele alguém da família, funcionário da empresa ou o próprio autuado. Já no caso de ser notificado pessoalmente, no momento da infração, ali se inicia o prazo para promover a defesa. Pois bem, duas são as situações que podem ocorrer: uma, se o autuado promove sua manifestação dentro do prazo de 20 dias; outra, se o autuado deixa de apresentar sua defesa. No primeiro caso o processo segue seu curso normal, o Ibama recebe a defesa, envia para o jurídico analisar a veracidade das alegações, contrapondo as provas que ambos apresentaram. No caso específico das multas por pesca dentro das três milhas náuticas, o Ibama informou que as provas colhidas são fotografias aéreas realizadas com o apoio de helicóptero da Marinha e, posteriormente, em laboratório, foram marcadas as localizações de cada embarcação, utilizando-se da carta náutica. Sendo assim, após as devidas análises, o jurídico do Ibama emite seu parecer e envia para o superintendente da instituição ou responsável maior, o processo com o parecer jurídico, e este proferirá sua decisão com base nestes levantamentos. No segundo caso, quando o autuado não promove sua defesa no prazo correto, o processo segue este mesmo curso até a decisão final do Ibama, só que com mais rapidez, e, ainda, considerando que nada foi dito em sua defesa, as chances de que a multa seja mantida e seu nome inscrito no rol de infratores são muito maiores, pois leva-se em consideração apenas o que o fiscal relatou no Auto de Infração. Quando falamos em defesa, devemos levar em consideração que não

estamos falando, no caso, apenas de estar ou não a embarcação dentro das três milhas náuticas: estamos falando da possibilidade de o Auto de Infração possuir algum erro de forma ou de procedimento, fatos esses que, se constatados, podem minorar ou até mesmo cancelar o Auto de Infração e, por consequência, a pena aplicada. Devemos lembrar que o fiscal é um ser humano e que erros podem ser cometidos. No caso em análise, as multas foram todas aplicadas em valores excessivamente altos, deixando de ser considerado que a norma exige do agente responsável por instaurar o auto de infração, quando aplicada multa, que este analise pelo menos três requisitos para chegar a um valor digamos “justo”, quais sejam: se o infrator já cometeu crimes contra a natureza antes; se a extensão do dano é motivo para a aplicação máxima da pena, e isso só saberemos com a constatação do dano, a exemplo da apreensão do pescado, apetrechos irregulares de pesca e outros; e por fim, o agente deve levar em consideração a condição financeira do infrator. Esses requisitos, se não aplicados pelo fiscal, tornam o processo falho e passível de alteração. É importante ressaltar que essas falhas de procedimento ou forma no auto de infração, serão constatadas com muito mais facilidade se o autuado promover sua defesa e alertar o julgador que isto de fato ocorreu em seu processo. Muitos outros questionamentos podem ser feitos para abrandar a multa ou liberar a embarcação, no caso de uma sanção mais severa. Porém, é importante lembrar que isto deve ser feito por pessoa especializada e habilitada, sem falsas promessas e que esclareça exatamente o que pode e o que não pode ser feito. De qualquer forma, após o Ibama apresentar sua decisão, caso ela não seja favorável, o suposto infrator pode recorrer dela para uma instância superior, que no caso fica em Brasília e, se novamente achar que foi injustiçado, pode promover media judicial para, então, com fundamentação sólida, tentar anular o auto de infração ambiental que lhe é imputado.

A diferença entre aquele que promove a defesa no momento correto e aquele que abandona o processo é que o segundo, diante de sua falta de manifestação, possibilita ao Ibama promover com muito mais rapidez a execução judicial do valor da multa e, pior, no valor que achar correto. Processo esse muito mais doloroso e oneroso para o autuado, uma vez que os mecanismos de cobrança permitem desde a penhora do faturamento até a apreensão da embarcação para garantia da dívida, caso não se chegue a um acordo. Desta forma, é importante lembrar que ao receber qualquer notificação, advertência ou citação, deve-se imediatamente buscar a ajuda de um profissional ou de sua entidade de classe, no mínimo, para ouvir conselhos e escolher de forma consciente o melhor caminho. No caso das multas aplicadas pelo Ibama/RS, sobre pesca dentro das três milhas náuticas na costa do Rio Grande do Sul, paralelamente às defesas apresentadas por cada autuado, o Sindipi vem buscando conscientizar o Ibama-RS da necessidade de um abrandamento nas penas, pelo que contratou parecer jurídico para analisar incorreções de procedimento e forma nos autos de infração ambiental. O referido parecer será entregue ao Instituto, juntamente com requerimento para análise diferenciada dos autos de infração emitidos com esse objeto, sendo que cópia do Requerimento, juntamente com o Parecer, serão entregues ao Ministro da Pesca, para que intervenha pelos associados do Sindipi. Dessa forma, fica o alerta para que cada um busque se conscientizar da necessidade de estar sempre bem informado sobre sua atividade. O Sindipi fornece muitas informações. De igual forma, o Ibama, a Fatma e outras entidades ambientais podem esclarecer qualquer dúvida que se possa ter sobre o tema, basta que se busquem as informações Colaboração (Legislação) Advogado Emerson Denner Borba

Revista SINDIPI

25


PESQUISA

Desenvolvimento de novos produtos

ao consumidor

Marinados, uma alternativa para agregação de qualidade e valor ao pescado brasileiro. Uma iniciativa de pesquisadores do Laboratório de Biotecnologia Alimentar da Universidade Federal de Santa Catarina

