Alguma poesia: catálogo com amostra poética de Carlos Drummond de Andrade

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alguma poesia


Alguma poesia. Pequena antologia de poemas de Carlos Drummond de Andrade. As referĂŞncias para cada um dos trabalhos aqui apresentados encontram-se logo no final de cada texto bem como as referĂŞncias para as imagens.


alguma poesia


Carlos Drummond de Andrade, final da dĂŠcada de 1930. Foto Arquivo Carlos Drummond de Andrade - AMLB/FCRB


Na órbita dos enigmas¹ Por Alcides Villaça²

Respeitar um enigma é inaceitável para quem entende a hermenêutica, de forma estrita e muito ao pé da letra, como explicação – caso em que interpretar é sinônimo de desvendar. No campo oposto, há o leitor para quem o enigma representado só pode conduzir a um estado contemplativo, a um desfrute paralisado e silencioso, enigmático por sua vez. Mas a explicação pretensiosa ou o prazer sem palavras não se consolidam como boa alternativa para a recepção crítica. Se a razão de ser do intérprete é perguntar pelo modo de ação e pelos efeitos de sentido da forma enigmática, não lhe cabe tentar desvendá-la, recusando o que nela é essencial, nem replicá-la como simples ressonância numa caixa vazia. Tais questões se repõem de forma especialmente provocadora diante da poesia de Drummond, a que não faltam enigmas: símbolos, metáforas, elipses, alegorias, alusões apresentam-se como cifras dos diferentes desafios que o sujeito lírico vai enfrentando ao longo do tempo. Tais cifras integram um discurso a que também não falta o ímpeto de uma consciência investigativa, armando-se assim um diálogo tenso entre a área de sombra do enigma e a força de sua representação iluminada, entre o silenciamento do sentido último e a forma que, apresentada como inútil, atinge com seu poder de indiciamento a máxima vibração poética. Quando considera seus versos simples arabescos, volteios caprichosos em torno de um elemento essencial e inatingível,


Drummond formula uma questão que é geral em sua poética e instiga ao exame particular de cada ocorrência. Quero aqui localizar, mais para instigar que para concluir, alguns casos de representação do enigma, entendida esta num espectro bastante largo, que pode ir da solidez da pedra emblemática à rarefação da matéria poética autodefinida como o nada. O enigma drummondiano, atendendo a uma tensão própria de sua poesia, é um elemento de ligação entre a experiência dos sentimentos e as projeções da consciência especulativa. A força lírica dessa conexão ao mesmo tempo relativiza a aguça o poder da cifra. Relativiza, pois o leitor não é absorvido integralmente pela força do mistério quando esta se confunde com a suficiência artística da forma bela; mas aguça, pois justamente o poder de beleza dessa forma reconduz à suspeição de uma beleza ainda maior, misteriosa, sem nome. Na arte, parece que mais queremos quanto mais alto se dá a objetivação – anseio em que o artista e o público se encontram como postulantes de uma plenitude que é também nostalgia. Em “Poesia”, de seu livro de estreia (Alguma poesia, 1930), o poeta considera o verso “que a pena não quer escrever” e a poesia que, ainda assim, “inunda minha vida inteira” (anos mais tarde, no “Canto esponjoso”, o poeta deporá: “Vontade de cantar. Mas tão absoluta/ que me calo, repleto”). Tal dissociação entre insuficiência formal e vivência essencial cria um abismo impossível de transpor, que pode desapontar o leitor, mas não frustra o poeta. Este afirma que o tal verso buscado “está cá dentro/ inquieto, vivo”, e o fato de que “não quer sair” não compromete a expansão da “poesia deste momento”. O título “Poesia” é, pois, anúncio da paradoxal expressão de uma impossibilidade de forma para aquilo que “inunda” o poeta como silenciosa e incontestável presença. Poesia, aqui, é o nome de um estado poético sem palavras, alheio ao discurso que só ocorre como notícia da recusa à expressão. A notícia do poema é pobre, mas a poesia do poeta, afirma este, é avassaladora. Entre a idealização romântica e a altivez modernista, o prosaico se faz indício do estão da poesia individual, a que o leitor é chamado como simples testemunha. “Se o meu verso não deu certo, foi seu ouvido que entortou.” (“Experiência”). Mais denso é o poema “Segredo”, de Brejo das almas (1934), que antecipa no tema e na tonalidade a poética obsessiva das recusas, traçada sobretudo a partir de Claro enigma (1951). A incomunicabilidade persiste, mas é referida a situações que parecem prescrevê-la. Os sucessivos nãos (“Não me ame”, “Não diga nada”, “Não conte”, “Não peça”) realizam sínteses negativas que o leitor, induzido a compartilhá-las com o poeta, não tem como especificar. A inconsistência geral do amor, da revolução, das façanhas místicas ou épicas, da escatologia religiosa compõe um repertório contra o qual se impõe o valor sempre final da negação cabal. De onde vem essa inconsistência? Do fundo mesmo do sujeito, “torto”, em “seu canto”, sujeito “impossível” entre todas as coisas possíveis; uma inconsistência também coletiva “do nosso corpo”, que se deve fechar aos estímulos do mundo para se preservar em segredo. No silêncio deste encerra-se o sentido da recusa, orgulho dúbio da consciência que erige seu próprio apocalipse, desdenhando tanto o amor como “os últimos acontecimentos” (revoluções de 30 e 32), os milagres e o temor de Deus.


