Nuvem de Outono

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Nuvem de outono Cores no céu e poesia na página

SERI / ILZA JOAQUIM / LIDIA MARIA DE MELO / RONALDO DANTAS BARRETO / FÁBIO TATSUBÔ / ERALDO SANTOS / ALFREDO MEDEIROS / LUIZ SÉRGIO MOURA


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No dia 21 de maio, um raro fenômeno climático aconteceu em nos céus da Baixada Santista. Após intensa chuva no período da manhã, uma nuvem gigante e escura pairou sobre a região, contrastando com as lindas cores do do fim do dia. Esse espetáculo da natureza foi registrado pelos amigos do facebook, cujas imagens estão neste book, ao lado de alguns poemas que falam disso, das cores, das nuvens, do outono.


Uma névoa de Outono o ar raro vela (5-11-1932)

Uma névoa de Outono o ar raro vela, Cores de meia-cor pairam no céu. O que indistintamente se revela, Árvores, casas, montes, nada é meu. Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono. Sim, sinto-o eu pelo coração, o como. Mas entre mim e ver há um grande sono. De sentir é só a janela a que eu assomo. Amanhã, se estiver um dia igual, Mas se for outro, porque é amanhã, Terei outra verdade, universal, E será como esta [...] Fernando Pessoa


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Está fazendo um dia lindo de outono. A praia estava cheia de um vento bom, de uma liberdade. E eu estava Preciso aprender a não precisar de ninguém. É difícil, porque preciso repartir com alguém o que sinto. O mar estava calmo. Eu também. Mas à espreita, em suspeita. Como se essa calma não pudesse durar. Algo está sempre por acontecer. O imprevisto me fascina. Clarice Lispector


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Crepúsculo de Outono O crepúsculo cai, manso como uma benção. Dir-se-á que o rio chora a prisão de seu leito... As grandes mãos da sombra evangélicas pensam As feridas que a vida abriu em cada peito. O outono amarelece e despoja os lariços. Um corvo passa e grasna, e deixa esparso no ar O terror augural de encantos e feitiços. As flores morrem. Toda a relva entra a murchar. Os pinheiros porém viçam, e serão breve Todo o verde que a vista espairecendo vejas, Mais negros sobre a alvura unânime da neve, Altos e espirituais como flechas de igrejas. Um sino plange. A sua voz ritma o murmúrio Do rio, e isso parece a voz da solidão. E essa voz enche o vale...o horizonte purpúreo... Consoladora como um divino perdão. O sol fundiu a neve. A folhagem vermelha Reponta. Apenas há, nos barrancos retortos, Flocos, que a luz do poente extática semelha A um rebanho infeliz de cordeirinhos mortos. A sombra casa os sons numa grave harmonia. E tamanha esperança e uma tão grande paz Avultam do clarão que cinge a serrania, Como se houvesse aurora e o mar cantando atrás.

Manuel Bandeira


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