O

pescado é um alimento saudável, rico em proteínas, ácidos graxos e sais minerais. Significa mais saúde e qualidade de vida para a população. O consumo de pescado no Brasil ainda apresentase bem abaixo da média mundial, inferior a países sul-americanos como Chile e Peru. O caminho para que o pescado desponte e passe a ocupar um espa-

26

Revista SINDIPI

ço mais significativo na mesa dos brasileiros, invariavelmente passará pelo aumento na qualidade dos produtos de pescado produzidos no Brasil. Para garantir pescado de alta qualidade é necessária a melhoria nas condições, desde o cultivo/captura e transporte da matéria-prima, até o processamento e beneficiamento nas indústrias. No âmbito do processamento e beneficiamento de pescado, o aumento na qualidade pode vir acompanhado

do desenvolvimento de novos produtos e novas formas de apresentação do pescado ao consumidor. Estas alternativas devem favorecer tanto as indústrias, conferindo características agregadoras de valor aos produtos, como aumento de vida de prateleira, sabores e formas diferenciados, quanto aos consumidores, os quais terão a sua disposição, maior variedade de produtos e formas de consumir o seu pescado de preferência.


O trabalho do Biotec/UFSC

Baseado na premissa de que é necessário diversificar o fornecimento dos produtos de pescado ao consumidor a fim de promover o aumento do consumo no Brasil, pesquisadores do Laboratório de Biotecnologia Alimentar da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) estão trabalhando no desenvolvimento de produtos marinados e fermentados. O primeiro produto, ainda em fase de elaboração, é o Filé de Tilápia Marinado.

Matérias-primas utilizadas

Filés sem pele de tilápia nilótica (Oreochromis niloticus), da linhagem híbrida Chitralada, ou vermelha, como é conhecida popularmente. As tilápias utilizadas na formulação dos filés são cultivadas em água salobra, o que lhes confere sabor diferenciado. Manjericão (Ocimum Basilicum L.), e alecrim (Lantana microphylla). Ambos condimentos de alta qualidade. Esses temperos apresentam forte atividade antimicrobiana, retardando o desenvol-

vimento de microorganismos patogênicos e deteriorantes do produto. Ácido acético, utilizado em baixas concentrações, com intuito de reduzir o pH, reduzindo o desenvolvimento de microorganismos.

Bactérias Láticas

No desenvolvimento do produto serão aplicados banhos de bactérias láticas da espécie Lactobacillus plantarum. Esse grupo de bactérias possui a característica de inibir microrganismos patogênicos e deteriorantes do produto, devido a produção de compostos em seu metabolismo. Entre estes compostos estão as bacteriocinas, substâncias responsáveis pela inibição de microrganismos, e o ácido lático, substância responsável pela redução do pH do meio, reduzindo assim a atividade microbiana no produto. Após os tratamentos condimentares e bacterianos o produto sofrerá um glaseamento e será embalado a vácuo, e seu peso total e drenado deverá estar contido no rótulo do produto. É im-

portante salientar que o Filé de Tilápia Marinado desenvolvido pelos pesquisadores do Biotec/UFSC, deverá apresentar gosto, odor e textura característicos e diferenciados, além de uma vida de prateleira superior aos filés vendidos in natura atualmente, sem que, para isto, haja adição de qualquer substância ou conservante químico. Este trabalho apresenta-se como um passo a mais para oferecer peixe saudável e de qualidade, formar novos consumidores, abrir mercados e criar as condições para fazer do Brasil o país do pescado. Thiago dos Reis, Eng. Aquicultura CREA/SC 08751-3 thiagodsreis@yahoo.com.br

Revista SINDIPI

27


consumo

Inovação tecnológica e o impacto no consumo

Agregar valor aos produtos não deve estar somente vinculado à elaboração de produtos sofisticados e modernos e, sim, prioritariamente, à qualidade intrínseca do pescado ou matéria-prima utilizada

O

Brasil desponta como grande produtor de pescado cultivado, atividade com índice de crescimento jamais observado na produção de outros recursos alimentícios de origem animal no país. Porém, paradoxalmente, a comercialização do pescado brasileiro sempre constituiu um entrave para o consumidor, característica atribuída, principalmente, devido ao descaso, desconhecimento e falta de rede de frio para comercialização (OETTERER, 2002). O aumento do consumo de pescado no Brasil é uma prerrogativa para que efetivamente seja possível consolidar a atividade de cultivo em várias regiões do país. As campanhas que incentivam o consumo de pescado apostam na excelência nutricional do pescado e na sua relação direta com saúde e qualidade de vida, porém, é evidente que mais que incentivar o consumo o país precisa investir em políticas que assegurem a qualidade do pescado. Na busca pela empresa limpa ou ambientalmente correta é de grande relevância a inserção do aproveitamento de resíduos na cadeia produtiva de pescado, com intuito de evitar desperdícios, reduzir a poluição ambiental e os custos de produção do pescado. A criação de alternativas tecnológicas, nesse sentido trará como resultado a geração de empregos e indicará o caminho para o desenvolvimento sustentado (Borghesi et al., 2007a, 2008). Os