Diante do mundo grande, múltiplo e incompreensível, o poeta dá o que poderia ser apenas o primeiro passo da lírica, mas nele já se estabelece, paralisado. A pedra do meio do caminho persiste mesmo no período mais esperançoso dos livros Sentimento do mundo (1940), e A rosa do povo (1945). O poema que fecha o primeiro é “Noturno à janela do meu apartamento”, onde “A alma se interroga/ e logo se cala (...)”, na “contemplação/ de um mundo enorme e parado”. No segundo, a “Procura da poesia” desemboca na amargura das palavras “ermas de melodia e conceito”, que “se refugiaram na noite”. Aqui, a incomunicabilidade segue a possibilidade humana: no decorrer da nossa história esvaziamos nossas palavras de sua música e de seu sentido, e nos poemas que agora “Estão paralisados”, “sós e mudos”, elas se “transformam em desprezo”. Em contraste com as exortações à luta e ao posicionamento político, há a hora – “Anoitecer” – em que o corpo “pede paz – morte – mergulho/ no poço mais ermo e quedo”. Dessa hora abismal, sombreada pelo enigma e esvaziada de qualquer convicção, o poeta tem medo. Na sequência acima, a presença do enigma se dá tanto no silêncio sem perda como no esvaziamento definitivo, na alusão ao sentido como na desistência deste. Variando na dimensão da natureza, interpõem-se espaços de significação entre os nomes e as coisas. O certo é que o enigma passará, depois de A rosa do povo, a constituir-se como o centro mesmo de poemas importantes, estará no título paradoxal do livro de 1951 e, mais importante, se insinuará no amplo horizonte da poesia de maturidade, convertendo-se numa espécie de cifra negativa do Absoluto, a meu ver culminando (encerrando-se?) esse processo de melancólica escavação cognitiva no poema “F”, que não por acaso arrematará o livro Lição das coisas. Em Novos poemas, o poema em prosa “O enigma” opera uma reversão na expectativa usual de um objeto como desafio e obstáculo no meio do caminho do sujeito: o enigma agora somos nós, “formas deambulantes”, a “coisa sombria”, a “forma obscura”, somos nós que detemos o caminhar das pedras. Apresentados na condição de uma “enorme Coisa”, não nos decifram as pedras nem nos deciframos nós mesmos: “É mal dos enigmas não se decifrarem a si próprios”. A reversão na clássica relação entre sujeito e objeto subtrai do domínio da natureza uma rotina de conhecimento subitamente desequilibrada pela incógnita que representamos. O guachismo pessoal do poeta expande-se para as aberrações da nossa espécie, da qual emana uma tal força de contaminação que as próprias pedras resultam diminuídas, assumindo agora um discurso análogo ao nosso e uma nova condição assemelhada à nossa, em prejuízo da dinâmica e do ordenamento primitivos. A reversão é, de fato, difusão que leva a uma fusão: o enigma humano abarca o mundo e se alimenta dele e de si mesmo, em sua “confusão amaldiçoada”. A rotina física de “caminhavam”, própria das pedras do mundo, transtorna-se sob a inflexão da consciência negativa. O poeta sente a história humana como um enigma no curso da história natural. Os acontecimentos são absorvidos, como na epigrafe depois tomada a Valéry, na condição de aborrecimentos. A recusa de uma história progressista, a desistência da transformação política, a diluição da consciência de classe na consciência de uma dissolução geral, tudo é cada tudo o que considera veleidade de totalização. E canta como nunca.


