1 minute read

Saramago cronista: está lá tudo?

Saulo Gomes Thimóteo*

As crônicas que José Saramago escreveu durante as décadas de 60 e 70, antes dos romances que o consagrariam, portanto, formulam-se como uma espécie de “oficina do artista”, na qual a sua escritura foi sendo estimulada e testada, mesmo no diminuto espaço do gênero cronístico. Não se deve estabelecer, contudo, que ali estavam os romances encapsulados, mas sim que as linhas mestras do que seria o narrador (ensaísta?) Saramago ali se dilatavam e desenvolviam. Seja jogando com elementos literários, como personagens, diálogos e evocações, seja produzindo a visão do cidadão engajado politicamente, com seu encadear argumentativo e seus recursos de tropos de linguagem, há muitos elementos nas crônicas que deixam entrever a personasaramaguiana, que se refletiria e refrataria no caleidoscópio da obra futura. Nesse sentido, tentando investigar os diversos caminhos que se entretecem em sua escrita, três lustros se apresentarão: a Linguagem, a Paisagem e a Viagem. Em todos, embora cada um mantenha uma singularidade, há tanto a ação do questionamento constante, quanto a busca da compreensão da experiência praticada, algo constante e contínuo na visão saramaguiana.

Advertisement

Palavras-chave: José Saramago. Crônica. Linguagem. Paisagem. Viagem.

* Saulo Gomes Thimóteo é professor de Teoria Literária e Literaturas de Língua Portuguesa e do Programa de Mestrado em Estudos Linguísticos na Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) desde 2011. Com pesquisas sobre a literatura portuguesa desde 2004, sobretudo a obra de José Saramago, em associação a diálogos com nomes como Mikhail Bakhtin, Walter Benjamin e Roland Barthes, o professor busca

57

estabelecer caminhos de leitura e interpretação, de modo a observar a literatura como espaço de jogo, diálogo e interação.