28

Revista SINDIPI

resíduos de origem animal representam vasta fonte de energia e de nutrientes, que podem e devem ser convertidos em ingredientes para a indústria de alimentação animal. Alternativa com grande potencial é o aproveitamento das perdas de captura e resíduos do processamento do pescado (que podem chegar a 60% do total que é produzido e/ou capturado) para a elaboração do ensilado de peixe, produto nobre e com alto valor biológico (Borghesi et al. 2007a, 2007b; Vidotti et al., 2002, 2003). Nesse sentido, as indústrias processadoras de peixes cultivados podem agregar valor aos seus produtos, colocando no mercado produtos inovadores, com qualidade e preço acessível. Agregar valor aos produtos não deve estar somente vinculado à elaboração de produtos sofisticados e modernos e, sim, prioritariamente, à qualidade intrínseca do pescado ou matéria-prima utilizada (GONÇALVES, 2003). Novos produtos ou formulações gastronômicas podem ser comercializados da mesma forma que vários alimentos para fins especiais (AFES) que surgiram a partir de dietas hospitalares ou mesmo receitas caseiras. É o momento das tecnologias emergentes que dispõem o pescado ao consumidor na forma de alimento de conveniência, como os filés minimamente processados, em embalagens com atmosfera modificada, combinadas com refrigeração e barreiras como a acidificação e irradiação. Ainda produtos como o minced que servirão de matéria–prima para obtenção de outros produtos, provindos da

empresa produtora de pescado, como forma de agregar valor e facilitar o escoamento da produção, inclusive via exportação (OETTERER et al; 2003). Novos produtos incentivam o consumo de pescado e dão escoamento à produção da matéria-prima. O consumidor está aberto a novos produtos desde que sejam de conveniência, nutritivos e seguros. E os produtores terão à mão tecnologia disponibilizada pela universidade na forma de suas especificidades de produção, industrialização, comercialização e marketing. No caso da tilápia, pesquisas já dispuseram produtos minimamente processados, refrigerados, irradiados, na forma de minced, entre outros, bem como hamburgers, fiambres, frankfurters, que servem de sugestão para as indústrias e estão, portanto, disponíveis para serem adotados. As indústrias, por sua vez, vêm colocando no mercado várias opções, particularmente na forma de congelado, com excelente qualidade e que podem sensibilizar os consumidores mais exigentes, a um preço compatível com os gastos da produção, porém que se apresentam onerosos mediante o poder aquisitivo da média da população brasileira. Se for possível levar ao consumidor o alimento na forma de “fast food” nos locais de lazer e compras, ele estará mais predisposto a adquirir o produto, mesmo porque o preço será menor do que o de qualquer outro congelado. O produto em desenvolvimento, quenelles, pode ser preparado com


Fotos:Marilia Oetterer

mais flexibilidade, podendo ser utilizadas as tilápias, bem como o descarte comestível da filetagem e, ainda, outras espécies disponíveis na região; o processamento em si, constitui-se em produto elaborado a partir de CMS (Carne Mecanicamente Separada) e que recebe ingredientes que atuam na estabilidade, textura, aroma e sabor, sendo a seguir armazenado sob congelamento até manipulação por tratamento térmico (micro-ondas ou outro) caracterizando uma delicatéssen para consumo rápido. Será concebida a fórmula teórica e a seleção de ingredientes; avaliação microbiológica, físico-química e nutricional do minced e das quenelles de pescado; padronizar-se-á o processamento de obtenção do minced e das quenelles, com elaboração de fluxogramas de produção e padrões microbiológicos, físico-químicos e sensoriais para o controle e monitoramento do processo e padronizar-se-á a forma de apresentação, rotulagem e marketing para a exposição à venda do produto. Produtos com valor agregado podem ser destinados à exportação, o que representa um relevante impulso na exploração comercial e industrial do pescado no Brasil. Além disso, o estudo de produtos naturais marinhos como fonte de princípios bioativos poderá propiciar o conhecimento de novos ingredientes funcionais para uso na indústria alimentícia e geração de patentes brasileiras com algas. O desenvolvimento de novas tecnologias para aumentar a qualidade do “minced fish” e, consequentemente, dos produtos à base de tilápia é necessária para que seja possível consolidar a industrialização desta espécie, mediante a vulnerabilidade da matéria-prima e possível perecibilidade. Pela sua qualidade nutricional e funcionalidade, os alimentos de origem aquática são promotores de saúde e da melhoria da qualidade de vida, no entanto, a única maneira de manter e disponibilizar ao consumidor benefícios nutricionais é pelo desenvolvimento de produtos voltados à priorização dos aspectos nutricionais, garantindo que os nutrientes presentes no pescado não se percam no processamento e utilizando aditivos naturais.

Na foto ao lado, pescado cultivado. Abaixo, camarão liofilizado. Por último, pescado cultivado, no liofilizador

A atividade biológica de extratos de algas como agentes antimicrobianos e antioxidantes está sendo avaliada para que estes extratos sejam aplicados na elaboração de “minced” de tilápia, como alternativa aos aditivos químicos. As algas serão submetidas à extração com etanol. Os extratos obtidos serão analisados quanto ao teor de compostos fenólicos totais, a capacidade antioxidante por dois métodos (Atividade sequestrante de radical DPPH e oxidação acoplada do sistema -caroteno/ácido linoleico) e atividade antimicrobiana contra Escherichia coli, Salmonella sp, Clostridium perfringens, Sthapylococcus aureus, Bacillus subtilis e Pseudomonas sp, microrganismos que podem ser encontrados em pescado. O minced de tilápia será elaborado com adição dos extratos das algas e armazenado a -18ºC por 180 dias. A qualidade da matéria-prima será avaliada pelas características de frescor, análise microbiológica e composição centesimal e a caracterização do produto será feita pela análise da composição centesimal

e da composição de ácidos graxos. A análise sensorial também será feita, na qual os atributos de cor e odor do minced serão avaliados (CABRAL, 2008). Participação especial: Profª Dra Marília Oetterer Relado de parte das pesquisas que vêm sendo realizadas no Departamento de Agroindústria, Alimentos e Nutrição da Esalo - pela equipe do Getep Inf.: www.esalq.usp.br; getep@yahoogrupos.com.br

Revista SINDIPI

29


ECONOMIA

Setor pesqueiro vive dias de angústia

Fotos Marcello Sokal

Em novembro, próximo ao Natal e ao Ano Novo, Santa Catarina viveu dias de luto, devido às cheias que atingiram diversos municípios catarinenses, entre eles, Itajaí, o maio polo pesqueiro.