Um dos pontos culminantes do enfrentamento direto do enigma em que se converteu (“de mim mesmo sou hóspede secreto”, conclui em “A um hotel em demolição”) estará na operação que o identifica como o nada, como o que parece furtar-se em definitivo à compreensão, mas por isso mesmo demanda o esforço máximo de algum indiciamento poético. É o que ocorre em “Nudez”, de A vida passada a limpo (1959). O poeta traz de volta os obsessivos nãos que já marcavam o longínquo poema “Segredo”, mas em vez da forma imperativa e sintética alinha-os num discurso argumentativo e retórico, em que se despoja sucessivamente dos grandes temas: o amor, o canto, a dor, a morte. O eixo do poema é o verso “Minha matéria é o nada”em franca oposição ao que seria “cantar algo de vida”. O paradoxo é grandioso, já que se trata de um poema em que o andamento, o desempenho rítmico-musical e dos mais belos, exigindo de seu intérprete em voz alta inflexões do canto mais ambicioso. O processo de desnudamento recusa os materiais da vida e quer ir além da morte. No curso desse processo, o poeta se posiciona na “pobre área de luz de nossa geometria”; confessa-se um desistente dos “alvos imortais” e captura, enfim, a nudez completa: dissolução do próprio desejo de negar, para a qual o poema funciona como uma espécie de lápide, sobre a qual não se estampa mais que a “notícia estrita” da operação dissolvente. O movimento negativo descarta os temas do mundo para despovoar a consciência de todo objeto e nele instalar-se como último vazio, convertendo-se na cifra da nudez radical. Os oxímoros “serenos desidratados”, “ossuário sem ossos”, “a morte sem os mortos” encarnam, no discurso, a franca disposição do poeta em desintegrar o pretenso sentido de tudo – triunfo irônico da consciência negativa vingando-se de si mesma. Nos livros da década de 50, predomina esse esforço de aproximação da morte, convocando-se o préstimo das formas belas e intensas que, articuladas na sintaxe exigente do estilo alto, tornam a arte uma aporia para si mesma. No livro de revisitações estilísticas e temáticas e de algum experimentalismo formal, que é Lição de coisas (1962), um poema como “Science fiction” dá nova versão ao olhar que busca ver de fora, agora da perspectiva de um marciano, o desarranjo da “impossibilidade humana”. O enigma essencial de Drummond (nosso?) formula-se de modo lapidar: “Como pode existir, pensou consigo, um ser/ que no existir põe tamanha anulação da existência?”. Mas também o marciano se dissolve (“desintegrouse/ no ar constelado de problemas”), e o drama do sujeito não tem testemunho: “E fiquei só em mim, de mim ausente”. No poema “O bolo”, nosso apetite de sujeitos confiantes leva-nos ao que nos devora, não nos restando, já “mastigados, deglutidos”, “no interior da massa”, senão alimentar, no estado de nossa inconsciência, a mecânica da gula insatisfeita cujo sentido nos transcende. Mas no poema final do livro – “F” – Drummond se arma, se não erro, de uma nova disposição frente aos enigmas, disposição que os livros posteriores não deixam de ratificar: concluindo que a “forma”, assim absoluta, sempre lhe escapa (“por isso mesmo viva/ no morto que a procura”), e jamais será tocada, projeta-a, sem “nenhum desgosto”, o “largo armazém do factível/ onde a realidade é maior do que a realidade”. Essa confirmação do enigma no lugar que lhe compete vem harmonizada na chave de um terceto conceitual, “filosófico”, de dicção serena. Desistente da Forma reveladora, o poeta consola-se em saber que a ausência dela é a prova mesma de sua exorbitância. Parece-me que o ambicioso e


tenso idealismo de Drummond detém-se aqui num estoicismo que não lhe é comum. Nos livros que seguem, como na trilogia do Boitempo, a frequência dos enigmas recua bastante, abrindo espaço para um memorialismo afetivo e sistemático, muitas vezes colado ao anedótico, conquanto capaz, aqui e ali, de iluminar o processo poético. No poema em prosa “Procurar o quê”, de Esquecer para lembrar (1979), o velho poeta toma de empréstimo sua voz de menino para nos falar de uma indagação infantil, tão obsessiva quanto carente na procura de um impreciso objeto. Este só se define em negativo (“não é isto nem aquilo”, “não sei o que procuro”, “até agora não encontrei nada”), a busca escandaliza o senso comum (“me chamam de bobo”), mas o menino não abdica da operação: “um dia descubro”. Como é do espírito dos Boitempo, a voz do velho poeta e a do menino fazem uma: a busca da criança obstinada prolonga-se no tempo e inclui-se nas interrogações presentes do poeta. “Eu tropeço no possível, e não desisto de fazer a descoberta do que tem dentro da casca do impossível.” Declaração do menino, que vasculhava ninhos, panelas, folhas de bananeira, ou voto permanente do poeta inquisitivo? Ambos se movem no procurar, a despeito de não se saber o quê. Pergunto se não seria esta uma operação básica da poesia de Drummond: intensificar o limite das experiências pessoais e das formas sensíveis para elevar a órbita de uma significação maior, que jamais se revela. Muitos poemas são, de fato, um jogo entre a ironia da limitação, e a suspeita do essencial, um perde-e-ganha sistemático, no qual “a coisa procurada”, se achada, “há de ser invisível para todo mundo”. Os leitores talvez possam concluir que Drummond a encontrou em cada grande poema: uma prova da existência dos alvos imortais é que a poesia segue procurando-os, enquanto os circunscreve na área dos enigmas. Notas ¹ Alcides Villaça é crítico literário e professor titular de literatura brasileira na Universidade de São Paulo (USP). Publicou O tempo e outros remorsos, Viagem de trem e Passos de Drummond. ² Ensaio publicado inicialmente na Revista Entrelivros, ano 3, n.25, p.38-41.


