
7 minute read
Plantio direto no Bioma Cerrado
PLANTIO DIRETO NO BIOMA DO CERRADO
A contribuição do ICIAG/UFU
Advertisement
Arquivo

O Cerrado brasileiro, com extensão de 2.045.000 km2, é o segundo maior bioma da América do Sul e o segundo maior bioma do Brasil, compreendendo cerca de 22% do território nacional.
Dadas as boas condições climáticas, tanto em relação à oferta de água e temperatura quanto seu relevo, que favorece a in ltração de água, é constituído em sua maioria por solos pobres e ácidos, mas profundos.
Possui uma formação vegetal e animal de grande biodiversidade que oportuniza sustentabilidade, porém, requer necessidades de conhecimentos técnicos e cientí cos especí cos para seu uso sustentável e viável.
É densamente povoado por médios e grandes cursos d’água e veredas, não obstante a sazonalidade das chuvas, que ocorrem de outubro a março.
Todas essas condições fazem com que a produção agropecuária só seja possível com a aplicação de muitos insumos e outras tecnologias, exigindo dos pro ssionais gerenciamento complexo e um perfeito conhecimento técnico e cientí co de dezenas de variáveis.
EQUILÍBRIO
Entre as variáveis de elevada complexidade, pode-se destacar a necessidade de adequação química e físico-química do solo para oferta de nutrientes e água, que interferem direta e rapidamente com suas excelentes qualidades físicas iniciais de agregação e estrutura do solo.
Estas, nos primeiros anos da utilização intensiva do solo, proporcionam um fantástico equilíbrio edá co entre macro e micro poros que favorecem as trocas gasosas e a retenção de água, mas, com o passar dos anos de uso, vão se deteriorando pela destruição da agregação e aumento dos coloides dispersos em água, que movimentam e se depositam na interface entre as camadas edá cas e as não edá cas, produzindo a camada subsuper cial adensada/compactada.
Neste bioma de condições climáticas favoráveis à proliferação da vida, outra variável que necessita de muito conhecimento técnico é o
controle das pragas e doenças que atacam as culturas. O descuido de apenas uma delas pode resultar no insucesso do empreendimento que, via de regra, é de elevado custo de implantação e condução.
Na economia globalizada e com o protecionismo governamental para a agricultura dado por outros países e que, via de regra, necessitam de menores investimentos e adequações, especialmente dos países mais temperados e ricos, impõe-se um desa o ainda maior aos nossos pesquisadores, produtores e instituições de pesquisa. Erros ou equívocos não podem existir e, se ocorrerem, é quase certa a exclusão do mercado.
CARACTERÍSTICAS ÚNICAS
O ambiente do Cerrado é caracterizado por possuir solos muito intemperizados, profundos, ácidos e pobres em nutrientes. Não há duas propriedades agrícolas iguais e, assim sendo, não existem receitas únicas a serem aplicadas a cada propriedade desse ecossistema.
Cabe ao pro ssional, que deve ser portador de grande capacidade de percepção técnica, à luz dos conhecimentos disponíveis, produzir as recomendações para cada propriedade onde os aspectos de oferta ambiental, recursos humanos e nanceiros, capacidade gerencial, dentre outros, sejam considerados.
Em ciência, especialmente na área em que se lida com a produção biológica, em geral, fala-se muito em probabilidades estatísticas, sendo comum trabalhar com uma probabilidade de até 5% de chance de que o sucesso do evento não aconteça conforme o previsto.
Quando se prevê determinado comportamento de uma espécie vegetal de uma lavoura, reagindo a um estímulo como a correção da acidez do solo e a adubação, está se falando, em termos e com certa generalização, o que pode afetar esta probabilidade de sucesso, pois a aplicação destas é uma dentre dezenas de outras variáveis a ela ligada.
Por exemplo, a qualidade física do solo, para disponibilização de água e trocas gasosas com a atmosfera, afeta diretamente a disponibilidade dos nutrientes para absorção pela planta, mesmo que a adubação tenha sido aplicada na qualidade e quantidade considerada ótima para a cultura.
Há, portanto, a probabilidade de até mais de 5% de dispersão de ocorrências em torno dessa média, mesmo ela sendo considerada ótima e necessária, que pode levar o produtor ao insucesso na atividade.
E lias N ascentes Borges, professor da U FU