D

e acordo com os últimos dados apresentados pela Defesa Civil de Santa Catarina, no início de fevereiro, foram registrados 15.007 desalojados e desabrigados, 135 óbitos e dois desaparecidos com as enchentes que assolaram o Estado no fim do ano passado. O setor pesqueiro, um dos mais atingidos pelas enchentes, parou por vários dias. O prejuízo em decorrência dos dias de paralisação ultrapassou R$ 50 milhões. O Sindipi doou vários fardos de leite e água para colaborar num momento de solidariedade e reconstrução.

30

Revista SINDIPI

Para manter o maior polo pesqueiro do país e continuar a movimentar a economia da cidade, o ministro da Pesca, Altemir Gregolin, esteve no dia 28 de novembro em Itajaí. Uma comitiva composta de representantes do setor, autoridades e políticos, visitou as indústrias pesqueiras e depois participou de uma reunião na sede do Sindipi para debater as medidas urgentes. De acordo com o coordenador geral de Apoio e Incentivo ao Crédito da Seap-PR, Marcelo Burguez Pires, foi desenvolvido um trabalho de articulação com vários ministérios e agentes finan-

O Ministro da Pesca acompanhando o Presidente do Sindipi nas indústrias pesqueiras afetadas pela enchente.


Nas fotos dessa página e ao lado, uma pequena noção do estrago dias após a tragédia.

ceiros visando a retomada produtiva do segmento pesqueiro. Entre os resultados, o anúncio do BRDE, segundo o qual, as empresas de pesca dos municípios atingidos pelas enchentes poderão financiar até R$ 20 milhões. Outra medida foi a prorrogação de financiamento aos armadores que tinham parcelas vencidas a partir de 1º de novembro de 2008 ou

vicendas até 30 de junho de 2009, que passarão a ser liquidadas a partir de 1º de julho deste ano. Todas as operações de crédito rural de custeio e investimento do Pronaf, de custeio e investimento com recursos controlados e investimento com recursos administrados pelo BNDES ou ao amparo do Proger Rural estão incluídos na medida.

anuncio gráfica

Revista SINDIPI

31


ECONOMIA

Força nordestina

na indústria pesqueira do Sul Marcello Sokal

A mão-de-obra do Nordeste ajuda no desenvolvimento do setor na região. O corte preciso transforma o peixe num produto apreciado na mesa de brasileiros e de pessoas de outros países

O

filé de pescado congelado ganha o mundo a partir de Itajaí, responsável por 80% da produção nacional. Por trás dessa indústria que move a economia da cidade existem histórias de gente que deixou a terra natal em busca de qualidade de vida. A mão-

32

Revista SINDIPI

de-obra nordestina é responsável pela manufatura de boa parte do produto que vai para o mercado. Em busca de emprego e remuneração melhores, muitos nordestinos partem para locais onde há garantia de trabalho. Em décadas passadas, o Sudeste era o principal destino para a migração. Hoje, cidades mais ao Sul,

como Itajaí, já estão entre os locais preferidos por muitos que vieram arriscar a sorte ou indicados por amigos que já estavam aqui. A força de trabalho desses nordestinos é bem-vinda, principalmente na indústria pesqueira. A habilidade, a disposição para o trabalho e a responsabilidade forjados, muitas vezes


pela situação de pobreza do lugar de onde vêm com a vontade de crescer na nova terra, fazem desses profissionais, preciosidades num setor que precisa de agilidade. A rapidez da paraibana Lurdes Rafael em cortar o peixe justifica as qualidades dos nordestinos para o setor. Há seis anos ela trocou Catolé do Rocha, no sertão da Paraíba, pelo litoral de Santa Catarina. Trabalha limpando peixe e o transformando em filé. Lurdes sente saudade da terra natal, mas diz que aqui encontrou o que precisava, fugindo do salário de oito reais por semana ou do desemprego em Catolé do Rocha. “Lá é difícil, aqui Almeri Cezinho

é melhor, tem emprego”, justifica a manipuladora de pescado.

Baianos são maioria na região A cidade de Valente, no interior da Bahia, é a que mais fornece mãode-obra para o setor pesqueiro da região. A baiana Josenilda Silva dos Santos veio há 10 anos para Itajaí . Ela e o marido, também baiano, são colegas de trabalho da paraibana Lurdes Rafael na mesma indústria de manipulação de pescados. A baiana reconhece a força dos nordestinos no setor. “Os patrões mesmo dizem e reconhecem o valor, a contribuição que a gente dá. É uma mão-de-obra importante, assim como de qualquer outra cidade, de outro estado”. Só no setor onde trabalha, 80% dos funcionários são nordestinos. Apenas da cidade de Valente, na Bahia, são mais de mil pessoas espalhadas pelas indústrias de pescados da cidade e em outros setores, como o de estocagem de congelados para exportação.