Casa-sede da Fazenda do Pontal ou dos Doze Vinténs, onde Carlos Drummond de Andrade passava as férias na infância Foto: Arquivo Carlos Drummond de Andrade - AMLB/ FCRB


Liquidação

A casa foi vendida com todas as lembranças todos os móveis todos os pesadelos todos os pecados cometidos ou em via de cometer a casa foi vendida com seu bater de portas com seu vento encanado sua vista do mundo seus imponderáveis por vinte, vinte contos.

ANDRADE, Carlos Drummond de. “Liquidação”. In: Boitempo. Poesia completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 2006..


Fac-smíle do poema “O chamado”, escrito em homenagem a Manuel Bandeira e depois incluído no livro Lição das coisas, 1962. Foto: Arquivo Carlos Drummond de Andrade - AMLB/ FCRB


O chamado Na rua escura o velho poeta (lume de minha mocidade) já não criava, simples criatura exposta aos ventos da cidade. Ao vê-lo curvo e desgarrado na caótica noite urbana, o que senti, não alegria, era, talvez, carência humana. E pergunto ao poeta, pergunto-lhe (numa esperança que não digo) para onde vai — a que angra serena, a que Pasárgada, a que abrigo? A palavra oscila no espaço um momento. Eis que, sibilino, entre as aparências sem rumo, responde o poeta: Ao meu destino. E foi-se para onde a intuição, o amor, o risco desejado o chamavam, sem que ninguém pressentisse, em torno, o chamado.

ANDRADE, Carlos Drummond de. “O chamado”. In: Lição das coisas. Poesia completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 2006..


Itabira no início do século XX. Ao fundo o pico do Cauê. Foto: Reprodução


Itabira

Cada um de nós tem seu pedaço no pico do Cauê. Na cidade toda de ferro as ferraduras batem como sinos. Os meninos seguem para a escola. Os homens olham para o chão. Os ingleses compram a mina. Só, na porta da venda, Tutu Caramujo cisma na derrota incomparável.

ANDRADE, Carlos Drummond de. “Itabira”. In: Alguma poesia. Poesia completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 2006..


Carlos Drummond de Andrade em seu apartamento no Rio de Janeiro Foto: RogĂŠrio Reis


Noturno à janela do meu apartamento Silencioso cubo de treva: um salto, e seria a morte. Mas é apenas, sob o vento, a integração na noite. Nenhum pensamento de infância, nem saudade nem vão propósito. Somente a contemplação de um mundo enorme e parado A soma da vida é nula. Mas a vida tem tal poder: na escuridão absoluta, como líquido, circula. Suicídio, riqueza, ciência... A alma severa se interroga e logo se cala. E não sabe se é noite, mar ou distância. Triste farol da Ilha Rasa.

ANDRADE, Carlos Drummond de. “Noturno à janela do meu apartamento”. In: Sentimento do mundo. Poesia completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 2006.


Carlos Drummond de Andrade quando crianรงa Foto: Arquivo Carlos Drummond de Andrade - AMLB/FCRB


Infância A Abgar Renault

Meu pai montava a cavalo, ia para o campo. Minha mãe ficava sentada cosendo. Meu irmão pequeno dormia. Eu sozinho menino entre mangueiras lia a história de Robinson Crusoé, comprida história que não acaba mais. No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu a ninar nos longes da senzala — e nunca se esqueceu chamava para o café. Café preto que nem a preta velha café gostoso café bom. Minha mãe ficava sentada cosendo olhando para mim: — Psiu... Não acorde o menino. Para o berço onde pousou um mosquito. E dava um suspiro... que fundo! Lá longe meu pai campeava no mato sem fim da fazenda. E eu não sabia que minha história era mais bonita que a de Robinson Crusoé. ANDRADE, Carlos Drummond de. “Infância”. In: Alguma poesia. Poesia completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 2006.