C aio C outinho
CONHECIMENTO CIENTÍFICO
As interações do conhecimento científico com a vivência ou experiência local podem e devem ser consideradas, ajustando, se for o caso, a média às situações locais. Na importação ou na extrapolação de informações vivenciadas com sucesso em outras condições de solo, clima e pragas, por exemplo, é importante conhecer os fundamentos que dão suporte para de nir a possibilidade de seu uso irrestrito ou da necessidade de adaptações caso a caso, exigindo do pro ssional da área boa formação técnica e constante atualizações da pro ssão.
Com relação a esta premissa, cabe aqui descrever ou enfatizar como o plantio direto tornou-se realidade no ambiente do Cerrado. Na década de 80/90, a região sul do Brasil já tinha consolidado o sistema de manejo plantio direto como prática edá ca e conservacionista para seus solos que experimentavam intenso processo erosivo devido ao sistema convencional de manejo.
Na região sul, dadas as condições climáticas e de solo mais férteis, as vantagens do uso de cobertura do solo no inverno e/ou para a obtenção de uma segunda safra com interesse econômico, o uso das leguminosas, com capacidade de xar o nitrogênio atmosférico, como cultura de inverno, eram as mais solicitadas e de recomendação geral, tanto na pesquisa quanto pelos produtores.
As diversas tentativas de se

consagrado para a região sul do Brasil, utilizando as leguminosas como cultura de entressafra, constituiu em fracasso e descrença para vários produtores adeptos ao plantio direto.
Isto porque eles não conseguiam formar um bom crescimento de plantas para produção econômica ou de cobertura do solo com as tradicionais leguminosas, utilizadas com sucesso na região sul, embora as temperaturas e outras variáveis aqui fossem satisfatórias.
A oferta de água, fortemente retida nos poros mais finos do solo, e o desenvolvimento das raízes pivotantes das leguminosas, ficavam restritas à profundidade de correção e adequação química, não garantindo adequada produção de massa verde.
Aliado a esta baixa produção de massa verde pelas leguminosas, deve-se acrescentar que a adição de restos de cultura (palhada), ou mesmo a dessecação da planta para formar a cobertura de proteção contra a erosão sobre a superfície do solo, tida como exigência básica para caracterizar o plantio direto, não garantia adequada cobertura do solo até a época do próximo plantio, ou a cultura de verão.
As condições de baixa relação C/N da leguminosa, bom acúmulo de nutrientes, essenciais nas plantas de leguminosas aliadas ao clima quente, boa umidade relativa do ar e as vezes do solo, levavam a uma rápida decomposição total, ou seja, até à completa decomposição da M.O. em CO2 dos restos culturais, bem antes da melhor data para implantação da próxima cultura de verão.
O QUE FAZER?
Estas constatações levaram a uma decepção e atraso na adoção intensiva do sistema plantio direto no ambiente do Cerrado.
Mudanças na concepção do plantio direto no Cerrado começaram a evoluir quando uma estudante de I.C., Dionara Borges Andreani, juntamente com seu orientador, doutor e professor Waldo Lara Cabeza e outros colaboradores do ICIAG/UFU Uberlândia produziram um trabalho pioneiro.
Eles utilizaram diversas gramíneas, entre elas o sorgo e o milheto, comparando as tradicionais leguminosas de inverno para cobertura do solo, que inclusive renderam o prêmio Jovem Cientista de 1996, entregue pessoalmente pelo presidente Fernando Henrique Cardoso.
Os pesquisadores do ICIAG/UFU constataram que, além da maior produtividade de massa aérea e total, os restos culturais deixa-
PUBLICAÇÕES
dos pelas gramíneas promoviam densa e farta cobertura, protegendo o solo até mesmo depois da completa implantação da cultura de verão ou comercial, comparativamente às leguminosas.
Outra constatação importante que pode ser observada a partir da pesquisa é que a relação C/N mais elevada das gramíneas garantiu decomposição parcial, com maior preservação do material orgânico no solo na forma de ácidos húmicos e enorme contribuição para CTC e agregação do solo.
Elias Nascentes Borges Doutor e professor titular – Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
Liovando Marciano da Costa Doutor e professor titular – Universidade Federal de Viçosa (UFV)
Ana Paula Silva Nunes Mestre e professora - Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG)
Após a realização deste trabalho e sua ampla divulgação, inclusive na Revista Plantio Direto - Edição especial cultura da soja – julho/agosto de 1996, pg 47...., outras pesquisas, trabalhos e experiências bem-sucedidas de produtores, com uso de gramíneas de entressafra para o ambiente do Cerrado, incluindo a cultura do milho e a braquiária, o sistema plantio direto no Cerrado foi consolidado, tornou-se rentável, contribuindo para que hoje o Brasil seja o principal produtor de commodities agrícolas do mundo, representado mais de 27% do PIB brasileiro. ▣
Venha estudar no ICIAG/UFU Juntos fazemos mais para o agronegócio