Distantes do nordeste, mas unidos pela origem e pela força do trabalho A agenciadora de mão-de-obra para as indústrias, a baiana Roberta Nascimento, diz que muitos querem vir, mas que, infelizmente, não há vagas para todos. Ela acrescenta que aqui os nordestinos formam uma comunidade, todos se conhecem, é como se fossem da mesma família. A presença dos nordestinos na região é mais forte na indústria pesqueira, mas, encontra-se em outros setores como, por exemplo, na estocagem de congelados para exportação. O conferente Haroldo de Souza, conhecido como “índio” é um dos responsáveis pela conferência dos produtos que saem da estocagem diretamente para os navios no porto cidade. Baiano, também de Valente, está há 13 anos no Sul. A principal mudança foi em relação à qualidade de vida. Aqui já comprou casa e estabeleceu a famí-

lia. Secretária na empresa, Cássia da Silva reforça a importância dos nordestinos: “A região vem se desenvolvendo e os nordestinos colaboram com esse desenvolvimento”. Longe de casa, com o coração apertado de saudade, sofrendo preconceito por causa do sotaque peculiar. Aqui os nordestinos vão se integrando à comunidade com qualidades traduzidas pela opinião de Dário Vitalli, presidente do Sindipi: “Essa mão-de-obra que tem vindo para cá tem se demonstrado comprometida. São pessoas que têm postura, sabem se colocar diante de qualquer situação. E isso para nós é muito importante”.

Texto Almeri Cezino

Revista SINDIPI

33


EDUCAÇÃO

O mar

como sala de aula Depois de conhecer 51 países a bordo de um veleiro, um casal resolveu transformar os conhecimentos que adquiriram em um projeto social, o “navegando pela cidadania”

O

guerreiro Jornal, veleiro de 29 pés, perto de oito metros e meio, ajuda a compor o cenário bucólico do saco da fazenda, um ancoradouro natural de embarcações de passeio e importante estuário da vida marinha de Santa Catarina. Em meio a outros veleiros e iates, o Jornal se destaca pela história. Foi nele que morou por cinco anos o casal Vilmar e Higina Braz, navegadores que partiram de Itajaí com um sonho: desafiar os mares e conhecer o mundo. Os conhecimentos adquiridos na longa viagem ao redor do globo deram bagagem suficiente para dominar a arte da marinharia e observar a degradação ambiental a que a natureza está sujeita pela ação do homem. Em terra firme a viagem continuou. Por meio da Associação Náutica de Itajaí, criada em 2001, o casal resolveu dividir os conhecimentos num projeto social, o “Navegando pela Cidadania” que ensina navegação, noções de preservação ambiental e respeito à natureza para alunos das escolas públicas da cidade. “Precisávamos ter uma destinação para o saldo da viagem”, acrescenta Vilmar, que comanda o projeto junto com uma equipe formada por psicólogo, pedagogos, marinheiros e educadores ambientais.

34

Revista SINDIPI

Navegando pela cidadania já treinou 3000 alunos Todo semestre 300 crianças embarcam num mundo de conhecimento que tem o mar e, especialmente, o Saco da Fazenda como salas de aula. A bordo das canoas baleeiras, a educadora ambiental percorre com as crianças o estuário da foz do rio Itajaí-Açu. Nessa aula bem diferente, fora da escola, os alunos mantêm contato com as áreas de mangues, têm noção de como preservar rios e mananciais e podem conviver de perto com problemas ambientais como a agonia do ribeirão Schnaider, que nasce com águas cristalinas no topo do morro no bairro Fazenda e que 500 metros a frente já está totalmente sem vida e chega ao encontro do rio Itajaí-Açu em condições degradantes por causa da carga violenta de esgoto doméstico. Remando as crianças descobrem um mundo novo dentro da cidade na qual vivem e podem admirar o vôo e a beleza da garça azul. Privilégio de poucos.


Barco escola e veleiros Além das noções de cidadania com o conhecimento do ecossistema local e seus problemas, os alunos também aprendem a arte de navegar. Seja na canoa baleeira ou nos pequenos barcos à vela, eles desafiam as águas do Itajaí-Açu no contra turno da escola para aprender na prática o que casal teve que desafiar cruzando os mares do mundo. Toda tarde, coloridas velas vermelhas e amarelas pintam o estuário da foz do rio Itajaí-Açu. Na medida que o vento sopra, movimentando as pequenas embarcações, novos conhecimentos são passados. Os desafios, a auto-suficiência, o empreendedorismo e a lideração são valores que os alu-

Fotos: Almeri Cezinho

Vilmar Braz após conhecer o mundo em um veleiro se dedica a ensinar o que aprendeu

nos aprendem, garante Vilmar, que já teve o mar como casa e agora, de olho nele, enxergou a oportunidade de passar lições de cidadania e formação aos jovens nesse vasto campo. A escola do mar, sonho cultivado desde o retorno a Itajaí, hoje é uma realidade. Mostrar o valor da água, do mar como fonte de alimento e de divisas econômicas para as crianças é a continuação da viagem do casal Braz. “O sonho é a única coisa que mantém o homem vivo”, acrescenta o navegador. Você pode conhecer um pouco mais sobre o projeto e a escola do mar através dos sites: www.veleiro.net/ani www.veleiro.net/jornal barcos usados nas aulas educativas

Texto: Almeri Cezinho

Revista SINDIPI

35


Antônio Vieira

TURISMO

Lages

capital do turismo rural A cidade serrana oferece hospedagem de forma rústica, buscando integrar os visitantes com as tradições locais e proporcionar contato com a natureza