Carlos Drummond de Andrade (primeiro à esq.) junto à família na casa de Itabira em 1915. Foto: Arquivo Carlos Drummond de Andrade - AMLB/FCRB


Ruas Por que ruas tão largas? Por que ruas tão retas? Meu passo torto foi regulado pelos becos tortos de onde venho. Não sei andar na vastidão simétrica implacável. Cidade grande é isso? Cidades são passagens sinuosas de esconde-esconde em que as casas aparecem-desaparecem quando bem entendem e todo mundo acha normal. Aqui tudo é exposto evidente cintilante. Aqui obrigam-me a nascer de novo, desarmado.

ANDRADE, Carlos Drummond de. “Ruas”. In: Sentimento do mundo. Poesia completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 2006.


Carlos Drummond de Andrade em Belo Horizonte 1932 Foto: Arquivo Carlos Drummond de Andrade - AMLB/FCRB


Capa do número três da Revista de antropofagia, São Paulo, julho de 1928, com primeira publicação de “No meio do caminho”. Foto: Biblioteca Brasiliana USP


Primeira versão do poema “Quadrilha” publicada na Revista Verde. Cataguazes, novembro de 1927. Na versão o verso 7: “Joaquim suicidou-se e Lili casou-se como Jota Pinto Fernandes” está escrito: “Joaquim suicidou-se e Lili casou com Brederodes”. O poeta fez alteração para a versão conhecida quando publicou em livro. Foto: Biblioteca Brasiliana


Poema de sete faces Quando nasci, um anjo torto desses que vivem na sombra disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida. As casas espiam os homens que correm atrás de mulheres. A tarde talvez fosse azul, não houvesse tantos desejos. O bonde passa cheio de pernas: pernas brancas pretas amarelas. Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração. Porém meus olhos não perguntam nada. O homem atrás do bigode é sério, simples e forte. Quase não conversa. Tem poucos, raros amigos o homem atrás dos óculos e do -bigode, Meu Deus, por que me abandonaste se sabias que eu não era Deus se sabias que eu era fraco. Mundo mundo vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não seria uma solução. Mundo mundo vasto mundo, mais vasto é meu coração. Eu não devia te dizer mas essa lua mas esse conhaque botam a gente comovido como o diabo.

ANDRADE, Carlos Drummond de. “Poema de sete faces”. In: Alguma poesia. Poesia completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 2006.


Capa da 1ª edição de Alguma poesia. Belo Horizonte, Edições Pindorama, 1930. O livro foi integralmente custeado pelo poeta. O “Poema de sete faces” é o que abre esta edição. Foto: Marcella Azal/Arquivo Carlos Drummond de Andrade - AMLB FCRB


Cidadezinha qualquer Casas entre bananeiras mulheres entre laranjeiras pomar amor cantar. Um homem vai devagar. Um cachorro vai devagar. Um burro vai devagar. Devagar... as janelas olham. Eta vida besta, meu Deus.

ANDRADE, Carlos Drummond de. “Cidadezinha�. In: Alguma poesia. Poesia completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 2006.


Vista de Itabira, 1929. Foto: Museu de Itabira.


Episódio Manhã cedo passa à minha porta um boi. De onde vem ele se não há fazendas? Vem cheirando o tempo entre noite e rosa. Pára a minha porta sua lenta máquina. Alheio à polícia anterior ao tráfego Ó boi, me conquistas para outro, teu reino. Seguro teus chifres: eis-me transportado Sonho e compromisso ao País Profundo.

ANDRADE, Carlos Drummond de. “Episódio”. In: A rosa do povo. Poesia completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 2006.


Capa da 1ª edição de A rosa do povo, publicada em 1945, pela José Olympio. Foto: Marcella Azal/Arquivo Carlos Drummond de Andrade - AMLB/FCRB


Drummond diante da fachada do Palรกcio Capanema, Rio de Janeiro, 1945 Foto: Arquivo Carlos Drummond de Andrade - AMLB/FCRB


Consideração do poema

Não rimarei a palavra sono com a incorrespondente palavra outono. Rimarei com a palavra carne ou qualquer outra, que todas me convêm. As palavras não nascem amarradas, elas saltam, se beijam, se dissolvem, no céu livre por vezes um desenho, são puras, largas, autênticas, indevassáveis. Uma pedra no meio do caminho ou apenas um rastro, não importa. Estes poetas são meus. De todo o orgulho, de toda a precisão se incorporam ao fatal meu lado esquerdo. Furto a Vinicius sua mais límpida elegia. Bebo em Murilo. Que Neruda me dê sua gravata chamejante. Me perco em Apollinaire. Adeus, Maiakovski. São todos meus irmãos, não são jornais nem deslizar de lancha entre camélias: é toda a minha vida que joguei. Estes poemas são meus. É minha terra e é ainda mais do que ela. É qualquer homem ao meio-dia em qualquer praça. É a lanterna em qualquer estalagem, se ainda as há. — Há mortos? há mercados? há doenças? É tudo meu. Ser explosivo, sem fronteiras, por que falsa mesquinhez me rasgaria? Que se depositem os beijos na face branca, nas principiantes rugas. O beijo ainda é um sinal, perdido embora, da ausência de comércio, boiando em tempos sujos. Poeta do finito e da matéria, cantor sem piedade, sim, sem frágeis lágrimas, boca tão seca, mas ardor tão casto.


