Julianna costa sem vergonha

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isso, não haveria porque mandar alguém atrás de mim depois. Mas… para isso, ele teria que ser preso ali. E ele estava fugindo. Coloquei-me de pé, implorando a minhas pernas que parassem de sacudir como duas menininhas indefesas, e disparei pelo corredor lateral onde tinha visto Kulik desaparecer. Já tinha avançado alguns bons metros quando lembrei que estava completamente desarmado, então voltei correndo para a arma do Cicatriz. Levei-a comigo e fiz o caminho completo. O armazém acabava em uma porta de metal larga que havia sido puxada para cima apenas o suficiente para dar passagem a um homem adulto agachado. Abaixei-me depressa, colocando a arma na minha frente, sem nenhuma certeza do que eu faria se alguém do outro lado começasse a atirar em mim. O fundo do galpão acabava em uma rua estreita e um canal, e a água turbulenta deixou claro que um barco havia acabado de sair dali. A única coisa que quebrava o silêncio mortal era um ronco rouco e distante de um motor que se afastava mais a cada segundo. Kulik tinha desaparecido. E mesmo que a polícia conseguisse pegar o barco… Agora não fazia mais diferença. Não havia como confirmar que ele estava no galpão, a não ser que, mais uma vez, eu testemunhasse.

– E Mina? – Levantei-me assim que vi Zahner se aproximar. – Onde está Mina? – Ela está bem. Está no clube. Quer saber onde você está, mas disse a ela que esperasse. – E quem… Quem levou o tiro? Foi ela? – Não. – Balançou a cabeça. – Foi outra garota, não sei quem era. Era negra, com os cabelos escuros. Sentei de volta. Toda força que eu ainda possuía no meu corpo se esvaiu de uma vez. – Spider – sussurrei. – Ela está bem? – Eu vi a resposta nos olhos de Zahner, antes mesmo de ele responder. – Sinto muito – murmurou. Parecia que alguém ateara fogo em minha garganta e rapidamente a exaustão cedeu lugar para uma fúria insana. Kulik era o culpado por aquilo, e nem mesmo tínhamos conseguido prendê-lo. – Você já ouviu falar em discrição? – reclamei, furioso, enquanto o paramédico terminava de examinar meus ferimentos. – Já, mas parece que a polícia holandesa não. Eu fiz de tudo, inclusive me ajoelhar e pedir para que eles cercassem o lugar em silêncio. Mas o responsável parecia um caçador de fama e promoções, ávido para pegar o infame Yuri Kulik. – E você não conseguiu convencê-lo? – Eu não tive muito tempo, tive? Estava querendo salvar sua vida, moleque. De nada – resmungou. – Como você sabia que o Kulik estava aqui? – Não sabia… Só usei o nome dele para fazer a polícia daqui agir mais rápido. O Kulik estava aqui? – Em carne e osso. Ameaçou-me e tudo o mais. – Puta que o pariu. – Colocou as mãos na cintura e olhou para os lados, com o lábio nos dentes. – Você viu por onde ele escapou? Talvez ainda esteja… – A porta dos fundos acaba em um canal. Ele fugiu de barco. Já deve estar bem longe.


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