Revista SINDIPI

Fazenda Boqueirão Norberto Cidade /SANTUR

36

Rogério Silveira/SANTUR

L

ages, localizada no planalto de Santa Catarina, tem sua identidade própria, em razão de sua história, de suas raízes, de sua cultura e de seus costumes preservados em total harmonia com o ambiente rural. “A Princesa da Serra” não recebeu essa denominação por acaso. O título se deve ao seu imenso potencial turístico e às inúmeras belezas naturais que possui. A cidade tem características únicas que revelam seus encantos em cada estação do ano, em especial no inverno, com suas baixas temperaturas, onde frequentemente ocorrem geadas e até neve, cobrindo de branco seus campos e pinheirais. A gastronomia serrana tem uma forte ligação com a cultura da região e muitos admiradores, em função do seu sabor e de seus pratos cheios de história. A influência dos imigrantes e de costumes de outros estados são ingredientes que temperam a farta culinária regional. Iguarias deliciosas servidas no café serrano, pratos campeiros e receitas preparadas à base de pinhão, como a paçoca de pinhão e o entreveiro, fazem parte da típica gastronomia serrana. O turista encontrará em Lages uma grande variedade de restaurantes, pizzarias, cantinas, churrascarias, confeitarias, bares e lanchonetes com opções que vão de pratos da culinária típica à cozinha internacional. A cidade possui forte influência da cultura e das tradições gaúchas em razão da sua proximidade com o Estado vizinho e pelo ambiente em que está inserida. Sua cultura se manifesta em

Parque Ecológico Theodor

Cavalgada no Caminho dos Tropeiros


Norberto Cidade /SANTUR

Tranquilidade em fazenda rural Ingo Penz/SANTUR

suas danças, suas músicas, seu folclore, seu artesanato, suas festas e também por suas ideias e seu modo de pensar. O artesanato lageano expressa suas emoções, sua história e a cultura local por intermédio de objetos que traduzem a arte com muita beleza, harmonia e equilíbrio. O artesanato local reflete os costumes e a cultura da região serrana em pinturas, quadros, móveis, utensílios domésticos, mantas, doces e licores caseiros, entre outros. Em junho, acontece uma das mais tradicionais festas da região, a Festa do Pinhão, no Parque de Exposições Conta Dinheiro. Muitas atrações, como shows, bailes, festivais de música nativista, teatro, dança, gastronomia, artesanato e cultura local fazem parte do maior evento gastronômico e cultural do Sul do País. Confira alguns pontos turísticos: a Catedral Nossa Senhora dos Prazeres, construída em pedra pelos padres franciscanos, o Memorial Nereu Ramos, uma parte da história do Brasil, o Salto do rio Caveiras, onde existe um grande lago artificial formado pela represa das águas do rio Caveiras, o parque Jonas Ramos, popularmente chamado de Tanque, o parque ecológico Theodoro, com uma área de 2,34 milhões de metros quadrados e mais de 8 mil pinheiros nativos. Colaboração Ass. Imprensa Prefeitura Lages

Antônio Vieira

Norberto Cidade /SANTUR

A tradicional roda de música em volta do fogo de chão

Parque Jonas Ramos, popularmente chamado de Tanque Norberto Cidade /SANTUR

Salto do Rio Caveira

Salto do Rio Caveiras, onde se forma um grande lago artificial

Revista SINDIPI

37


ARTE

o mar

como inspiração Eunice e Júlio César Rodrigues transformaram a paixão pelo mar em uma forma de trabalho e lazer

E

nquanto fixa mais uma concha, Eunice olha através da janela, onde o mar, lá fora, traz a inspiração e a tranquilidade necessárias para criar. Da caixa de papelão, escolhe várias conchas, com diferentes formatos e cores, que irão se transformar em flores, sapos, pássaros, motocicletas, caranguejos e o que mais a imaginação permitir. Há quase dez anos, ela dedica-se ao artesanato e, com a habilidade de quem parece ter nascido para lidar com aquilo que vem do oceano, cria e recria, deixando a loja “Artes do Mar”, localizado em frente ao Bico do Papagaio – um dos cartões-postais de Itajaí –, mais colorida e repleta de detalhes. “Aprendi sozinha, fazendo mesmo”, diz. Nem adianta insistir e perguntar qual o segredo de tanta imaginação e criatividade: “Acho que é dom”. E ponto final. Ao seu lado, está o marido, Júlio César, ajudando a montar mais uma fonte feita apenas com conchas. Ele, que sempre morou em frente ao Bico do Papagaio, também é um apaixonado pelo oceano. Passa praticamente todas as madrugadas pescando no molhe da praia da Atalaia. Júlio trabalhava na Polícia Militar quando, ao limpar uma arma, o gatilho disparou e acabou atin-

38

Revista SINDIPI


gindo sua vista esquerda. Como não poderia mais seguir nesse trabalho, começou a se dedicar ao artesanato, sem saber ao certo por onde começar. “Fazemos isso por paixão”, comenta Eunice. “O artesanato está cada vez se estreitando mais”, acrescenta o marido. Júlio explica que está mais difícil trabalhar com produtos vindos do mar por causa da fiscalização ambiental. Há, aproximadamente dois anos, os artesãos foram proibidos de utilizar estrelas-do-mar, por serem capturadas vivas do oceano. Agora, sobraram as conchas. Mas, até quando? A resposta, eles não têm. Por enquanto, seguem criando novas formas com estas pequenas peças que vêm do oceano. Seguem olhando ao mar e admirando-o para buscar inspiração. Seguem, apaixonados pelo artesanato e pelas belezas que vêm lá de fora. Texto: Sheila Calgaro

Fotos:Marcello Sokal

Eunice e Júlio César Rodrigues no atelier

Revista SINDIPI

39


LIVRO

Vidas separadas pelo

mar

O livro-reportagem mostra algumas memórias de pescadores, familiares, amigos e pessoas ligadas indiretamente à pesca industrial em Itajaí e região