Dar tudo pela presença dos longínquos, sentir que há ecos, poucos, mas cristal, não rocha apenas, peixes circulando sob o navio que leva esta mensagem, e aves de bico longo conferindo sua derrota, e dois ou três faróis, últimos! esperança do mar negro. Essa viagem é mortal, e começá-la. Saber que há tudo. E mover-se em meio a milhões e milhões de formas raras, secretas, duras. Eis aí meu canto. Ele é tão baixo que sequer o escuta ouvido rente ao chão. Mas é tão alto que as pedras o absorvem. Está na mesa aberta em livros, cartas e remédios. Na parede infiltrou-se. O bonde, a rua, o uniforme de colégio se transformam, são ondas de carinho te envolvendo. Como fugir ao mínimo objeto ou recusar-se ao grande? Os temas passam, eu sei que passarão, mas tu resistes, e cresces como fogo, como casa, como orvalho entre dedos, na grama, que repousam. Já agora te sigo a toda parte, e te desejo e te perco, estou completo, me destino, me faço tão sublime, tão natural e cheio de segredos, tão firme, tão fiel... Tal uma lâmina, o povo, meu poema, te atravessa.

ANDRADE, Carlos Drummond de. “Considerações do poema”. In: A rosa do povo. Poesia completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 2006.


Lição de Coisas. À esquerda desenho composto por Carlos Drummond de Andrade para a edição; à direita a capa reproduzida ipsis literis pela José Olympio Editora em 1962. Foto: Desenho de Drummond Marcos Michael/Folhapress; Capa Marcella Azal/Arquivo Carlos Drummond de Andrade - AMLB/FCRB


Capa do número oito da Revista de antropofagia, São Paulo, dezembro de 1928, com primeira publicação do poema “Anedota da Bulgária” Foto: Biblioteca Brasiliana USP


Confissão

É certo que me repito, é certo que me refuto e que, decidido, hesito no entra-e-sai de um minuto. É certo que irresoluto entre o velho e o novo rito, atiro à cesta o absoluto como inútil papelito. E tão certo que me aperto numa tenaz de mosquito como é trinta vezes certo que me oculto no meu grito. Certo, certo, certo, certo que mais sinto que reflito as fábulas do deserto do raciocínio infinito. É tudo certo e prescrito em nebuloso estatuto. O homem, chamar-lhe mito não passa de anacoluto.

ANDRADE, Carlos Drummond de. “Confissão”. In: As impurezas do branco. Poesia completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 2006.


Drummond no seu escritório no apartamento do Rio de Janeira 1963 Arquivo do autor

Foto: Reprodução


1902 Nasce em Itabira em 31 de outubro

1925 Termina a Faculdade e casa-se com Dolores Dutra de Morais

1927 Nasce o filho Carlos Flávio em 22 de março. A criança morre meia hora depois

1930 Publica Alguma poesia

1940 Publica Sentimento do mundo

1920 Muda-se com a família para Minas Gerais. No ano seguinte,Começa a publicar no Diário de Minas 1923 Entra para a Faculdade de Farmácia, em Belo Horizonte

1928 Nasce a filha Maria Julieta; publica o poema “No meio do caminho” na Revista de Antropofagia.

1934 Muda-se para o Rio de Janeiro e começa a trabalhar com chefe de gabinete de Gustavo Capanema.

1945 Publica A rosa do povo 1951 Publica Claro enigma

1962 Aposenta-se. Três anos depois a sua obra é publicada nos Estados Unidos, Portugal e Alemanha 1987 Morre em 5 de agosto sua filha; doze dias depois, o poeta.

1964 Publica 1ª edição de Poesia Completa pela Aguilar

Linha do Tempo: principais fatos biobliográficos de Carlos Drummond de Andrade


Capa da 1ª edição de José e outros, 1967. Foto Marcella Azal/Arquivo Carlos Drummond de Andrade - AMLB/FCRB


José E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José? e agora, você? você que é sem nome, que zomba dos outros, você que faz versos, que ama, protesta? e agora, José? Está sem mulher, está sem discurso, está sem carinho, já não pode beber, já não pode fumar, cuspir já não pode, a noite esfriou, o dia não veio, o bonde não veio, o riso não veio, não veio a utopia e tudo acabou e tudo fugiu e tudo mofou, e agora, José? E agora, José? sua doce palavra, seu instante de febre, sua gula e jejum, sua biblioteca, sua lavra de ouro, seu terno de vidro, sua incoerência, seu ódio — e agora? Com a chave na mão quer abrir a porta, não existe porta; quer morrer no mar,


mas o mar secou; quer ir para Minas, Minas não há mais. José, e agora? Se você gritasse, se você gemesse, se você tocasse a valsa vienense, se você dormisse, se você cansasse, se você morresse... Mas você não morre, você é duro, José! Sozinho no escuro qual bicho-do-mato, sem teogonia, sem parede nua para se encostar, sem cavalo preto que fuja a galope, você marcha, José! José, para onde? ANDRADE, Carlos Drummond de. “José”. In: José e outros. Poesia completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 2006.


