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Todos os nomes: uma lição da Nova História

Teresa Cristina Cerdeira*

Na contramão de uma leitura que desistoriciza os romances de José Saramago na dita segunda fase da sua produção, esta proposta de interpretação de Todos os nomespretende entendê-lo como uma narrativa cujo argumento poderia ser lido, em modo metonímico, como um conjunto de eventos que ali estão, entre outras funções, para cumprir seu papel de mise en abymede uma função ensaística muito a gosto do autor. Neste caso, essa função seria a de evidenciar e referir uma ética da história para quem a compreensão do presente exige fundamentalmente uma memória do passado. A metamorfose da Conservatória do Registro Civil, operada por um conservador que se nutre da experiência vivencial do Sr. José, será a ilustração desse entendimento: não mais separar os ficheiros dos vivos e dos mortos significa compreender que o dia só garante sua existência conceptual se existir a noite, não apenas como contraponto, mas ainda como referência original e tutelar: fala-se sempre do primeiro dia quando na verdade é a primeira noite que deveria contar.

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Palavras-chave: José Saramago. Todos os nomes. Nova História.

* Teresa Cristina Cerdeira é professora titular da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro e pesquisadora 1A do CNPq. Foi Regente da Cátedra Jorge de Sena de 2005 a 2011, tempo durante o qual editou a Revista Metamorfoses. Organizou individualmente ou em conjunto livros de ensaio em homenagem a Cleonice Berardinelli (Cleonice clara em sua geração, 1985), a Helder Macedo (A Experiência das fronteiras, 2004; A primavera toda para ti, 2006). É autora dos seguintes livros: José Saramago: entre a história e a ficção, uma saga de portugueses(Lisboa: Dom

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Quixote, 1989; Belo Horizonte: Moinhos, 2019); O avesso do bordado(Lisboa: Caminho, 2000); A Tela da Dama(Lisboa: Presença, 2013); A Mão que escreve(Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2014); Formas de ler(Belo Horizonte: Moinhos, 2020).