A

obra de autoria da jornalista itajaiense, Sheila Ana Calgaro, reúne diferentes histórias de vidas que ajudam a traçar um paralelo sobre os aspectos socioculturais dos embarcados e a contar a trajetória da pesca industrial em Itajaí - cidade considerada o maior porto pesqueiro do Brasil. Mas também são relatos que revelam fragmentos da história da pesca no estado de Santa Catarina e no país. São histórias do Pinta Preta, pescador português que trabalhou em embarcações ainda movidas a carvão e foi pioneiro em explorar os mares do extremo-sul do Brasil. A vida de Virgínia, solitária em sua casa, convivendo com a constante espera pelo marido. As lembranças de Ricardo, sobrevivente de um naufrágio, que ficou quatro dias à mercê do oceano. A tristeza de Salma Benta, ao perder três filhos para o mar. As mãos milagrosas da benzedeira

40

Revista SINDIPI

Dona Lica a abençoar o Santa Luzia, que voltou com o porão cheio de peixe. A intensa procura por emprego enfrentada por Luiz Carlos, após abandonar a pesca para tentar uma vida em terra. Histórias também vivenciadas por Sheila, a bordo do barco Monkfish, durante cinco dias em alto-mar, com dez pescadores. “Foi a maneira mais viva que encontrei para trazer minhas impressões e sensações ao texto meramente informativo. Para relatar a rotina estafante destes homens a puxar centenas de metros de rede, durante o dia inteiro”, explica a autora. Desta forma, o livro se divide em 14 capítulos com histórias de vidas e aqueles nos quais a autora narra, em primeira pessoa, a experiência em alto-mar. A obra tem como objetivo maior registrar memórias e vivências de “anônimos” que somem frente aos números e dados oficiais. Afinal, muitas são as pessoas com histórias para contar, mas

poucas são aquelas dispostas a ouvir. A obra recebeu o apoio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura, da Fundação Cultural e Prefeitura de Itajaí. Foram publicados mil exemplares, com patrocínio da Multilog e apoio do Sitrapesca.

Exposição itinerante e projetos futuros O projeto foi ampliado para uma exposição itinerante de 14 banners,


com fotos dos personagens entrevistados e extratos do livro. A exposição irá percorrer espaços públicos e privados, principalmente de Itajaí. A sede do Sindipi também será um dos locais de exposição. Todas as fotografias foram feitas pelo jornalista Elton de Souza. A jornalista distribuiu exemplares para escolas públicas e particulares de Itajaí, Navegantes, Imbituba, Piçarras e outros municípios com tradição pesqueira. Aproximadamente 100 universidades brasileiras também estão na lista de distribuição, além dos principais sindicatos dos trabalhadores da pesca do país. “Quero que este livro sirva como um projeto social e pedagógico, valorizando as histórias destes pescadores que, muitas vezes, não têm seu trabalho reconhecido”, complementa. A autora já conseguiu parcerias com professores de Itajaí, que irão utilizar a obra na sala de aula, para promover palestras sobre a vida do pescador industrial. Além do livro como material pedagógico será utilizado também o documentário Ciclo das Horas, lançado no ano passado e dirigido por Sheila – um projeto independente, com produção de Simone Castro e fotografia/edição de Mederijohn Corumbá -, no qual são reveladas exclusivamente as vidas dos pescadores e familiares do barco Monkfish. “Muitas crianças e jovens têm pescadores em suas famílias. Mostrar a importância das memórias destas pessoas é fundamental para que estes alunos também entendam a história da nossa cidade”, diz Sheila.

LOCAIS DE VENDA Livrarias Saraiva, Casa Aberta e Época. Mais informações pelo e mail: sheilacalgaro@gmail.com

Revista SINDIPI

41


gastronomia

Um convite à culinária típica Uma das áreas mais privilegiadas da gastronomia litorânea, o Saco da Fazenda em Itajaí, recebeu um tradicional restaurante à base de peixes e frutos do mar, o Recanto da Sereia. O novo local, inaugurado em setembro, tem espaço aconchegante para atender cerca de 250 apreciadores da boa culinária. Os sócios-proprietários, Antonio Carlos da Silva e Fábio Mereciano, contam que já estavam “paquerando” a cidade itajaiense há mais de dois anos para abrir uma filial. Um dos motivos, além de ser uma vitrine do polo pesqueiro, sempre foi o pedido da clientela que eles

conquistaram ao longo dos anos, com o restaurante em Itapema. Fábio já tem em seu currículo a tradição familiar da gastronomia, iniciada com seu irmão Lelo. Eles contam que a matéria-prima é a “alma” do negócio, além da qualidade dos pratos oferecidos. Um outro diferencial é o horário de funcionamento, de segunda a segunda, das 11 às 24 horas. Entre as espécies mais compradas estão o congrio, o linguado, o namorado, a abrotea e o camarão. Na receita preparada especialmente para a Revista Sindipi, foram usados camarões capturados pela frota industrial de Itajaí.

Fotos:Marcello Sokal

Paella à moda Recanto Ingredientes 1 xícara de arroz 1 xícara de azeite de oliva extra vigem 4 dentes de alho picado 1 cebola grande picada 2 tomates sem semente picados 2 maços de tempero verde picados 1 colher de sopa de açafrão sal e pimenta a gosto 100 gramas de lula 100 gramas de polvo 100 gramas de marisco 100 gramas de camarão

Modo de preparo Numa panela, coloque o azeite de oliva e o alho picado, a cebola, o tomate e uma colher de açafrão, mexa e coloque os frutos do mar. Refogue bem, coloque dois copos de água e deixe ferver. Coloque o arroz, e para finalizar, sal, pimenta a gosto e o tempero verde. Porção para 2 pessoas

42 42

Revista SINDIPI Revista SINDIPI


Sautée de camarão na raiz

Divulgação

ingredientes

2 kg camarão sem casca 100 g de manteiga 100 g de alho amassado 500 g cebolas bem picadas 30 g de gengibre 3 claras 100 g de farinha de trigo raspas de lima e limão (a gosto) suco de 3 limões sal e pimenta do reino (a gosto) salsinha, manjericão e hortelã (a gosto) 100 unidades de raiz de capim-santo 500 g de gergelim preto 500 g de gergelim branco