O lutador

Lutar com palavras é a luta mais vã. Entanto lutamos mal rompe a manhã. São muitas, eu pouco. Algumas, tão fortes como o javali. Não me julgo louco. Se o fosse, teria poder de encantá-las. Mas lúcido e frio, apareço e tento apanhar algumas para meu sustento num dia de vida. Deixam-se enlaçar, tontas à carícia e súbito fogem e não há ameaça e nem há sevícia que as traga de novo ao centro da praça. Insisto, solerte. Busco persuadi-las. Ser-lhes-ei escravo de rara humildade. Guardarei sigilo de nosso comércio. Na voz, nenhum travo de zanga ou desgosto. Sem me ouvir deslizam, perpassam levíssimas e viram-me o rosto. Lutar com palavras parece sem fruto. Não têm carne e sangue… Entretanto, luto. Palavra, palavra


(digo exasperado), se me desafias, aceito o combate. Quisera possuir-te neste descampado, sem roteiro de unha ou marca de dente nessa pele clara. Preferes o amor de uma posse impura e que venha o gozo da maior tortura. Luto corpo a corpo, luto todo o tempo, sem maior proveito que o da caça ao vento. Não encontro vestes, não seguro formas, é fluido inimigo que me dobra os músculos e ri-se das normas da boa peleja. Iludo-me às vezes, pressinto que a entrega se consumará. Já vejo palavras em coro submisso, esta me ofertando seu velho calor, aquela sua glória feita de mistério, outra seu desdém, outra seu ciúme, e um sapiente amor me ensina a fruir de cada palavra a essência captada, o sutil queixume. Mas ai! é o instante de entreabrir os olhos: entre beijo e boca, tudo se evapora. O ciclo do dia ora se conclui


e o inútil duelo jamais se resolve. O teu rosto belo, ó palavra, esplende na curva da noite que toda me envolve. Tamanha paixão e nenhum pecúlio. Cerradas as portas, a luta prossegue nas ruas do sono. ANDRADE, Carlos Drummond de. “O lutador”. In: José e outros. Poesia completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 2006.


Colagem feita pelo pr贸prio Carlos Drummond de Andrade dando contas de uma cronologia do autor em imagens. Foto: Arquivo Carlos Drummond de Andrade - AMLB/FCRB


Registro civil Ela colhia margaridas quando eu passei. As margaridas eram os corações de seus namorados, que depois se transformavam em ostras e ela engolia em grupos de dez. Os telefones gritavam Dulce, Rosa, Leonora, Cármen, Beatriz, porém Dulce havia morrido e as demais banhavam-se em Ostende sob um sol neutro. As cidades perdiam os nomes que o funcionário com um pássaro no ombro ia guardando no livro de versos. Na última delas, Sodoma, restava uma luz acesa que o anjo soprou. E na terra eu só ouvia o rumor brando, de ostras que deslizavam pela garganta implacável.

ANDRADE, Carlos Drummond de. “Registro civil”. In: Brejo das almas. Poesia completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 2006.


Edição de Os 25 poemas da triste alegria, publicado em 2012, pela Cosac Naify. Os poemas até então inéditos um Drummond desconhecido e acrescentam à sua obra um capítulo anterior a Alguma poesia, o primeiro livro seu, de 1930. No mesmo ano, 2012, a editora também publicou uma edição crítica da poesia do poeta reunindo os dez primeiros livros, do livro de 1930 a Lição das coisas, de 1962, e reditou Confissões de Minas, Passeios na ilha e trouxe a lume uma edição de Poesia traduzida por Carlos Drummond de Andrade. Foto: Cosac Naify. Reprodução/ Divulgação AMLB/FCRB


“Ninguém sabe”. Fac-símile de poema escrito na juventude de Drummond e incluído no livro Os 25 poemas da triste alegria publicado em 2012, pela Cosac Naify. Foto: Jornal Estadão- AMLB/FCRB


“A mulher do elevador”. Fac-símile de poema escrito na juventude de Drummond e incluído no livro Os 25 poemas da triste alegria publicado em 2012, pela Cosac Naify. Foto: Jornal Estadão- AMLB/FCRB


