Das Representações da Cidade no Cinema Brasileiro

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«Como e por que se fez a Semana? Como e por que costumam jogar os moços a fazer das suas: dançar o twist ou jogar um Volkswagen na roleta russa. Éramos os playboys intelectuais de 1922: ano do centenário da Independência ou Morte. Para manter aquela e destruir esta, inventámos uma fórmula: um pouco de idealismo, muito de curiosidade e muitíssimo de gozação.» 46 Em 1917, apesar das tímidas polémicas que se iniciam, a produção cultural ainda estava em fase de indecisões e transições: «Espera-se qualquer coisa que ainda não se sabe o que seja. Ataca-se, antes de tudo, o academismo através do parnasianismo [afinal, a fase inicial do modernismo, segundo Alceu Amoroso Lima, iria ser, acima de tudo, um movimento contra] fala-se muito em nacionalismo, principalmente após o surto patriótico gerado pela entrada do Brasil na [primeira] guerra [mundial].». 47 No entanto, os únicos processos de combate são-lhes dados pelo futurismo - nesse intervalo, que vai de 1917 a 1922 o futurismo serve de bandeira de rebelião. As primeiras exposições expressionistas que passaram pelo Brasil – a de Lasar Segall em 1913, e, um ano depois, a de Anita Malfatti – não despertaram muita atenção. Foi a segunda exposição de Anita Malfatti, em 1917, e a crítica negativa que esta recebeu de Monteiro Lobato 48 que levou a uma polarização das ideias renovadoras. O intervalo entre 1917 e 1922 é marcado pelo nacionalismo artístico, pela glorificação do individualismo, por discussões em artigos de jornais e em grupos de artistas, misturados com a exaltação do progresso da cidade de São Paulo, que acolhia um grande número de imigrantes europeus e migrantes de outros estados e que reflectia os primeiros entusiasmos pela era industrial, cujos ideais iriam, em breve, triunfar, atribuindo-se a São Paulo a árdua tarefa de modificar o Brasil. A consciência de que São Paulo era a “locomotiva” da federação, com uma mentalidade progressista e distinta do resto do país é claramente expressa um artigo de Oswald de Andrade publicado em Maio de 1921, onde diz: “O Brasil (…)tem uma missão a cumprir : a de alcançar o estágio actual da civilização paulista.”» 49Em fins de 1921 o estado de exaltação necessário a uma eclosão revolucionária estava formado: seria necessário passar da polémica travada nos jornais para um campo mais vasto, visto que os artigos e pequenas exposições atingiam um público limitado, e a «(…) indiferença da burguesia pela vida cultural, a mumificação académica só podiam ser despertas por um estrondo violento.» 50 Urgia algo, como disse Mário de Andrade, “destrutivo e festeiro”. Esta foi a génese da Semana de Arte Moderna, organizada por Mário de AndraALMEIDA, Guilherme citado por SODRÉ, Nelson Werneck, A verdade sobre o modernismo, in XAVIER, Alberto, Depoimento de uma geração: arquitetura moderna brasileira, Cosac&Naif, São Paulo 2003 (p.33). 47 BRITO, Mário da Silva, As coordenadas do século XX – Liberalismo, Fascismo e Comunismo in XAVIER, Alberto, Depoimento de uma geração: arquitetura moderna brasileira, Cosac&Naif, São Paulo 2003 (p.25). 48 Monteiro Lobato publica o artigo “Paranóia ou Mistificação?” no Estado de São Paulo em 1917, onde critica vigorosamente as “inovações” na pintura de Anita, envolvendo-se numa polémica com os principais artistas modernos. 49 AQUINO, Flávio de, Os primórdios do modernismo no Brasil in XAVIER, Alberto, Depoimento de uma geração: arquitetura moderna brasileira, Cosac&Naif, São Paulo 2003 (p.29). 50 Ibidem (p.31). 46

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