Modo de preparar

Coloque o camarão no processador com o gengibre, o limão e as raspas de lima. Em uma frigideira, refogue o alho na manteiga, depois coloque a cebola e refogue por mais alguns minutos. Junte esse refogado aos camarões, no processador, e misture por alguns minutos. Coloque a mistura do processador em uma vasilha e acrescente a farinha de trigo e as claras. Junte a salsinha, o manjericão e a hortelã picados. Leve à geladeira por aproximadamente três horas, até que a massa fique firme. Faça bolinhas e espete na raiz de capim-santo. Por último, passe nos gergelins misturados. Leve ao forno médio, pré-aquecido, por 15 minutos.

Sugestão

Molho de limão capeta: 1 colher de sopa de manteiga / 1 colher de café de farinha / 1 cebola pequena bem picada / 1 litro de creme de leite fresco / sal e pimenta / suco de 4 limões capeta. Modo de preparar: doure a cebola na manteiga, acrescente a farinha, misture bem e dissolva no creme de leite. Deixe ferver para engrossar o molho. Acrescente o suco de limão e tempere com sal e pimenta. Sirva-o com os espetinhos. Rendimento: 100 unidades Tempo de preparação: 4 horas

Restaurante Capim Santo

Revista Revista SINDIPI SINDIPI 43 43


gastronomia

Camarão com moranga Ingretientes 1 pedaço de moranga 1 kilo de camarão médio 1 lata de molho de tomate 1 pacote de catupiry 1 xícara de azeite de oliva 1/2 cebola picada dois dentes de alho sal e noz moscada a gosto

Preparo Tempere o camarão com limão, sal, azeite de oliva e alho. Prepare o molho: refogue a cebola no azeite de oliva, acrescente o molho de tomate, um copo de água, uma colher de açúcar e sal a gosto, e deixa apurar bem. Coloque o camarão sem o suco no molho e desligue o fogo quando o camarão estiver vermelho. Reserve. Coloque numa vasilha pedaços de moranga pré-cozida, acrescente o catupiry e, por último, despeje o molho do camarão. Leve ao forno. Quando estiver borbulhando, o prato está pronto para servir. Como acompanhamento, uma salada e arroz regado ao vinho tinto com champignon.

Pa u

lo

Pim

en

Receita do consultor de informática e morador de Balneário Camboriú, Ailton Montagner

44

Revista SINDIPI

tel


Revista SINDIPI 45 Revista SINDIPI 45


evento

confraternização

dos associados do Sindipi

U

m jantar no dia 30 de janeiro reuniu cerca de 200 pessoas no Hotel Sandri, em Itajaí. O evento anual teve a participação dos associados e seus familiares e a equipe de colaboradores da entidade. Uma noite festiva, com ação social.

O empresário Eduardo, da empresa Natubrás, doou quatro camisas oficiais esportivas, uma do Brasil, uma do Vasco e duas do Flamengo. O evento contou com animação do músico DJ Martins. Confira os clicks da Festa: Fotos: João Souza

46

Revista SINDIPI


Revista SINDIPI

47


evento

Doação ao asilo Dom Bosco No dia do evento, o gerente da Natubras, Manoel Domingos Corrêa, a empresária da Vitalmar Pescados, Maria Elena Vitali, o empresário da Farol Pescados e Posto Náutico Farol, Francisco Carlos Gervásio, e o armador e secretário de Pesca de Itajaí, Agnaldo Hilton dos Santos, foram os que arremataram as camisas oficiais no leilão. No dia 10 de fevereiro, o presidente do Sindipi, Dario Luiz Vitali e o tesoureiro, Edson Vaz Pires, entregaram pessoalmente o cheque no valor de R$ 1750,00, arrecadado no leilão. A administradora do asilo Dom Bosco, Sônia Solange de Souza e Silva, disse que a doação é muito importante e que será usada na compra de fraldas geriátricas. O asilo tem hoje 73 idosos e a média de consumo mês é cerca de 2,8 mil fraldas. Liria dos Santos

48

Revista SINDIPI

Liria dos Santos


Revista Sindipi O veículo da Indústria Pesqueira Anuncie aqui!

Revista SINDIPI

49


mensagem

Foto Marcello Sokal

Pegadas na Areia

Uma noite eu tive um sonho... Sonhei que estava andando na praia com o Senhor, e através do céu, passavam cenas de minha vida. Para cada cena que passava, percebi pegadas na areia; uma era minha e a outra do Senhor. Quando a última cena de minha vida passou diante de nós, olhei para as pegadas na areia, Notei que muitas vezes no caminho da minha vida havia apenas um par de pegadas na areia. Notei também que isso aconteceu nos momentos mais difíceis da minha vida. Isso aborreceu-me deveras e perguntei então ao Senhor: - Senhor, tu me disseste que, uma vez que eu resolvi te seguir, tu andarias sempre comigo, todo o caminho, - Mas notei que nos momentos das maiores atribulações do meu viver havia na areia dos caminhos da vida, apenas um par de pegadas. - Não compreendo... Porque nas horas em que eu mais necessitava, tu me deixastes? O Senhor respondeu: - Meu precioso filho, eu te amo e jamais te deixaria nas horas da tua prova e do teu sofrimento. Quando vistes na areia apenas um par de pegadas, foi exatamente aí que Eu te carreguei nos meus braços!

Autor desconhecido

50

Revista SINDIPI


Revista SINDIPI

51


52

Revista SINDIPI


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.