O poeta Carlos Drummond de Andrade pelos pincéis de Candido Portinari. Imagem: Reprodução/Divulgação


A noite dissolve os homens A Portinari

A noite desceu. Que noite! Já não enxergo meus irmãos. E nem tão pouco os rumores que outrora me perturbavam. A noite desceu. Nas casas, nas ruas onde se combate, nos campos desfalecidos, a noite espalhou o medo e a total incompreensão. A noite caiu. Tremenda, sem esperança... Os suspiros acusam a presença negra que paralisa os guerreiros. E o amor não abre caminho na noite. A noite é mortal, completa, sem reticências, a noite dissolve os homens, diz que é inútil sofrer, a noite dissolve as pátrias, apagou os almirantes cintilantes! nas suas fardas. A noite anoiteceu tudo... O mundo não tem remédio... Os suicidas tinham razão. Aurora, entretanto eu te diviso, ainda tímida, inexperiente das luzes que vais ascender e dos bens que repartirás com todos os homens. Sob o úmido véu de raivas, queixas e humilhações, adivinho-te que sobes, vapor róseo, expulsando a treva noturna. O triste mundo fascista se decompõe ao contato de teus dedos, teus dedos frios, que ainda se não modelaram mas que avançam na escuridão como um sinal verde e peremptório. Minha fadiga encontrará em ti o seu termo, minha carne estremece na certeza de tua vinda. O suor é um óleo suave, as mãos dos sobreviventes se enlaçam, os corpos hirtos adquirem uma fluidez,


uma inocência, um perdão simples e macio... Havemos de amanhecer. O mundo se tinge com as tintas da antemanhã e o sangue que escorre é doce, de tão necessário para colorir tuas pálidas faces, aurora.

ANDRADE, Carlos Drummond de. “A noite dissolve os homens”. In: Sentimento do mundo. Poesia completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 2006.


Carlos Drummond de Andrade Foto: Nelson Di Rago


A ilusão do migrante

Quando vim da minha terra, se é que vim da minha terra (não estou morto por lá?), a correnteza do rio me sussurrou vagamente que eu havia de quedar lá donde me despedia. Os morros, empalidecidos no entrecerrar-se da tarde, pareciam me dizer que não se pode voltar, porque tudo é consequência de um certo nascer ali. Quando vim, se é que vim de algum para outro lugar, o mundo girava, alheio à minha baça pessoa, e no seu giro entrevi que não se vai nem se volta de sítio algum a nenhum. Que carregamos as coisas, moldura da nossa vida, rígida cerca de arame, na mais anônima célula, e um chão, um riso, uma voz ressona incessantemente em nossas fundas paredes. Novas coisas, sucedendo-se, iludem a nossa fome de primitivo alimento. As descobertas são máscaras do mais obscuro real, essa ferida alastrada na pele de nossas almas.


Quando vim da minha terra, não vim, perdi-me no espaço, na ilusão de ter saído. Ai de mim, nunca saí. Lá estou eu, enterrado por baixo de falas mansas, por baixo de negras sombras, por baixo de lavras de ouro, por baixo de gerações, por baixo, eu sei, de mim mesmo, este vivente enganado, enganoso.

ANDRADE, Carlos Drummond de. Farewell. Rio de Janeiro: Record, 2002.



Carlos Drummond de Andrade Foto: Reprodução/ Divulgação


Em primeiro lugar, não unimamente. Diariamente... Não digo diariamente, mas frequentemente, saem artios fazendo restrições a mim e achando que sou um poeta decadente, já dei minha mensagem, hoje não tenho mais nada a dizer. Há outros que não gostam mesmo da mensagem que teria manifestado. Nunca pretendi manifestar mensagem nenhuma. Eu procurei é dizer os meus versos transmitindo a emocao que eu sentia no momento. Assim, não é unanime. Em segundo lugar, a maioria das pessoas que me consideram o maior poeta brasileiro não leu o que escrevi! Ouviram falar. Como acham que fulano de tal é o maior craque de futubel, o outro fuano é o maior compositor, o outro é o maior pintor, eu fiquei sendo o maior poeta por um julgamento que não é julgamento literário: é uma opinião transmitida socialmente, mas sem nenhuma ponderação crítica. Nunca me julguei nem julgo, e digo mais: não sei qual é o maior poeta brasileiro de hoje nem de ontem. Para mim, não há maiores poetas. Há poetas. E cada poeta é diferente dos outros. Carlos Drummond de Andrade em resposta a Geneton Moraes Neto na entrevista dada em 8 de agosto de 1987 para o Jornal do Brasil.


Carlos Drummond de Andrade em Copacabana Foto Reprodução/ Divulgação





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