Julianna costa sem vergonha

Page 202

fato de que minha primeira reação a suas palavras foi pensar em Mina sendo torturada. A ideia revoltou meu estômago e só me fez permanecer mais firme em minha decisão. Os passos lá fora estavam mais próximos e era só uma questão de tempo até nos encontrarem. E pouco tempo. – Não temos como sair daqui – sussurrei com um plano começando a se formar. – E mesmo que tivesse, não vou sem Mina. – Vamos todos morrer aqui, então? – Não. – Agora era eu quem mordia meu lábio em desespero. – Eu vou. – O quê?! – Ele me segurava com força. – Eu vou com eles. Eles só querem a mim, não é? – Expliquei apressado, ouvindo os rugidos russos e os passos cada vez mais próximos. – Eu apareço, eles me pegam e vão embora. – Não vou deixar você se sacrificar… – Não vou me sacrificar! Você me segue, seu animal! Achou o quê? – Arregalei os olhos para ele. – Que eu queria que você me deixasse morrer? O barulho alto me fez ter certeza de que tinha alguém do outro lado da porta. Zahner apertou o rosto em uma careta colérica, antes de enfiar a mão no bolso. Esticou o braço para mim, e vi o conteúdo em sua mão: um celular e um canivete. Peguei os itens, ainda hesitando, quando ele apontou para minha virilha. Confirmei com um gesto e enfiei tudo na cueca. Certifiquei-me de que Zahner estava bem escondido atrás da mesa antes de abrir a porta. Duas armas foram apontadas para mim imediatamente, e levantei as mãos, rendido. Nem precisei fingir surpresa: saber que havia homens armados ali fora era uma sensação bem diferente de vê-los. Minha voz oscilante e minha expressão de pânico e confusão deveriam ser suficientes para convencêlos de que tinha sido pego desprevenido. Deixei a porta atrás de mim aberta. Planejei fazer isso em uma fração de segundo: não queria que eles imaginassem que eu estava escondendo algo e se, mesmo assustado, eu fechasse a porta, poderia gerar uma curiosidade que eu queria desestimular. Eles se aproximaram, e percebi que ou Zahner tinha contado errado, ou um deles estava fora do seu campo de visão, porque não eram quatro, mas cinco homens. Um deles enfiou uma lanterna na minha cara e depois para um pedaço de papel que tinha nas mãos. Uma foto. Como haviam conseguido uma foto minha? Uma mão pesada empurrou minhas costas quando o homem com a foto disse algumas palavras em russo com um sorriso, e percebi que não era hora de me ater a detalhes. – Calma – pedi, devagar, ainda com as mãos levantadas. – Tem dinheiro no caixa. Nunca se sabe… Se eles fossem só assaltantes, seria a sorte do século. Eles riram com gosto, me lembrando de que eu havia gastado toda minha sorte conhecendo Mina. Daqui para a frente seria só azar. – Estávamos te procurando por todo lado – afirmou o homem ao meu lado em um francês precário. – Você vem com a gente. Pensei em responder. Mas o que eu poderia dizer? Tudo bem, eu vou com vocês. Cinco homens imensos e armados não precisavam da minha permissão. A mão pesada estava em minhas costas mais uma vez. Empurrando meu ombro com força e algo dentro de mim transcendeu. Além do medo. Além da ansiedade. Além do pânico. E percebi que algo em mim estava feliz e satisfeito. Era uma parte pequena e abafada pelo medo e


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.